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c Riscos e Estratégias

No documento MAJ Paulo Ramos (páginas 44-47)

Vamos analisar três características associadas à população que, não estando desenvolvidas, se constituem como uma vulnerabilidade, representando um risco. O desenvolvimento das suas potencialidades e anulação das vulnerabilidades constitui-se assim como um objectivo estratégico.

"Todos os factores determinantes para a economia e para a política deviam

ser levados em conta no cálculo dos factores de risco e na adopção de estratégias de segurança - e, entre esses factores, a Cultura e a Religião"55.

Coesão e Unidade Nacional

O peso da opinião pública tem ganho uma maior importância na tomada de decisão dos governos. Este facto deve-se a três razões:

O desenvolvimento dos sistemas democráticos, em que o Poder está nas "mãos" do eleitor.

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Os OCS, que divulgam e realçam os acontecimentos, dando ao cidadão a possibilidade e a vontade de ter uma postura activa.

A Globalização, porque debilita a soberania do Estado, ou seja, a sua forma tradicional de exercício do Poder e leva a que este procure outras formas de Poder.

"Aquilo que a Nação pode ou faz depende daquilo que o seu Povo pode ou deseja"56. Se um governo democrático não tem, pelo menos, o apoio dos seus cidadãos não deve prosseguir a sua acção, e se o faz, sujeita-se a ser penalizado eleitoralmente. Assim, uma condição essencial para o governo poder prosseguir a sua política e atingir os objectivos definidos, é garantir a coesão e o apoio da sua população.

Mas a coesão e unidade nacional são "perseguidas" ainda por outro motivo, para além do apoio da população às opções do governo. Também é importante para garantir a integridade do Estado. Ou seja, garantir que o Estado se mantém uno e indivisível. Esta situação é particularmente sensível nos Estados que contêm várias nações (a grande maioria) ou nos Estados jovens que ainda não desenvolveram um sentido de unidade (como é o caso dos Estados africanos57). A não existência de um sentimento de unidade nacional neste tipo de Estados, proporciona o surgimento de determinado tipo de ameaças que mais adiante caracterizaremos.

A coesão e unidade nacional constituem-se assim como objectivos intermédios do Estado para poder atingir os seus objectivos finais. Objectivos esses que têm carácter estratégico, dado que a não existência de unidade nacional é passível de ser explorada por uma ameaça.

Existem várias formas de o Estado atingir este objectivo intermédio. Através da intervenção social, reduzindo a desintegração social ou as injustiças sociais. Pode ainda, recorrer a causas nacionais, como são os grandes eventos de projecção internacional (desportivo, científico, político58). Outra forma, que nos interessa particularmente, é através do desenvolvimento dos valores culturais.

Os valores culturais, como vimos no capítulo 2, são o "cimento" da sociedade; o seu factor de coesão. Ou seja, se um Estado pretende manter a sua população coesa e desenvolver um sentimento

55 Constantin Von Barloewen, "A Cultura como factor da Realpolitik" in Le Monde Diplomatique, Edição portuguesa,

Nov 2001, p.20 e 21.O autor é professor de antropologia na Universidade de Karlruhe, Alemanha.

56 Políbio de Almeida, O Poder do Pequeno Estado, ISCSP, Lisboa, 1990, p.193.

57 As apelidadas fronteiras artificiais africanas não são a única razão para a falta de identidade nacional da maioria dos

seus países. Sejam quais forem as fronteiras criadas em África sempre existirá multiétnicidade dentro de cada Estado. O que acontece é que, em consequência do subdesenvolvimento social, existe falta de capacidade dos governos em desenvolver esse sentimento nacional, de forma a esbater as características de cada etnia. Portugal é um exemplo típico de aglutinação de várias etnias de bárbaros, mouros e locais, que unidos em volta de um projecto comum se constituíram como uma nação coesa. Os próprios EUA têm na sua origem povos de várias Culturas e idiomas, mas que ao longo da sua história têm sabido unir e assim garantir o sentido de unidade.

58 São disso exemplo, a organização de Olimpíadas, exposições universais, a luta de Portugal pela autodeterminação de

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38 de Unidade Nacional, por forma a garantir o seu apoio na consecução dos objectivos políticos ou para manter a sua própria integridade, deve tentar desenvolver os valores culturais dessa sociedade.

Identidade Nacional

O desenvolvimento dos valores culturais está associada a uma outra característica, também de grande importância para os Objectivos Permanentes do Estado. Estamos a falar da identidade nacional e do sentimento de independência. Como vimos, existe um sentimento de identidade entre indivíduos que partilham a mesma forma de pensar e agir (Cultura) e de distinção para com os outros indivíduos. No ponto anterior analisámos a relação Estado-População e População- População. Aqui, analisamos a relação População-Estrangeiro. De facto, um país (ou região) pode ter um profundo sentimento de unidade e a sua população apoiar completamente o seu governo (regional), mas não se sentirem particularmente motivados para manterem (lutarem por) uma independência, podendo optar por integrar uma federação (manterem-se integrados num Estado). "A Nação só existe se o seu povo pensar e sentir de forma própria..., isto é, só existe se tiver

hábitos, atitudes e projectos que a distingam das restantes"59.

Os extractos que a seguir se apresentam consolidam aquilo que foi dito. O vector cultural "constitui o elemento aglutinador do todo social, conferindo-lhe a identidade que legitima a

constituição da sociedade em unidade politicamente organizada, que exige, detém e exerce o poder nacional"60. "Durante dois séculos, a economia, a política e a ideologia, promoveram a

identificação dos indivíduos enquanto cidadãos de nações, em territórios onde os Estados modernos criam e aplicam regras... A identificação com a comunidade abstracta da nação desempenhou um papel central na constituição das sociedades e das individualidades modernas e está intimamente relacionada com os direitos e responsabilidades da cidadania, bem como com o sentimento colectivo de inclusão e de exclusão que deles dependem... as democracias, ou pelo menos o pequeno número delas que conhecemos ao longo da história, baseiam-se na correspondência entre aquilo que os cidadãos esperam do seu governo e um profundo sentimento de identidade nacional... A situação actual exige simultaneamente capacidade de acção dos governos e as identidades necessárias para a coesão social "61.

Até este momento identificámos três Objectivos Estratégicos do Estado: Coesão e Unidade Nacional, no apoio ao governo;

Coesão e Unidade Nacional, para garantir a integridade do Estado;

59 Políbio de Almeida, Op Cit, p. 193.

60 Victor Marques dos Santos, "Cultura e Poder" in Nação e Defesa, n.º especial (Defesa Nacional - Anos 90), vol. 1,

Agosto 1990, p.168.

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Identidade Nacional, para garantir um sentimento de independência.

Estes objectivos podem ser conseguidos com o recurso a uma Estratégia Cultural interna, entre outras, que desenvolve as características culturais.

No documento MAJ Paulo Ramos (páginas 44-47)