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Capital, Fetichismo e Acumulação Originária

No documento O Capital - Volume I (páginas 32-43)

O desenvolvimento da forma do valor — o valor de troca — conduz ao surgimento do dinheiro. Este não foi um dispositivo expressamente “inventado” para resolver dificuldades técnicas na realização cada vez mais complexa das trocas e dos pagamentos, embora viesse a servir para tal fim. Por meio da demonstração dialética, ressaltou Marx que a neces- sidade do dinheiro já está implícita na relação mercantil mais simples e casual. Assim que as trocas mercantis se reiteram e multiplicam, é ine- vitável que se selecione entre as mercadorias aquela cujo valor de uso — representado por suas qualidades físicas — consistirá na reflexão do tra-

balho abstrato de toda a sociedade, na encarnação indiferente do valor

de todas as mercadorias. Os metais preciosos (ouro e prata) foram, afinal, selecionados para esta função de mercadoria absoluta.

A circulação monetária constitui premissa necessária, porém não

suficiente para o surgimento do modo de produção capitalista. Marx foi

taxativo na refutação das interpretações historiográficas que viam na An- tiguidade greco-romana uma economia capitalista porque já então circu- lava o dinheiro. O capital comercial e o capital de empréstimo aparecem nas formações sociais anteriores ao capitalismo e nelas representam as modalidades exponenciais do capital. Captam o produto excedente no pro- cesso da circulação mercantil e monetária, através das trocas desiguais e dos empréstimos usurários, porém não dominam o processo de produção. Somente com o capital industrial, que atua no processo de criação do sobreproduto mediante a exploração de trabalhadores assalariados, é que se constitui o modo de produção capitalista. O capital industrial torna-se, então, a modalidade exponencial do capital, que submete o capital comer- cial e o capital de empréstimo às exigências da reprodução e expansão das relações de produção capitalistas.

A formação do capital industrial na Europa ocidental mereceu de Marx extenso estudo historiográfico, no qual periodizou o processo de formação nas etapas da cooperação simples, da manufatura e da fábrica mecanizada. Com esta última, que surge e começa a se gene- ralizar durante a Revolução Industrial inglesa, o modo de produção capitalista adquiriu, afinal, a base técnica que lhe é apropriada.

Que é, porém, o capital enquanto agente da produção?

O capital não é coisa — ferramenta ou máquina. Nada mais des- propositado do que imputar ao arco-e-flecha do índio tribal a natureza de capital. Tampouco basta afirmar, como Ricardo, que o capital é “trabalho acumulado”. O arco-e-flecha cristaliza trabalho acumulado e, todavia, não serve a nenhuma finalidade de valorização capitalista, ou seja, de incre- mento do valor inicial adiantado. A fim de que o trabalho acumulado nos bens de produção assuma a função de capital é preciso que se converta em instrumento de exploração do trabalho assalariado. Em vez de coisa, o capital é relação social, relação de exploração dos operários pelos capi- talistas. As coisas — instalações, máquinas, matérias-primas etc. — cons- tituem a encarnação física do trabalho acumulado para servir de capital, na relação entre o proprietário dessas coisas e os operários contratados para usá-las de maneira produtiva.

Por conseguinte, a teoria marxiana conduz à desmistificação do

fetichismo da mercadoria e do capital. Desvenda-se o caráter alienado

de um mundo em que as coisas se movem como pessoas e as pessoas são dominadas pelas coisas que elas próprias criam. Durante o processo de produção, a mercadoria ainda é matéria que o produtor domina e transforma em objeto útil. Uma vez posta à venda no processo de circulação, a situação se inverte: o objeto domina o produtor. O criador perde o controle sobre sua criação e o destino dele passa a depender do movimento das coisas, que assumem poderes enigmáticos. Enquanto as coisas são animizadas e personificadas, o produtor se coisifica. Os homens vivem, então, num mundo de mercadorias, um mundo de fe- tiches. Mas o fetichismo da mercadoria se prolonga e amplifica no fetichismo do capital.

O capital se encarna em coisas: instrumentos de produção criados pelo homem. Contudo, no processo de produção capitalista, não é o trabalhador que usa os instrumentos de produção. Ao contrário: os instrumentos de produção — convertidos em capital pela relação social da propriedade privada — é que usam o trabalhador. Dentro da fábrica, o trabalhador se torna um apêndice da máquina e se subordina aos movimentos dela, em obediência a uma finalidade — a do lucro — que lhe é alheia. O trabalho morto, acumulado no instrumento de produção, suga como um vampiro (a metáfora é de Marx) cada gota de sangue do trabalho vivo fornecido pela força de trabalho, também ela convertida em mercadoria, tão venal quanto qualquer outra.

ra, fazer da alienação a categoria básica da teoria sócio-econômica mar- xiana. Com semelhante procedimento, efetua-se um retrocesso no con- cernente à evolução do próprio Marx, a qual, como foi visto, superou o conceito de alienação quando aceitou a tese do valor-trabalho. Na verdade, as teses essenciais da teoria sócio-econômica marxiana se apóiam nas categorias de valor e mais-valia, a partir das quais a ca- tegoria de alienação, recebida de Hegel e Feuerbach, se concretizou na crítica conseqüente ao fetichismo do capital.

A crítica ao fetichismo do capital vincula-se intimamente à de- cifração do segredo da acumulação originária do próprio capital. Como teria vindo ao mundo tão estranha entidade que conquistou a soberania sobre os homens e as coisas?

Sabemos de várias respostas. A de Nassau Senior: o capital nasceu da abstinência de uns poucos virtuosos, que preferiram poupar a con- sumir, assumindo o ônus de um sacrifício em benefício da sociedade justamente recompensado. A de Weber: o capitalismo requer a atitude racionalista diante dos fatos econômicos e semelhante atitude procedeu, na Europa ocidental, da ética protestante. A de Schumpeter: os pri- meiros empresários foram homens de talento que tiveram a poupança acumulada à sua disposição.

Já segundo Marx, o capital, não mais como capital mercantil, porém como capital industrial promotor do modo de produção capita- lista, surge somente com determinado grau histórico de desenvolvi- mento das forças produtivas, grau este que implica determinado tipo de divisão social do trabalho. Só então é que o dinheiro e os meios de produção acumulados em poucas mãos podem ser valorizados mediante a exploração direta do trabalho assalariado. Fica, não obstante, a per- gunta: como se acumularam o dinheiro e os meios de produção em poucas mãos?

Dessa história não se extrai uma lição sobre a recompensa das virtudes morais. Mercadores e usurários — representantes do capital mercantil pré-capitalista — concentraram a riqueza em dinheiro me- diante toda espécie de fraude e de extorsão, características da atuação do capital nas formações sociais anteriores ao capitalismo. A aplicação do dinheiro acumulado na circulação mercantil e monetária à produção de mercadorias levou à exploração acentuada, à pauperização e à ex- propriação dos artesãos. Por sua vez, do próprio meio dos artesãos, emergiram os mestres que, em suas oficinas, se destacaram pela efi- ciência na exploração dos aprendizes e companheiros e puderam passar da condição de mestres-trabalhadores à de mestres capitalistas, já por inteiro patrões. Esta formação endógena do capital industrial consti- tuiu, aliás, segundo Marx, o caminho efetivamente revolucionário de transformação capitalista da antiga economia feudal.

A acumulação originária do capital — conjunto de processos não- capitalistas que prepararam e aceleraram o advento de modo de pro-

dução capitalista — assinalou-se como uma época de violenta subversão da ordem existente, cuja ocorrência na Inglaterra foi estudada no fa- moso capítulo XXIV do Livro Primeiro de O Capital. Com especial relevo figuraram nessa subversão: as enclosures (cercamentos) que ex- pulsaram os camponeses de suas terras e as converteram em campos de pastagem de ovelhas, enquanto dos camponeses expropriados e des- possuídos emergiria o moderno proletariado; o confisco das terras da Igreja Católica e sua distribuição entre aristocratas aburguesados e novos burgueses rurais; o crescimento da dívida pública, que transferiu riquezas concentradas pelo Estado às mãos de um punhado de privi- legiados; o protecionismo, que garantiu à nascente burguesia industrial a exclusividade de atuação desenfreada no mercado nacional e lhe permitiu arruinar e expropriar os artesãos, então obrigados ao trabalho assalariado; a alta generalizada dos preços no século XVI, em conse- qüência do afluxo à Europa dos metais preciosos da América, trazendo consigo a queda relativa dos salários e dos preços dos arrendamentos agrícolas a longo prazo, o que favoreceu a burguesia urbana e rural; e, por fim, porém não menos importante — o colonialismo da época mercantilista, com o comércio ultramarino, a exploração escravista nas Américas e o tráfico de escravos africanos.

O capital emerge para a vida histórica, o que Marx acentuou em várias passagens, como agente revolucionário implacável que destrói as vetustas formações sociais localistas e instaura grandes mercados nacionais unificados e um processo mundial de intercâmbio e produção acompanhado de rápida transformação das técnicas, das formas orga- nizacionais da economia, das instituições e dos costumes etc. Se o nas- cimento do capital exigiu o emprego da violência em grande escala, tampouco foi ela dispensada na sua trajetória expansionista. O capital realizou o veloz desenvolvimento das forças produtivas desinibido de considerações moralistas humanitárias, movido por uma avidez acu- mulativa sem paralelo nas etapas históricas precedentes.

O modo de produção capitalista se afirma à medida que dispensa os processos da acumulação originária e difunde processos específicos de exploração e valorização, que conduzem à produção da mais-valia. A tese segundo a qual o capital contém dois componentes distintos — o constante e o variável — constitui uma das proposições funda- mentais da Economia Política marxista. Insuspeito como crítico e ad- versário, Schumpeter reconheceu a superioridade desta proposição em face da de Ricardo.

O capital constante representa trabalho morto, cristalizado e acu- mulado nos meios de produção. Durante o processo produtivo, seu valor se mantém constante, transferindo-se ao produto sem alteração quan- titativa. O capital variável aplica-se nos salários que compram a força de trabalho e, por isso, representa a única parte do capital que varia no processo produtivo, uma vez que se incrementa pela produção de

mais-valia. A valorização particular do capital variável dá lugar à va- lorização do capital em sua totalidade.

A relação quantitativa entre capital constante e capital variável, em termos de valor, recebeu de Marx a denominação de composição

orgânica do capital, tanto mais alta quanto maior for o coeficiente do

capital constante e vice-versa. O sistema da Economia Política marxista tem nesta relação um dos eixos de sua articulação.

A composição orgânica do capital não se confunde com sua com- posição técnica, a qual diz respeito às características físicas do capital e não ao seu valor. Um capital com a composição técnica de 5 máqui- nas/1 operário pode ter a mesma composição orgânica de outro capital com a composição técnica de 10 máquinas/1 operário, se o valor de cada uma das últimas dez máquinas for a metade do valor de cada uma das primeiras cinco máquinas, sendo os salários iguais nos dois casos. Na perspectiva histórica de longo prazo, no entanto, a composição orgânica do capital se eleva com o aumento da composição técnica, embora o faça em proporções menores.

A distinção entre capital fixo e circulante, conhecida antes de Marx, diz respeito a outro aspecto da realidade, isto é, à transferência integral do valor dos componentes do capital ao produto numa única rotação produtiva (capital circulante) ou em várias rotações, gradual- mente (capital fixo). Tal distinção nada explica acerca da valorização do capital, porém é imprescindível à análise da circulação, rotação e reprodução do capital.

A esta altura, cumpre precisar qual foi a novidade trazida por Marx com a categoria de mais-valia. Já fora firmada a idéia de que a produção podia criar um excedente sobre a grandeza inicial dos meios de produção. Nas Teorias da Mais-Valia, incumbiu-se Marx de anotar e comentar com minúcia os antecessores que escreveram sobre o ex- cedente econômico. A novidade exposta em O Capital se resume em dois aspectos essenciais.

Em primeiro lugar, a distinção entre trabalho e força de trabalho. O trabalho não é senão o uso da força de trabalho, cujo conteúdo consiste nas aptidões físicas e intelectuais do operário. Sendo assim, o salário não paga o valor do trabalho, mas o valor da força de trabalho, cujo uso, no processo produtivo, cria um valor maior do que o contido no salário. O valor de uso da força de trabalho consiste precisamente na capacidade, que lhe é exclusiva, de criar um valor de grandeza superior à sua própria. O dono do capital e empregador do operário se apropria deste sobrevalor ou mais-valia sem retribuição. Mas, embora sem re- tribuição, a apropriação da mais-valia não viola a lei do valor enquanto lei de troca de equivalentes, uma vez que o salário deve ser o equivalente monetário do valor da força de trabalho. Assim, a relação mercantil entre capital e força de trabalho assume o caráter de troca de equi-

valentes, ao passo que a criação da mais-valia se efetiva fora dessa relação, no processo de uso produtivo da força de trabalho.

Embora não descurasse a circunstância de que, na prática do regime capitalista, o salário pode situar-se abaixo do valor da força de trabalho, Marx pressupõe sempre, em todas as inferências do seu sistema teórico, a troca de equivalentes e, por conseguinte, a equiva- lência entre salário e valor da força de trabalho. Em especial, o modo de produção capitalista ficava marcado pela particularidade histórica de generalizar a forma mercadoria, assumida também pela própria força de trabalho.

Esclarecia-se, dessa maneira, que a quantidade de trabalho “co- mandado” pela mercadoria acima do trabalho que custara, segundo a concepção de Smith, era precisamente a mais-valia. O lucro deixava de ser uma “dedução” do produto do trabalho e se identificava como

sobreproduto, por isso mesmo apropriado pelo comprador da força de

trabalho na sua condição de capitalista.

Em segundo lugar, a concepção da mais-valia enquanto sobre- produto abstraído de suas formas particulares (lucro industrial e co- mercial, juros e renda da terra). Justamente porque entenderam o excedente imediatamente como lucro, sem se dar conta de sua natureza originária de mais-valia, da qual o lucro é uma das formas particulares, justamente por não disporem da categoria mediadora da mais-valia é que Smith e Ricardo identificaram valor e preço de produção. Em con- seqüência, colocaram a teoria do valor-trabalho em contradição discur- siva com qualquer explicação coerente acerca do eixo em torno do qual deviam oscilar os preços de mercado. A categoria de mais-valia veio permitir também a superação deste impasse dos clássicos burgueses. No Prefácio ao Livro Segundo, afirmou Engels, com inspiração brilhante, que a façanha teórica de Marx se comparava à de Lavoisier. Enquanto Priestley e Scheele, ao se defrontarem com o oxigênio em estado puro, insistiram em chamá-lo de flogisto, por incapacidade de desprender-se da teoria química vigente, Lavoisier reconheceu no gás um novo elemento ao qual denominou oxigênio e, com isso, liquidou a velha teoria flogística. Ao contrário dos economistas que continuavam a identificar o sobreproduto com uma das suas aparências fenomenais — a renda da terra, no caso dos fisiocratas, ou o lucro, no caso de Smith e Ricardo —, Marx abstraiu a mais-valia de suas manifestações particulares e, dessa maneira, cortou os vários nós górdios que obsta- culizavam o desenvolvimento conseqüente da teoria do valor.

A concepção categorial da mais-valia exige, não obstante, a ca- racterização precisa do que seja trabalho produtivo. Smith distinguiu entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo, conotando o primeiro pela criação de bens materiais, dotados de consistência corpórea, e pela

lucratividade. Isto implicava a exclusão da esfera do trabalho produtivo

imediato de sua execução (os chamados serviços), ou que, embora criem bens materiais, não são lucrativas. Marx modificou as teses de Smith, ao mesmo tempo deixando interrogações, dúvidas e problemas sem resposta, que suscitaram controvérsias ainda abertas entre os próprios marxistas. Antes de tudo, tendo em vista sempre a formação social burguesa, devia ficar inteiramente claro que só o trabalho produtivo cria valor e mais-valia. Mas isto não significa que as atividades improdutivas sejam todas desnecessárias ou mesmo nocivas. Umas são requeridas pela manutenção das condições gerais da vida social (os serviços do aparelho estatal), enquanto outras são indispensáveis à efetivação inin- terrupta dos próprios processos econômicos. A atenção de Marx incidiu principalmente nestas últimas.

Daí que começasse por criticar a rigidez da caracterização smi- thiana excludente de todos os serviços da esfera do trabalho produtivo. Rigidez de inspiração fisiocrática e que levava a sobrepor a natureza física do produto do trabalho à sua forma social. Da análise do texto de Smith, no volume I das Teorias da Mais-Valia, emergiram distinções bem definidas em O Capital. O capital produtivo é, por excelência, o capital industrial, concebendo-se o capital agrícola como uma de suas modalidades. O capital comercial e o capital bancário representam es- pecializações funcionais improdutivas do capital social total, indispen- sáveis, porém, à sua circulação e rotação sob forma de mercadoria específica e sob forma de dinheiro. Uma parte da mais-valia criada na esfera do capital industrial passa às esferas do comércio e dos negócios bancários — assumindo as formas particulares de lucro comercial e de juros —, com ela se pagando o lucro de comerciantes e banqueiros, bem como o salário dos seus empregados. Mas há atividades que não produzem bens materiais e, contudo, são necessárias ao processo de produção ou o prolongam na esfera da circulação, devendo ser consi- deradas produtivas e, portanto, criadoras de valor e mais-valia. Este é o caso do transporte, armazenagem e distribuição de mercadorias. Uma vez que as mercadorias são valores de uso destinados à satisfação de necessidades (como bens de produção ou como bens de consumo), é evidente que transportá-las, conservá-las em locais apropriados e distribuí-las constituem tarefas produtivas, ainda que nada acrescen- tem à substância ou à conformação física das mercadorias. Por conse- qüência, uma parte das atividades abrangidas pela rubrica do comércio tem natureza de trabalho produtivo. São somente improdutivas aquelas atividades comerciais que derivam das características mercantis das relações de produção capitalistas, dizendo respeito aos gastos com as operações de compra e venda e com as suas implicações especulativas. Por conseguinte, Marx rejeitou a caracterização de Smith acerca do trabalho produtivo restringido apenas à produção de bens materiais e incluiu determinados serviços no conceito de trabalho produtivo. Não chegou, todavia, a realizar um estudo abrangente e conclusivo sobre

os serviços em geral. Recusou, por exemplo, a atribuição de produti- vidade aos serviços médicos (o que, obviamente, não significa que os considerasse dispensáveis). Já com relação a atividades como as de ensino, dos espetáculos, da hotelaria e outras, sua análise ficou no meio do caminho, justificando-se com o pequeno peso dos serviços.

O que era verdade para seu tempo, mas deixou de sê-lo para os dias atuais. Nos países capitalistas desenvolvidos, o setor terciário, que abrange os serviços, passou a ocupar o maior percentual da força de trabalho e a responder, nas contas nacionais, por cerca de metade do produto. Do ponto de vista da teoria econômica marxista, é inacei- tável, não obstante, a inclusão no produto nacional de todos os serviços computados pela estatística oficial. Mesmo esta, às vezes, adota timi- damente o conceito de produto real, do qual exclui os serviços gover- namentais, a intermediação financeira, os serviços de educação e saúde e alguns outros. Trata-se, sem dúvida, de importante campo da inves- tigação econômica, em cujo âmbito as indicações de Marx são preciosas para marxistas e não-marxistas.

Por fim, Marx referiu-se ao que denominou de faux frais: falsos gastos inseridos no processo de produção, embora sem lhe dar contri- buição do ponto de vista técnico e produtivo. Um desses falsos gastos é o do trabalho de vigilância ou controle da força de trabalho, que impõe um acréscimo de custos sem significação técnica para a produção

No documento O Capital - Volume I (páginas 32-43)