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Direitos da mulher como fator de justiça e desenvolvimento: uma abordagem na legislação constitucional e infraconstitucional na busca da exclusão das formas de privação de liberdade da mulher

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO MESTRADO EM DIREITO CONSTITUCIONAL. FÁTIMA MARIA COSTA SOARES DE LIMA. DIREITOS DA MULHER COMO FATOR DE JUSTIÇA E DESENVOLVIMENTO: UMA ABORDAGEM NA LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL. NATAL/RN 2016.

(2) FÁTIMA MARIA COSTA SOARES DE LIMA. DIREITOS DA MULHER COMO FATOR DE JUSTIÇA E DESENVOLVIMENTO: UMA ABORDAGEM NA LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Direito Constitucional, sob a orientação do Professor Doutor Yanko Marcius de Alencar Xavier.. NATAL/RN 2016.

(3) Catalogação na Fonte Lima, Fátima Maria Costa Soares de. Direitos da mulher como fator de justiça e desenvolvimento: uma abordagem na legislação constitucional e infraconstitucional na busca da exclusão das formas de privação de liberdade da mulher / Fátima Maria Costa Soares de Lima. – Natal, 2016. 170 f. Orientador: Doutor Yanko Marcius de Alencar Xavier . Dissertação (Programa de Pós-graduação em Direito - Mestrado em Direito Constitucional). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 1. Desenvolvimento – Dissertação. 2. Liberdade – Dissertação. 3. Igualdade – Dissertação. 4. Formas de privação de liberdade – Dissertação. 5. Violência doméstica e familiar contra a mulher – Dissertação. 6. Empoderamento feminino – Dissertação. 7. Políticas públicas 8. Responsabilidade solidária – Dissertação. I. Xavier, Yanko Marcius de Alencar. II. Título. RN. CDU 342.726 Larissa Inês da Costa – CRB 15-657.

(4) FÁTIMA MARIA COSTA SOARES DE LIMA. DIREITOS DA MULHER COMO FATOR DE JUSTIÇA E DESENVOLVIMENTO: UMA ABORDAGEM NA LEGISLAÇÃO CONSTITUCIONAL E INFRACONSTITUCIONAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito.. Aprovada em: ____ / _______________ / 2016.. BANCA EXAMINADORA. ______________________________________________________ Prof. Doutor José Orlando Ribeiro Rosário (Presidente) Presidente. ______________________________________________________ Professora Doutora Patrícia Borba Vilar Guimarães 1a Examinadora Interna. ______________________________________________________ Professor Pós-Doutor Paulo Lopo Saraiva 2º Examinador Externo.

(5) À Deus, Senhor de tudo. À minha família pais (in memorium), esposo, filhos, noras e netos, pelo amor incondicional e incentivo na realização dos meus sonhos.. Às mulheres, que com suas histórias me impulsionaram a alcançar o objetivo desse estudo..

(6) AGRADECIMENTOS À Deus pela inspiração, força e saúde possibilitando superar às dificuldades. Aos meus pais, Maria da Conceição e João Veríssimo (IN MEMORIAN). Ao meu esposo João Batista Soares de Lima pelo carinho, companheirismo e incentivo na construção deste sonhado projeto acadêmico. Aos meus amados Isaac e Felipe, às minhas queridas Sarinha, Renata, Ana Paula e Lívia, aos meus grandes pequeninos Isabela e Pedro, pelo amor incondicional e incentivo. Aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos agradeço pela força e as orações constantes em meu favor. Ao meu Professor Doutor Yanko Marcius de Alencar Xavier pela confiança, pela oportunidade de trabalhar ao seu lado e por me incentivar na superação de meus limites. Obrigada, também, Professor Yanko, por me trazer para uma reflexão valorizando o desenvolvimento como liberdade, aplicando-se as questões femininas. À UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) pelas suas instalações e produção de conhecimentos, que por meio de seu corpo docente, direção e administração, consolidei minha paixão pelo Direito, desde o meu primeiro Curso (Graduação em Direito), em seguida, Especialização em Direito da Criança e do Adolescente e, neste momento, na linha da Justiça e do Desenvolvimento, busco respostas que possam minimizar as privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das mulheres potiguares. Aos Funcionários do Programa de Pós Graduação, na pessoa de Lígia, pela sua simpatia, dedicação e zelo, que esteve sempre disposta a nos ajudar. À ESMARN (Escola da Magistratura do Rio Grande do Norte) e ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, por seus Desembargadores e respectivos Presidentes, os meus profundos e sinceros agradecimentos, pois por meio de seus incentivos e apoios, esta pesquisa pode se desenvolver a contento. Agradeço, ao Desembargador Expedito Ferreira de Souza, a Professora Doutora Maria dos Remédios Fontes Silva e ao Professor Yanko Marcius de Alencar Xavier, pelo empenho de todos na realização desse Curso (Mestrado). Obrigada pela oportunidade e confiança. Aos Mestres, por transmitirem seus preciosos conhecimentos e me guiarem no caminho da ciência..

(7) Agradeço aos Professores das Bancas Examinadoras Professor Doutor José Orlando Ribeiro Rosário (Presidente), Professora Doutora Patrícia Borba Vilar Guimarães, Professora Doutora Cristina Fonori Consani. Agradeço, em especial, ao Professor Doutor Paulo Lopo Saraiva, por aceitar fazer parte da Banca, obrigada pela gentileza. Agradeço à Professora Doutora Sara Maria de Andrade Silva pelo apoio e incentivo na concepção do projeto de pesquisa. Obrigada à Professora Doutora Marilac de Castro (Diretora do IFRN) e à bibliotecária Larissa Costa e ao Professor Silvio Augusto, foi bom contar com vocês na conclusão deste trabalho. À querida Professora Benzilda responsável pelas minhas primeiras lições sobre "Educação Moral e Cívica, no antigo ATHENEU" e por sempre se regozijar com minhas conquistas. Às minhas amigas irmãs de orações que aqui faço nas pessoas de Tia Dadá, Edna, Gracinha, Maristela, Maria, Iara Moema, Vanda, Dulcineide, Marlene, Ivanice, Quinha, Beth, Taninha, Solange, Ana, Vaninha, Patrícia, Belke, Maysa, Aninha, Verônica, Elena, por estarem sempre prontas a intercederem por mim em todas às horas. Aos colegas do Curso, obrigada pela ajuda, incentivo e companheirismo, em especial, à querida Carla Portela, exemplo de vida, mais que amiga de dupla em Seminários, colega de profissão, uma irmã. Muito obrigada Carlinha, pela amizade verdadeira, doce e prestativa, apesar da distância (Mossoró e Natal), você sempre me incentivou a concluir este trabalho. À querida Ticiana Delgado, obrigada pelas orientações, pelo incentivo, pela amizade e sua incansável dedicação. À Deputada Cristiane Dantas, quem sempre me incentivou. A todos os meus demais queridos amigos e integrantes das minhas diversas equipes de trabalho do Fórum Zona Sul, COMESRN, COPEGAM, NAPS e Comarca de Campo Grande, que sempre estiveram ao meu lado acompanhando tudo e, alguns, mesmo de longe, vibraram pela minha realização e sucesso profissional, obrigada pela amizade e carinho!.

(8) Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem que passar para além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu Mas nele é que espelhou o céu.. (Fernando Pessoa, in Mensagem).

(9) RESUMO A justiça e o desenvolvimento implicam em uma composição global de normas, políticas e padrões de igualdade de gêneros, ao mesmo tempo em que apresentam respostas aos tantos impasses, desafios e novas oportunidades. Este trabalho visa analisar a problemática dos direitos humanos das mulheres, empreendendo um estudo histórico-evolutivo, por meio da pesquisa bibliográfica, acerca da forma de proteção às mulheres quanto à sua intervenção ativa na sociedade. A base teórica deste trabalho está centrada na obra Desenvolvimento como Liberdade de Amartya Sen sob a sua visão acerca do desenvolvimento relacionado com a melhoria de vida que levamos e das liberdades que desfrutamos. Constata-se que não se pode ignorar a urgência em corrigir muitas desigualdades que possam minar o seu bemestar. Dentre essas desigualdades, a violência doméstica e familiar é a mais significativa, porque consiste numa situação complexa proveniente de uma cultura patriarcal que ainda se encontra consolidada nas suas relações afetivas e sociais, culminando com a influência da existência de normas no ordenamento jurídico pátrio, sem a eficácia e a efetividade, dos direitos adquiridos pelas mulheres ao longo de suas histórias de conquistas. O maior desafio para implementar a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) apresenta-se como sendo o diálogo entre os três Poderes e a extensão das ações de promoção e defesa de direitos, envolvendo os estados e municípios brasileiros, visando reduzir a desigualdade de gênero por meio de políticas públicas bem coordenadas e distribuídas em todo o País. O Poder Judiciário tem o compromisso de possibilitar o mais amplo e melhor acesso à Justiça, às mulheres em situação de violência, garantindo-lhes, com celeridade e de forma humanescente, a entrega dos seus direitos. Quanto à possibilidade de enfrentamento às questões de superação à violência doméstica e familiar, fica evidente a necessidade de inserir-se nos planos de ação de implementação da lei, o reconhecimento benemérito da governação das mulheres, sua efetiva atuação, com voz e representação, como sendo um importante fator de proteção do desenvolvimento para uma sociedade sustentável. Palavras-chave: Desenvolvimento. Liberdade. Igualdade. Formas de privação de liberdade. Violência doméstica e familiar contra a mulher. Empoderamento feminino. Políticas públicas. Responsabilidade solidária..

(10) ABSTRACT Justice and development involve a global composition standards, policies and gender equality standards, while presenting answers to the many impasses, challenges and new opportunities. This work aims to analyze the issue of human rights of women undertaking a historical-evolutionary study through the literature, on the way to protect women as their active intervention in society. The theoretical basis of this work is focused on development work as Amartya Sen Freedom under his vision of the development related to the improvement of life we lead and the freedoms we enjoy. It appears that one can not ignore the urgency to correct many inequalities that might undermine their well-being. Among these inequalities domestic and family violence is the most significant, because it is a complex situation from a patriarchal culture which is still consolidated in their affective and social relations, culminating with the influence of the existence of standards in the Brazilian legal system, without efficacy and effectiveness of the rights acquired by women over their stories of achievements. The biggest challenge to implement the Maria da Penha Law (Law 11.340 / 2006) is presented as a dialogue between the three branches of government and the extent of promotion and advocacy involving the states and municipalities, to reduce inequality genre through public policies well coordinated and distributed throughout the country. the Judiciary is committed to enable broader and better access to justice for women in situations of violence, guaranteeing them, promptly and in a humane way, delivery of their rights. As for the possibility of coping overcoming issues of domestic and family violence is evident, the need to be embedded in the law implementing action plans, the meritorious recognition of women's governance, its activeness, with voice and representation, as It is an important development protection factor for a sustainable society. Keywords: Development. Freedom. Equality. Freedom deprivation forms. Domestic violence against women and family. Empowerment fem. Public policy. Solidarity responsibility..

(11) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Foto 1 – Juizes, promotores e defensores públicos reunidos em Brasília para discutir a Lei Maria da Penha ..............................................................................................101. Gráfico 1 – Número de Processos que entraram no Poder Judiciário, decorrente de Violência Doméstica no Rio Grande do Norte .........................................................112. Mapa 1 – Processos em andamento de Violência Doméstica no Rio Grande do Norte por Foro. ..................................................................................................................113 Mapa 2 – Processos em andamento de Violência Doméstica no Rio Grande do Norte por Foro ...................................................................................................................113 Mapa 3 – Processos em andamento de Violência Doméstica no Rio Grande do Norte por Foro ...................................................................................................................114.

(12) LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AMB. Associação dos Magistrados Brasileiros. CEJIL. Centro para a Justiça e o Direito Internacional. CLADEM. Comitê Latino-America e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher. CNJ. Conselho Nacional de Justiça. CONDEGE. Colégio Nacional de Defensores Públicos-Gerais. COMESRN-TJRN Coordenação Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte COPEVID. Conselho Nacional de Procuradores Gerais. DPMRQ/MDA. Diretoria de Políticas para Mulheres Rurais e Quilombolas do Ministério do Desenvolvimento Agrário.. ESMARN. Escola da Magistratura do Rio Grande do Norte. ENFAM. Escola. Nacional. de. Formação. e. Aperfeiçoamento. de. Magistrados FONAVID. Fórum Nacional de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. IBGE. Instituto Brasileiro de Georafia e Estatística. INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. MMIRDH. Mulheres do Ministério, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. OEA. Comissão Interamericana de Direitos Humanos. PRONAF. Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura familiar. SPM. Secretaria de Políticas para as Mulheres. SPM-PR. Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. SRJ. Secretaria da Reforma do Judiciário, ligada ao Ministério da Justiça..

(13) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 A QUESTÃO DA MULHER NA SOCIEDADE ATUAL ........................................... 19 2.1 IDENTIDADE FEMININA E PROFISSIONALISMO ............................................. 19 2.2 QUESTÃO DE GÊNERO E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR ............... 26 2.3 O FEMINISMO E A MULHER NEGRA ................................................................ 28 2.4 O DESENVOLVIMENTO E O BEM ESTAR SOCIAL .......................................... 30 3 A MULHER COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO: A CONDIÇÃO DE AGENTE DAS MULHERES E A MUDANÇA SOCIAL – POR AMARTYA SEN.......... 34 3.1 CONDIÇÃO DE AGENTES E BEM-ESTAR ........................................................ 42 3.2 CONFLITOS COOPERATIVOS ........................................................................... 43 3.3 PERCEPÇÕES DE INTITULAMENTO ................................................................ 52 3.4 A SOBREVIVÊNCIA DAS CRIANÇAS E A CONDIÇÃO DE AGENTE DA MULHER ................................................................................................................... 52 3.5 CONDIÇÃO DE AGENTE, EMANCIPAÇÃO E REDUÇÃO DA FECUNDIDADE...... 53. 3.6 PAPÉIS POLÍTICOS, SOCIAIS E ECONÔMICOS DAS MULHERES ................. 53 4 A MULHER NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR ........................................................................................ 57 4.1 CONSTRUÇÃO DA NORMA DO DIREITO DA MULHER ................................... 57 4.2 EXCURSO SOBRE O DIREITO DA MULHER ................................................... 70 4.3 CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ...................................................................... 73 4.4 CÓDIGO CIVIL .................................................................................................... 81 4.5 PRINCIPAIS LEIS QUE MARCARAM AS CONQUISTAS DA MULHER NA LEGISLAÇÃO CIVIL BRASILEIRA ............................................................................ 83 4.6 LEI MARIA DA PENHA ........................................................................................ 85 5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A MULHER QUANTO A QUESTÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR ................................................................... 89 5.1 AS JORNADAS LEI MARIA DA PENHA .............................................................. 97 5.2 O FÓRUM NACIONAL DE JUÍZES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ................................................................................................ 98 5.3 MANUAL E ROTINAS E ESTRUTURAÇÃO DOS JUÍZADOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ...................................................... 98 5.4 CAMPANHA COMPROMISSO E ATITUDE ......................................................... 99.

(14) 5.5 ATOS NORMATIVOS .......................................................................................... 99 5.6 AÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA PELO PODER JUDICÁRIO .............................................................................................................110 6 CONCLUSÃO ......................................................................................................119 REFERÊNCIAS .......................................................................................................124 ANEXOS .................................................................................................................136.

(15) 13. 1 INTRODUÇÃO A temática do desenvolvimento envolve estudos e pesquisas sobre o direito da mulher e passa, também, pela análise de vários de seus aspectos, dentre os quais aqueles de natureza social e jurídica, de modo a permitir novos diálogos sobre o fenômeno. Nomeadamente, cabe fazer realce às questões relacionadas ao direito da mulher, sendo esta uma vítima sistemática da violência doméstica e familiar, resultando numa temática indissociável da justiça e do progresso social. No âmbito social, envolve questões de toda ordem, notabilizando-se aquelas ligadas ao convívio coletivo com impactos que põem em risco a harmonia da sociedade. Existe, assim, uma questão que é relevante na discussão da relação dentro da família, em especial, entre a mulher (em busca do seu empoderamento) e o seu esposo ou companheiro e, ainda, com seus familiares mais próximos, de forma que as conquistas almejadas pela mulher lhe favoreçam autonomia e propiciem transformações sociais, servindo de incentivo ao fortalecimento dos diversos papéis que ela, tradicionalmente, já vem desenvolvendo seja no exercício da sua maternidade, das suas tarefas como de dona de casa e no âmbito da sua profissionalidade, culminando com o pleno exercício de sua cidadania. No que diz respeito ao âmbito jurídico, cabe assinalar a violência de gênero ou violência contra a mulher, especificamente, no ambiente do lar, muitas vezes envolvendo pessoas que mantêm uma relação de parentesco com a vítima, o que acentua sua vulnerabilidade e torna o problema de complexa solução. Dados esses dois pressupostos, podem-se estabelecer as primeiras relações entre as ideias centrais do trabalho ora apresentado, quais sejam: as associações entre direitos da mulher, desenvolvimento e justiça. Aqui, cabe mencionar que a ideia de desenvolvimento considerada não se vincula ao restrito entendimento sobre produção de riquezas, processos de industrialização ou crescimento meramente econômico. Trata-se, isto sim, da ampliação das liberdades reais da pessoa humana, sendo o alargamento de tais liberdades o fim último do desenvolvimento. Nesse passo, no Capítulo Dois, encontra-se um breve histórico sobre a questão da mulher na sociedade atual, ressaltando-se quanto à identidade e ao profissionalismo feminino, em que se verifica que o inconformismo da situação da.

(16) 14. mulher como dona de casa que lhe trouxe, como consequência,. as lutas pela. equiparação de direitos entre homens e mulheres, com a sua efetiva participação nas relações política, trabalhista e civil. Em nosso ordenamento jurídico, a mulher desfruta da proteção estatal e liberdade de participar do mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico. De tal modo, ao ser submetida à violência, vulnera-se um importante e majoritário segmento da sociedade, inibindo suas potencialidades e ferindo seus direitos fundamentais. Assim, da problemática apontada, resulta o objeto de pesquisa ora proposto, a saber, um estudo sobre as relações entre os direitos da mulher, a justiça e o desenvolvimento social nos seus aspectos sociais e jurídicos. Procura-se investigar de que modo o discurso das diversas formas de privações, em especial, privações de renda, liberdade e capacidade, com frequência, podem gerar encadeamentos correlatos comprometendo a condição de agente e o bem-estar da mulher. Como. suporte. metodológico,. este. trabalho. baseia-se. na. obra. Desenvolvimento como Liberdade de AMARTYA SEN (2010), ressaltando sua visão alternativa que se ampara na convicção de que a promoção do bem-estar social das pessoas se conquista com a sua liberdade. A partir do significado de desenvolvimento, visto com a remoção das principais fontes de privações de liberdades identificadas como sendo: pobreza e tirania, ausência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, descaso dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos, verifica-se como resposta o valor da vida humana em sua essência. Para isso, as pessoas têm que ser valorizadas por si mesmas, serem livres para realizarem suas escolhas e com oportunidades para desenvolverem suas potencialidades. Essas ideias sobre o desenvolvimento vista como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam, nova perpectiva em relação à questão da mulher como agente de transformação social serão tratadas no Capítulo Três. A importância da atuação da mulher como fator de desenvolvimento, sobretudo, no tocante às privações ao seu bem-estar, encontram-se presentes no seu dia a dia e repercutem de forma preponderante para assegurar a igualdade de.

(17) 15. gênero e no empoderamento das mulheres, não apenas tendo como foco os direitos humanos, mas – acima de tudo – por ser também um dos caminhos em busca do desenvolvimento sustentável. Daí, ser o reconhecimento desse ponto uma forma de assegurar às mulheres a sua voz ativa em todas as instituições de governança, permitindo-lhes participar diretamente, em condições de igualdade com os homens nas instituições básicas concebidas para proteger todos os interesses vinculados aos direitos e liberdades básicas, de forma a influenciar nas decisões que determinarão o futuro de suas famílias e comunidades. Esses aspectos que envolvem a figura feminina em seu potencial para auferir rendas está intrinsicamente vinculada aos laços familiares. A família é uma instituição forte e, também, responsável pela transmissão das primeiras lições de cidadania que o indivíduo recebe para viver em sociedade. Por outro lado, os conflitos familiares – por sua vez – são refletidos na seara do convívio social, o que lhe confere caráter público e faz crescer sua importância como objeto de regulação jurídica. Ilustrando o caminho até aqui calcetado, portanto, tem-se que as regras e princípios atuam no sistema jurídico lastreado em princípios e regras, sendo que cada uma tem sua função específica e, certamente, vocacionada para um determinado objetivo. Dessa forma, ao Capítulo Quatro cumprirá o objetivo de compreender acerca dos contributos mais significativos para a concretude do Direito da Mulher. Nesse Capítulo Quatro, faz-se alusão ao ordenamento jurídico brasileiro, iniciando-se com uma reflexão a partir dos textos constitucionais e seguindo-se com os diversos textos legais infraconstitucionais, culminando com a Lei nº 11.340/06, conhecida por Lei Maria da Penha, que protege a mulher contra a violência doméstica familiar. Máxime a partir da constitucionalização das relações familiares, levando-se em conta que o Texto Constitucional estabelece Princípios Gerais interpretativos para todo o Sistema Jurídico (Código Civil e demais leis que marcaram as conquistas da mulher na legislação civil brasileira),. Vale projetar a compreensão de que a família é considerada a base da sociedade sendo, pois, o ambiente mais privado de todo o Direito Civil e, por consequência, tem a proteção do Estado. Verticalizando o estudo da matéria, observa-se, que o garantismo.

(18) 16. constitucional está voltado à valorização da pessoa humana e à afirmação de sua dignidade. Assim, tratando-se de crime contra mulher, em sede de violência doméstica e familiar, não é possível observar apenas as circunstâncias exteriores do ato delituoso mas, também, hão de ser consideradas sua constituição e natureza. Os efeitos indesejáveis são os mais variados, desde aqueles mais intoleráveis (ofensas à dignidade e liberdade femininas) até aqueles de posição mais localizada, a exemplo das privações de ordem profissional e social, com impactos no mercado de trabalho. Mister se faz, ainda, no Capítulo Quatro, proporcionar um enfoque sobre a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), comentando sobre sua importância no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como o papel da condição do Poder Judiciário brasileiro com o advento da referida norma infraconstitucional. Não se pode esconder que a experiência cotidiana desta pesquisadora, ora avaliada, mediante experiência na 1ª Vara da Violência Doméstica e Familiar na Comarca de Natal, bem como nas Comarcas de Vara Única no Interior do nosso estado, em particular Campo Grande, todas em substituição legal, além das atribuições junto à Coordenação Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (COMESRNTJRN) têm colaborado – substancialmente. O exercício de tais atividades jurisdicionais oferece muito mais do que uma aproximação dos dramas e problemas humanos, tendo em vista que exige do profissional da Ciência do Direito um conhecimento peculiar, marcado pela combinação entre a técnica com a sensibilidade e a responsabilização social, porque busca nas suas decisões vislumbrar a melhor solução para o conflito que aflige as partes. A luta contra a violência de gênero ainda não revelou decréscimo de ocorrências, requerendo frequentes estudos para justificar com evidências objetivas as razões pelas quais tais violências se manifestam de forma tão difusa. Igualmente, as variadas situações de violência determinam, também, a presença de contrastes entre as camadas sociais. De tal modo, justifica-se a relevância social e científica da investigação ora proposta, por se tratar de tema que carrega motivações de ampla densidade teórica,.

(19) 17. bem como se instala na realidade concreta como um desafio ainda distante de ser suplantado. Um outro ponto diz respeito aos programas de distribuição de renda e políticas públicas que constituem funções de incentivo à ação do governo, possibilitando uma forma de assistência no âmbito das relações familiares, em especial, entre o casal, fortalecendo os laços de família e respeitando as escolhas femininas, tema que será discutido no Capítulo Cinco. Além disso, é preciso enfatizar que os princípios éticos presentes no ordenamento jurídico vigente devem ser preservados ante os argumentos sobre o que pode ou não ser importante na busca da justiça social na vida participativa das mulheres. O Poder Judiciário tem função preponderante no sentido de disponibilizar serviços judiciários especializados e a agilidade nos processos de ações penais e medidas protetivas junto às Varas e Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra à Mulher, viabilizando o acesso das mulheres vitimizadas à Justiça no Brasil. Assim, de forma articulada com os demais Poderes constituídos pela sociedade brasileira, a atuação do Poder Judiciário na aplicação da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) desde o seu advento, impõe-se na elaboração de mecanismos destinados à execução e ao acompanhamento de políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência contra às mulheres. Por fim, a presente pesquisa se desenvolveu na perspectiva de se encontrar uma seguinte questão: como se deve buscar a justiça nas instituições e as regras sociais, garantindo-se a eficácia dos direitos da mulher e o processo de desenvolvimento econômico sustentável? A presente pesquisa adotou um estudo de natureza híbrida, dado que tanto lançará mão de análise qualitativa, quanto se recorrerá ao levantamento e exame de dados estatísticos oficiais, relacionados ao tema da desigualdade de gênero e, principalmente, da violência contra à mulher perante os Órgãos oficiais federal e estadual. Outrossim, a pesquisa teve um nível descritivo, face à sua pretensão de identificar os aspectos caracterizadores do fenômeno, relacionando-os com os conceitos de desenvolvimento como liberdade. Isso tornou possível o delineamento da matéria nos seus aspectos jurídicos e sociais, permitindo o estudo empírico da realidade..

(20) 18. O marco cronológico da pesquisa, para fins de levantamento de dados, acentuará o período a partir do qual passou a vigorar a Lei Maria da Penha, no contexto da ordem constitucional brasileira. Nesse sentido, realizou-se um exame dos dados obtidos, com o fim de melhor analisar a matéria, dando-lhe o mais amplo tratamento possível. Por fim, no Capítulo Seis, estão registradas as conclusões com as ideias para uma sociedade mais justa, digna e solidária em que as relações entre os direitos da mulher, com o necessário combate à violência doméstica e familiar contrapondo-se com a efetiva propagação do desenvolvimento social, nos seus aspectos sociais e legais. Para além de tal quadro, também se ressalta a exclusão social e política da mulher, muitas vezes forjada quando impedida de se expressar livremente ou de participar de debates e decisões públicas, de modo a ceifar o protagonismo social que poderia assumir. Realizadas tais considerações fundamentais, confirma-se o argumento de que a violência doméstica e familiar contra à mulher assume status de questão substancial, resultando na privação de suas liberdades reais, assim como de sua participação no processo de desenvolvimento social..

(21) 19. 2 A QUESTÃO DA MULHER NA SOCIEDADE ATUAL 2.1 IDENTIDADE FEMININA E PROFISSIONALISMO Nos dias de hoje, vivemos em uma sociedade que enfrenta grandes transformações, na qual os conceitos sociais estão sendo formulados. Assim, as forças de trabalho se apresentam necessárias para a garantia do progresso social e se apresentam indefinidas e diversificadas nesse momento de questionamentos e adaptações às novas realidades de natureza econômica. Torna-se importante frizar que o saber histórico nas décadas do Século XX passou por grandes transformações com o surgimento da História Social, sob a influência da Escola dos Annales, na França, tendo como precursores LUCIEN FEBVRE e MARC BLOC, e foi responsável por trazer à baila personagens antes não reconhecidos pelos historiadores tradicionais, ressaltando a perspectiva teórica e metodológica que possibilitou a inserção de uma nova temática e sujeitos antes não lembrados na História, enfatizando a necessidade de uma problematização do saber histórico. A. Escola dos Annales tomou vulto porque o grupo que a organizou. envolveu-se com o periódico francês Annales d'histoire économique et sociale (Anais de história econômica e social), que permitia o acesso das publicações dos seus principais trabalhos. Foi de grande importância para a fundação desse periódico a participação de seus precursores LUCIEN FEBVRE e MARC BLOC, porque o alvo dos seus objetivos concentrou-se no combate ao positivismo histórico e no desenvolvimento de um tipo de História que levasse em consideração o acréscimo de novas fontes à pesquisa histórica e realizasse um novo tipo de abordagem. Assim, não há de se relegar a representação social da mulher trabalhadora, que, por sua vez, também vem sofrendo modificações nessa esteira de desconstruções. Tem-se, pois, uma realidade em que as formas de empoderamento da mulher vêm se alterando ao longo do tempo e adaptando-se ao contexto sóciohistórico de cada época. O que se percebe, então, diz respeito ao fato de que a representação da mulher economicamente ativa se adapta à realidade na qual os demais sujeitos estão inseridos..

(22) 20. Com o objetivo de compreender a representação da mulher como fator de justiça e desenvolvimento para a sociedade contemporânea, este estudo vai tomar, como referência histórica, a Modernidade e as modificações trazidas por ela para a vida em sociedade, no contexto brasileiro, em especial, no Estado do Rio Grande do Norte. Para tanto, no tocante à Modernidade, entende-se o período que compreende o final do século XVII até meados do século XIX, marcado, inicialmente, pelas ideias do Iluminismo e pela filosofia Cartesiana. Visando contextualizar um pouco mais esse tempo histórico, saliente-se, ainda, a Revolução Industrial, sua importância para a sociedade local vigente e as transformações que provocaram nas relações sociais. Ora, sabe-se que a Revolução Industrial marcou um início em que o processo de acumulação de bens de capital se firmou. Daí o processo de mecanização do trabalho modificou o sistema econômico que passou a ser priorizado pelo capitalismo. Tais mudanças trouxeram a evolução tecnológica, social e econômica desde a Idade Média. Por sua vez, os meios de produção deixaram de depender, tão-somente, da força de trabalho humana e animal com a chegada das máquinas e do novo processo de fabricação que se instalou. Mas ainda, especialmente, nas fábricas, assim como nos demais postos de trabalho predomina a mão de obra masculina. A Revolução Industrial foi um dos marcos da transição da Idade Média para a Modernidade, ensejando notáveis alterações nas relações familiares ocorridas no aludido momento histórico. A propósito ROCHA-COUTINHO (2005, p. 123) informa: [...] a transição da família feudal para a familia burguesa moderna foi bastante ampla, não se limitando apenas à história da vida cotidiana. Ao contrário, ela apontou traços-chaves que vão desde as relações de produção até a constituição de subjetividades, em que se acentuam a intimidade, a individualidade e as identidades pessoais. É somente com o advento da sociedade industrial que a temática da individualidade da identidade começa a se desenvolver, ao mesmo tempo em que os domínios públicos e privado se instalam, reestruturando tanto seus territórios como suas significações. Organiza-se, então, uma mudança radical nas prioridades de vida, em que começam a ser enfatizados o livre-arbítrio e a busca da felicidade pessoal..

(23) 21. Esse. período. afetou,. sobremaneira,. as. relações. familiares,. antes. consolidadas pela família nuclear, baseada na afeição entre os parentes e na intimidade entre pais e filhos. A figura feminina era reconhecida como mulher-esposa e mulher-mãe, sendo a sua principal função social, a maternidade. O discurso patriarcal, no referido contexto sócio-histórico, foi marcado pelo discurso patriarcal, fazia-se presente a ideia de que a mulher deveria dedicar-se às tarefas do lar e aos cuidados com o marido e os filhos. As mulheres, pois, se preocupavam apenas em se qualificarem para casar bem, porque as mulheres casadas eram vistas com mais respeito e prestígio pela sociedade em geral. Por consequência, sua atuação restringia-se ao ambiente doméstico e à maternidade, imputando à mulher a responsabilidade pela construção de uma convivência familiar harmoniosa. Tal concepção de família, por conseguinte, elegia a mulher-mãe como figura central: [...] a mulher passa a ser a principal responsável pelo bem-estar da criança e do esposo, e é importante intermediária entre o pai – cada vez mais ausente em seu trabalho fora de casa – e dos filhos (ROCHA-COUTINHO, 2005, p. 123). Em razão do envolvimento das mulheres no trabalho doméstico, os postos de trabalho ficaram ocupados por homens, sendo eles os responsáveis pelo sustento da família. Tal modelo ditava que caberia à mulher adequar-se às exigências e expectativas criadas pela sociedade em torno dessa realidade familiar. A mulher, então ocupava o seu dia a dia com tarefas da casa e a educação dos filhos. Essa dinâmica entre a estrutura familiar e a relação da família nuclear exigia cuidados que envolvia a mulher de tal forma que ela se tornava impossibilitada de ocupar outra função, tornando-a economicamente dependente do marido e, psicologicamente, dependente dos filhos (LIPOVTSKY, 2000). Por essa forma de atuação junto à família, a mulher se restringia ao universo doméstico, ausentando-a de atividades sociais, como o trabalho remunerado, o aprendizado escolar, o direito ao voto, entre outros impedimentos, tornando escassa a sua participação na cena pública e nas rodas sociais. Tanto era assim, que as poucas que trabalhavam ou frequentavam grupos sociais eram vistas, em geral, com maus olhos pela sociedade, porque trabalhar fora de casa era algo para homens. A esse respeito, convém, mencionar, a afirmação de ROCHA-COUTINHO (2005, p. 123):.

(24) 22. [...] a vida na sociedade industrial moderna caracterizou-se por uma série de pares de oposição: casa/trabalho, trabalho/lazer, produção/reprodução, adulto/criança, brincadeira/trabalho, entre outros. O trabalho tem lugar fora de casa, no espaço público, é remunerado e realizado, principalmente, por homens. A casa, ao contrário, domínio do privado, é lugar de refúgio da família e nela o trabalho, realizado basicamente por mulheres, não é remunerado, posto que é, supostamente, realizado por amor. Aos homens, assim, passou a tocar o provimento financeiro da família, e às mulheres, os afazeres domésticos e a criação das crianças.. Até o início da Segunda Guerra Mundial, a figura feminina ficou afastada do mercado de trabalho. Todavia, com início da guerra, os postos livres de trabalho deixados pelos homens que foram para as frentes de batalha, foram ocupados pelas mulheres. Com a presença delas no mercado de trabalho, restou provada sua força como fator de desenvolvimento, representando um salto inicial rumo às conquistas sociais femininas. Após a Segunda Guerra Mundial, a partir da década 1960, as mulheres resistiram em deixar o trabalho fora de casa, diferentemente, do que ocorria no período entre as duas guerras mundiais em que o estereótipo da mulher do lar era inconteste como afirma (ROCHA-COUTINHO, 2005, p. 123). É quase inconteste, exaltado que é nos periódicos, nos romances, nos manuais escolares e nos discursos oficiais. Assim, foi nesse mesmo período que se iniciou o movimento em que a mulher passou a ter uma nova postura passando a reivindicar sua inserção no mercado de trabalho remunerado. Ressalte-se que foi nos Estados Unidos onde se começaram os primeiros sinais da cultura de imagem e da sociedade de consumo refletidos no apelo à beleza e da compra de aparelhos domésticos como sendo uma obrigação feminina. Nesse contexto, o inconformismo da situação da mulher dona de casa evidencia-se por meio das suas angústias e o vazio da sua existência por não haver uma satisfação plena para sua identidade. Como consequência surgem as lutas sociais pela equiparação de direitos entre homens e mulheres, buscando-se igualdade de direitos e participação da mulher nas áreas política, trabalhista e civil. Um dos marcos que impulsionou as alterações na condição da mulher dentro da sociedade nessa época, foi a influência das ideias de Simone de Beauvoir no seu livro intitulado O Segundo Sexo, originalmente escrito em 1949..

(25) 23. Tem-se que o movimento feminista foi marcado por este livro que trouxe um discurso reflexivo propondo à mulher o construir uma nova história e reinventar seus projetos para o futuro, ampliando sua liberdade (ARÁN, 2003). A mulher conquistou um novo papel na sociedade, aos poucos, conseguindo ampliar seu espaço privado de reprodução para a esfera pública de produtividade. Atualmente, seu projeto de vida é pautado sob uma nova perspectiva tanto nas escolhas profissionais como para seus relacionamentos afetivos são firmados em bases diferentes, tendo a mulher contemporânea o trabalho como prioridade, ao invés de mulher-mãe, mulher-esposa e mulher-dona de casa. Percebe-se, na evolução da história da profissionalização da mulher, que sempre houve uma predominância do masculino sobre o feminino, registrando-se uma dominância social, política e simbólica dos homens. A propósito, segundo SZAPIRO e FÉRES-CARNEIRO (2002, p.180): Os primeiros discursos de lutas das mulheres pela melhoria de condições de trabalho, já desde o século dezenove sinalizavam que o debate sobre a relação homem-mulher estava definitivamente colocado na agenda de discussões sobre as desigualdades sociais. No Brasil, as primeiras lutas trabalhistas e sufragistas das mulheres datam no final do século dezenove e das primeiras décadas do século vinte e, ainda, que restritas às questões do trabalho, introduziram na sociedade brasileira o debate sobre a desigualdade na relação-mulher e sobre a opressão dos homens sobre as mulheres.. É certo que na Grécia antiga, a mãe não era mais do que a matriz de um germe depositado em seu seio, visto que o verdadeiro protagonista de concepção era) o homem, segundo LIPOVETSKY (2000, p. 234): De Aristófones à Sêmea, de Plauto aos pregadores Cristãos domina uma tradição de diatribes e de sátiras contra à mulher, apresentada como ser enganador e licencioso, inconstante e ignorante, invejoso e perigoso. Mulher, mal necessário confinado nas atividades sem brilho, ser inferior sistematicamente desvalorizado ou desprezado pelos homens : isso desenha o modelo da 'primeira mulher' [...] a figura da primeira mulher se insere na longuíssima duração histórica : perdurou, em certas camadas de nossas sociedades, até a aurora do século XIX.. O trabalho da mulher medieval não era remunerado e sua escolha se dava de acordo com sua força e capacidade de trabalho, enquanto que as esposas de.

(26) 24. comerciantes e camponeses labutavam como auxiliares dos seus maridos (LIPOVETSKY, 2000). Um fato interessante na aludida época, era o de que a mulher que conseguisse se formar apresentava outras características porque passou a desenvolver um culto à figura feminina, de maneira que se tornou uma fonte inspiradora dos poetas e músicos. Passou a ser exaltada por suas perfeições, meiguice e pureza. Além de ser glorificada em versos e prosas pelos homens e, ainda, sacralizada como esposa e mãe. Ela se transportou da depreciação à veneração chegando a ser reconhecida como a sublime mãe, porém, sempre ocupando uma posição secundária e submissa, permanecendo excluída da vida pública e dos direitos políticos e sociais (LIPOVETSKY, 2000). A mulher, ao longo da sua história na vida profissional, jamais deixou de trabalhar, porém nunca obteve o justo reconhecimento financeiro. Daí, constatar-se toda a diferença para a atualidade, que passou a ganhar por seu trabalho e assumir uma nova posição de sujeito de direito perante a sociedade. Ela agora recebe remuneração por suas atividades e concebeu uma fonte de realização pessoal (LIPOVETSKY, 2000). Acerca desse assunto comenta KAMERS (2004, p. 3): [...] acentuadas as reivindicações femininas, primordialmente no que se refere à libertação das mulheres por meio da igualdade de direitos de competitividade com os homens, assistiu-se a uma introdução da mulher no campo do trabalho, produzida a partir da Revolução Industrial. Essa transformação foi acompanhada pela necessidade da criação de creches, que aos olhos das mulheres, seria a única forma de competir igualmente com os homens e progredir realmente em suas carreiras.. A partir do ano de 1950, quando a mulher passou a ser inserida com mais frequência no mercado de trabalho, surgiu o discurso de que seu afastamento das atividades domésticas estaria prejudicando a família de um modo geral. Para BADINTER (2005), o mencionado discurso manifestava uma característica patriarcal, objetivando excluir a mulher do mercado de trabalho e restringir sua autonomia e suprimir sua independência. Na atualidade, presencia-se uma mulher que conquistou o seu espaço ocupando lugares de destaques na sociedade a contar da metade do século XX. Ela, hoje, assumiu novas posições diante das mudanças sociais, desde a conquista de.

(27) 25. seus estudos e trabalho, do direito ao voto, do descasamento, das opções sexuais, do controle à maternidade até ao simples direito de escolhas. Seguindo essa linha de raciocínio, afirma LIPOVETSKY (2000) que as mulheres alcançaram seu poder de inventar sua própria história e construindo o futuro que lhe aprouver. Antes ela era uma criação dos homens; hoje ela é uma autocriação, podendo escolher o seu próprio destino com independência. O perfil da terceira mulher como denomina LIPOVETSKY (2000, p. 237-238) tem uma forte semelhança com os homens no tocante ao seu poder de escolha: [...] vivemos uma cultura que consagra o rei do governo de si, promove a individualidade soberana de modo a dispormos de nós mesmos e do futuro, sem um modelo social diretivo. Isso significa dizer que a mulher pode escolher que tipo de vida terá, pois tem o poder de autodeterminar-se e decidir a identidade que pretende assumir e a qualquer tempo. Percebe-se, esta, como uma época de intensas e profundas mudanças nas relações sociais, familiares e entre sexos, tornando-se evidente, no que tange às conquistas femininas e seu processo identitário, que lutar por uma profissão e ascender em sua carreira, casar ou permanecer solteira (ou ambas as coisas, cada qual ao seu tempo), ter ou não ter filhos – são opções que não mais implicam escolher entre liberdade e sujeição, pois a mulher de terceiro milênio parece ser aquela capaz de inventar o próprio destino de acordo com suas necessidades internas.. Pois bem! Percebe-se que realmente houve uma visível evolução da participação da mulher no mercado de trabalho, de modo que a mulher vem ao longo dos anos ocupando posições sociais antes exclusivamente do homem. Por outro lado, a população feminina, embora tenha ocupado espaços de trabalho no mundo público, continua em sua expressiva maioria assumindo responsabilidades do trabalho doméstico uma vez que passam a ter ampla jornada de trabalho, situação tal que não se dá em igualdade com os homens. Como consequência, esse fato implica o valor da mão de obra feminina que – por sua vez – passa a ser considerada disponível e mais barata, atendendo aos interesses do lucro do processo capitalista de industrialização (DANTAS-BERG; GIFFIN, 2005)..

(28) 26. 2.2 QUESTÃO DE GÊNERO E A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR A saída da mulher do ambiente familiar para o espaço público foi motivo de questionamento dos movimentos feministas por descortinar uma questão de gênero, não tendo sido vista apenas como um fato de empoderamento econômico. Chama-se atenção à discussão de gênero porque possibilitou a visibilidade à violência doméstica e familiar como movimento multifacetado exigindo, por consequência, a intervenção estatal com políticas públicas para a solução da referida problemática. A família, na condição de instituição social básica que determina o desenvolvimento do indivíduo responsável pelas primeiras lições de cidadania, estrutura o processo de socialização e educação dos seus membros, podendo ao mesmo tempo ser fator de proteção ou de risco. Ora, em sendo a família – por muito tempo – considerada uma instituição sagrada tanto que nem ao Estado era permitido intervir, aos chefes de família caberia o exercício do poder disciplinar e coercitivo em relação aos filhos e esposas. Deve-se reconhecer que os abusos passaram a ser evidentes, motivando a violência doméstica que representa transgressões do poder de proteção do adulto e coisificação da infância e, ainda, uma violência de gênero que nesse espaço de discussão é considerada como sendo uma modalidade com primazia masculina. Semelhante raciocínio é entendido por CARVALHO (1998) que explica o fato de que a relação homem e mulher deve ser compreendida a partir de um conjunto de valores e práticas culturais e sociais que incluam gênero, classe, etnia e as transformações históricas e por vezes, singularizadas. Todo ser humano por conviver socialmente envolve-se em diferentes relações sociais com tramas que suscitam desigualdades de gênero de modo que as relações de violência são postas pela tradição cultural, pelas estruturas de poder, pelos envolvidos na trama de relações entre homens, entre mulheres e entre homem-mulher, dependendo das circunstâncias. Neste ponto, violência e gênero envolvem os assuntos pertinentes à violência doméstica, violência intrafamiliar e violência conjugal que tratam dos comportamentos violentos e estabelecidos em relações abrangentes. A violência familiar é compreendida na violência de gênero e pode ocorrer tanto no interior do domicílio como fora dele, muito embora seja mais comum ocorrer.

(29) 27. dentro do próprio lar. Exemplificando a violência intrafamiliar que extrapola os limites do domicílio, pode-se constatar o caso do avô que agride seu neto em nome da família. E, ainda, uma mulher para não ser violentada, muda-se da casa de seu marido e, por este, é perseguida até a consumação do feminicídio. Não há maiores dificuldades em se compreender a violência familiar, ou seja, aquela que envolve membros de uma mesma família extensa ou nuclear, levando-se em conta a consanguinidade e a afinidade. Compreendida na violência de gênero, a violência familiar pode ocorrer no interior do domicílio ou fora dele, embora seja mais frequente o primeiro caso. A violência intrafamiliar extrapola os limites do domicílio. Um avô, cujo domicílio é separado do de seu neto, pode cometer violência, em nome da sagrada família, contra este parente. A violência doméstica apresenta pontos de sobreposição com a familiar, podendo também atingir pessoas que, não pertencendo à família, vivem, parcial ou integralmente, no domicílio do agressor, como é o caso de agregados e empregadas(os) domésticas(os). Estabelecido o domínio de um território, o chefe, via de regra um homem, passa a reinar quase incondicionalmente sobre seus demais ocupantes. O processo de territorialização do domínio não é puramente geográfico, mas também simbólico (SAFFIOTI, 1999). Assim, um elemento humano pertencente àquele território pode sofrer violência, ainda que não se encontre nele instalado. Uma mulher que, para fugir a maus-tratos, muda-se da casa de seu marido, pode ser perseguida por ele até a consumação do feminicídio, feminilizando-se a palavra homicídio (RADFORD; RUSSELL, 1992). Este fenômeno não é tão raro quanto o senso comum indica. Em regra, a violência doméstica tem sempre lugar no interior do domicílio. Todavia, também ocorre em situação de violência doméstica o fato de o homem esperar sua companheira à porta de seu trabalho e surrá-la, exemplarmente, diante de todos os seus colegas por se sentir ultrajado com sua atividade extralar; como pode ocorrer de a mulher queimar com ferro de passar a camisa preferida de seu companheiro, porque descobriu que ele tem uma amante. Poder-se-ia perguntar, neste momento, se a violência de gênero em geral ou a intrafamiliar ou doméstica, especificamente, são sempre recíprocas. Mesmo admitindo-se que pudesse ser sempre assim, o que não é o caso, a mulher levaria desvantagem. No plano da força física, resguardadas as diferenças.

(30) 28. individuais, a derrota feminina é previsível, o mesmo se passando no terreno sexual, em estreita vinculação com o poder dos músculos. (RADFORD; RUSSELL, 1992). Seguindo. essa. premissa,. a. violência. doméstica. no. entender. de. BARCELLOS (2003), DAY ET AL. (2003) e DESLANDES, GOMES e SILVA (2000) consiste em variadas formas de violência interpessoal (agressão física, abuso psicológico e negligência) que ocorre dentro do território da casa. Sendo que a violência doméstica é aquela cuja agressão é realizada entre pessoas que convivem no mesmo ambiente doméstico independentemente de haver relação de parentesco entre o agressor e a vítima, como exige na hipótese da violência familiar. No tocante à relação intrafamiliar, a agressão se dá entre pessoas com vínculo consanguínio e ou afim, podendo acontecer dentro ou fora da casa dos envolvidos. Estabelecido o conceito de gênero como sendo uma categoria importante para a compreensão das diferenças contruídas socialmente entre o homem e a mulher, teve-se como uma das principais intelectuais que sistematizou esse conceito foi JOAN SCOTT (SOIHET, 2001) para quem o gênero é um conceito que busca substituir o termo sexo, que trata das diferenças entre homens e mulheres como naturais. Ela define que tais diferenças são construídas culturalmente atribuindo-se os devidos papéis aos homens e mulheres. 2.3 O FEMINISMO E A MULHER NEGRA Ainda nesse contexto, surge o feminismo da mulher negra, que não pode ser analisado numa visão unificada da questão feminina tradicional, ou seja, sob a visão de homogeneização das mulheres numa categoria única, porque compromete a percepção real das múltiplas identidades (SOIHET, 2007). Foi então nesse contexto, precisamente, na década 1970 e início de 1980 que surgiu o movimento negro no Brasil destacando a afirmação da identidade feminista e a identidade negra, ambas colocadas em interseção, visando fortalecer as ações das mulheres negras na luta contra o racismo e o sexismo brasileiro, fomentando o empoderamento das mulheres na implementação de políticas públicas para atender as suas demandas (SOIHET, 2001). Uma dupla opressão sofrida pela mulher que a coloca no mais baixo patamar da pirâmide social é o fato de ela ser mulher e pertencer à raça negra..

(31) 29. O racismo foi arrastado pelo período após a abolição e condicionou a relação entre as mulheres negras e a sociedade de forma que a mulher branca mesmo oprimida pelo machismo, estabelecia-se uma outra forma de discriminação entre as mulheres, diminuindo-a dentro do lar, uma vez que por meio do racismo se estabelecia uma hierarquia, era a mulher branca, era a patroa que estabelecia as regras do trabalho e a mulher negra cumpria as suas ordens, ficava ligada aos afazeres domésticos e às questões sexuais. Esse contexto favoreceu a mulher negra no sentido de inserí-la com mais facilidade no mercado de trabalho uma vez que demonstrava melhor habilidade no serviço do lar. Todavia sua marginalização se deu em virtude de tais atividades se enquadrarem na condição de assalariada e nem sempre o trabalho realizado pela mulher negra era remunerado com dinheiro e sim, com casa e comida, fato que a desvalorização. e. a. remuneração. desigual. ainda. persiste. na. sociedade. contemporânea. Nesse sentido, no entender de PAUL SINGER (1998) à medida que a mulher negra ascende, aumentam as dificuldades especialmente devido à concorrência. Daí, é certo que as funções menos prestigiadas são os serviços domésticos, porque não há concorrência e, conseqüentemente, as mulheres negras têm livre acesso e serem elas que ocupam o maior número de profissonais nesse campo. A população negra, normalmente, trabalha em posições menos qualificadas e recebe os mais baixos salários, Para SANTOS (2009), há poucas mulheres negras trabalhando como executivas, médicas, enfermeiras, juízas, dentre outras profissões de destaque; o que se verifica ainda é a maioria delas realizando trabalhos domésticos e recebendo baixos salários. Estabelecidas as noções gerais acerca do conteúdo e da identidade feminina. em. relação. à. sua. profissionalização,. envolvendo. as. principais. características das relações de gênero, violência doméstica e familiar, raça em relação à mulher negra, a tarefa que se impõe diz respeito à apresentação de argumentos capazes de fundamentar seu reconhecimento jurídico, por meio da demonstração de sua harmonia com o Estado Democrático de Direito que não deve apenas garantir ao indivíduo seu direito de escolha entre diversas alternativas possíveis, como também, propiciar condições objetivas para que tais escolhas possam se concretizar..

(32) 30. 2.4 O DESENVOLVIMENTO E O BEM-ESTAR SOCIAL Desse modo, as pessoas devem possuir o direito de desenvolver sua personalidade e as instituições políticas e jurídicas estão obrigadas a promover os meios necessários para sua efetivação e jamais dificultá-lo, segundo afirma BARROSO (2001). Nesse contexto, ao Estado não é permitido negar a liberdade de manifestação de escolhas das pessoas, em especial da mulher, seja em que situação for, no projeto de vida em comum junto à sua família, na liberdade de escolher o seu par, seja do sexo que for, bem como o tipo de entidade que quiser para construir sua família, nem na sua maternidade, no tocante ao número de filhos que ela possa gerar, na sua vida profissional, intelectual e espiritual. Enfim, não se pode admitir que o Estado imponha regras que prejudiquem o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, ao contrário, ele deve possibilitar o pleno respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. Há que se ressaltar que a formação da família, no contexto do casamento, não deve seguir regras que estabeleçam privilégios de modo a gerar desigualdades. Preconceitos e posturas discriminatórias devem ser abolidas nas relações de família que, por sua vez, devem ser pautadas em relações de solidariedade, fraternidade, afetividade que tutelam a dignidade de cada um dos seus membros. A intervenção do Estado na família é legítima e justificável quando fundada na proteção dos indivíduos, com o intuito de concretizar os direitos dos seus integrantes. A família brasileira em virtude de sua especial proteção preconizada pelo Texto Constitucional, deve ser tutelada conforme prevê o art. 226 da Constituição Federal. Assim, cabe ao Estado propiciar condições para combater a violência doméstica e familiar conferindo primazia à pessoa humana, no caso concreto, assegurando à mulher, como vítima, o auxílio imediato quando ela estiver em situação de risco e, como medida preventiva, minimizar os males que porventura venham atingir as relações familiares afetando a figura feminina no seu caráter pessoal e existencial. É sabido que em uma sociedade democrática, todos os indivíduos são dignos e tratados igualmente, por isso seus direitos são garantidos em todos os.

(33) 31. aspectos, sejam relativos aos aspectos econômicos, à saúde, à educação, ao trabalho, ao direito, à justiça e manifestação cultural. No século XX, surgiu o Estado do Bem-Estar Social, como forma de combater o agravamento das desigualdades e injustiças sociais e o aumento do índice de pobreza que levaram as forças políticas e espirituais a buscarem um nova situação que trouxessem uma melhor qualidade de vida. Inicialmente, esse modelo estatal foi estabelecido juridicamente com as constituições mexicana (1917) e alemã de WEIMAR (1919). Ora,. os. direitos. individuais. dos. cidadãos. mexicanos. e. alemães,. conquistados pelas revoluções liberais dos séculos XVII e XVIII foram acrescidos aos reconhecidos pelas suas respectivas Constituições e, posteriormente, foram introduzidos os direitos sociais relativos às crianças e aos adolescentes, às mulheres, aos idosos, às pessoas com deficiências, ao meio ambiente, dentre outros. Diante disso, o conceito de Justiça Social pressupõe que o desenvolvimento não pode se resumir apenas ao crescimento econômico, porque envolve a justiça distributiva, isto é, cada cidadão deve receber o que lhe é devido, as liberdades políticas e civis, as oportunidades sociais, a transparência na esfera pública e privada e a proteção social. Não há que se falar em desenvolvimento se inexiste o acesso à educação, à saúde, à segurança, à propriedade, ao crédito, à livre iniciativa, aos bens públicos, ao meio ambiente e a tudo que assegure uma vida equilibrada com boa qualidade em uma sociedade moderna e democrática (SEN, 2010, p. 29). Hoje, a humanidade está dividida por um fosso econômico que não se comunica ante a dificuldade de entendimento por força da enorme desigualdade social: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres; o mundo dos desenvolvidos e o mundo dos subdesenvolvidos. A solução não vem exatamente porque não há comunicação entre os países desenvolvidos com os países subdesenvolvidos, o conservadorismo dos países ricos impede o desejo deles de buscarem uma transformação. É preciso que haja vontade política do Poder Público para oferecer uma melhor condição de vida aos seus cidadãos e, tal atitude, requer uma mudança radical no comportamento humano porque implicará a necessidade de um equilíbrio entre as diversas camadas sociais..

(34) 32. No Brasil, a desigualdade de renda tem suas raízes históricas ao longo das últimas décadas e é fruto da escravidão e sua abolição tardia, passiva e paternalista, ao caráter elitista oriundo da República Velha e, posteriormente, corporativista, isso já, na era Vargas, em sua grande parte considerável do período Republicano. A pobreza é um sério problema que atinge a população brasileira, mas a desigualdade social é bem mais grave. Denota-se que a desigualdade reflete um acordo social excludente não admitindo a cidadania para todos, causando prejuízo aos excluídos no que diz respeito aos seus direitos, às oportunidades e aos horizontes. Tem-se que a população pobre em nosso País, em sua maioria, concentrase nas favelas, nos cortiços e nas ruas dos grandes centros metropolitanos, passando despercebidas aos olhos dos formuladores e dos gestores das políticas públicas. Segundo dados fornecidos pelo Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, no Rio de Janeiro, com base no ano de 2001: A pobreza aflige cerca de 53 milhões de brasileiros, dos quais 72% encontram-se em condição de miséria. Esses valores enormes em termos absolutos são incompatíveis com o grau de desenvolvimento econômico do País. Algo como 75% da humanidade vive com renda per capita, corrida pela paridade de poder de compra inferior à brasileira. A causa básica deste paradoxo está no fato de o Brasil ter uma das mais elevadas desigualdades de renda do mundo. A intensidade dessa desigualdade coloca o Brasil distante de qualquer padrão, reconhecível, no cenário mundial, como razoável em termos de justiça distributiva (INSTITUTO..., 2001, p. 4).. Convém que se ressalte, ainda, uma preocupação comum, no sentido de que se defenda a manutenção das garantias individuais, vez que em havendo uma concentração de poder nas mãos de um limitado número de burocratas e ou ainda, existindo divergências acerca da implementação das políticas econômicas, tais circunstâncias tragam, obrigatoriamente, o uso da força pelo governo para que suas medidas sejam toleradas esbarrando na tirania das liberdades como prevê a tese central de HAYEK (2010). A questão que se coloca, ainda, diz respeito ao paradoxo do espírito da democracia e o espírito da liberdade, tema que corresponde aos meios escolhidos por TOCQUEVILLE quanto ao seu empenho para obstar a esmagadora pressão da multidão sobre a minoria indefesa (JASMIN, 1991)..

(35) 33. Contudo, o que se observa, em última análise, é o fato de que a desigualdade social afeta o desenvolvimento dos países que não oferece à maioria da sua população uma educação de qualidade, melhores oportunidades no mercado de trabalho e acesso aos bens culturais e históricos que integram aos seus cidadãos. Diante disso, a redução da desigualdade, seja do ponto de vista moral, econômico e/ou social deve ser o foco de desenvolvimento para o Brasil, pois só assim, o Estado cumprirá o seu dever de proporcionar proteção à família, base da entidade familiar, garantindo a mulher o seu direito a uma vida digna, embasada no respeito, afeto, segurança e profissionalismo..

Referências

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