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Desse modo, as pessoas devem possuir o direito de desenvolver sua personalidade e as instituições políticas e jurídicas estão obrigadas a promover os meios necessários para sua efetivação e jamais dificultá-lo, segundo afirma BARROSO (2001).

Nesse contexto, ao Estado não é permitido negar a liberdade de manifestação de escolhas das pessoas, em especial da mulher, seja em que situação for, no projeto de vida em comum junto à sua família, na liberdade de escolher o seu par, seja do sexo que for, bem como o tipo de entidade que quiser para construir sua família, nem na sua maternidade, no tocante ao número de filhos que ela possa gerar, na sua vida profissional, intelectual e espiritual. Enfim, não se pode admitir que o Estado imponha regras que prejudiquem o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, ao contrário, ele deve possibilitar o pleno respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Há que se ressaltar que a formação da família, no contexto do casamento, não deve seguir regras que estabeleçam privilégios de modo a gerar desigualdades. Preconceitos e posturas discriminatórias devem ser abolidas nas relações de família que, por sua vez, devem ser pautadas em relações de solidariedade, fraternidade, afetividade que tutelam a dignidade de cada um dos seus membros.

A intervenção do Estado na família é legítima e justificável quando fundada na proteção dos indivíduos, com o intuito de concretizar os direitos dos seus integrantes.

A família brasileira em virtude de sua especial proteção preconizada pelo Texto Constitucional, deve ser tutelada conforme prevê o art. 226 da Constituição Federal.

Assim, cabe ao Estado propiciar condições para combater a violência doméstica e familiar conferindo primazia à pessoa humana, no caso concreto, assegurando à mulher, como vítima, o auxílio imediato quando ela estiver em situação de risco e, como medida preventiva, minimizar os males que porventura venham atingir as relações familiares afetando a figura feminina no seu caráter pessoal e existencial.

É sabido que em uma sociedade democrática, todos os indivíduos são dignos e tratados igualmente, por isso seus direitos são garantidos em todos os

aspectos, sejam relativos aos aspectos econômicos, à saúde, à educação, ao trabalho, ao direito, à justiça e manifestação cultural.

No século XX, surgiu o Estado do Bem-Estar Social, como forma de combater o agravamento das desigualdades e injustiças sociais e o aumento do índice de pobreza que levaram as forças políticas e espirituais a buscarem um nova situação que trouxessem uma melhor qualidade de vida. Inicialmente, esse modelo estatal foi estabelecido juridicamente com as constituições mexicana (1917) e alemã de WEIMAR (1919).

Ora, os direitos individuais dos cidadãos mexicanos e alemães, conquistados pelas revoluções liberais dos séculos XVII e XVIII foram acrescidos aos reconhecidos pelas suas respectivas Constituições e, posteriormente, foram introduzidos os direitos sociais relativos às crianças e aos adolescentes, às mulheres, aos idosos, às pessoas com deficiências, ao meio ambiente, dentre outros.

Diante disso, o conceito de Justiça Social pressupõe que o desenvolvimento não pode se resumir apenas ao crescimento econômico, porque envolve a justiça distributiva, isto é, cada cidadão deve receber o que lhe é devido, as liberdades políticas e civis, as oportunidades sociais, a transparência na esfera pública e privada e a proteção social.

Não há que se falar em desenvolvimento se inexiste o acesso à educação, à saúde, à segurança, à propriedade, ao crédito, à livre iniciativa, aos bens públicos, ao meio ambiente e a tudo que assegure uma vida equilibrada com boa qualidade em uma sociedade moderna e democrática (SEN, 2010, p. 29).

Hoje, a humanidade está dividida por um fosso econômico que não se comunica ante a dificuldade de entendimento por força da enorme desigualdade social: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres; o mundo dos desenvolvidos e o mundo dos subdesenvolvidos.

A solução não vem exatamente porque não há comunicação entre os países desenvolvidos com os países subdesenvolvidos, o conservadorismo dos países ricos impede o desejo deles de buscarem uma transformação.

É preciso que haja vontade política do Poder Público para oferecer uma melhor condição de vida aos seus cidadãos e, tal atitude, requer uma mudança radical no comportamento humano porque implicará a necessidade de um equilíbrio entre as diversas camadas sociais.

No Brasil, a desigualdade de renda tem suas raízes históricas ao longo das últimas décadas e é fruto da escravidão e sua abolição tardia, passiva e paternalista, ao caráter elitista oriundo da República Velha e, posteriormente, corporativista, isso já, na era Vargas, em sua grande parte considerável do período Republicano.

A pobreza é um sério problema que atinge a população brasileira, mas a desigualdade social é bem mais grave.

Denota-se que a desigualdade reflete um acordo social excludente não admitindo a cidadania para todos, causando prejuízo aos excluídos no que diz respeito aos seus direitos, às oportunidades e aos horizontes.

Tem-se que a população pobre em nosso País, em sua maioria, concentra- se nas favelas, nos cortiços e nas ruas dos grandes centros metropolitanos, passando despercebidas aos olhos dos formuladores e dos gestores das políticas públicas.

Segundo dados fornecidos pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, no Rio de Janeiro, com base no ano de 2001:

A pobreza aflige cerca de 53 milhões de brasileiros, dos quais 72% encontram-se em condição de miséria. Esses valores enormes em termos absolutos são incompatíveis com o grau de desenvolvimento econômico do País. Algo como 75% da humanidade vive com renda per capita, corrida pela paridade de poder de compra inferior à brasileira. A causa básica deste paradoxo está no fato de o Brasil ter uma das mais elevadas desigualdades de renda do mundo. A intensidade dessa desigualdade coloca o Brasil distante de qualquer padrão, reconhecível, no cenário mundial, como razoável em termos de justiça distributiva (INSTITUTO..., 2001, p. 4).

Convém que se ressalte, ainda, uma preocupação comum, no sentido de que se defenda a manutenção das garantias individuais, vez que em havendo uma concentração de poder nas mãos de um limitado número de burocratas e ou ainda, existindo divergências acerca da implementação das políticas econômicas, tais circunstâncias tragam, obrigatoriamente, o uso da força pelo governo para que suas medidas sejam toleradas esbarrando na tirania das liberdades como prevê a tese central de HAYEK (2010).

A questão que se coloca, ainda, diz respeito ao paradoxo do espírito da democracia e o espírito da liberdade, tema que corresponde aos meios escolhidos por TOCQUEVILLE quanto ao seu empenho para obstar a esmagadora pressão da multidão sobre a minoria indefesa (JASMIN, 1991).

Contudo, o que se observa, em última análise, é o fato de que a desigualdade social afeta o desenvolvimento dos países que não oferece à maioria da sua população uma educação de qualidade, melhores oportunidades no mercado de trabalho e acesso aos bens culturais e históricos que integram aos seus cidadãos.

Diante disso, a redução da desigualdade, seja do ponto de vista moral, econômico e/ou social deve ser o foco de desenvolvimento para o Brasil, pois só assim, o Estado cumprirá o seu dever de proporcionar proteção à família, base da entidade familiar, garantindo a mulher o seu direito a uma vida digna, embasada no respeito, afeto, segurança e profissionalismo.

3 A MULHER COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO: A CONDIÇÃO DE