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e Instrumentos de Acção Estratégica

No documento MAJ Paulo Ramos (páginas 53-57)

Identificados ao Riscos, as Ameaças e as Estratégias (essencialmente preventivas), vamos agora referir os instrumentos que a Estratégia Cultural pode utilizar, para atingir os respectivos

70 Jean Tardif, Op Cit.

71 Adriano Moreira, "O poder cultural" in Nação e Defesa nº18, IDN, Lisboa, Fev 1981, p.48. Em 2000, uma nova

tentativa de controlo de imigração, por motivos culturais, teve idêntico desfecho.

72 Serge Halimi, "Uma palavra a mais" in Le monde diplomatique, edição portuguesa, Maio 2000. 73 Constantin Von Barloewen, Op Cit.

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46 objectivos. Neste capítulo, os instrumentos foram, por várias vezes, referidos. Alguns, até são coincidentes com os utilizadas pela Influência Cultural Externa. Aqui, vamos fazer apenas uma discriminação sumária, com o objectivo de sistematizar todas os instrumentos utilizados pela Estratégia Cultural Interna.

Durante a análise das Ameaças, vimos que existem dois tipos de acção estratégica. Numa são utilizados conteúdos culturais para transmitir, desenvolver ou consolidar características culturais (ideias e costumes), que por sua vez garantem o objectivo de unidade e coesão nacional e de identidade nacional. Outro tipo de acção é a tomada de medidas de protecção, controlo ou dissolução de características culturais (externas ou internas) no sentido de desenvolver uma Cultura própria.

Os conteúdos culturais podem ser veiculados através da educação, na rede escolar. "A

transmissão cultural está estreitamente ligada à educação. O ensino sob todas as formas, é uma empresa de socialização dos jovens, de acesso à palavra pela mestria da linguagem e da aprendizagem dos saberes ... que liga cada criança à sociedade e às suas tradições"74.

Quanto à religião, como instituição de divulgação de valores por excelência, a acção do Estado tanto pode ser na perspectiva da sua utilização ou exaltação, como da sua abolição. Ao longo da História os Estados apropriaram-se do factor religioso para enformar as suas políticas de Estado75. A viabilidade do emprego da religião como estratégia depende naturalmente da relação entre as instituições religiosas e o Estado. Será certamente mais viável em sociedades em que a instituição religiosa é o próprio poder ou onde a religião tenha um peso determinante na regulação da sociedade. São disto exemplo, alguns dos Estados islâmicos. Na revolução do Irão "é (foi) o livro

sagrado que se exibe, cujos preceitos se lembram, para demonstrar que o ocidentalismo agrediu severamente a personalidade básica do povo. Por isso os revolucionários escutam a palavra dos chefes religiosos, e estes apelam para a Constituição Política de Medina escrita pelo Profeta... É com este texto constitucional na mão que pretendem regenerar o Estado, defender os valores de uma Cultura de matriz religiosa, salvaguardar a identidade básica do povo, e assim recuperar aquilo que pensam ser um lugar igual entre as Nações Ocidentais, contra as quais enumeram um volumoso capital de queixas"76. De igual forma, a eficácia desta estratégia depende da influência que a religião tem junto da população. Por exemplo, os valores da Igreja têm bastante mais influência nos países da América Latina do que em África.

74 Jean-Pierre Warnier, Op Cit, p.63.

75 Referido pelo professor Adriano Moreira, em 8OUT01, na estação televisiva TVI. 76 Adriano Moreira, Op Cit.

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Outra forma de aplicar a Estratégia Cultural para divulgar conteúdos culturais é através dos OCS. Estes órgãos, para além de divulgarem os produtos das indústrias de Cultura, de que falaremos em seguida, também são produtores de conteúdos culturais. A imprensa escrita e falada, em nome do direito de informar, tem acesso a todas as áreas da sociedade, e sem ferir a verdade jornalística, divulga os pontos de vista de quem domina este "4º Poder". Por exemplo, para além das permanentes mensagens culturais, a emissão do hino nacional no fim do programa televisivo é um exemplo típico da utilização da televisão pela Estratégia Cultural.

Os produtos das indústrias de Cultura, são excelentes meios de divulgação de Cultura. Estamos, naturalmente, a falar dos produzidos no próprio Estado ou com conteúdos que se identificam com a Cultura que se pretende desenvolver. Neste sentido, para além das razões comerciais, é frequente o apoio dos Estados a iniciativas culturais (cinema, música, televisão ou literatura) que contenham características culturais nacionais. É o que acontece com o apoio ao cinema na maioria dos países das Europa. Temos também, o exemplo recente das vantagens concedidas pela televisão estatal portuguesa, à publicidade da literatura em português.

Por fim, temos o caso em que o instrumento de acção estratégica é o próprio Estado, através da sua acção legislativa e executiva. Neste caso, são tomadas medidas legislativas no sentido da protecção, dissolução ou controlo de características culturais de origem interna ou externa. Estas medidas estão normalmente associadas à protecção contra a ameaça das Culturas externas, mas também podem estar relacionadas com as ameaças de Culturas internas minoritárias ou contrárias ao governo. No sentido de preservar (ou pelo menos não abolir), podem ser tomadas medidas de regulação das Culturas minoritárias, pela definição do seu espaço de intervenção e formas de divulgação admitidas. No sentido contrário, podem ser tomadas medidas de proibição e abolição de práticas culturais de minorias, no sentido da homogeneização cultural no interior do Estado. Estas medidas de proibição e abolição podem ser também relativas a características culturais da maioria, quando estas se constituem como obstáculo à acção do governo. Estas últimas são tomadas, normalmente, quando acontecem mudanças revolucionárias e/ou ideológicas no interior do Estado que obrigam à negação dos valores culturais existentes do antecedente. É disto exemplo a proibição do culto religioso em alguns regimes comunistas ou a típica imagem da destruição de livros no início das revoluções. Quanto às ameaças externas, podemos ter as medidas de atribuição de cotas de exibição de produtos das indústrias de Cultura. Finalmente, podemos ter as medidas de controlo ou negação de entradas de pessoas, organizações ou bens estrangeiros (apenas por motivos culturais).

Apesar de não se constituírem como instrumentos utilizados para aplicar a Estratégia Cultural, gostaríamos de referir três características com grande conteúdo cultural. Estas características são a

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48 história, a língua e as características de raça/etnia. Estas características podem ser utilizadas por qualquer um dos instrumentos anteriormente referidos e a sua utilização pode ser feita no sentido de divulgar, manipular ou ignorar os seus conteúdos culturais. A história pode-se constituir como uma mais valia para o sentimento de unidade e identidade nacional. A sua divulgação pode ser feita através do ensino, do cinema ou da televisão, mas também pela preservação do património cultural, pela construção de monumentos evocativos ou por iniciativas comemorativas dos acontecimentos históricos. "A transmissão das tradições culturais apoia-se no património herdado do passado. A

fim de conservar a sua identidade, os grupos e as nações devem manter, cultivar, renovar o seu património"77. A língua e a etnia são factor marcantes da Cultura de um povo dada a sua presença constante. Têm a capacidade de unir ou dividir um Estado. O controlo da prática da língua é frequentemente exercido pelos Estados multi-linguísticos, utilizando o ensino e os produtos das indústrias de Cultura para o fazer. Por exemplo, em Espanha, a exaustiva "dobragem" de programas televisivos é um exemplo do esforço do seu governo, no sentido de colocar o castelhano no quotidiano da população.

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CAP 7 - ESTRATÉGI A CULTURAL EXTERNA

"Para se poder prever os riscos dos investimentos internacionais, seria desejável dispor de um atlas geocultural".

Constantin Von Barloewen

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No documento MAJ Paulo Ramos (páginas 53-57)