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CAPÍTULO I: JORNADA DE TRABALHO E CAPITALISMO

1.2 Jornada de trabalho no capitalismo contemporâneo

1.2.4 Capitalismo flexível, jornada flexível

O capitalismo contemporâneo se distingue do capitalismo regulado do fordismo e essas mudanças influenciaram desde o paradigma mais geral da acumulação de capital, até o sistema de produção e tem implicações nas relações de trabalho e na jornada. O capitalismo atual é caracterizado pela ascendência do capital financeiro, pela internacionalização das economias e alterações no padrão de concorrência advindos da intensificação da globalização, por mudanças político-ideológicas na condução da política macroeconômica, pelo fim da guerra-fria, pelas mudanças no sistema de produção (da produção horizontal à produção enxuta), pela ascensão do setor de serviços e queda da manufatura nos países centrais.

O objetivo é compreender de que forma as transformações mais gerais do capitalismo impulsionaram a flexibilização da jornada de trabalho e de que forma.

Uma das características centrais do capitalismo contemporâneo é o imbricamento entre capital produtivo e capital financeiro, o que se chama de capitalismo financeiro. O neoliberalismo aprofundou a interdependência entre capital industrial e bancário e os processos de acumulação direta de capital financeiro.

Calvete (2006, p.30) afirma que “É somente na esfera da produção e com a existência de trabalho excedente que é criado valor, e, portanto, é possível a acumulação do capital, que é o objetivo do capitalista. “ Já Braga (1985, 1996, 2013) defende que apesar da base inicial de valorização do capital e consequentemente de lucro ser o mais- valor resultante da exploração da força de trabalho, o capitalismo se reinventa a todo o momento e de um lado, cria novas tecnologias poupadoras de trabalho e de outro, cria outras formas de valorização que não passam necessariamente pela produção de mercadorias.

Marx afirma que o capitalismo é um sistema que se sustenta no excesso de trabalhadores disponíveis, que a substituição de trabalho vivo por trabalho morto é uma tendência do sistema. A concorrência intercapitalista pressiona as empresas a investir em tecnologias poupadoras de trabalho e consequentemente estimula o progresso técnico.

A mecanização da produção segundo Belluzzo (1987) ocorre em três dimensões que precisam ser consideradas: a primeira é a inversão dos papeis entre máquina e trabalhador, o instrumento de trabalho antes operado pelo operário evolui via progresso técnico e a máquina passa a ser a “personificação” do capital e essa passa a ditar o processo e o ritmo de trabalho, subjugando o trabalhador; a segunda é a extração

de mais-valor relativo que a tecnologia proporciona ao baratear os produtos e assim a cesta de bens sob a qual se baseia o valor de uso do trabalho, reduzindo por um lado o tempo de trabalho necessário e, por outro substituindo o trabalho vivo pela máquina e tornando o trabalho redundante; a terceira é a criação de um novo setor, o setor de produção de bens de capital. Esse setor produz o capital constante e se “autonomiza” em relação a produção de bens de consumo, ou seja, o capital produz para o capital removendo assim os limites externos a sua expansão.

Tavares (1978), em Ciclo e Crise, discute a lei do valor como lei da valorização e assim, aborda o capitalismo em sua totalidade, mas como esforço analítico, separa o capital em três orbitas de valorização: a primeira, a órbita da produção, é onde se dá a produção de mercadorias e a criação de mais-valor; a segunda, a da circulação, é a orbita na qual as mercadorias são (ou não) comercializadas e, se o forem o mais-valor é realizado e dividido entre capital industrial e capital comercial (Marques e Nakatani, 2009); e, a terceira, a órbita da circulação de dinheiro, é onde se forma a taxa de lucro e de juros. A terceira órbita é composta por elemento das duas outras, pois é nessa órbita que se estabelece o nexo entre a produção de mais-valor e a taxa de lucro.

Assim, Tavares (1978), Belluzzo (1987) e Banfi (1970), ressaltam que ao o avanço do progresso técnico resulta no barateamento das mercadorias e reduz constantemente a necessidade do trabalho vivo, ou em outros termos, eleva constantemente a composição orgânica do capital, tornando o trabalho redundante. O trabalho passa a ser “base miserável” de valorização do capital ao passo que o capital se valoriza absorvendo tecnologia, menos trabalhado vivo e mais trabalho morto. Adicionalmente, com o desenvolvimento do capitalismo financeirizado, o capital se valoriza diretamente (D-D’) fora da órbita da produção de mercadorias, assim, segundo Braga, “o ‘limite’ da valorização deixa de ser a taxa de mais-valia” (Braga, 1996: 89).

O capitalismo contemporâneo é dominado pelas finanças. A economia globalizada permite o fluxo de capitais, mercadorias e produção (empresas), acirra a competitividade entre formas de investimento, empresas, países e trabalhadores. Mais do que nunca, o capitalismo contemporâneo tem a capacidade de chegar ao D' perfazendo diretamente o processo D-D', sem a necessidade de passar pela produção para obter lucros.

Nesse capitalismo, segundo nossa hipótese, a financeirização é o padrão sistêmico de riqueza como expressão da dominância financeira. Sua

manifestação mais aparente está na crescente e recorrente defasagem, por prazos longos, entre os valores dos papéis representativos da riqueza – moedas conversíveis internacionalmente e ativos financeiros em geral (paper wealth) – e os valores dos bens, serviços, e bases técnico-produtivas em que se fundam a reprodução da vida e da sociedade (economic fundamentals). (BRAGA, 2013: 270)

A nova configuração do capitalismo, sob dominância do sistema financeiro tem implicações no sistema produtivo, que passa a seguir a lógica de curto prazo. Calvete relaciona com bastante clareza como as mudanças ocorridas no capitalismo financeirizado refletem no sistema produtivo.

(...) a mudança essencial é que a nova mobilidade de capitais, associada à liberalização financeira, mudou a lógica vigente do capitalismo. Da lógica do investimento, da produção e do lucro no setor produtivo D — M ... P... M’ — D’ passa para uma lógica puramente especulativa D — D’. Os ativos passam a ter quase 100% de liquidez, e os ganhos de curto prazo são o objetivo corrente. A instabilidade da demanda e o risco da atividade produtiva, num cenário de alta competitividade e rápido processo de inovações associadas à alta rentabilidade do mercado financeiro, levaram à financeirização do capital produtivo e, mais do que isso, levaram para o setor produtivo a mesma lógica do sistema financeiro. (CALVETE, 2006, p. 76)

Com base na discussão apresentada, essa tese parte do pressuposto que o lucro advindo da extração de mais-valor tem, obrigatoriamente, que “concorrer” com o lucro do capital fictício e é a partir disso que essa tese compreende o processo de flexibilização imposto pelo capital produtivo. A flexibilização do trabalho é uma das formas de aumentar a exploração do trabalho e consequentemente os lucros advindos do processo produtivo para, de um lado, se contrapor a valorização direta D-D' e por outro lado legitimar os lucros fictícios e o sistema capitalista como forma social que produz os meios necessários à sobrevivência material da sociedade.

A flexibilização da jornada, parte do processo mais geral de flexibilização, que tem como objetivo reduzir os custos do trabalho e permitir uma adaptação do capital as instabilidades da ordem econômica na perspectiva de viabilização as condições de acumulação, em uma ordem na qual as finanças apresentam liberdade de movimentos e submetem as outras variáveis econômicas, inclusive do trabalho a sua dinâmica. Ou seja, a desregulamentação das finanças implica em uma economia mais liberalizada e, como consequência, a possibilidade de manutenção de um padrão mais regulado das relações de trabalho se tornam mais complicadas. Por isso, a tendência foi de uma desconstrução das regras e normas de regulamentação do trabalho construídas especialmente no período

do pós-guerra. Há uma tensão para constituir um padrão de regulação do trabalho mais compatível com as características da ordem econômica, desenhada sob a hegemonia do capital financeiro. Nesse sentido, a despadronização da jornada de trabalho, está inserida no capitalismo financeirizado como resposta a essa necessidade.

Outra característica que marca o capitalismo contemporâneo é a internacionalização das economias. A decisão política de dissolver o sistema de Bretton Woods tomada pelo governo Nixon entre 1971 e 1973 impulsionou as economias nacionais para internacionalização e desregulamentação. A abertura dos mercados colocou as empresas multinacionais em patamares de competitividade muito altos, interna e internacionalmente. A União Europeia enfatiza a concorrência entre empresas, países e regiões e, portanto, é um processo de integração negativa (KEUNE, 2006). A concorrência não se limita ao comércio, mas também é acirrada no que diz respeito à atração de investimento estrangeiro direto.

Atuando em mercados globalizados as empresas buscam os melhores mercados para vender e também para produzir. Ao escolher o país ou região para alocar seus recursos, salários e jornada de trabalho são determinantes na decisão de investimento das empresas.

Desta forma, o aumento da mobilidade de capital impulsiona Estados e trabalhadores a oferecerem condições atraentes às empresas e, consequentemente desfavoráveis aos trabalhadores, acirrando assim a competitividade entre países e trabalhadores desses países, incutindo uma perspectiva ainda mais nacionalista nos sindicatos, afetando a solidariedade internacional da classe trabalhadora da real solidariedade internacional. (KEUNE, 2006). Esse processo aumentou sobremaneira o poder do capital sobre o trabalho na perspectiva de pressionar a aceitação da flexibilização do trabalho, incluindo a jornada.

A nova ordem internacional, que resultou da reafirmação da hegemonia dos Estados Unidos através da globalização financeira e internacionalização do sistema de produção, reduziu para a maioria dos países o grau de autonomia de ação dos Estados Nacionais. Em particular, a facilidade de deslocamento entre países de fundos aplicados no mercado financeiro instabilizou as taxas de câmbio das moedas dos países, e o comércio entre nações tornou-se desequilibrado e deixou de ser mero complemento do desenvolvimento de sistemas nacionais de produção. (BALTAR e KREIN, 2013)

Uma outra mudança resultante da financeirização e internacionalização das economias é a mudança de paradigma na direção e nos objetivos das empresas

multinacionais, de foco no stakeholder34 para o stockholder35. No período do fordismo,

o foco principal das empresas era a rentabilidade de longo prazo enquanto que no capitalismo atual o foco é a rentabilidade de curto prazo. Essa alteração reforça a tendência que visa a redução de custos e o lucro imediato. Os trabalhadores, adequam-se a essa “realidade” e aderem ao curto “prazismo” da cultura de acionista com foco na rentabilidade imediata.

No capitalismo globalizado, a condução da política macroeconômica sofre alterações substanciais especialmente com a virada política nos Estados Unidos em 1979 (elevação da taxa de juros) e ascensão de Reagan, quando o neoliberalismo se torna hegemônico. Os Estados, ao adotarem o paradigma econômico neoclássico alteraram seu papel de fomentadores do crescimento econômico, objetivando o pleno emprego, para condutores de política monetária e fiscal restritiva, com a finalidade de reduzir a inflação. O crescimento apresentado pelas economias desenvolvidas até os anos 1970 reduz significativamente a partir de então. O baixo crescimento e estagnação foram problemas enfrentados por vários países desenvolvidos gerando estagflação e resultando em aumento do desemprego estrutural e queda da demanda agregada.

A concorrência era vista como estratégia fundamental para combater a inflação. “Neste sentido, as políticas de abertura e desregulamentação dos mercados tenderam a se constituir em principais instrumentos de ação pública de estimulo à reorganização produtiva”. (DEDECCA, 1997, p. 45)

A União Monetária Europeia, sob a égide neoliberal, restringe o espaço de manobra de cada país no que diz respeito ao ajustamento dos desequilíbrios econômicos. Portanto, a política de moderação salarial cumpre dois objetivos: controlar a demanda como importante instrumento de ajustamento macroeconômico para manter o nível de preços e reduzir o gasto do Estado ao comprimir os salários no setor público, a fim de manter a dívida pública sob rigoroso controle.

Os Estados moldam a nova face do paradigma econômico e relações industriais, na Europa, por exemplo, isso fica claro na criação da União Europeia. Bieling

34 Stakeholder é qualquer indivíduo que afeta ou é afetado pelo resultado de um empreendimento, é a parte

interessada. Pode ser pessoa física ou jurídica que tenha interesse ou seja impactado diretamente pelo desempenho de uma sociedade ou projeto, como por exemplo: os proprietários e acionistas das empresas, os trabalhadores, clientes, fornecedores e até os concorrentes, pois todos estes são afetados pelo resultado daquela companhia.

35 O Stockholder ou Shareholder é o acionista, ou seja, toda pessoa física ou jurídica que detém parte do

capital de uma sociedade que é representada por ações. Para o Stockholder, o sucesso de uma companhia é medido pelo valor financeiro de suas ações.

e Schulten (2001) afirmam que a renovação da União Europeia pode ser vista como uma tentativa explícita de revitalizar a acumulação capitalista na Europa ocidental, dando às forças de mercado mais liberdade e propiciando uma regulação mais liberal.

As empresas responderam às mudanças no contexto político-econômico e no mercado com o processo de reestruturação produtiva. O aumento do desemprego observado já a partir da década de 1970 minou o poder de negociação dos trabalhadores. Nesse ambiente de relações de poder ainda mais desiguais, a flexibilização foi imposta pelo capital aos trabalhadores.

No período 1974-79, observou-se uma redução dos níveis de emprego do segmento metal-mecânico, imposto pela crise e também pelos programas de modernização produtiva em quase todos os países industrializados. Esse efeito sobre o mercado de trabalho foi também observado nos demais setores da indústria. A queda do emprego global da indústria foi apenas parcialmente compensada pelo crescimento do setor terciário, em especial do setor público, verificando-se uma consolidação progressiva da tendência de crescimento do desemprego. A debilidade das condições de funcionamento dos mercados de trabalho nos países industrializados foi reforçada pela recessão do período 1980-84. A queda acentuada do nível de produção e emprego e emergência de um desemprego crescente em um contexto marcado por políticas econômicas conservadoras e de abertura externa das economias pressionaram o processo de modernização das empresas: e de mudanças nas relações de trabalho. Durante a recessão, as empresas adotaram posições agressiva nas negociações coletivas destinadas a recompor sua autonomia na determinação das estruturas de classificação, dos salários e no uso da força de trabalho. (DEDECCA, 1997, p. 78)

Nesse contexto, a atuação dos Estados nacionais com relação às políticas de trabalho se modifica. Sob o viés neoliberal, as políticas de emprego e renda do pós- guerra são abandonadas, os Estados passam a ser responsáveis somente pelas políticas de seguro-desemprego e de qualificação profissional.

(...) reconhecendo não mais serem os portadores do papel de gestores fundamentais das políticas de garantia de emprego e renda. (...). Esta nova postura dos Estados nacionais não foi marcada somente por um movimento de afastamento dos sistemas nacionais de relações de trabalho como também por uma ação explícita e indutora de mudanças nas regras e normas que os estruturaram no pós-guerra. (DEDECCA, 1997, p. V. VI)

No que tange a regulação das relações de trabalho, em sentido oposto à tendência de centralização característica do pós-guerra, a “descentralização com fragmentação das relações de trabalho, os processos de negociação no nível das empresas ganham amplo e crescente espaço, consolidando um padrão privado de gestão e uso do trabalho” (DEDECCA, 1997, p. V). Os Estados, passam a serem facilitadores dessa

gestão privada do uso do trabalho. Nesse sentido, os Estados e a União Europeia promovem e regulam a implementação de formas de flexibilização do trabalho, incluindo flexibilização da remuneração, da jornada e dos contratos de trabalho.

O processo de reorganização das empresas nos países industrializados, após 1975, esteve sempre orientado pela tríade flexibilidade-competitividade- qualidade. As políticas de abertura econômica, estagnação, ou o baixo crescimento da maioria dos mercados de bens industrializados, e o elevado custo do dinheiro foram os fatores macroeconômicos determinantes do processo de racionalização industrial. A situação de instabilidade econômica exigia das empresas um processo de reorganização produtiva capaz de viabilizar, ao menos, a própria sobrevivência. (DEDECCA, 1997, p. 42)

As mudanças no modo de conduzir a economia foram impulsionadas por transformações na esfera política. A disputa ideológica entre capitalismo e comunismo durante os anos dourados, ofereceram aos trabalhadores alternativa política. Apesar de se acomodar às regras do capital, a existência de um outro modelo de produção, o socialismo real, demonstrava que uma outra forma de organização social era possível, desta forma, o movimento trabalhista tinha sempre a opção de se radicalizar e exigir uma mudança substancial na posse dos meios de produção, caso os acordos com o capital não fossem mais frutíferos o suficiente.

Com a queda do Muro de Berlim o comunismo soviético perdeu força. A ideologia capitalista prevaleceu e as teorias como a de Fukuyama, “O fim da história” ou a campanha de Margaret Thatcher cujo slogan era: “There is no alternative” foram base ideológica para a implementação do capitalismo neoliberal a partir dos anos 80. Assim, o frágil acordo entre Estado, capital e trabalho (como parceiro menor) já não era visto como necessário para o capital (PANITCH, 2001)

Já para Rodes (2001), ao se sobrepor ao modelo fordista início dos anos 1980, o capitalismo financeirizado e globalizado não mais se baseava nos salários nacionais para demanda, mas tinha como foco principal a redução de custos, assim, o novo “acordo” entre capital necessário ao capitalismo contemporâneo previa moderação salarial e flexibilização do trabalho.

A escola regulacionista, também pós-fordista, que acredita que “o problema do fordismo é endógeno, sendo que o germe da sua destruição estaria no seu próprio êxito”. (CALVETE, 2006, p. 75). Jessop (2001) e Corriat (2008) afirmam que as contradições fordistas minaram suas próprias raízes devido a estagflação e a saturação dos mercados nacionais. Ou seja, a população já estaria plenamente integrada ao consumo

de massa e o fordismo não poderia gerar ganhos adicionais de produtividade, desta forma, os lucros não viriam mais do aumento da demanda e da produção em escala, mas da redução dos custos de oferta, levando às empresas a estratégia de redução de custos, com as consequências já apontadas.

Calvete afirma que independente da controvérsia em relação à existência ou não de crise do fordismo e das divergências em relação às causas “é consenso que a rigidez da produção em massa não é mais indicada para atender às constantes flutuações de um mercado cada vez mais instável”. (CALVETE, 2006, p. 75)

O foco sobre a oferta forçou as empresas a se adaptarem às constantes flutuações na demanda e, portanto, reduzir os custos de produção o que passou a ser fundamental para a competitividade. Nesse contexto, a flexibilização é uma estratégia de redução de custos.

A autonomia no uso da força de trabalho surge como uma demanda das empresas durante as negociações coletivas e nas suas reivindicações junto ao Estado. A necessidade de autonomia se manifesta mediante estes fatos: (I) a demanda por uma menor restrição à contratação de força de trabalho por tempo determinado ou em regime de trabalho parcial; (2) a procura por uma estrutura de ocupações menos rígida; (3) a possibilidade de adoção de jornadas de trabalho flexíveis e de utilização de força de trabalho em condições consideradas anteriormente como proibitivas. (DEDECCA, 1997, p. 139)

Além disso, constantes inovações tecnológicas, bem como fusões e aquisições contribuíram para demissões em massa, provocando aumento do desemprego. Os trabalhadores que permaneceram empregados também se encontraram em situação mais vulnerável, o que facilitou a implementação da agenda de flexibilizações imposta pelo capital, já que o movimento sindical estava fragilizado e apresentou baixa resistência à agenda.

Em relação às mudanças no modo de produção, o desenvolvimento de novas formas de gestão baseado na produção enxuta, no trabalho em equipe e no “just in

time” modificam as relações de trabalho. As mudanças implementadas na forma de

operacionalizar o trabalho nas fábricas têm como objetivo reduzir o número de trabalhadores necessários. A produção enxuta (lean production) possui com base no trabalho em equipe que e se encarrega de intensificar a jornada de trabalho, aumentar o volume de trabalho desempenhado por cada trabalhador e trabalhadora e “resolver” problemas de absenteísmo. Hermann elucida a natureza e utilidade do trabalho em equipe.

In the context of lean production, teamwork, too, was hardly an outflow of humanitarianism. Instead it proved to be a highly effective instrument for saving labor time by burdening the same workload on fewer workers. (…) teams not only absorbed indirect duties previously performed by special categories of workers (housekeeping, inspection, repair, stock handling, etc.), but team premiums and peer-pressure also made sure that individual workers would not fall behind, and, in case they did fall behind, other team members would make up for them. (HERMANN, 2012, p. 108)

Hermann afirma que o novo regime de jornada de trabalho instaurado pela produção enxuta passa a ser a gestão por stress, as empresas reduzem o número de trabalhadores, aumentando e intensificando o tempo de trabalho dos que permanecem empregados.

To this end, lean production has embraced a new time regime. Whereas Taylor focused on the improvement of individual work processes and Ford on speeding up the workflow, the new goal was to accelerate the entire factory (…) While Taylor eradicated pores of inactivity during the workday and Ford converted unproductive times into productive activities, Taiichi Ohno, the