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P OSFÁCIO DA S EGUNDA E DIÇÃO

No documento O Capital - Volume I (páginas 128-137)

A

ntes de tudo, tenho de apresentar aos leitores da primeira edi- ção esclarecimentos quanto às modificações feitas na segunda edição. É evidente a ordenação mais clara do livro. As notas adicionais estão sempre assinaladas como notas à segunda edição. Quanto ao próprio texto, eis o mais importante:

No capítulo I, 1, a dedução do valor por meio da análise das equações, nas quais se exprime todo valor de troca, é realizada com rigor científico maior, assim como é destacada expressamente a conexão, apenas indicada na primeira edição, entre a substância do valor e a determinação da grandeza do valor por meio do tempo de trabalho social necessário. O capítulo I, 3 (A forma do valor) está totalmente reelaborado, o que já se impunha pela exposição dupla na primeira edição. — De passagem observo que essa exposição dupla deveu-se a meu amigo, dr. L. Kugelmann de Hanover. Eu estava a visitá-lo na primavera de 1867 quando as primeiras provas chegaram de Hamburgo e ele me convenceu de que, para a maioria dos leitores, seria necessária uma discussão suplementar e mais didática da forma do valor. — A última parte do capítulo I, “O fetichismo da mercadoria etc.”, está grandemente modificada. O capítulo III, 1 (Medida dos valores) foi cuidadosamente revisto porque essa parte tinha sido negligenciada na primeira edição, remetendo à discussão já feita na Contribuição à Crí-

tica da Economia Política, Berlim, 1859. O capítulo VII, especialmente

a Seção II, foi reformulado de modo significativo.

Seria inútil entrar detalhadamente nas modificações, muitas ve- zes apenas estilísticas, de trechos do texto. Elas se estendem por todo o livro. Apesar disso, creio que, após a revisão da tradução francesa a ser publicada em Paris, várias partes do original alemão exigiriam aqui uma reelaboração mais profunda, ali uma correção estilística maior

45 Na 4ª edição do volume I de O Capital (1890) foram deixados fora os quatro primeiros parágrafos deste prefácio. No presente volume, o prefácio é publicado integralmente. (N. da Ed. Alemã.)

ou até mesmo a eliminação cuidadosa de descuidos ocasionais. Para tanto faltou-me tempo, pois apenas no outono de 1871, em meio a outros tra- balhos urgentes, recebi a notícia de que o livro estava esgotado e que a impressão da segunda edição já teria de ser iniciada em janeiro de 1872. A compreensão que O Capital rapidamente encontrou em amplos círculos da classe operária alemã é a melhor recompensa de meu tra- balho. Um homem, economicamente situado numa perspectiva burgue- sa, o sr. Mayer, industrialista vienense, afirmou com acerto, numa brochura publicada durante a guerra franco-alemã, que o grande senso teórico, considerado patrimônio hereditário alemão, teria desaparecido completamente das assim chamadas classes cultas da Alemanha, para ressuscitar, em compensação, na sua classe trabalhadora.

Na Alemanha, a Economia Política continuou sendo, até agora, uma ciência estrangeira. Gustav von Güllich, na Representação Histórica dos

Ofícios etc., já discutiu em grande parte, especialmente nos dois primeiros

volumes de sua obra publicados em 1830, as circunstâncias históricas que inibiam o desenvolvimento do modo de produção capitalista entre nós e, portanto, também a construção da moderna sociedade burguesa. Faltava, por conseguinte, o terreno vivo da Economia Política. Ela foi importada da Inglaterra e da França como mercadoria pronta e acabada; seus ca- tedráticos alemães não passaram de estudantes. Em suas mãos, a ex- pressão teórica de uma realidade estrangeira transformou-se numa cole- tânea de dogmas, por eles interpretada, de acordo com o mundo peque- no-burguês que os circundava, sendo portanto distorcida. Para dissimular a sensação, não completamente reprimível, de impotência científica, bem como a má consciência de ter que lecionar numa área de fato estranha, ostentava-se erudição histórico-literária ou misturava-se material estra- nho, emprestado às assim chamadas ciências cameralísticas, uma misce- lânea de conhecimentos, purgatório pelo qual tem de passar o esperançoso46

candidato à burocracia alemã.

Desde 1848, a produção capitalista tem crescido rapidamente na Alemanha, e já ostenta hoje seus frutos enganadores. Mas, para nossos especialistas, o destino continuou adverso. Enquanto podiam tratar de Economia Política de modo descomprometido, faltavam as relações eco- nômicas modernas à realidade alemã. Assim que essas relações vieram à luz, isso ocorreu sob circunstâncias que não mais permitiam o seu estudo descompromissado na perspectiva burguesa. À medida que é burguesa, ou seja, ao invés de compreender a ordem capitalista como um estágio historicamente transitório de evolução, a encara como a configuração última e absoluta da produção social, a Economia Política só pode permanecer como ciência enquanto a luta de classes permanecer latente ou só se manifestar em episódios isolados.

Tomemos a Inglaterra. A sua Economia Política clássica cai no período em que a luta de classes não estava desenvolvida. O seu último grande representante, Ricardo, toma afinal conscientemente, como pon- to de partida de suas pesquisas, a contradição dos interesses de classe, do salário e do lucro, do lucro e da renda da terra, considerando, in- genuamente, essa contradição uma lei natural da sociedade. Com isso, a ciência burguesa da economia havia, porém, chegado aos seus limites intransponíveis. Ainda durante a vida de Ricardo apareceu, contra ele, a crítica na pessoa do Sismondi.47

Na Inglaterra, o período seguinte, de 1820 a 1830, destaca-se pela vivacidade científica no campo da Economia Política. Foi tanto o período de expansão e vulgarização da teoria de Ricardo, quanto de sua luta contra a velha escola. Celebraram-se brilhantes torneios. Do que então se fez, pouco chegou ao conhecimento do continente europeu, pois a polêmica encontra-se, em grande parte, esparsa em artigos de revistas, publicações ocasionais e panfletos. O caráter imparcial dessa polêmica — ainda que a teoria de Ricardo também já tivesse sido utilizada, excepcionalmente, como arma de ataque contra a economia burguesa — explica-se pelas circunstâncias da época. Por um lado, a grande indústria mesma apenas começava a sair da sua infância, o que se comprova pelo fato de que só com a crise de 1825 ela inaugura o ciclo periódico de sua vida moderna. Por outro lado, a luta de classes entre capital e trabalho ficou restrita a segundo plano; politicamente, por meio da contenda entre os governos e interesses feudais agrupados em torno da Santa Aliança e a massa popular conduzida pela burguesia; economicamente, por meio da disputa do capital industrial com a pro- priedade aristocrática da terra, que se escondia, na França, atrás da oposição entre minifúndio e latifúndio e que, na Inglaterra, irrompeu abertamente desde as leis do trigo. Nesse período, a literatura sobre Economia Política lembra, na Inglaterra, o período de tempestuoso avanço econômico ocorrido na França depois da morte do dr. Quesnay, mas apenas como nuvens ligeiras do verão tardio lembram a primavera. No ano de 1830 começou a crise que se tornou, de uma vez por todas, decisiva.

A burguesia tinha conquistado poder político na França e Ingla- terra. A partir de então, a luta de classes assumiu, na teoria e na prática, formas cada vez mais explícitas e ameaçadoras. Ela fez soar o sino fúnebre da economia científica burguesa. Já não se tratava de saber se este ou aquele teorema era ou não verdadeiro, mas se, para o capital, ele era útil ou prejudicial, cômodo ou incômodo, subversivo ou não. No lugar da pesquisa desinteressada entrou a espadacharia mercenária, no lugar da pesquisa científica imparcial entrou a má cons-

47 Ver minha obra Zur Kritik etc. p. 39.*

* Publicado em MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos e Outros Textos Escolhidos.

ciência e a má intenção da apologética. No entanto, mesmo os impor- tunos tratadozinhos que a Anti-Com-Law-League,48 chefiada pelos in-

dustrialistas Cobden e Bright, lançava aos quatro ventos, possuíam, se não um interesse científico, ao menos histórico por sua polêmica contra a aristocracia fundiária. Desde Sir Robert Peel, também este último esporão crítico foi extraído da economia vulgar pela legislação livre-cambista.

A revolução continental de 1848 também repercutiu na Inglaterra. Homens que ainda pretendiam ter algum significado científico e que que- riam ser algo mais do que meros sofistas e sicofantas das classes domi- nantes procuravam sintonizar a Economia Política do capital com as rei- vindicações não mais ignoráveis do proletariado. Daí surge um sincretismo desprovido de espírito, cujo melhor representante é Stuart Mill. É uma declaração de falência da economia “burguesa”, que o grande erudito e crítico russo N. Tchernichveski já evidenciou magistralmente em sua obra

Delineamentos da Economia Política Segundo Mill.

Na Alemanha, o modo de produção capitalista atingiu a matu- ridade depois que o seu caráter antagônico já tinha se revelado rui- dosamente na França e na Inglaterra por meio de lutas históricas, enquanto o proletariado alemão já possuía uma consciência teórica de classe muito mais decidida do que a burguesia alemã. Assim que uma ciência burguesa da Economia Política pareceu tornar-se possível aqui [na Alemanha], ela havia-se tornado, portanto, novamente impossível. Nessas circunstâncias, seus porta-vozes dividiram-se em dois gru- pos. Uns, astutos, ambiciosos e pragmáticos, juntaram-se sob a bandeira de Bastiat, o mais superficial e, por isso mesmo, o mais bem-sucedido representante da economia apologética vulgar; outros, ciosos da cate- drática dignidade de sua ciência, seguiram J. St. Mill na tentativa de reconciliar o irreconciliável. Assim como na época clássica da economia burguesa, também na época da sua decadência os alemães permane- ceram meros discípulos, repetidores e imitadores, mascates modestos do grande atacado estrangeiro.

O desenvolvimento histórico peculiar da sociedade alemã excluía a possibilidade de qualquer desenvolvimento original da economia bur-

48 Liga-Anti-Lei-do-Trigo. — União livre-cambista que foi fundada em 1838 em Manchester pelos fabricantes Cobden e Bright. As assim chamadas leis do trigo, que tinham por fina- lidade a limitação, talvez a proibição, da importação do trigo do estrangeiro, foram intro- duzidas na Inglaterra, no ano de 1815, no interesse dos latifundiários, dos lordes da terra. A Liga pleiteou a exigência de total liberdade de comércio e lutava em prol da eliminação das leis do trigo com a finalidade de baixar os salários dos trabalhadores e enfraquecer as posições políticas da aristocracia fundiária. Em sua luta contra os proprietários rurais, a Liga procurava explorar as massas operárias. Mas exatamente nessa época os trabalha- dores mais progressistas da Inglaterra aceitaram o caminho de um movimento operário politicamente autônomo (cartismo). A luta entre a burguesia industrial e a aristocracia rural terminou em 1846 com a promulgação da lei sobre a eliminação das leis do trigo. Depois disso, a Liga se dissolveu. (N. da Ed. Alemã.)

guesa, mas não a sua — crítica. À medida que tal crítica representa, além disso, uma classe, ela só pode representar a classe cuja missão histórica é a derrubada do modo de produção capitalista e a abolição final das classes — o proletariado.

Os porta-vozes eruditos e não eruditos da burguesia alemã pro- curaram primeiro aniquilar O Capital por meio do silêncio, como tinham conseguido fazer com os meus escritos anteriores. Quando essa tática já não correspondia às circunstâncias da época, passaram a redigir, pretextando criticar meu livro, instruções “Para tranqüilizar a cons- ciência burguesa”, mas encontraram na imprensa operária — vejam-se, por exemplo, os artigos de Joseph Dietzgen no Volksstaat49 — lutadores

de maior porte, aos quais estão devendo resposta até hoje.50

Em Petersburgo foi publicada uma excelente tradução russa de

O Capital na primavera de 1872. A edição de 3 mil exemplares já se

encontra agora quase esgotada. Em 1871, o sr. N. Sieber, catedrático de Economia Política na Universidade de Kiev, em seu escrito A Teoria

de D. Ricardo do Valor e do Capital etc., já apontava a minha teoria

do valor, do dinheiro e do capital como, em suas linhas básicas, con- tinuação necessária da doutrina de Smith e de Ricardo. O que sur- preende o europeu ocidental, ao ler seu valioso livro, é a manutenção conseqüente do ponto de vista puramente teórico.

O método aplicado em O Capital foi pouco entendido, como já o demonstram as interpretações contraditórias do mesmo.

Assim, a Revue Positiviste51 me acusa de que eu, por um lado,

trato a Economia metafisicamente e, por outro — adivinhem! —, de que eu me limitaria à mera análise crítica do dado, em vez de prescrever

49 O artigo de J. Dietzgen “Das Kapital. Kritik der politischen Oekonomie von Karl Marx”,*

Hamburgo, 1867, foi publicado no “Demokratischen Wochenblatt”** nº 31, 34, 35 e 36. De

1869 até 1876, esse jornal apareceu com o título de “Der Volksstaat”.*** (N. da Ed. Alemã.) * “O Capital. Crítica da Economia Política de Karl Marx”. (N. dos T.)

** “Seminário Democrático”. (N. dos T.) *** “O Estado do Povo”. (N. dos T.)

50 Os embusteiros grandiloqüentes da Economia vulgar alemã censuraram o estilo e o modo de exposição do meu livro. Ninguém pode julgar mais severamente do que eu as carências literárias de O Capital. Ainda assim, para alegria e proveito desses senhores e de seu público, quero citar um juízo inglês e um russo. O Saturday Review, que é totalmente hostil às minhas idéias, disse em sua nota sobre a primeira edição alemã: o modo de exposição “confere um charme peculiar até mesmo às questões econômicas mais áridas”. O Jornal de

São Petersburgo observa, entre outras coisas, em seu número de 20 de abril de 1872: “A

exposição, excetuadas algumas partes demasiadamente especializadas, distingue-se por sua geral acessibilidade, pela clareza e, apesar da altura científica do objeto, pela extraordinária vivacidade. Quanto a isso (...), não existe nem de longe qualquer semelhança do autor com a maioria dos intelectuais alemães, que (...) escrevem os seus livros numa linguagem tão obscura e árida que faz estourar a cabeça dos mortais comuns”. Aos leitores da literatura catedrática teuto-nacional-liberal contemporânea estoura, porém, algo completamente di- verso da cabeça.

51 La Philosophie Positive. Revue. Revista que apareceu em Paris de 1867 até 1883. No número

3 de novembro/dezembro de 1868, ela publicou uma curta resenha sobre o volume I de O

Capital, da pena de De Reborty, um discípulo do filósofo positivista Auguste Comte. (N.

receitas (comteanas?) para a cozinha do futuro. Contra a acusação de metafísica, o prof. Sieber observa:

“No que tange à teoria propriamente dita, o método de Marx é o método dedutivo de toda a escola Inglesa, cujos defeitos e virtudes são comuns aos melhores economistas teóricos”.52

O sr. M. Block descobre em “Les Théoriciens du Socialisme en Allemagne. Extrait du Journal des Économistes, juillet et aout 1872",53

que o meu método é analítico e, entre outras coisas, afirma que: “Par cet ouvrage M. Marx se classe parmi les esprits analy- tiques les plus éminentes”.54

Os resenhistas alemães gritam, obviamente, contra a sofística hegeliana. O Correio Europeu, de Petersburgo, num artigo que exa- mina exclusivamente o método de O Capital (número de maio de 1872, p. 427-436), considera o meu método de pesquisa rigorosa- mente realista, mas o meu método de exposição desgraçadamente teuto-dialético. Ele afirma:

“À primeira vista, se julgado pela forma externa de exposição, Marx é o maior filósofo idealista, no sentido germânico, ou seja, no mau sentido da palavra. De fato ele é, porém, infinitamente mais realista do que os seus predecessores na tarefa da crítica econômica. (...) Não se pode, de modo algum, chamá-lo de idealista”. A melhor resposta que possa dar ao autor é mediante alguns extratos de sua própria crítica, cuja transcrição poderá interessar a muitos dos meus leitores, para os quais o original russo não seja aces- sível. Depois de uma citação de meu prefácio da “Contribuição à Crítica da Economia Política” (Berlim, 1859, p. IV-VII), onde eu expus a fun- damentação materialista do meu método, continua o senhor autor:

“Para Marx, só importa uma coisa: descobrir a lei dos fenô- menos de cuja investigação ele se ocupa. E para ele é importante não só a lei que os rege, à medida que eles têm forma definida e estão numa relação que pode ser observada em determinado período de tempo. Para ele, o mais importante é a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, isto é, a transição de uma forma para outra, de uma ordem de relações para outra. Uma vez descoberta essa lei, ele examina detalhadamente as conse- qüências por meio das quais ela se manifesta na vida social. (...)

52 ENGELS. Teoria do Valor e do Capital de David Ricardo em Relação com Posteriores

Complementos e Esclarecimentos. Kiev, 1871, p. 170. (N. da Ed. Alemã.)

53 ”Os Teóricos do Socialismo na Alemanha. Extrato do Jornal dos Economistas, julho e agosto de 1872."(N. dos T.)

Por isso, Marx só se preocupa com uma coisa: provar, mediante escrupulosa pesquisa científica, a necessidade de determinados ordenamentos das relações sociais e, tanto quanto possível, cons- tatar de modo irrepreensível os fatos que lhe servem de pontos de partida e de apoio. Para isso, é inteiramente suficiente que ele prove, com a necessidade da ordem atual, ao mesmo tempo a necessidade de outra ordem, na qual a primeira inevitavelmente tem que se transformar, quer os homens acreditem nisso, quer não, quer eles estejam conscientes disso, quer não. Marx considera o movimento social um processo histórico-natural, dirigido por leis que não apenas são independentes da vontade, consciência e intenção dos homens, mas, pelo contrário, muito mais lhes de- terminam a vontade, a consciência e as intenções. (...) Se o ele- mento consciente desempenha papel tão subordinado na história da cultura, é claro que a crítica que tenha a própria cultura por objeto não pode, menos ainda do que qualquer outra coisa, ter por fundamento qualquer forma ou qualquer resultado da cons- ciência. Isso quer dizer que o que lhe pode servir de ponto de partida não é a idéia, mas apenas o fenômeno externo. A crítica vai limitar-se a comparar e confrontar um fato não com a idéia, mas com o outro fato. Para ela, o que importa é que ambos os fatos sejam examinados com o máximo de fidelidade e que cons- tituam, uns em relação aos outros, momentos diversos de desen- volvimento; mas, acima de tudo, importa que sejam estudadas de modo não menos exato a série de ordenações, a seqüência e a conexão em que os estágios de desenvolvimento aparecem. Mas, dir-se-á, as leis gerais da vida econômica são sempre as mesmas, sejam elas aplicadas no presente ou no passado. (...) É exatamente isso o que Marx nega. Segundo ele, essas leis abstratas não exis- tem. (...) Segundo sua opinião, pelo contrário, cada período his- tórico possui suas próprias leis. Assim que a vida já esgotou determinado período de desenvolvimento, tendo passado de de- terminado estágio a outro, começa a ser dirigida por outras leis. Numa palavra, a vida econômica oferece-nos um fenômeno aná- logo ao da história da evolução em outros territórios da Biologia. (...) Os antigos economistas confundiram a natureza das leis eco- nômicas quando as compararam às leis da Física e da Química. (...) Uma análise mais profunda dos fenômenos demonstrou que organismos sociais se distinguem entre si tão fundamentalmente quanto organismos vegetais e animais. (...) Sim, um mesmo fe- nômeno rege-se por leis totalmente diversas em conseqüência da estrutura diversa desses organismos, da modificação em alguns de seus órgãos, das condições diversas em que funcionam etc. Marx nega, por exemplo, que a lei da população seja a mesma em todos os tempos e em todos os lugares. Ele assegura, pelo

contrário, que cada estágio de desenvolvimento tem uma lei de- mográfica própria. (...) Com o desenvolvimento diferenciado da força produtiva, modificam-se as circunstâncias e as leis que as regem. Marx, ao se colocar a meta de pesquisar e esclarecer, a partir desta perspectiva, a ordenação econômica do capitalismo, apenas formula, com todo rigor científico, a meta que deve ter qualquer investigação exata da vida econômica. (...) O valor cien- tífico de tal pesquisa reside no esclarecimento das leis específicas que regulam nascimento, existência, desenvolvimento e morte de dado organismo social e a sua substituição por outro, superior.

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