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Calendarização processual e adiamento da audiência por convenção das partes

5 ANÁLISE DE HIPÓTESES DE NEGOCIAÇÃO PROCESSUAL APLICÁVEIS NA JUSTIÇA DO TRABALHO

5.4 Calendarização processual e adiamento da audiência por convenção das partes

Assim, o calendário resguarda o princípio da duração razoável do processo e permite meios para acelerar sua conclusão (CF/1988, art. 5º, LXXVIII) já que vincula todos os sujeitos processuais. Só é permitido modificar os prazos nele previstos em casos excepcionais e justificados (CPC/2015, art. 191, § 1º). Além disso, resguardando a economia processual, a lei dispensa a intimação das partes para os atos processuais e para a audiência já que as datas são referidas no calendário (CPC/2015, art. 191, § 2º)368.

Quanto à sua aplicabilidade no processo do trabalho, a IN 39/2016 do TST em nada se referiu à admissibilidade do art. 191 do CPC/2015 no processo do trabalho, o que torna a situação menos controversa na doutrina.

[...] O calendário processual é uma técnica que visa exclusivamente à satisfação de três importantes propósitos: duração razoável do processo (art.

5º, LXXVIII, da CF), segurança jurídica e eficiência processual (art. 8º, CPC);

todos, por sua vez, relacionados à gestão do processo e adequação processual.

O negócio deve poder ser admitido, também no processo do trabalho, até porque o próprio magistrado dele faz parte. O fato de o processo do trabalho envolver um rito processual mais expedito e concentrado por natureza em nada impede a migração do instituto se usado com parcimónia e anuência do magistrado. Antes pelo contrário, o calendário processual tenderá, precisamente, a tornar ainda mais expedito e organizado o processo laboral.

Numa Justiça onde um grande número de sujeitos solicita o benefício da gratuitidade da justiça, a possibilidade de saber, de antemão, quando é que os atos processuais se irão realizar, cumulada com a possibilidade de se estabelecerem sanções penais para o caso de falta ou ausência ao compromisso marcado, é faculdade que serve ainda aos que mais necessitam e que são os mais penalizados por datas e atos que depois nem se vêm a realizar. Por outro lado, ignorar a intervenção do magistrado nestes negócios plurilaterais para concluir pela inadmissibilidade do negócio é incorrer num posicionamento paternalista que não leva em consideração todas as variáveis que distinguem este de outros negócios processuais369.

Diante disso, parte da doutrina considera que o art. 191 do CPC/2015 sempre foi praticado no processo do trabalho pois, diante da oralidade e do contato diuturno dos juízes com as partes e advogados em audiência, percebe-se que em várias oportunidades é possível vislumbrar a tentativa do juiz e das partes fixarem um calendário processual, a fim de otimizar a prática de atos pelas serventias do juízo, sem a necessidade de novas intimações – é o que

368 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, v. I: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento, procedimento comum. 60. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 720.

369 REBELO, Maria Paulo. A admissibilidade de negócios jurídicos processuais no processo do trabalho. Tese (Doutorado em Direito). Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2019, p. 526.

ocorre, por exemplo, quando as partes saem cientes de todos os movimentos processuais e prazos a serem cumpridos370.

Entretanto, o posicionamento que considera o art. 191 do CPC/2015 ter sido sempre praticado no processo do trabalho não representa um verdadeiro negócio jurídico, já que muitos juízes adotam o art. 765 da CLT e disciplinam sobre calendário processual sem antes consultar as partes, numa verdadeira concentração de poderes contrária ao próprio consentimento.

Diante disso, concorda-se com Rebelo, na medida em que considera ser possível a aplicação do calendário no processo do trabalho já que, além da omissão da norma consolidada, e por estar sob a chancela do juiz que participa do negócio, busca celeridade, segurança e eficiência processual.

Nesse sentido, não há como entender que o art. 775, § 2º, da CLT371 representa um óbice, sob o fundamento de que não há lacuna normativa. Ali não está previsto um negócio processual, mas um poder do juiz de adequar o procedimento para a efetividade da tutela do direito pretendido.

O art. 362, I, do CPC/2015, prevê que a audiência poderá ser adiada por convenção das partes. Nesse sentido, a FPPT editou o Enunciado n. 80, segundo o qual a audiência trabalhista pode ser adiada por convenção das partes, desde que motivada372, posicionamento com o qual se filia nesta pesquisa. Isto porque, o art. 775 da CLT e parágrafos não preveem a convenção como forma de adiamento, o que torna omisso o texto consolidado.

Rebelo373 aduz ainda que a aplicação deste artigo não é rara na Justiça do Trabalho e que há certo equívoco ao se entender que a natureza jurídica do adiamento consensual da audiência seja uma espécie de requerimento conjunto, mesmo para contornar a doutrina e a jurisprudência que rechaçam a aplicação do negócio jurídico no processo do trabalho. Assim, o art. 362, I, do CPC/2015, prevê um negócio jurídico processual típico que não contraria inquisitivo do procedimento trabalhista.

370 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; SOUZA, Tercio Roberto P. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2020. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553616213/. Acesso em: 04 ago. 2022 (ebook).

371 BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452/1943. Art. 775, § 1º. Os prazos podem ser prorrogados, pelo tempo estritamente necessário, nas seguintes hipóteses: I – quando o juízo entender necessário; II – em virtude de força maior, devidamente comprovada; § 2º. Ao juízo incumbe dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito.

372 Enunciado n. 80, FPPT. “A audiência pode ser adiada por convenção das partes, desde que motivada”.

373 REBELO, Maria Paulo. A admissibilidade de negócios jurídicos processuais no processo do trabalho. Tese (Doutorado em Direito). Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2019, p. 538-539.

Segundo a jurisprudência do TST374, apesar de certo entendimento que agasalha a convenção das partes na seara do trabalho, trata-se de uma faculdade do juiz, o que retira de forma ampla a finalidade do artigo. Nesse sentido, o TRT-2375 também tem entendido pela faculdade do juiz de acatá-la ou não, inexistindo direito subjetivo das partes para tanto. Por outro lado, diverge dessa posição o TRT-5376 ao alegar que existe jurisprudência deferindo Mandado de Segurança para sustar audiência designada, inclusive reconhecendo a possibilidade de a convenção processual suspender o processo nos termos dos arts. 190 e 313, I, do CPC/2015.