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(por vezes abreviado NSQ) é um centro primário de regulação do ritmo circadiano median-te a estimulação da secreção de melatonina pela glândula pineal. Trata-se de um grupo de neurônios do hipotálamo medial (sua parte central)5.

Relógios semelhantes são encontrados em tecidos periféricos, como tecido adiposo, fíga-do e intestino. O mecanismo fíga-do relógio no cérebro e nos tecifíga-dos periféricos regula a expres-são do ritmo circadiano e a atividade de enzimas e hormônios envolvidos no metabolismo5. Como resultado, a interrupção dos ritmos circadianos pode levar a obesidade e resistência à insulina5. Comer maior quantidade de alimentos no início do dia pode ajudar com a sin-cronização de osciladores periféricos, com o NSQ, auxiliando na manutenção de um ritmo circadiano apropriado5,6.

O horário das refeições tem implicações cruciais no ganho de peso, apetite e metabolismo de glicose e lipídios5.

Padrões inadequados de alimentação na infância e na adolescência são um dos principais fatores de risco para o aparecimento precoce da obesidade e de outras doenças crônicas7. Estudo transversal foi realizado com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2015 (n = 10.926 adolescentes), PeNSE, com objetivo de identificar e analisar os padrões alimentares entre os adolescentes brasileiros. Dois padrões foram identificados: o primeiro, caracterizado por marcadores de uma alimentação não saudável (consumo de guloseimas, salgados fritos, refrigerantes e alimentos salgados processados/ultraprocessados como ham-búrguer, embutidos, macarrão instantâneo, pacote de batatas fritas ou biscoitos salgados); e o segundo, por marcadores de uma alimentação saudável (consumo de feijão, vegetais, frutas frescas ou salada de fruta). A adesão ao padrão não saudável esteve positivamente associada aos adolescentes do sexo feminino, bem como entre aqueles que possuem o hábito de não tomar café da manhã, não realizar as refeições com os pais e/ou responsáveis, se alimentar enquanto estuda ou assiste TV e frequentar restaurantes fast-food7.

Investigação com objetivo de avaliar a associação entre a frequência do café da manhã com fatores de risco de DCV, foi conduzido em adolescentes (n = 795), usando dados do estudo Malaysian Health and Adolescent Longitudinal Research (MyHeARTs), o qual in-cluiu histórico alimentar de 7 dias, com o ajuste para possíveis fatores de confusão, incluindo a qualidade da dieta8. Considerou-se café da manhã, o consumo de qualquer alimento ou bebida relatado como desjejum, e como fatores de risco de DCV, o índice de massar cor-poral (IMC), a circunferência da cintura, a glicemia de jejum, triglicérides, colesterol total, HDL-col e LDL-col. Doze por cento dos adolescentes nunca tomavam café da manhã e 50%

tomavam diariamente, contendo em média 400kcal. Alimentos comumente consumidos no café da manhã eram pratos à base de cereais, confeitaria (principalmente açúcar), bebidas quentes/em pó e leite integral. Realizar café da manhã diário com estas características se associou a IMC e concentrações de colesterol total e LDL-col ligeiramente mais baixas entre os adolescentes. É importante considerar que, apesar de consumirem açúcar e leite integral no desjejum, a população estudada segue dieta isocalórica sem ultrapassar a recomendação destes nutrientes8.

A investigação denominada Estudo Internacional de Obesidade Infantil, Estilo de Vida e Meio Ambiente (ISCOLE)9 examinou associações entre frequência de desjejum e adiposidade em uma amostra de 6.941 crianças de 9-11 anos de 12 países, no período de 2011-2013,

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sentando uma ampla gama de variabilidade sociocultural. Consumo mais frequente de café da manhã (6–7 dias/semana) foi associado a menores escores-z de IMC e % gordura corporal em comparação com o consumo ocasional (3–5 dias/semana) e raro (0-2 dias/semana) do café da manhã. Porém, as associações não foram consistentes em todos os 12 países9.

Estes são apenas alguns exemplos de fatores que podem explicar a razão pela qual pular o café da manhã está associada à obesidade. Portanto, diversos estudos foram publicados com o intuito de determinar se há uma associação causal entre o café da manhã e a obesidade.

Ensaios clínicos randomizados e controlados (RCTs) examinaram a influência do con-sumo do café da manhã na perda de peso, com todos os estudos sendo de curta duração (16 semanas) e nenhuma investigação encontrou maior perda de peso para quem consumia o café da manhã10,11.

Em intervenção de 12 semanas, mulheres com excesso de peso e síndrome metabólica perderam mais peso quando a maior parte do consumo energético foi realizada no início do dia (8,7 ± 1,4kg), em comparação a mulheres que consumiram a maior parte no final do dia (3,6 ± 1,5kg)12. Assim, o café da manhã com alto teor calórico e ingestão reduzida de calorias no jantar apresenta benéficios e pode ser uma alternativa útil para o controle da obesidade e da síndrome metabólica12.

Podem haver alguns benefícios do uso de estratégias específicas do café da manhã que sejam úteis durante a perda de peso. Existem algumas evidências de que o tipo de alimento consumido no café da manhã pode influenciar a ingestão de energia no final do dia. O con-sumo de café da manhã com ovos, por exemplo, quando comparado com um café da manhã isocalórico com alto teor de carboidratos, promoveu maior perda de peso, possivelmente por ter aumentando os níveis de hormônios de saciedade, como GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1) e peptídeo YY13,14. O efeito do consumo de ovos no balanço energético, quando o objetivo não é a perda de peso, pode ser diferente. Estudo conduzido em crianças e ado-lescentes mostrou que o consumo de café da manhã com ovos não reduziu a quantidade de alimentos ingeridos no almoço15. Por outro lado, o consumo de um café da manhã com ovos reduziu a ingestão de alimentos no almoço em mulheres com sobrepeso em relação a um café da manhã com pão16.

Essas descobertas sugerem que o efeito dos ovos no consumo calórico e na saciedade pode ser específico para adultos com sobrepeso e obesidade e pode ocorrer durante a perda e a manutenção de peso. Os mecanismos relacionados a esse efeito ainda não estão bem com-preendidos, mas não parece ser devido à alta qualidade protéica dos ovos17.

Cafés da manhã com uma distribuição específica de macronutrientes também já foram estudados. Estudo randomizado e controlado com duração de 12 semanas comparou o efeito de um café da manhã com alto a outro com baixo teor de proteínas em indivíduos que não faziam o café da manhã rotineiramente, com um grupo controle que continuou “pulando” o café da manhã. Neste estudo, a quantidade de proteínas do café da manhã não influenciou o percentual de gordura corporal e o ganho de peso18.

O tipo de carboidrato em cafés da manhã ricos nesse nutriente é outra área de interesse.

Tem sido sugerido que mais fibra e grãos de trigo integral podem ser benéficos. Estudo trans-versal randomizado demonstrou que mulheres eutróficas apresentaram maior saciedade, menor fome e redução da ingestão de energia no almoço após o consumo de café da manhã

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contendo arroz branco cozido e cevada com alto teor de beta glucana, em comparação a café da manhã contendo somente arroz branco cozido. Entretanto, este efeito pode não ser devi-do especificamente à fibra19. A persistência do efeito do trigo integral e de produtos ricos em fibras sobre a ingestão de energia é menos claro.

Estudo randomizado controlado, com duração de 12 semanas, comparou o consumo de café da manhã rico em fibras e com baixo teor de gordura com um grupo controle, que con-sumiu seu café da manhã “habitual”, e não encontrou nenhum efeito do alto teor de fibras sobre o peso corporal20.

A partir dos resultados descritos, consumir alimentos específicos, como ovos e grãos integrais de trigo, também pode ajudar na perda de peso. Contudo, em muitos casos, não está claro se esses efeitos são específicos quando se consome tais alimentos no café da ma-nhã, ou se estes efeitos podem ocorrer devido à composição desses alimentos e que poderia ocorrer se fossem consumidos em qualquer outro horário. Além disso, estudos futuros de-vem controlar fatores confundidores, como hábitos de sono, ao avaliar a associação entre café da manhã e obesidade.

O café da manhã é uma oportunidade importante para a inclusão de alimentos fonte de cálcio, proteínas e fibras independentemente da sua relação com o peso corporal. Para perda e manutenção de peso, o padrão da refeição deve ser individualizado, distribuindo as calorias ao longo do dia.

O café da manhã pode não representar papel causal tanto no ganho quanto na perda de peso. Classe de recomendação IIb, Nível de evidência A.

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De acordo com levantamento nacional do VIGITEL (Vigilância de Fatores de Risco e Pro-teção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico)1, estima-se que a ingestão de frutas e hortaliças com frequência em ≥ 5 dias da semana ocorra em 34,3% na população. A maior idade, nível de escolaridade e o sexo feminino relacionaram-se a mais elevado índice de con-sumo regular. Em adição, a ingestão recomendada, considerando ao menos 5 porções de frutas e hortaliças consumidas diariamente, foi observada em apenas 22,9% dos indivíduos1. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, como parte de um padrão alimentar saudável, o consumo de baixo teor de açúcares, gorduras saturadas e sódio, além da inges-tão diária de ao menos 400g de frutas, verduras e legumes (excluindo-se batatas e outros tubérculos ricos em amido), o que equivale ao consumo diário de 5 porções desses alimen-tos2. Frutas, verduras e legumes contribuem de forma significativa à nutrição humana, sendo considerável fonte de micronutrientes, fitoquímicos e fibras alimentares3. A baixa ingestão desses alimentos está inversamente associada ao aumento no risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), incluindo doenças cardiovasculares (DCVs) e certos tipos de cân-cer2-5. A partir da investigação de Wang et al. (2021)6 com dados dos estudos de coorte do Nurses’ Health Study (n = 66.719) e Health Professionals Follow-up Study (n = 42.016), encontraram-se associações inversas entre a ingestão de frutas e vegetais com a mortalidade total e a mortalidade por câncer, DCV e doença respiratória. A ingestão de 5 porções por dia de frutas e vegetais (ou 2 porções de frutas e 3 porções de vegetais), foi associada a menor mortalidade e, acima desse nível, maior ingestão não se relacionou com redução adicional de risco. Similarmente, a metanálise que incorporou os dois estudos de coorte citados, além de outros 24 estudos de coorte prospectivos (n = 1.892.885), mostrou que a maior ingestão de

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FRUTAS, VERDURAS