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Cadeia produtiva do medicamento e estágios de seu desenvolvimento e difusão no

CAPÍTULO 2 – O COMPLEXO INDUSTRAL DA SAÚDE E O MERCADO DE

2.1. Cadeia produtiva do medicamento e estágios de seu desenvolvimento e difusão no

A cadeia de produção de medicamentos pode ser caracterizada pelas seguintes etapas: 1) Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novos fármacos; 2) produção industrial de fármacos (princípios ativos); 3) produção industrial de medicamentos; e 4) marketing e comercialização. Os primeiros dois níveis exigem maiores investimentos financeiros,

tecnológicos e em conhecimento técnico-científico. Já a produção e o marketing compreendem atividades estritamente farmacêuticas, sendo o estágio de produção de especialidades, tida essencialmente com processos físicos, não químicos e sua tecnologia é comparativamente menos complexa (QUIEROZ, VESLÁSQUEZ GONZÁLES, 2001).

A etapa de P&D é caracterizada por quatro fases: 1) fase química, que isola novas substâncias a partir de produtos naturais, síntese química ou processos biotecnológicos; 2) fase biológica, que verifica o potencial terapêutico para submeter a droga a testes farmacológicos, toxicológicos, bioquímicos e microbiológicos, 3) fase clínica, que verifica sua eficácia e segurança, varia de 9 a 12 anos8; 4) fase galênica, quando analisa as características da substância em termos de composição, pureza, estabilidade ao longo do tempo (QUIEROZ, VESLÁSQUEZ GONZÁLES, 2001).

Por sua vez, a fase clínica é dividida em cinco ensaios: 1) ensaios pré-clínicos, realizados em laboratório e com animais, com duração de 3 a 6 anos; 2) ensaios clínicos de fase I, realizados em grupos de 20 a 80 voluntários saudáveis, com duração de 1 a 2 anos; 3) ensaios clínicos de fase II, realizados com 100 a 300 pacientes voluntários, com duração de 2 a 3 anos; 4) testes clínicos de fase III, realizados com 1.000 a 5.000 pacientes voluntários, com duração 3 a 4 anos; e 5) ensaios clínicos de fase IV, que se tratam de acompanhamento clínico na totalidade da população para observação das reações adversas menos frequentes e não detectadas pelos estudos clínicos anteriores. A partir da conclusão dos estudos clínicos de fase III, o que pode levar 15 anos, são avaliados os critérios de eficácia e segurança no momento em que o laboratório solicita registro ou autorização de comercialização de um medicamento no mercado (LIMA, 2006; QUIEROZ, VESLÁSQUEZ GONZÁLES, 2001).

Como outras tecnologias em saúde, o medicamento possui um ciclo de vida: inicialmente é considerado uma inovação (P&D), que ao entrar no mercado tem iniciada sua difusão; quando a tecnologia passa a ser usada em larga escala, é considerada como incorporada até o seu posterior abandono. Essa última fase do ciclo ocorre muitas vezes em decorrência da difusão de uma nova tecnologia (SILVA, 2003). No Brasil, o governo atualmente regula o ciclo de vida das tecnologias pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pela Comissão de Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde (CITEC) e pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), embora decisões do Judiciário influenciem a utilização de tecnologias de alto custo, pela judicialização da saúde (SANTOS, 2010).

8 Em média são testadas 10.000 moléculas para originar um único medicamento tecnicamente viável

No sistema de saúde brasileiro, o processo de incorporação de tecnologias segue um fluxo que envolve várias instituições. Primeiro, a tecnologia é avaliada do ponto de vista de sua eficácia, segurança e qualidade pela ANVISA, para concessão de registro sanitário, etapa inicial para entrada no mercado brasileiro. No caso de medicamentos, ainda há mais uma barreira a superar, que é a aprovação de seu preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), o que não ocorre com produtos para saúde, tais como equipamentos e kits para diagnóstico. Encerrada essa etapa, ocorre a difusão inicial da tecnologia no país pelos profissionais de saúde (SANTOS, 2010).

Após a difusão inicial no mercado privado, o medicamento pode vir a ser incorporado pelo SUS, caso haja uma solicitação à Comissão de Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde (CITEC9). No âmbito do Ministério da Saúde, a tecnologia é avaliada com base em evidência científica para considerar as dimensões de eficácia, segurança, efetividade, custo-efetividade e impacto orçamentário da incorporação. Posteriormente, com todas as informações necessárias, a CITEC faz sua recomendação ao Ministro da Saúde, quem é encarregado de decidir pela incorporação. É desta forma que a incorporação de tecnologias no setor público tem ocorrido desde 2006. Esse processo pode ser complementado por estados e municípios, contanto que disponham de orçamento para tal incorporação (SANTOS, 2010).

No âmbito da saúde suplementar, o rol mínimo de procedimentos/tecnologias que as operadoras de planos de saúde privados devem cobrir é determinado pela ANS. A atualização desse rol é feita pelas demandas internas da agência e do setor de saúde suplementar por um processo da avaliação de tecnologias em saúde realizado pela própria ANS. Além disso, a ANS leva em consideração as recomendações da CITEC no processo de atualização do rol (SANTOS, 2010).

Após a incorporação e uso da tecnologia em larga escala, a ANVISA se responsabiliza por sua monitorização, pela vigilância pós-comercialização. Essa fase envolve processos de coletas de informações sobre reações adversas e outros eventos decorrentes do uso das tecnologias em saúde. A CITEC também é responsável pela análise de tecnologias em uso, revisão e mudanças de protocolos clínicos de diretrizes terapêuticas do Ministério da Saúde (SANTOS, 2010).

A última etapa do ciclo da vida da tecnologia é o abandono ou a obsolescência, que pode ser desencadeada por ações tanto da CITEC, da ANVISA, como também do próprio mercado (pelos profissionais de saúde ou pelos laboratórios farmacêuticos) devido à

9 A CITEC é composta por representantes das Secretarias do Ministério da Saúde, ANVISA e ANS, sem

substituição por outra tecnologia mais vantajosa (mais eficaz, ou mais barata, ou ainda com menos efeitos adversos, etc.). Apesar disso, a CITEC, como seu próprio nome denuncia, tem uma ação com foco maior para demandas de incorporação de saúde, em detrimento da necessidade da reavaliação de tecnologias já em uso e a retirada destas (SANTOS, 2010). A ANVISA atua nessa fase do ciclo de vida do medicamento quando os riscos do seu uso superam os benefícios, a partir da análise de informações sobre a gravidade e a probabilidade das reações adversas. A Figura 2 apresenta esquematicamente o ciclo de vida de tecnologias em saúde no Brasil no ano de 2009.

Figura 2 Ciclo de vida das tecnologias para o Brasil no ano de 2009. Fonte: Santos, 2010.

Nota: ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; CITEC: Comissão de Incorporação de Tecnologias do Ministério da Saúde; CMED: Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos; DECIT: Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.