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Capítulo I – Referencial Teórico-metodológico

1.4 Caminhos percorridos

Nesta última parte do primeiro capítulo, estão delineados os caminhos percorridos pela pesquisa desde o início até sua conclusão. Inicialmente, definiu-se como objetivo geral da pesquisa: analisar as relações do trabalho pedagógico na formação dos estudantes da EJA EPT no Campus Santo Augusto. A partir disso, elaboraram-se os seguintes objetivos específicos: Construir a historicidade da política de EJA EPT e sua oferta no Campus Santo Augusto; Construir as características dos estudantes da EJA EPT do Campus Santo Augusto; Elaborar um estudo sobre o PPC da EJA EPT; Investigar quais as concepções dos professores acerca do trabalho pedagógico e; Investigar as percepções dos estudantes com relação ao trabalho pedagógico desenvolvido no Campus.

A pesquisa teve três fases distintas. Iniciou com o levantamento histórico da oferta da EJA EPT no Campus Santo Augusto e aplicação de um questionário pré-estruturado nas turmas de 1º e 3º anos do curso Técnico Integrado ao Ensino Médio em Agroindústria, na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, integrada à Educação Profissional e Tecnológica, com a finalidade de construir as características dos estudantes ingressantes e concluintes, bem como identificar a influência do Trabalho Pedagógico desenvolvido na sua formação. Ainda nesta fase, realizou-se a revisão bibliográfica e análise do Projeto Pedagógico do Curso (PPC), para observar o Trabalho Pedagógico previsto neste documento norteador e sua relação com as atividades desenvolvidas.

A partir da análise documental do PPC, identificaram-se as características centrais de formação integral dos estudantes e que estruturam o currículo em três núcleos. “O currículo

do Curso Técnico em Agroindústria Integrado PROEJA está organizado a partir de 03 (três) núcleos de formação: Núcleo Básico, Núcleo Politécnico e Núcleo Tecnológico, os quais são perpassados pela Prática Profissional” (PPC, 2014, p. 25, grifo nosso). Esta etapa foi de

fundamental importância para, com base nas previsões, fazer a relação entre a teoria e a prática e observar os movimentos do trabalho pedagógico na práxis. Nesse sentido, o olhar esteve voltado para o Núcleo Politécnico que é considerado o “elo comum” entre os demais núcleos, “criando espaços contínuos durante o itinerário formativo para garantir meios de realização da politecnia” (idem, p. 26).

Na sequência, aplicou-se um questionário on-line7, semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas para construir as características dos estudantes ingressantes e concluintes da EJA EPT. Responderam voluntariamente ao questionário nove estudantes do primeiro ano e nove estudantes do terceiro ano. Entre os estudantes concluintes, observou-se que todos vieram da escola pública, a maioria é trabalhador-estudante, do gênero masculino, com renda familiar mensal de até um salário mínimo e na faixa etária de 21 a 30 anos de idade. Deste grupo de nove participantes, somente um tem idade superior a 31 anos e a maioria concluiu o ensino fundamental na EJA. Dos ingressantes, todos são oriundos de escola pública, somente dois não trabalham. A maioria (seis dos nove participantes) é do gênero feminino, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos e com idade entre 18 e 21 anos. Excetuam-se deste grupo apenas três estudantes dos quais, dois têm mais de 21 anos de idade e estão há mais de 10 anos fora dos bancos escolares.

Ao compararmos as realidades encontradas, um dos fenômenos que chama bastante a atenção na constituição das características dos estudantes da EJA, foi o da juvenilização, apontada por estudiosos do campo da EJA, como resultante do rebaixamento de idade pela LDB (BRASIL, 1996, Art. 38), para acesso aos exames supletivos e aos cursos, condições estendidas à EJA pelo Conselho Nacional de Educação, através da Resolução nº 03/10 (BRASIL, 2010). Segundo eles, tais fatos aumentaram significativamente o número de matrículas de jovens a partir dos 14 anos nesta modalidade (RUMMERT, 2007), causando uma “[...] indeterminação do público-alvo e diluição das especificidades psicopedagógicas” (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 122).

Outras questões de análise também podem ser consideradas como, por exemplo, a origem dos estudantes da EJA que continua sendo de escolas públicas o que reforça a constatação de que a escola pública é para os pobres e/ou filhos dos trabalhadores (FRIGOTTO, 2010). Além disso, a diminuição do gênero feminino entre os concluintes indica que, mais uma vez, este público está sendo excluído do ambiente escolar por questões ligadas

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A pesquisa qualitativa online é uma área em crescimento, na qual algumas das abordagens qualitativas instituídas são transferidas e adaptadas para a pesquisa na internet (FLICK, 2009, p. 252).

à família (donas de casa, filhos, etc.) e renda, como frequentemente acontece no ensino fundamental.

A gravidez e outras questões familiares, no caso das mulheres, também contribuem para um novo abandono da escola. São recorrentes casos de evasão em função da dificuldade para conciliar trabalho, família e estudo, horário de trabalho, novo emprego, mudança de endereço residencial, baixo desempenho e repetência, cansaço, problemas de visão, distância da escola; doença, transporte, período de safra, dupla ou tripla jornada de trabalho, baixa autoestima, entre outros (MOURA, 2010, p. 59-60).

Percebe-se, portanto, a reincidência no ensino médio, das dificuldades enfrentadas pelas trabalhadoras-estudantes no ensino fundamental, ao conciliar os estudos com os afazeres de seus cotidianos. Apesar de, aparentemente, na atualidade, existir igualdade de gênero, não é exatamente isso que se constata pela pesquisa, permanecendo em relevo as diferenças que marcam a história da EJA como, por exemplo, o sexismo.

Na segunda fase, foram elaborados três grupos focais. O primeiro, com os estudantes ingressantes: o segundo, com os estudantes concluintes e o terceiro, com os professores que atuam na EJA EPT. Essa técnica qualitativa de grupo focal pode contribuir significativamente com a pesquisa, uma vez que amplia o olhar sobre o objeto de pesquisa considerando a subjetividade e comportamentos expressos pelo grupo (GATTI, 2012). Portanto, o objetivo principal desses grupos focais foi dialogar sobre o Trabalho Pedagógico desenvolvido e levantar pontos fortes e fracos do trabalho realizado, para posterior reflexão dos resultados e a escrita sobre as descobertas. Dessa forma, para auxílio na produção dos dados foi utilizado um gravador de voz durante a realização dos grupos focais. As manifestações foram transcritas e agrupadas em categorias para posterior utilização nas análises dialéticas ao longo do texto. Além disso, o diário de campo (FLICK, 2009) também foi utilizado durante as visitas à realidade estudada, permitindo registrar as percepções do pesquisador, as quais também contribuíram com as análises realizadas.

A terceira e última fase foi à realização de um Grupo de Interlocução no qual foram apresentados e discutidos os resultados construídos na pesquisa. A escolha de desenvolver a técnica de Grupo de Interlocução nesta pesquisa partiu do entendimento dos pesquisadores de que momentos como esse vão muito além da produção, quantificação e apresentação dos dados, trata-se de um momento de socialização e problematização da pesquisa (FERREIRA;

et al, 2014). Isto é, um momento de reanálise dos dados produzidos entre os sujeitos da

pesquisa, pois, tanto os pesquisadores iniciantes como os experientes, não trabalham sozinhos e, se o fizerem, acabam por inviabilizar a pesquisa. (GATTI, 2005). Assim, tanto os dados

produzidos quanto suas análises, estão apresentadas ao longo do texto fazendo relação entre a teoria e a prática em um movimento dialético e constante.