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5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A MULHER QUANTO A QUESTÃO DA

5.4 CAMPANHA COMPROMISSO E ATITUDE

Existe um enorme desafio para que ocorra a efetivação da Lei Maria da Penha que é um diálogo harmonioso entre os três Poderes e a extensão das ações de promoção e defesa de direitos para os diferentes estados e municípios brasileiros, com o intuito de conquistar a redução das desigualdades de gênero por meio de políticas públicas organizadas e distribuídas em todo o território nacional.

Acerca do Poder Judiciário requer-se o compromisso de viabilizar das vítimas à Justiça proporcionando-lhes um atendimento célere e humanizado.

O esforço de todos os Colegiados compostos de Tribunais, Colégios Permanente de Presidentes de Tribunais, do Conselho Nacional de Procuradores Gerais, do Conselho Nacional dos Defensores Públicos e do Ministério da Justiças segundo o Conselheiro Ney Freitas, Presidente da Comissão Permanente de Acesso à Justiça e Cidadania (CNJ, 2012) resume-se em: „divulgar os instrumentos jurídicos e as estruturas do poder público destinado a prevenir e punir a violência contra a mulher e, desta forma, reduzir a incidência desse tipo de crime“.

5.5 ATOS NORMATIVOS

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou dois atos normativos que tratam da Lei Maria da Penha.

O primeiro, data de 2007, sob a Presidente da Ministra Ellen Gracie, referindo-se a Recomendação CNJ nº 09/2007 que indicou as seguintes medidas:

1) a criação e a estruturação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nas capitais e no interior dos estados;

2) a divulgação do novo instrumento legal;

3) providências administrativas para realizar mudanças de competência e a garantia do direito de preferência em varas mistas; 4) a constituição de Grupo Interistitucional de Trabalhos para implementar as políticas públicas decorrentes da nova Lei;

5) a inclusão das estatísticas sobre a violência doméstica e familiar nas bases de dados oficiais;

6) a promoção de cursos de capacitação sobre o tema voltados, em especial, para os magistrados;

7) a integração entre o Poder Judiciário e os demais serviços da rede de atendimento à mulher (CNJ, 2007).

determinou a criação em todos os Tribunais das Coordenadorias Estaduais da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar para funcionar como órgãos permanentes de assessoria da Presidência do Tribunal, respectivamente.

Constituem atribuições das Coordenadorias:

1) a elaboração de sugestões para o aprimoramento da estrutura judicial de combate à violência contra à mulher;

2) o apoio aos agentes do Poder Judiciário para a melhoria da prestação jurisdicional;

3) a promoção da articulação interistitucional;

4) a formação de magistrados e servidores para atuar com a temática;

5) a recepção das reclamações e sugestões referentes aos serviços de atendimento daquele estado;

6) o fornecimento de dados sobre os procedimentos executados de acordo com as tabelas Unificadas do Poder Judiciário;

7) atuação conforme diretrizes estabelecidas pelo CNJ (CNJ, 2011). Destaque-se, ainda, como sendo um ponto positivo na política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar o 1º Encontro – Dialógos no Sistema de justiça para o Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, ocorrido, em data de 26 de fevereiro de 2016 (MINISTÉRIO..., 2016), na sede do Ministério das Mulheres, de Igualdade Racial e do Direitos Humano, realizado pela Secretaria Especial de políticas para as Mulheres do Ministério, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (SPM/MMIRDH), com o apoio da Comissão de Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher do Colégio Nacional dos Defensores Públicos Gerais, da Momissão Permanente de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Conselho Nacional de Procuradores Gerais (COPEVID) e do Fórum Nacional de Juízes de Violência doméstica e Familiar contra a Mulher (FONAVID).

O referido Encontro, foi de grande importância para a história da implementação Lei Maria da Penha porque desde a sua criação, esse foi o primeiro momento em que todos os atores que compõem o Sistema de Justiça responsáveis pelo enfrentamento à violência contra as mulheres se reuniram objetivando estabelecer um espaço de diálogo a fim de buscar pontos de convergência sobre a adequada implementação da Lei e pensar, conjuntamente, sobre os novos desafios para a garantia dos direitos das mulheres.

A Programação constou de uma Mesa de Abertura composta pelas seguintes autoridades: Élida de Oliveira Lauris dos Santos (MMIRDH), Aparecida Gonçalves (SPM), Ana Paula de Oliveira Lewin (CONDEGE) , Madgéli Frantz

Machado (FONAVID) e Valéria Diez Scarance Fernandes (COPEVID). Foram formadas 03 (três) Mesas de Debates sobre os seguintes temas – Competência híbrida da Lei Maria da Penha; Medidas Protetivas de Urgência; Direito da vítima da Defensoria Pública.

Foto 1 – Juizes, promotores e defensores públicos reunidos em Brasília para discutir a Lei Maria da Penha.

Fonte: Jader Santos, 2016.

A Constituição consiste no eixo formador de todo sistema jurídico, ela é o ápice da pirâmide do ordenamento jurídico, de tal forma que todos os demais ramos do ordenamento jurídico devem mostrar consentâneos com os parâmetros estabelecidos por essa Norma Maior, para que obtenham fundamento de validade.

No inciso XXXV, art. 5º da Constituição encontra-se o fundamento constitucional da ação penal ao dispor: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito“ (BRASIL, 1988).

Seguindo esta senda, ante o princípio da inércia da jurisdição, caberá ao interessado exercer o seu direito de ação provocando o Estado-juiz, para obter o provimento jurisdicional adequando à solução do litígio.

Com efeito, é possível observar que a titularidade da ação penal define sua classificação em ação pública e ação penal privada. Diz-se que ocorre ação penal pública, quando o titular privativo é o Ministério Público, podendo ser pública incondicionada e pública condicionada, diferentemente da ação privada em que é titularidade pelo ofendido ou por seu representante legal.

A ação pública incondicionada para sua propositura não se faz necessário a manifestação do interesse da vítima ou de seu representante legal, podendo o

Ministério Público intentá-la sem qualquer provocação se ficarem evidenciadas a materialidade e os indícios de autoria.

Por outro lado, ação penal condicionada carece de uma permissão da vítima ou de seu representante legal para que o Ministério Público, titular da ação, possa intentá-la.

Ao Ministério Público caberá ofertar a ação penal condicionada no prazo de seis meses do conhecimento da autoria da infração penal, precisamente, a contar da data em que a vítima tomou ciência de quem foi o autor do crime. Esse prazo possui natureza decadencial, contando na forma do art. 10 do Código Penal, incluindo-se o dia do início e excluindo-se o do vencimento, não havendo prorrogação deste prazo, mesmo que se extingua em final de semana ou feriado.

Quanto a retratação, a vítima pode retratar-se da representação, a qualquer tempo, inibindo-se o início do processo, enquanto não for oferecida a denúncia. Ora, como a representação fica adstrita à conveniência do ofentido, uma vez apresentada, é possível que ele se arrependa e volte atrás. Todavia, tão logo a representação seja oferecida torna-se irretratável, nos termos do art. 25, do Código de Processo Civil.

No tocante a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), a renúncia somente será admitida na presença do juiz, em audiência especialmente designada para tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o representante do Ministério Público, conforme prevê o seu art. 16.

Embora a convivência familiar harmoniosa seja buscada pela Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), ela fornece alguns instrumentos eficazes no combate à violência nos lares contra a mulher, tanto é assim, que no seu art. 16, para evitar a impunidade do agressor, não se aplica a transação penal, suspensão condicional do processo e composição civil dos danos, nos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher previstos na Lei 9.099/95, independentemente da quantidade e natureza da pena prevista do tipo penal incriminador.

Assim, denota-se que no procedimento de apuração desta ordem de infrações, não será possível a lavratura de termo circunstanciado e tampouco da incidência da transação penal, suspensão condicional do processo e composição civil dos danos como forma de conduzir à extinção da punibilidade.

Existem divergências na jurisprudência acerca de como ficaria a ação penal referente ao crime de lesão corporal leve por se aplicar a Lei nº 9.099/95. Seria de

natureza incondicionada à luz da Lei 9.099/95 ou seria pública condicionada à representação, nos termos do art. 16 da Lei 11.340/2006?

O assunto é polêmico e parte da doutrina e jurisprudência entende que a lesão corporal leve, para efeitos de violência doméstica e familiar, requer a representação, uma vez que encontra guarida no art. 88, da Lei 9.099/95, regra, por sua vez, inaplicável aos crimes da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).

A divergência se afigura em razão da Lei Maria da Penha, com a inserção do § 9º ao 129, haver deixado de especificar se a ação seria ou não de natureza incondicionada, lançando dúvidas e suscitando respostas através da gradativa hermenêutica.

TOURINHO FILHO (1990), faz uma distinção entre renúncia e retratação, para ele a renúncia consiste na abdicação do direito de oferecer queixa-crime ou seja de promover ação penal privada.

CAPEZ (1988, p. 106), entende que a retratação prevista no Código Penal em seu artigo 102 e no Código de Processo Penal em seu artigo 25, diz respeito a abdicação da vontade de ver instaurado o inquérito policial ou oferecida a denúncia.

Desse modo, o termo renúncia empregado pela lei, no sentido de retratação ao direito de representação é causador de problemas na interpretação na aplicação do direito, tudo isso em razão da forma exposta no dispositivo referenciado.

NUCCI (2009, p. 634), analisando a questão, tem a visão de que a lesão corporal do § 9º deve seguir à regra geral, precisamente, trata-se de uma modalidade de ação penal incondicionada, uma vez que diz respeito a um novo tipo que não se insere no contexto do caput do art. 129, e por isso, consiste numa modalidade qualificada de lesão. Veja-se:

[...] conforme já destacamos na nota anterior, entendemos ser a ação penal de natureza pública incondicionada.

[...] o mencionado art. 16 da Lei Maria da Penha não faz nenhuma referência ao delito de lesões corporais. Cita, apenas, ‚“ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata a esta lei“, o que é nitidamente insuficiente para determinar a quais crimes se vinculam. Ademais, a Lei 11.340/2006 cuida da violência doméstica, seja qual for, ou seja, para cuidar-se tanto de uma lesão simples como de uma lesão gravíssima e, até mesmo, de uma ameaça (violência psicológica ou moral). A lesão gravíssima sempre deu ensejo à ação penal pública incondicionada. Com o advento da Lei Maria da Penha, nada foi alterado. A lesão leve dava oportunidade à ação penal pública condicionada à representação. Com a edição da Lei Maria da Pena, no entanto, houve modificação.

No cenário penal, deslocou-se a violência doméstica para parágrafo específico do art. 129, tornando-se a infração qualificada, com faixa de aplicação de pena própria. Desse modo, tornou-se infração que não mais se pode considerar simples. Assim sendo, não é sujeita à representação da vítima. O preceituado pelo art. 16 da Lei Maria da Penha vale somente para os crimes que dependem de representação, não mais sendo o caso da lesão qualificada para violência doméstica.

Por outro lado, o que prevalece como posicionamento majoritário, na doutrina penal e cível (pátria) é o de que no caso de lesão corporal da Lei 11.340/2006, a representação deve ser condicionada, para que a vítima tenha o condão de decidir acerca da destinação do procedimento como lhe convier. DIAS (2007, p. 123), nesse sentido, diz que:

Com todos esses cuidados, nada justifica afastar a possibilidade de a vítima renunciar à representação levada a efeito quando do registro da ocorrência. Na hora do acertamento das questões de ordem familiar, a possibilidade de retratar a representação adquire um efeito simbólico. Confere à vítima certo ‘poder de barganha‘ frente ao agressor, pois está nas suas mãos a possibilidade de ele ser processado, condenado, preso ou absolvido sem qualquer registro de antecedentes. Esse "empoderamento" da vítima restabelece o equilíbrio da relação. Assim, a mulher dispõe da possibilidade de dar prosseguimento ou não à ação penal, além de poder levar o agressor a concordar com a separação nos termos por ela propostos, rompendo-se o ciclo de violência (DIAS, 2007, p. 123).

Segundo JESUS (2007, p. 87) sobre o aludido tema, a Lei Maria da Penha não teve o propósito de retificar a regra contida na Lei nº 9.099/95, sendo pertinente observar:

A Lei n. 11.340/2006, no que se refere à ofensa à incolumidade física e à saúde da mulher quando provocada no ambiente doméstico ou familiar, a qual configura um tipo qualificado (§ 9.º do art. 129), não teve a intenção de alterar o princípio do art. 88 da Lei n. 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais), de que a ação penal por crime de lesão corporal leve é pública condicionada à representação

EMANUEL LUTZ PINTO (2006), seguindo essa mesma linha de pensamento afirma: Tratar a ação como pública incondicionada nessas hipóteses geraria uma

incompatibilidade teleológica com o sistema do direito penal, a ponto de criar um absurdo jurídico.

16, diz que este artigo não trouxe quaisquer auxílio na compreensão da natureza da ação penal explanando que:

Mesmo tratando-se de violência doméstica e familiar contra a mulher, entendemos, na hipótese de lesão corporal leve, que a ação penal ainda continua condicionada à representação da ofendida, ainda que o art. 41 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, tenha dito expressamente que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995. Isso porque, embora com uma redação ruim, o art. 16 da Lei nº 11.340/06 faz menção à representação, dizendo, verbis: Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Assim, não importa que a exigência de representação esteja constando do art. 88 da Lei nº 9.099/95, cuja aplicação foi afastada expressamente pela Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, pois que o art. 16 mencionado anteriormente nos permite excepcionar essa regra.

Em suma, o termo renúncia, ao ser entendido como sendo retratação ao direito de representação, é visto com os contornos que se enquadram no espírito da lei. Porque a retratação somente poderá surtir efeitos quando for exercida antes do oferecimento da denúncia, uma vez que, a partir desse instante, interrompida estará a ação penal, porque o Ministério Público não poderá mais fazer uso dela.

Ora, o Ministério Público por esse raciocínio, é certo dizer que tem sua atividade reduzida na persecução criminal do autor de delitos de violência doméstica e familiar contra a mulher, caso esta pretenda desistir da ação. Assim, para o cumprimento do seu desiderato, a designação da audiência prevista no art. 16, deveria ser encaminhada pelo próprio órgão ministerial, visando uma avaliação das circunstâncias que contribuíram para a realização do ato investigado.

Por outro lado, o legislador condicionou a vítima o direito de ação prevendo, se possível, o retorno do casal a uma convivência familiar harmoniosa, buscando a paz na família, considerando que a violência doméstica ocorre numa relação afetiva, cabendo à rede de atendimento multidisciplinar, incluindo o Poder Judiciário, uma atuação emergencial e incisiva sobre as partes, a fim de evitar a ocorrência de danos e sofrimentos ainda mais graves do que os relatados pelas vítimas.

É certo – e nisso não se põe dúvidas – que apesar da Maria da Penha (Lei 11.340/2006) prevê a inadmissibilidade da aplicação dos institutos especificados na

Lei dos Juizados Especiais (9.099/95), se as lesões foram de natureza leve, a regra a ser seguida deve ser aquela prevista ao caso, que é a necessidade de representação, por força do previsto no art. 88 da Lei 9.099/95, quando versa que:

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas (BRASIL, 1995).

E mais: a Lei nº 9.099/95, por seus artigos 88 e 89 apesar de serem de aplicabilidade geral não se restringem apenas as hipóteses ali dispostas.

Expressamente, o art. 88 inserido na parte final da Lei dos Juizados Especiais, e em que pese estar em lei voltada a outras finalidades, o instituto da representação não pode ser interpretado restritivamente.

Por se tratar de um crime tão grave que atinge a família e todos os seus membros a doutrina e os tribunais vem se posicionando no sentido de que os crimes de violência doméstica e familiar não devem ser processados e julgados pelos Juizados Especiais Criminais beneficiando os agressores com a simplicidade procedimental dos juizados. A exemplo disso, tem-se que a aplicação da suspensão condicional do processo, desconsidera a relevância e devastação para a vítima e toda sua família.

Destaque-se, nesse mesmo diapasão, alguns julgados dos nossos Tribunais de Justiça tem sido no sentido de afastar a aplicabilidade dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95. Considerando o fato de que no âmbito da violência doméstica à sociedade reclama como o bem jurídico a ser protegido a integridade da mulher , o seu bem estar. Além de salvaguardar o Princípio Constitucional da Proteção a Família encartado no art. 226, da Constituição Federal. Diferentemente da situação prevista na Lei 9.099/95, que trata de regras próprias dos crimes de menor potencial ofensivo de competência dos Juizados Criminais.

A situação de vulnerabilidade da mulher quando violentada nas relações domésticas requer uma proteção que está assegurada na lei. Ocorre que, muito embora a maioria dos Tribunais venha decidindo no sentido de que não cabe nos crimes de violência doméstica a suspensão condicional do processo, por não constituir um crime previsto no art. 129 § 9º, do Código Penal, com a redação dada pela Lei 11.340/06, verifica-se situações diversas em que tal benefício se apresenta como sendo uma das medidas mais adequada.

autos do HC nº 2007.059.04592, perante a Primeira Câmara Criminal, tendo como Relator o Desembargador Mario Henrique Mazza (J.04.09/2007), que concedeu a Ordem determinando ao Órgão Ministerial que se posicione sobre a aplicação da suspensão condicional do processo, por considerar que esta medida lhe parece ser a mais apropriada, uma vez que mantém o réu sob a vigilância do Juízo pelo menso dois anos, sem prejuízo de eventuais condições específicas que o juíz imposer consoante as circunstâncias do caso. A referida decisão se fundamenta no princípio dos fins sociais a que a lei se destina. 1

Ademais, por se tratar de uma ofensa que vem malferir o ambiente familiar, a palavra da vítima é considerada de valor probatório relevante, tanto que a proposta de suspensão condicional do processo e audiência preliminar prevista no art. 16, da Lei Maria da Penha podem ser afastada. 2

Outra situação que dispensa os benfícios da suspensão condicional do processo decorre da comprovação da materialidade com evidências de lesão corporal grave contra a vítima.3

Pode-se, ainda, ver mais uma situação julgada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que decidiu pela nulidade do feito em razão da impossibilidade de se aplicar os benefícios da suspensão condicional do processo para o crime de lesão corporal em violência doméstica, uma vez que tal situação não configurar crime de menor potencial ofensivo, por consequência não se submete ao previsto na Lei 9,099/95. Assim se verifica do posicionamento do TGMG. 4

Esta realidade parece ser ignorada por muitos operadores jurídicos, que ainda defendem a simplicidade procedimental dos juizados, como os que insistem no absurdo de aplicar a suspensão condicional do processo, para crimes tão relevantes e devastadores para a vítima e toda sua família. Ações malévolas que sem dúvida há tempos reclamava uma ação afirmativa como prevista na Lei 11.340/2006, que constitui autêntico instrumento estatuído para reequilibrar as relações de gênero.

O Superior Tribunal de Justiça numa mesma Turma manifestou-se com decisões divergentes:

O Superior Tribunal de Justiça entendeu que em se tratando de

1 ANEXO A -TJRJ 2 ANEXO B - TJSP 3 ANEXO C - TJRS 4 Anexo D – TJMG

lesões corporais leves e culposas praticadas no âmbito familiar contra a mulher, a ação é pública incondicionada. A Relatora Ministra Jane Silva (Desembargadora convocada do Tribunal de Justiça de Minas Gerais entendeu que, em nome da proteção à família, preconizada na Constituição Federal, e em frente ao disposto no art. 88 da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que afasta expressamente a aplicação da Lei nº 9.099/1995, os institutos despenalizadores e as medidas mais benéficas previstos nesta última lei não se aplicam aos casos de violência doméstica e independem de representação da vítima para a propositura da ação penal pelo MP nos casos de lesão corporal leve ou culposa.