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A crônica na sala de aula

2 GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LÍNGUA

2.5. O gênero textual crônica e suas origens

2.5.3. A crônica na sala de aula

A crônica, por ser um gênero textual marcado por uma linguagem de fácil acesso, pelo tom humorístico assumido em muitas delas, por ser um texto curto e leve, entre outras características, tem entrado na sala de aula, sobretudo através dos livros didáticos. Os professores têm aproveitado esse gênero para explorar a leitura, tentando incentivar os alunos a ler. Torna-se mais fácil o acesso ao gênero pelo livro do que pelo jornal, pois as escolas dispõem (aliás, nem todas) de coletâneas de crônicas organizadas em livros, como as da coleção Para Gostar de

Ler, da editora Ática, ou mesmo, porque elas aparecem nos livros didáticos do

ensino fundamental ou médio, como já dissemos. No livro, ela assume a perenidade, buscando subtrair-se à fugacidade do jornal (MOISÉS, 2003, p. 106). É bem verdade que alguns críticos não a vêem com bons olhos no suporte do livro, pois consideram que só no jornal ela adquire o seu vigor, como é o caso de Tristão de Ataíde (1933 apud MOISÉS, op. cit., p.107) que diz: “[...] uma crônica num livro é como um passarinho afogado. Tira a respiração e não interessa.”. No entanto, ao selecioná- las para o livro, o cronista procura reunir aquelas cuja temática e forma de elaboração não sejam tão fugazes e possam se tornar mais duradouras. Segundo esse mesmo autor, ela

[...] adquire, no livro, uma existência menos falaz: ali se enfeixam as peças que o seu autor julgou resistirem à erosão do tempo, via de regra, porque lhe pareceu ostentarem certos méritos, evidentemente não como reportagem, mas como texto literário (op. cit., p. 107).

Em nossa pesquisa, interessa-nos a crônica literária, especificamente a crônica narrativa. Nesse sentido, ela se aproxima do conto, como afirmam Cândido e Coutinho em obras já citadas na seção anterior. As crônicas trabalhadas na sala de aula onde realizamos a pesquisa foram extraídas desse suporte textual – o livro. Duas delas de livros didáticos do ensino médio e uma da coletânea Para Gostar de

Ler.

O livro adotado pela professora de português da escola em que realizamos a pesquisa – Português: de olho no mundo do trabalho - não explora o gênero textual crônica, de modo que foi necessário recorrer a outro livro didático: Português:

linguagens (CEREJA; MAGALHÃES, 2004). Essa coleção se apresenta em três

volumes. No volume 3, os autores exploram esse gênero textual.

Em primeiro lugar, explora-se a crônica narrativa e, em seguida, outro tipo de crônica, no qual predomina a seqüência lingüística argumentativa. Por isso os autores a chamam de crônica argumentativa. O livro apresenta como exemplo do gênero “A última crônica”, de Fernando Sabino, seguida de um roteiro de questões que exploram as características centrais do gênero, aspectos como a temática, a finalidade, a linguagem e a estrutura narrativa (apenas o foco narrativo). Sugere a montagem de um quadro com essas características pelos alunos e o professor e, em seguida, já solicita a produção de uma crônica, com base em uma notícia “Carioca faz festa na praia para eclipse”, do jornal O Estado de São Paulo. Logo depois, propõe ao aluno a produção de outra crônica, a respeito de uma situação do cotidiano vivenciado por ele ou por familiares e amigos. Como base, o livro apresenta a crônica “As forças do além”, do escritor Antonio Prata. Para escrever a crônica, o aluno é orientado a pensar no objetivo do texto: entreter, divertir, sensibilizar o leitor e ou fazê-lo refletir. Há uma referência clara ao tipo de crônica a ser elaborada: narrativa. Para isso, é preciso que o aluno observe o foco narrativo, sob que ponto de vista o fato deve ser narrado, além de fazer referência a outros elementos da narrativa, como o lugar, o tempo, as personagens. Sugere que o aluno utilize o discurso direto para dar mais dinamismo à narrativa. Orienta para que ele vá além do fato, narre com sensibilidade e, se preferir, utilize o humor, além de guardar uma surpresa para o final, de modo que o leitor possa refletir, emocionar-se ou rir, ao terminar de ler a crônica. Orienta, ainda, para o tipo de linguagem e a variedade lingüística a serem empregados na crônica, bem como para a revisão e a reescrita do texto quantas vezes forem necessárias.

Para a divulgação das crônicas, os autores sugerem a montagem de um livro de crônicas escritas pelos alunos, o qual deve ser lido pelos colegas de outras turmas, os professores e funcionários da escola, além dos pais e dos amigos.

Da página 105 à 109, os autores apresentam outro tipo de crônica, ao qual chamam argumentativa. A crônica que abre o capítulo é de Arnaldo Jabor, publicada no jornal O Estado de São Paulo: “Violência virou problema de Estado Maior”. O procedimento em relação à exploração do gênero é o mesmo já mencionado para a crônica anterior, com a diferença no que se refere à estrutura argumentativa (tese, argumentação, conclusão) do texto.

O trabalho realizado pela professora na sala de aula do ensino médio privilegiou o gênero crônica narrativa, seguindo, em grande parte, o roteiro do livro analisado, visto que o livro didático adotado pela escola não explorava esse gênero. No entanto, algumas questões foram acrescentadas ao roteiro de leitura a ser trabalhado com os alunos, visto que este foi considerado insuficiente para que eles fizessem a apreensão do gênero. Além disso, o número de crônicas apresentadas no livro para leitura e caracterização do gênero era mínimo: apenas uma. Desse modo, sugerimos que a professora trabalhasse outras crônicas, antes de solicitar a produção desse gênero em sala. Nove crônicas foram selecionadas, embora esse número tenha sido reduzido, em seguida, em virtude do tempo disponível para as aulas, conforme já relatamos no capítulo anterior.