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Tendências do Desenvolvimento do Modo de Produção Capitalista

No documento O Capital - Volume I (páginas 50-66)

O sistema teórico marxiano distingue-se pela exposição das ten- dências dinâmicas inerentes ao modo de produção capitalista, as quais, se lhe impulsionam o crescimento, ao mesmo tempo desenvolvem suas contradições internas e o conduzem à decadência e à substituição por um novo modo de produção.

O modo de produção capitalista não é visto, por conseguinte, como encarnação da racionalidade supra-histórica, nem suas leis es- pecíficas assumem o caráter de leis naturais, cuja suposta imanência à natureza humana imporia a adequação eterna das instituições sociais às exigências de sua livre atuação. A concepção dialética marxista opôs- se à tradição jusnaturalista da ideologia burguesa, que impregnou os clássicos da Economia Política. Por isso mesmo, o modo de produção capitalista não é visto como aberração, nem tampouco o foram, antes dele, os modos de produção asiático, escravista e feudal. Todos repre- sentam grandes etapas do desenvolvimento histórico, cujo princípio explicativo reside na correspondência entre as relações de produção e o caráter das forças produtivas. A cessação de tal correspondência torna os homens conscientes, cedo ou tarde, da necessidade de substituir o

modo de produção decadente por um novo modo de produção, ou seja, no essencial, da necessidade de favorecer a implantação e expansão de novas relações de produção adequadas ao desenvolvimento desobs- truído das forças produtivas. O modo de produção capitalista, em vir- tude das contradições do seu próprio movimento, teria de ceder lugar ao modo de produção comunista. Se foi enfático no concernente a esta conclusão, Marx não deixou senão escassas e sucintas idéias acerca das características do comunismo. Rejeitou as idealizações utópicas e ateve-se àquelas inferências possíveis a partir do próprio capitalismo. Marx se pretendia cientista e não profeta.

Os temas a seguir abordados foram escolhidos pela relevância que assumem na concepção marxiana sobre a dinâmica do modo de produção capitalista.

O capital social total e as contradições de sua reprodução

No Livro Segundo — conforme já observado, aquele mais dedicado à macroeconomia —, Marx buscou esclarecer como era possível efeti- var-se a reprodução do capital social total, uma vez que este se cons- tituía de numerosos capitais individuais concorrentes, cuja atuação, pela própria natureza do capitalismo, pressupunha a ausência de su- bordinação a uma planificação centralizada.

Todo modo de produção deve ser também um modo de reprodução. Por força, no fundamental, dos mecanismos econômicos e também pelo suporte que o modo de produção recebe das instituições político-jurídicas consolidadas, da ideologia dominante, dos costumes da vida cotidiana etc., cada circuito da produção é sucedido por novo circuito, numa rei- teração incessante. De outra maneira, seria inevitável a cessação da existência da própria sociedade. Se a evidência empírica comprova que a reprodução também ocorre na formação social capitalista, a questão a elucidar consiste na demonstração de como isto é possível num regime em que a produção socializada se realiza entre as paredes de empresas de propriedade privada.

O feito de Marx, no Livro Segundo, encontrou precedente e fonte de inspiração no Tableau Économique de Quesnay. Marx o tinha em alta conta e realçou sua grande significação científica. Não obstante, entre o

Tableau e os esquemas da reprodução do Livro Segundo medeia uma

distância enorme, de cujos marcos basilares basta assinalar o primeiro: a teoria do valor-trabalho, ausente na concepção do precursor francês.

Os esquemas da reprodução formulam-se em termos de valor, discriminando-se o produto social anual em três partes: capital cons- tante, capital variável e mais-valia. Ao mesmo tempo, o produto social tem a composição bissegmentada por uma grande linha divisória de- terminada, não pelo valor, mas pelo valor de uso. Em conseqüência, o produto social procede de dois departamentos: o Departamento I — produtor de bens de produção; e o Departamento II — produtor de

bens de consumo (de capitalistas e operários, únicas classes inclusas no modelo). Por conseguinte, a fim de que decorra sem tropeços, a reprodução anual do capital social total depende de que o produto social possua uma composição quantitativa proporcional em termos de valor e, ao mesmo tempo, uma composição qualitativa proporcional em termos de valor de uso. O intercâmbio mercantil se efetiva dentro de cada Departamento e entre ambos.

Marx elaborou dois modelos matemáticos de esquemas, que sa- tisfazem todos os requisitos da proporcionalidade. O primeiro esquema é o da reprodução simples, no qual se supõe que os capitalistas gastam toda mais-valia no consumo pessoal, de tal maneira que o produto social se repete em dimensões iguais às anteriores. No funcionamento do capitalismo, a reprodução simples não constitui senão momento abstrato da reprodução ampliada. Já nesta, uma parte da mais-valia, em vez de absorvida pelo consumo pessoal, é produtivamente investida, daí decorrendo a reprodução do produto social em dimensões incre- mentadas. Dados os imperativos da acumulação do capital, a reprodução ampliada é uma exigência do modo de produção capitalista e sua não- efetivação significa indício de crise.

Os modelos matemáticos marxianos da reprodução do capital so- cial total não são fórmulas dinâmicas, mas a fixação abstrata de um instantâneo, algo assim como um flash fotográfico que capta condições fugazes da reprodução em estado de completo equilíbrio. Desses modelos não se podem inferir senão os requisitos essenciais à reprodução equi- librada do capital social total. A inferência acerca da continuidade de tais requisitos se contrapõe à argumentação do Livro Segundo.

No processo de circulação, o capital atravessa as fases de capital dinheiro, capital produtivo e capital mercadoria. A fim de retornar à con- figuração inicial de capital dinheiro, é necessária a realização do capital mercadoria, o que significa, em termos correntes, precisamente a venda das mercadorias produzidas. Já aí aparecem tropeços reincidentes, uma vez que os atos de compra e venda, intermediados pelo dinheiro, não se efetuam na velocidade ideal ou simplesmente deixam de se efetuar. Na realidade capitalista, a oferta nem sempre cria a procura correspondente. A esta altura, cumpre acentuar ter sido, muito antes de Keynes, a chamada “lei dos mercados” de Say submetida à crítica radical de Marx, que, ao mesmo tempo, rejeitou a teoria subconsumista de Sismondi, apesar de apreciar sua posição de crítico do capitalismo.

Mas os obstáculos à reprodução fluente e desimpedida procedem ainda de várias outras características da produção capitalista, cuja finalidade vital consiste na valorização do capital. Procedem das dife- renças dos tempos de rotação entre os capitais individuais dos diversos ramos industriais e entre o capital fixo e o capital circulante na com- posição de cada capital individual. Procedem da especialização de fun- ções entre o capital industrial, o capital comercial e o capital bancário,

cada qual submetido a giros próprios, em discordância maior ou menor com os demais, de tal maneira que a concordância representa mero acaso (tema que tornará a ser abordado no Livro Terceiro). Procedem das inovações tecnológicas, que alteram os requisitos das proporções anteriores de composição do produto social sob o aspecto do valor de uso. Procedem, enfim, da prática maior ou menor do entesouramento, em resposta a características objetivas da reprodução ou a expectativas subjetivas dos capitalistas.

De tudo isso não se segue que a reprodução do capital social total seja impossível, mesmo nas condições de sistema fechado, que é o pressuposto permanente da construção teórica marxiana, entrando o comércio exterior como fator contingente. Da argumentação marxiana decorre tão-somente que a efetivação da reprodução do capital social total não se dá em estado de equilíbrio. Este estado é apenas uma tendência atuante em meio a inumeráveis e incessantes desequilíbrios, cuja autocorreção pelo mercado não impede que prevaleça a acentuação da desproporcionalidade e a superacumulação de capital em face da demanda solvente (o mesmo que demanda efetiva, na terminologia key- nesiana). Situação que, no ápice, desemboca e se resolve na crise cíclica. Os esquemas marxianos da reprodução do capital social total ensejaram acesas polêmicas já no final do século passado. Tugan-Ba- ranovski, destacadamente, extraiu deles a conclusão de que o capita- lismo poderia desenvolver-se a perder de vista, a salvo de crises eco- nômicas, se fossem cumpridos os requisitos da proporcionalidade da reprodução. Tais requisitos, por sua vez, dispensariam a exigência de ampliação do consumo pessoal, sendo possível imaginar o capitalismo funcionando com o proletariado constituído por um único indivíduo. Embora recusasse a loucura metódica de Tugan-Baranovski, admitiu Hilferding estar implícita nos esquemas marxianos uma concepção har- monicista e afirmou que, com base neles, seria impossível provar a derrocada inelutável do capitalismo.

Os esquemas marxianos constituíram, no entanto, um dos argu- mentos centrais apresentados por Lênin em sua polêmica com os po- pulistas russos. Em obras como Sobre a Questão Chamada dos Mer-

cados e O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, os esquemas

marxianos da reprodução social foram utilizados a fim de rebater a tese populista acerca de impossibilidade da formação do mercado in- terno capitalista nas condições russas. Conquanto recorresse às análises de Tugan-Baranovski, então um dos chamados “marxistas legais”, Lê- nin rejeitou a interpretação harmonicista corrente entre estes últimos. Motivada, precisamente, pela necessidade de uma réplica à in- terpretação harmonicista, Rosa Luxemburgo criticou os esquemas mar- xianos e desviou a explicação da contradição fundamental do capita- lismo para a questão da suposta realização inviável em face da insu- ficiência dos mercados num sistema capitalista fechado. Inaugurava-se

em grande estilo, no âmbito do marxismo, o enfoque subconsumista. Tanto Luxemburgo como Hilferding, embora situados em posições po- líticas muito diferentes no âmbito da social-democracia, não perceberam o caráter estático dos modelos marxianos da reprodução social e con- sideraram impossível evitar a interpretação harmonicista com referên- cia a eles.

Quando, na década dos vinte do século atual, os economistas soviéticos começaram a enfrentar os problemas da planificação centra- lizada, a teoria marxista da reprodução do capital social total colocou-se no foco das atenções e diretamente nela se inspirou a metodologia dos balanços. Foi sob a motivação do estudo desses problemas macroeco- nômicos que Leontief, então ainda na União Soviética, iniciou as pes- quisas que, nos Estados Unidos, culminaram na elaboração das ma- trizes de insumo-produto.

Ainda na década dos vinte, a teoria marxista da reprodução social forneceu ao economista soviético G. Feldman o instrumental conceitual para o primeiro modelo matemático do desenvolvimento dinâmico da reprodução macroeconômica, nas condições do socialismo. Feldman an- tecipou-se, portanto, às fórmulas macrodinâmicas de Harrod e Domar, inspiradas na macroestática de Keynes. Os keynesianos de esquerda, como Robinson, apreciaram o mérito dos esquemas da reprodução do Livro Segundo e encontraram neles uma das razões para sua aproxi- mação ao marxismo.

Os ciclos econômicos

Schumpeter, um dos principais estudiosos modernos do tema, afirmou que Marx foi pioneiro na apresentação de uma teoria consis- tente dos ciclos econômicos (e não só das crises), embora o fizesse sem concatenação sistemática. Decerto, partindo do mundo acadêmico oci- dental, seria difícil elogio mais eminente à realização de Marx.

É fato que não encontramos, em O Capital, uma exposição sis- temática sobre os ciclos econômicos. As referências são fragmentárias e se acham dispersas nos três Livros e ainda em outras obras como

Teorias da Mais-Valia. O estudo da teoria marxiana dos ciclos só é

possível com a reunião de todas essas referências, levando-se em conta o contexto em que cada uma está inserida. Justamente a falta ou a dificuldade de semelhante enfoque abrangente tem acentuado as dife- renças de exegese e as posições polêmicas.

Ao estudar, no Livro Segundo, a reprodução do capital social total, assinalou Marx, em diversas passagens, a natureza cíclica dessa reprodução. Ultrapassada a fase de crise, cada ciclo se renova através de fases sucessivas de depressão, reanimação e auge, que desemboca na crise seguinte, a partir da qual se origina novo ciclo. Esta natureza cíclica do movimento da reprodução tem a causa fundamental no im- pulso inelutável do capital à sua valorização (de outra maneira, não

seria capital), o que o leva a chocar-se numa frente geral, periodica- mente, com as barreiras que a própria valorização cria para o desen- volvimento das forças produtivas. Tais barreiras inexistiriam se o ca- pital não precisasse valorizar-se e conduzir a acumulação ilimitada a colidir com a forma capitalista de sua concretização.

Quatro aspectos primordiais do movimento cíclico foram aborda- dos por Marx.

O primeiro consistiu na definição das barreiras principais que o próprio capital ergue à sua expansão. Duas são estas barreiras prin- cipais: a) a desproporcionalidade do crescimento dos vários ramos da produção, em particular a desproporcionalidade entre os Departamen- tos I (produtor de bens de produção) e II (produtor de bens de consumo); b) a exploração dos trabalhadores que rebaixa o nível de consumo das massas ou impede sua elevação nas proporções de uma demanda sol- vente compatível com a ampliação da oferta. Ambas as barreiras não constituem contingências elimináveis, porém surgem inexoravelmente da contradição entre o impulso à acumulação do capital e o envoltório cada vez mais estreito das relações de produção capitalistas.

O segundo aspecto refere-se ao descolamento e à autonomização da esfera bancária com relação à esfera produtiva de atuação do capital. A possibilidade de o capital bancário criar moeda escritural dá ensejo à expansão do crédito em ritmo mais veloz do que o da produção real. Daí se exacerbarem as tendências especulativas que, por fim, já nada têm a ver com as condições viáveis de realização das mercadorias pro- duzidas e, portanto, de sua conversão em capital dinheiro.

O terceiro aspecto foi o da caracterização da base técnico-material para o movimento cíclico. Segundo Marx, essa base se encontraria na periodicidade da renovação do capital fixo, por exigência do desgaste físico e da obsolescência tecnológica. No século XIX, tal periodicidade era aproximadamente decenal, ou seja, a renovação em grande escala do capital fixo fornecia, a cada dez anos, o ponto de partida de um novo ciclo. Embora Marx não houvesse apresentado uma demonstração técnica-empírica da sua tese, é inegável que nela expôs uma idéia depois detalhada e aprofundada nos estudos da função do investimento nos ciclos econômicos.

O último aspecto diz respeito às crises, tomadas como fase de desenlace do ciclo econômico.

É por demais claro e incontestável que Marx recusou a idéia de que a crise cíclica se desencadeasse por efeito da insuficiência da de- manda solvente (ou demanda efetiva). Frisou que, justamente na fase de auge, antecedendo a crise de maneira imediata, a oferta de empregos se amplia ao máximo e os salários sobem ao patamar mais alto possível. Por conseqüência, a crise não se segue a uma queda do consumo, porém, muito ao contrário, à sua elevação mais acentuada nas condições es- pecíficas do capitalismo.

O que sucede é que a elevação conjuntural dos salários — nas condições de exaustão do exército industrial de reserva — importa em decremento da taxa de mais-valia e, por conseguinte, da taxa de lucro, o que, por sua vez, desacelera e acaba freando o processo de acumulação do capital. Mas esta mesma elevação conjuntural dos salários resulta da prévia superacumulação de capital em que o auge do ciclo culmina e conduz à mobilização completa ou quase completa do efetivo operário disponível. A superacumulação do capital traz consigo o agravamento da desproporcionalidade entre os dois departamentos da produção social e a superprodução de mercadorias postas à venda, acabando por pro- vocar insuficiência catastrófica de demanda e crise aguda de realização sobretudo de bens de produção. Tal insuficiência da demanda não cons- titui, portanto, causa, mas conseqüência da superprodução, entendida, antes de tudo, como superprodução de capital. A expansão da produção além das barreiras erguidas pelo próprio capital incide na esfera do crédito e termina por suscitar drástica retração das disponibilidades líquidas, o que, por sua vez, agrava a retração dos investimentos.

A síntese acima não deve ser tomada por modelo uniforme para todas as crises cíclicas. Marx observou que o andamento de cada uma delas apresentava peculiaridades, porém considerou que os fatores enu- merados tinham atuação generalizada.

As crises cíclicas cumprem a função precípua de recuperação pas- sageira do equilíbrio do sistema capitalista, justamente por haver sua tendência ao desequilíbrio atingido um grau paroxístico. Mas este equi- líbrio momentâneo só se efetiva mediante tremenda devastação das forças produtivas até então acumuladas. Devastação manifestada na depreciação das mercadorias ou simplesmente na destruição dos esto- ques invendáveis, no surgimento de alto grau de capacidade ociosa nas empresas, na falência de muitas delas e sua absorção por outras a preço vil, na desvalorização geral do capital e, por fim, no desemprego maciço, que inutiliza grande parte da força produtiva humana e re- constitui, em proporções maiores, o exército industrial de reserva.

A desvalorização geral do capital, a reconstituição do exército industrial de reserva e a renovação do capital fixo permitem a elevação da taxa de lucro deprimida pela conjuntura e seriam, por conseguinte, os fatores decisivos que impelem a economia capitalista a ultrapassar a depressão subseqüente à crise e atravessar, mais uma vez, as fases de reanimação e auge do ciclo econômico.

Observe-se que não há em Marx qualquer referência aos chama- dos ciclos longos, cuja ocorrência foi primeiro assinalada por Kondratief e, mais tarde, estudada por Schumpeter e Mandel. Somente os ciclos de escala decenal foram examinados na bibliografia marxiana.

A teoria marxiana sobre os ciclos econômicos foi posta em causa por uma corrente, surgida no próprio seio do marxismo no final do século passado e celebrizada pela designação pejorativa de “revisionis-

ta”. Eduard Bernstein, seu líder, argumentou que as crises econômicas vinham se tornando cada vez mais fracas e que o capitalismo já possuía instrumentos organizacionais (centralização bancária, cartelização, ve- locidade das comunicações) que o capacitavam a evitá-las. Contra a argumentação de Bernstein, que propugnava a conquista do socialismo pelo caminho das reformas graduais, polemizaram Kautsky e Luxem- burgo. Enquanto Kautsky prognosticou um futuro estado final de de- pressão crônica para o capitalismo, Luxemburgo desenvolveu a con- cepção sobre o subconsumo estrutural inerente ao próprio sistema ca- pitalista, daí inferindo que sua existência dependia do intercâmbio com um ambiente não-capitalista. Neste ínterim, fora do campo do marxismo, os ciclos econômicos foram estudados por Aftalion e Mitchell, numa época, precisamente, em que o domínio da corrente neoclássica nos meios acadêmicos concedia ao tema atenção negligente, dada a premissa do equilíbrio autocorretivo do emprego dos fatores num mer- cado concorrencial, no qual as crises apenas seriam acidentes de per- curso devidas a erros do Estado, dos agentes econômicos etc.

A Grande Depressão de 1929-1933 abalou o edifício teórico neo- clássico e propiciou a eclosão da revolução keynesiana. A idéia (elabo- rada, de maneira independente, por Keynes e Kalecki) de que as crises poderiam ser submetidas a certo grau de controle e atenuadas pela intervenção do Estado burguês representou inovação válida também para a Economia Política marxista. A inovação, surgida de motivação prática, suscitou estudos objetivos dos mecanismos da economia capi- talista, os quais produziram aquisições teóricas importantes. Não resta dúvida de que partiu de Keynes a inspiração para a reaproximação do pensamento acadêmico à realidade concreta do capitalismo. No cam- po mesmo do marxismo, certas idéias de Keynes reforçaram o enfoque subconsumista e confluíram para as teses sobre a tendência do capi- talismo monopolista à estagnação permanente. Tal é o caso das teses de Kalecki, Steindl, Baran e Sweezy. Em conseqüência, obscurecia-se ou perdia-se a perspectiva do ciclo, na acepção marxiana.

Em contrapartida, não faltaram os keynesianos que, inspirados no próprio mestre, consideraram não só que as crises poderiam ser atenuadas pelo Estado burguês, como seria possível eliminá-las de todo e manter indefinidamente o equilíbrio do pleno emprego nas condições do capita- lismo. Embora crítico de Keynes, o marxista inglês Ronald Meek não deixou de se contagiar pelo otimismo keynesiano e, no ambiente de pros-

No documento O Capital - Volume I (páginas 50-66)