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4 A MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A VIOLÊNCIA

4.2 EXCURSO SOBRE O DIREITO DA MULHER

A escada para se penetrar nas estruturas existenciais do direito da mulher é manejada pelas regras carregadas por comportamentos moralmente relevantes, tais como, os meios de lutas dentro de um contexto histórico institucional de direitos políticos pertencentes a uma categoria de pessoas, em busca de um direito a iguais liberdades de ações subjetivas.

A partir de um evento ocorrido no Dia 8 de março de 1857, em Nova York -

EUA, as operárias de uma indústria têxtil saíram às ruas em busca de melhores

condições de trabalho.

A privação de direitos se deu em razão da jornada de trabalho para tais trabalhadoras, a época era, em média, de dezesseis horas, enquanto a remuneração das mesmas equivalia a metade do salário dos homens. Após a passeata todas as trabalhadoras reuniram-se na fábrica. Cientes da reunião os patrões incendiaram o prédio. Resultado: 129 corpos de mulheres foram queimados.

Hoje se comemora mundialmente a data de 8 de março bem diferente, com homenagens as vítimas. Muita coisa mudou em relação à vida das mulheres daquele tempo para cá. Muitos avanços, conquistas, sonhos e desejos foram realizados. Porém, ainda, perdura a desigualdade de fato entre mulheres e homens, muito se tem a construir.

A realidade social contemporânea ainda continua apontando para a violência e discriminação e menor escolarização da mulher.

Tais circunstâncias configuraram os instrumentos simbólicos externos que impulsionaram as funções de status para aceitação do reconhecimento coletivo de que as mulheres trabalhadoras deveriam usufruir da proteção estatal nas relações de trabalho com efeitos de longo alcance sobre o equilíbrio de poder econômico entre mulheres e homens.

Assim o bem jurídico a ser protegido deveria ser o bem estar feminino, em especial, no reconhecimento adequado da participação das mulheres no mercado de

trabalho com liberdade (SEARLE, 2000).

Pode-se dizer que nesse longo caminho o grande alcance da condição de agente das mulheres tem sido negligenciada no sentido de se buscar uma vida melhor, mais feliz e igualitária.

Porém, denota-se que a intencionalidade coletiva por meio do direito positivo tem assegurado por vários tratados internacionais de proteção os direitos humanos das mulheres ratificando-os, dentre outras, as introdutoras das chamadas concepções contemporâneas: a Declaração Universal de 1948 e reiterada na Declaração dos Direitos Humanos de Viena de 1993.

No Brasil a Constituição é avançada na proteção dos direitos da mulher prevendo o direito social a saúde integral da mulher. Para tanto, dentre outros direitos individuais, garante a proteção da maternidade, licença de 120 dias à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, pré-natal, creche, educação gratuita.

Mas, só o que está na lei não é suficiente. É preciso que essa legislação seja praticada e que tais garantias sejam repeitadas na sociedade e pelos Poderes Públicos.

A garantia da igualdade de gêneros entre homens e mulheres no exercício de todos os seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, deve ser respeitada e valorizada em todas as suas diferenças.

Assim, constata-se, pois, que toda compreensão sobre os direitos da mulher requer uma inexorável e indissociável condição histórica, que faz mediações sobre os seguintes aspectos:

1) o respeito à dignidade da pessoa humana e ao Estado Democrático de Direito, no qual todos, governantes e governados/as estejam igualmente submetidos/as à lei, a fim de que se possa construir uma sociedade justa, fraterna e solidária;

2) a buscar uma alternativa jurídica para o efetivo reconhecimento da mulher, individual e coletivamente, como cidadã;

3) a realização de Políticas Públicas visando o atendimento jurídico as organizações governamentais e não governamentais também preocupadas com a mulher;

rede de atendimento multidisciplinar;

5) a formação de ações preventivas sobre os direitos da mulher de forma a favorecer sua plena participação na vida sócio-econômica, política e cultural;

6) e, por fim, a realização de estudos e pesquisas sobre relações de gênero e temas afins.

Para a possibilidade de uma hermenêutica jurídica, de um estudo do Direito, faz-se necessário que a lei esteja vinculada por igual a todos os membros da comunidade. Daí a tarefa de interpretação consistir em concretar a lei em cada caso, sendo, pois, sua legítima e justa aplicação.

Registre-se que cabe ao intérprete do Direito, na condição de sujeito inserido, mergulhar no ambiente cultural-histórico focado, distanciando-se, na medida do possível, do objeto analisado. Porém, continuar, mesmo assim, o grande desafio dessa incansável perquirição.

À guisa de corte de um estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados da ciência do Direito, o trabalho ora apresentado tomou por base, inicialmente, os ensinamentos de HANS KELSEN (1996) na acepção do Direito como sendo um conjunto de normas jurídicas válidas num determinado país, a partir do que se tornou, insofismavelmente relevante a compreensão do sentido da norma jurídica como meio de se intentar alcançar ferramentas para se conceber a essência do Direito.

Entretanto, a seguir, ao examinar a interpretação das regras que operam na lógica do tudo-ou-nada, foi apresentada a compreensão do jurista DWORKIN (2002), que em sentido contrário, ressalta a importância dos princípios na abordagem das questões complexas, por ser os princípios apesar de não pretenderem fixar regras ou condições que tornem sua aplicação necessária, preconizadores de uma razão que conduz o argumento a certa decisão, que se aplicará ao caso particular.

Para DWORKIN (2002), os princípios possuem uma dimensão ausente nas regras: qual sejam o peso e a importância. Embora considere as regras funcionalmente necessárias ou desnecessárias, afirma que elas não podendo ser sopesadas; se duas delas entram em conflito, uma será necessariamente declarada inválida. Ao contrário do que ocorrem com os princípios, que podem ser cotejados com outros princípios e regras, atribuindo-se-lhes o peso conforme sua importância.

Ainda, quanto ao poder discricionário dos juízes para os positivistas ele está limitado pela linguagem ordinária; conquanto, refere-se a um conceito relativo. Normalmente, o juiz se utiliza do poder discricionário quando o contexto envolve questões simples e apenas suficientemente esclarecedora.

Em oposição, DWORKIN (2002) afasta todo e qualquer argumento que não há nada no caráter lógico e na utilização de regras ou princípios, no seu entender, deve se desenvolver uma teoria que opera na seleção de argumentos jurídicos adequados.

Assim, o estudo ora apresentado teve por escopo uma reflexão microsistêmica da norma jurídica: desde sua importância como caracter consubstanciador do direito até a inter-relação eficacial da norma com a realidade verificada concretamente, tendo como proposta epistemológica o Direito da Mulher.

Por isso, ao observar-se os contributos mais significativos para a sua concretude há de se reconhecer, sem dúvida, a influência da condição histórica, por várias décadas, como enfoque evolutivo privilegiando a sua regulamentação como um bem jurídico a ser protegido.