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4 A MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A VIOLÊNCIA

4.6 LEI MARIA DA PENHA

A violência doméstica tem sua origem na cultura patriarcal que está arraigada nas relações sociais. Sem se aperceber a conduta social é normatizada de forma a assegurar um modo de vida pelas mulheres que a levam ter um bom desempenho nas atividades domésticas e ajudadora (esposa, companheira, amante e mãe), na maioria dependentes dos seus maridos ou companheiros.

A propósito, o termo violência provém do latim violentia, cujo significado quer dizer a conduta de violentar abusivamente contra o direito natural, exercendo constrangimento sobre determinada pessoa por obrigá-la a praticar ato contra a sua vontade.

Assim, tem-se que violência doméstica é a violação do direito natural acometido no próprio lar, dentro do seio da família, no ambiente mais íntimo que uma pessoa pode ter. O local onde mais comumente ocorrem situações de violência contra a mulher é a residência da vítima independente da faixa etária.

O Estado brasileiro tem como sendo uma das suas maiores preocupações a violência contra as mulheres e tal fato enseja o desenvolvimento de políticas públicas e específicas para o seu devido enfrentamento.

O Brasil ocupa, atualmente, o 7º lugar no ranking mundial dos países com um maior índice de crimes praticados contras as mulheres (SPM, 2012 apud CNJ, 2013). Para cada 100 mulheres ocorrem 4,5 homicídios a cada ano. Nos últimos 30 anos, morreram assassinadas cerca de 92 mil mulheres, tendo sito 43,7 mil apenas na última década, o que percebe-se que houve um aumento considerável deste tipo de violência a partir dos anos 90 (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2012 apud CNJ, 2013). Vale dizer que os referidos dados vêm conjeturando a formulação de diversas políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres, tendo sido a Ldei Maria da Penha uma das mais destacadas iniciativas nesse sentido.

Todo e qualquer caso de violência doméstica e intrafamiliar é considerado crime e está previsto na Lei Maria da Penha que deverá ser apurado através de inquérito policial e remetido ao Ministério Público para serem julgados pelos Juizados Especializados de Violência Doméstica contra Mulher ou, nos Juízos competentes nas cidades onde não existam Varas especializadas.

A Lei Maria da Penha (Lei n. 11. 340, sancionada em 7 de agosto de 2006), pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu esse nome em homenagem à uma cearense, Maria da Penha Maia Fernandes, biofarmacêutica, pós-graduada, cujo marido um columbiano, Marco Antonio Herredia Viveiros, professor universitário de economia, tentou matá-la duas vezes, no ano de 1983, em Fortaleza (CE). Na primeira vez com arma de fogo deixando-a paraplégica e na segunda vez por eletrocução e afogamento. O marido de Maria da Penha somente foi punido depois de transcorrido 19 anos de julgamento e ficou apenas dois anos em regime fechado. Daí, Maria da Penha passou dedicar-se à causa do enfrentamento à violência contra as mulheres.

Em que pese haver sido condenado pelos Tribunais locais em dois julgamentos (1991 e 1996) o marido de Maria da Penha nunca havia sido preso e o processo continuava em andamento devido aos sucessivos recursos de apelação contra as decisões do Tribunal do Júri.

Após dois anos, da sua condenação, precisamente, em 1988, o Centro para a Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino-America e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM), juntamente com Maria da Penha,

enviaram o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), pela demora injustificada em não se dar uma decisão definitiva no processo.

O Brasil se fez silente perante a Comissão.

Todavia, após 18 anos da prática do crime, em 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica e recomendou várias medidas em relação ao caso concreto de Maria da Penha e, ainda, exigindo políticas públicas do Estado para enfrentar a violência doméstica e familiar contra às mulheres brasileiras.

O processo no âmbito nacional foi encerrado por força da pressão internacional de audiências de seguimento do caso na Comissão Interamericana em 2002. No ano seguinte, em 2003, o ex-marido de Maria da Penha foi preso.

Entre as principais inovações da Lei Maria da Penha destacam-se a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; a proibição da aplicação de penas pecuniárias aos agressores; a possibilidade de concessão de medidas protetivas de urgência; e o caráter híbrido das ações, que podem ser penais ou não penais.

Nesse universo jurídico de direitos destinados ao atendimento da mulher vitimada, mister se faz a ciração de mecanismos para um atendimento justo e eficaz e a Lei Maria da Pena estabeleceu os seguintes mecanismos:

1) tipificou e definiu o crime de violência doméstica e familiar contra a mulher;

2) estabeleceu as formas da violência doméstica e familiar contra a mulher como sendo física, psicológica, sexual, patrimonial e moral; 3) determinou que a violência doméstica contra a mulher dar-se-á independentementede sua orientação sexual;

4) determinou que somente perante o juiz a mulher poderá renunciar à denúncia;

5) proibiu as aplicação de penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas);

6) afastou a competência dos juizados especiais criminais (Lei n. 9.099/95) a competência para julgar os crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher;

7) modificou o Código de Processo Penal possibilitando ao juiz a decretação da prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou psicológica da mulher;

8) alterou a lei de execuções penais permitindo ao juiz determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação, talvez para refletir acerca do seu desvio de conduta durante a convivência familiar;

9) determinou aos Tribunais a criação de juizados especiais de violência doméstica e familiar contra a mulher com competência cível e criminal para abranger as questões de família decorrentes da violência contra a mulher;

10) aumentou a pena em um terço para a hipótese da violência doméstica cometida contra mulher com deficiência;

11) criou um capítulo específico para o atendimento perante a autoridade policial nos casos de violência contra a mulher;

12) Compete a autoridade policial os atos de registro do boletim de ocorrência e instauração do inquérito policial (composto pelos depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas documentais e periciais) e, ainda, a remessa do inquérito policial ao Ministério Público;

13) em quarenta e oito horas, pode a autoridade policial requer ao juiz a concessão de medidas protetivas de urgência ´para a mulher em situação de violência doméstica e familiar;

14) a autoridade policial, dependendo da situação, pode solicitar diretamente ao juiz a decretação da prisão preventiva do agressor com o seu afastamento do lar, distanciando-se da vítima, dentre outras proibições de conduta social;

15) ampliação da competência do juiz do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher que poderá apreciar o crime e os casos que envolvem questões de família (fixar pensão, decretar separação de fato, guarda de filhos etc.);

16) e permitido ao representante do Ministério Público apresentar denúncia ao juiz e propor penas de três meses a três anos de detenção, cabendo ao Juiz o julgamento final (CNJ, 2014).

Atente-se, pois, que a Lei Maria da Penha modificou o Código Penal brasileiro e possibilitou que os agressores fossem presos em flagrante delito ou tivessem sua prisão preventiva decretada, como também não fossem contemplados apenas com penas alternativas. Aumentou o tempo máximo de detenção previsto para três anos e, ainda, permitiu que o agressor fosse afastado do seu domicílio com proibição de aproximar-se da mulher agredida e de seus filhos estabelecendo limites quanto ao seu acesso a convivência familiar pelo tempo que se fizer necessário.

A Lei 11.340/2006 foi criada para colaborar com a criação de mecanismos para combater e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, seja essa violência física, psicológica, sexual, patrimonial e/ou moral. Além disso, ela garante medidas punitivas aos agressores e diversos direitos à mulher.

5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A MULHER QUANTO A QUESTÃO DA