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CA – 03 “Pânico no ônibus”

2 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA

3 ANÁLISE DAS CRÔNICAS DOS ALUNOS

3.1 Análise do plano textual

3.1.3 CA – 03 “Pânico no ônibus”

02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Pânico no ônibus

Em uma tarde, quando vinha para Escola, entrou uma mulher muito gorda muito gorda

no ónibus pagou a passagem quando foi passar na roleta, ficou presa. Começou a maior confusão. Todo mundo do ônibus se dezesperou. A mulher não conseguia passar de jeito nenhum, todo mun- do se reuniu para puxá-la as pessoas que en- travam no ônibus também tentavam ajudar empurrando-a e nada. O motorista que estava com o som muito alto, não estava ouvindo a confusão o cobrador, com os passageiros ten- tava quebrar a roleta, mas não dava jeito. a mulher já estava ficando roxar. Era uma gri- taria só dentro do ónibus.

O pastor que estava perto começou fazer

uma oração dizendo – sai, “sai em nome de Deus” O pesso- al que estava atrás do onibus começava a falar

- Cala a boca pastor - Você não sabe de nada

A mulher parecia um camaleão ficava de tudo que era cor até que então, o motoris- ta em alta velocidade dar uma freada, que a mulher sai derrubando todo mundo pela fren- te. Ela levanta e diz - obrigado a vocês todos. Cheguei na minha parada, o pastor se levan-

ta e diz graças a Eu e minha oração tiramos a mulher da roleta, o cobrador se levanta graças a você

o que graças o motorista e todo mundo aplaude o motorista que não sabe de nada.

Nesse texto, percebemos a referência ao espaço-tempo da narração logo na abertura do texto: “Em uma tarde, quando vinha para Escola, entrou uma mulher

muito gorda muito gorda no ónibus [...]” (L01 a L02). O fato acontece num ambiente

urbano, mais precisamente dentro de um ônibus.

Os tempos verbais da narração são também acionados na planificação do texto - o pretérito perfeito e o imperfeito – e se alternam na seqüência textual. No primeiro parágrafo, por exemplo, temos:

“[...] entrou uma mulher muito gorda muito gorda no ónibus pagou a passagem

quando foi passar na roleta, ficou presa. Começou a maior confusão. todo mundo do ônibus se dezesperou.” (L02 a L05) – pretérito perfeito.

“Era uma tarde quando vinha para Escola [...]” (L01).

“A mulher não conseguia passar de jeito nenhum [...]” (L05 a L06).

“[...] as pessoas que entravam no ônibus também tentavam ajudar empurrando e nada.” (L07 a L09).

“O motorista que estava com o som muito alto, não estava ouvindo a confusão o cobrador, com os passageiros tentava quebrar a roleta, mas não dava jeito. A mulher já estava ficando roxar. Era uma gritaria só dentro do ónibus.” (L09 a L14) –

pretérito imperfeito.

A seqüência narrativa é aqui entremeada por alguns segmentos descritivos, como podemos observar no primeiro parágrafo, especialmente quando o produtor do texto descreve o estado do motorista:

“O motorista que estava com o som muito alto, não estava ouvindo a confusão do cobrador [...]” (L09 a L11).

E quando descreve o estado da mulher e do ambiente em que se passa o fato – o ônibus:

“a mulher já estava ficando roxar. Era uma gritaria só dentro do onibus”. (L13 a L14).

Mais à frente, no quinto parágrafo, ele descreve novamente o estado da mulher diante da situação em que se encontrava, presa na roleta do ônibus:

“A mulher parecia um camaleão ficava de tudo que era cor [...]”. (L20 a L21).

A situação inicial apresentada na seqüência narrativa mostra que uma mulher entra num transporte coletivo para se dirigir a algum ponto da cidade. A complicação acontece quando essa mulher, por ser muito gorda, fica presa na roleta do ônibus. Daí em diante uma série de ações se desenvolve para solucionar o conflito: os

passageiros se unem para puxá-la; outros passageiros que entravam também a empurravam; alguns tentavam quebrar a roleta, mas sem sucesso; as pessoas gritavam dentro do veículo em movimento; um pastor resolve fazer uma oração para livrar a mulher daquela situação vexatória. A resolução desse impasse ocorre quando o motorista freia o ônibus bruscamente, e a mulher consegue se desvencilhar da roleta. Ela agradece, e todos aplaudem o motorista que, segundo o narrador, nem se dá conta do que aconteceu.

Embora nem todos os turnos de fala estejam claramente definidos por parágrafos (nem por travessões para marcar o início das falas), como se pode observar da L15 à L19 e, novamente, da L24 à L28, a presença do discurso interativo relatado se faz notar no texto, encaixado no tipo de discurso principal, que é a narração. Destacamos um trecho do último parágrafo para um comentário sobre o aspecto da coesão textual:

“Ela levanta e diz – obrigado a vocês todos. Cheguei na minha parada, o pastor se levanta [...]” (L24e L26).

Como os segmentos de frases em que falam narrador e personagens se mesclam, o ponto utilizado no final do primeiro período e a forma verbal cheguei (L25) na primeira pessoa, logo em seguida, podem provocar uma ambigüidade para o destinatário: esse eu que fala através da forma verbal cheguei é a personagem (a mulher gorda) ou o narrador, que volta lá do início do texto e reassume a narrativa em primeira pessoa?

Embora o narrador seja apenas testemunha dos fatos e, por isso, não se envolva na confusão, sua presença pode ser observada na L01, através da forma verbal vinha, usada em primeira pessoa: “Em uma tarde, quando vinha para Escola,

entrou uma mulher muito gorda [...]”. Assim, o destinatário pode evocá-lo ao final do

texto, no caso já mencionado, e provocar esse efeito ambíguo.

Nessa crônica, o produtor faz uso da narrativa como recurso de que dispõe para configurar o seu texto, em que aborda um flagrante do cotidiano. Não adere ao comentário ou ao formato narrativa e comentário, ao mesmo tempo, nem recorre ao componente lírico.

3.1.4 CA – 02 “ O mudinho” 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 O mudinho

Um dia como outro qualquer, as pessoas pegam o ônibus e é aquele sobe e desce.

Más certa hora varias pessoas sobem no ônibus até um padre e um garoto muito humilde e muito sério.

O garoto espera todas ás pessoas passarem pela role- ta, o garoto com vários papeis na mão guarda-os

na bolsa e faz sinais para o cobrador para deixa-lo passar pela roleta o cobrador todo enrolado deixa-o passar más por pouco tempo pois o ônibus está para partir.

O garoto começa a distribuir os papeis e neles estava escrito (sou mudo é preciso de dinheiro para que a minha

mãe me leve para o hospital para me operar das cordas vocais).

Pois a minha mãe não tem condições di pagar

a cirurgia, nesse momento o pessoal se comove e começa a ajudar o garoto, menos o padre que nesse momento contava suas ecônomias (Dinheiro).

O pessoal começou a olhar para o padre com suas caras feia o padre ficou branco

paralisado, então começou: ô padre o senhor não vai ajudar o garotinho o padre discriminado ajuda o

garoto com uns trocados, depois dessa confusão uma mulher ben vestida sai di sua casa que fica enfrente a parada do onibus e grita o filho hora do almoço o mudinho desse do ônibus, e diz já vou mãe, e o pessoal quando vai atacar o menino. o ônibus parti.

Já afirmamos que o tipo de discurso predominante, nos textos produzidos pelos alunos, é a narração, embora, em muitos casos, apareça o discurso interativo encaixado nesse discurso principal.

Nesse texto, um garoto pede ajuda financeira aos passageiros de um ônibus. Entrega-lhes uns papeizinhos com o pedido de ajuda. E é nesse trecho, que destacamos a seguir, que podemos encontrar marcas lingüísticas que demonstram o caráter conjunto-implicado do discurso interativo criado pelo produtor do texto:

“(sou mudo é preciso de dinheiro para que a minha mãe me leve para o hospital para me operar das cordas vocais.)

Pois a minha mãe não tem condições di pagar a cirurgia [...]” (L12 a L16).

Até então, tínhamos mostrado o discurso interativo dialogado. Nesse caso, o trecho selecionado mostra o discurso interativo na sua forma monologada.

As formas verbais de primeira pessoa (sou, preciso), os pronomes de primeira (minha, me) implicam os parâmetros físicos da ação de linguagem, ou seja, esses termos destacados remetem diretamente aos agentes da interação – os personagens criados e que interagem na ação verbal posta em cena. Além disso, o tempo verbal utilizado – o presente – em algumas formas verbais (sou, preciso,

tem) também é indício da presença desse tipo de discurso. Algumas frases, embora

as formas verbais não se apresentem no imperativo, têm valor de imperativo, visto que o menino está pedindo, apelando para que seus interlocutores possam ajudá-lo.

Em relação aos mecanismos de textualização, encontramos alguns problemas referentes à articulação dos segmentos de texto e aos elementos coesivos, que podem vir a causar um efeito de ambigüidade e dificultar a compreensão do destinatário. Vejamos um trecho de CA -02:

“[...] o padre ficou branco paralisado, então começou ô padre o senhor não vai ajudar o garotinho [...]” (L20 a L22).

Nesse caso, o referente de começou pode ser atribuído ao padre, termo que está mais próximo na frase. No entanto, quem começou a falar foi o pessoal, referente que pode ser recuperado na linha 19:

“O pessoal começou a olhar para o padre com suas caras feia, o padre ficou branco paralisado, então começou [...]”

Nessa crônica, predomina, também, a ênfase narrativa, conforme foi solicitada ao produtor. Não se utiliza, aqui, o comentário, a exposição de idéias, a digressão lírica. Não que isso seja obrigatório, mas apenas recursos de que o cronista dispõe para construir o seu texto.

3.1.5 CA – 05 “As aparências enganam”