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2. Cor, Cultura e Arquitectura

2.7 Cor, arquitectura e cidade

2.7.2 Carácter projectual da cor

Sendo a cor uma das propriedades do espaço – visível por um observador e sob a acção da luz –, a arquitectura tem uma estreita relação com ela. Assim, as componentes cromáticas de um espaço alteram a forma como o utilizador o percepciona e sente.

A cor – existente em função da presença de luz – é um elemento determinante na espacialidade e indissociável da arquitectura, assumindo um carácter fortemente útil ao projecto; este carácter expressa-se segundo uma dupla realidade: a percepção da cor por si mesma e a sensibilidade cromática.

Abordar a cor no âmbito projectual implica primeiramente definir formas de aproximação e condições de observação da cor, devendo depois reconhecer-se os elementos envolventes que influenciam a cor e sua percepção e por fim desenvolver-se um diagnóstico que irá orientar a proposta projectual.

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Não existem soluções cromáticas generalizadas para a arquitectura, porque cada projecto e cada espaço tem as suas próprias características que devem ser particularmente analisadas ao nível das suas funções e exigências. Existem determinadas cores que são aconselhadas para determinados tipos de espaços e respectivas funções, embora deva ser sempre realizada uma análise particular de cada caso. Para projectar com a cor deve ter-se em conta quais os objectivos projectuais para o espaço em questão e como alcançá-los. A cor é um elemento decisivo na forma como um espaço é percepcionado, pois ela irá influenciar a aparência deste em múltiplos aspectos: nas suas dimensões, formas, materiais, distribuição lumínica e ambiente espacial. A cor, por si mesma, é uma ferramenta essencial de configuração e alteração espacial.

Nem todos os espaços arquitectónicos têm as cores mais indicadas, mas todos eles possuem cor. Segundo Frank Mahnke31, um projectista especialista em cor terá uma atitude profissional quando souber aquilo que não é indicado para um determinado ambiente, aquando da especificação cromática do mesmo. É evidente que as opções projectuais de cor devem sempre ter em conta a resposta humana aos diferentes ambientes cromáticos.

Tendo a cor um papel fundamental na vertente projectual da arquitectura, esta deve ser tida em conta desde o início do processo de projecto, tanto à escala do edifício como à escala da cidade. Por isso, quando se faz um projecto, o estudo da cor deve começar na primeira visita ao local, de modo que se conheçam as cores predominantes dos materiais constituintes desse local e as cores presentes na envolvente (natural e construída). Neste contexto, as condições lumínicas são fundamentais, pois a variação da luz irá alterar decisivamente a percepção da cor.

2.7.2.1 Controlo cromático e Plano de Cor

O controlo da cor é fundamental para a identificação da imagem de uma cidade. Por vezes no controlo cromático a envolvente territorial assume um papel imperativo.

A cor é utilizada de diferentes formas para expressar identidade, transmitir informação, indicar direcções e orientações. Neste tipo de utilizações, a cor é usada pontual e intencionalmente, mas o efeito colectivo das várias expressões cromáticas pode tornar-se confuso.

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41 A cor aplicada à arquitectura tem a capacidade de dinamizar os edifícios e beneficiar a experiência visual da envolvente, o efeito da luz natural (directa e indirecta) aumenta o potencial cromático na arquitectura e na cidade.

No que diz respeito ao planeamento cromático, as leis e planos directores estão pouco direccionados para as questões relevantes sobre a cor. Mas aos poucos tem sido possível exercer-se um controlo cromático dos componentes urbanos. No que diz respeito ao Plano de Cor, o principal argumento para que haja um planeamento cromático é que a cor existe em toda a realidade – quer seja através da natureza, dos materiais naturais ou da pintura dos edifícios –, logo esta deve ser tomada em devida conta no planeamento urbano.

Planificar o uso da cor à escala da cidade levanta algumas questões que devem ser resolvidas com investigação, conhecimento, sensibilidade e projecto. Para a elaboração de Planos de Cor é necessário dominar a expressão cromática enquanto linguagem de comunicação visual, compreender os efeitos psicológicos da cor, saber adequar as cores a determinados climas, tipos de luz e ambientes pré-existentes, como por exemplo no caso de intervenções cromáticas em zonas históricas. No entanto, o planeamento cromático não tem a capacidade de controlar todas as cores que são aplicadas em todos os sítios.

Para proteger as suas tradições cromáticas, algumas cidades com grande valor patrimonial determinaram legislação para a aplicação da cor – como é o caso de Veneza e Turim –, nestes casos o controlo cromático é fundamental para a salvaguarda da sua identidade cultural.

2.7.2.2 Estratégias de cor e escolhas cromáticas

A existência de uma estratégia de cor é importante para conduzir o processo de planeamento. Os Planos de Cor devem ser suficientemente imperativos para que os objectivos sejam atingidos e suficientemente flexíveis para incorporarem eventuais mudanças de utilização, ocupação e até de tempos e modos da arquitectura. Embora cada Plano de Cor possa ser diferente, a orientação estratégica deve ser formada por uma sequência de fases.

Nesse sentido e segundo Michael Lancaster32, uma primeira fase consiste no levantamento de elementos constituintes do lugar em questão e seus arredores, tendo em conta o desenvolvimento da paisagem natural e artificial, os seus materiais e cores específicas. A segunda fase baseia-se na análise daquilo que foi recolhido, considerando

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determinados critérios de pesquisa e exame. O plano de cor estratégico constitui a terceira fase, sendo seleccionadas e apresentadas várias gamas cromáticas para os diferentes elementos em questão. Em quarto lugar é feita uma apresentação pública, viável através de vários recursos. A quinta fase constitui a execução dos procedimentos. Em sexto lugar é feita uma gestão, controlando-se as estratégias cromáticas a longo prazo.

Por todo o mundo têm sido desenvolvidas diferentes estratégias cromáticas variáveis consoante o projectista e o lugar em questão; no livro Architectural Color33estão compiladas algumas dessas estratégias, que seguidamente se apresentam. Em França, para além do já referido Jean-Philippe Lenclos, destaca-se o trabalho de Fábio Rietu e Bernard Lassus, que desenvolveram as suas experiências policromáticas em edifícios existentes e na criação de novos aglomerados urbanos. Na Grã-Bertanha, A. C. Hardly focou-se no estudo das cores da envolvente natural, confrontando-as com as cores dos edifícios e estabelecendo relações cromáticas na interacção visual entre figura e fundo. Também na Grã-Bertanha, Jack Widgery desenvolveu um estudo cromático dos elementos naturais e construtivos característicos desta região. As cores da envolvente natural foram ainda estudadas por Carlos Cruz-Diez na América Latina que, interessado na relação entre observador e estímulo cromático, desenvolveu projectos de cor baseados na aplicação de riscas e padrões com matizes fortes sobre várias superfícies da cidade de Caracas. Nos Estados Unidos da América, Foster Meagher defendeu que a aplicação cromática nas cidades e ambientes exteriores merecia tanto cuidado e importância como a aplicação cromática no interior da arquitectura, considerando que a arquitectura e a cidade deveriam ser uma fusão de cores e formas.

No âmbito das estratégias de cor, as três dimensões – matiz, saturação e luminosidade – devem ser consideradas, tanto do domínio dos objectivos cromáticos como ao nível das cores da envolvente. A escolha de uma cor em Arquitectura deve ser delimitada por questões de harmonia e de composição cromáticas integrando sempre os problemas do contexto.

Os objectivos da cor na arquitectura nem sempre são claros, muitas vezes motivações pessoais ou comerciais podem torná-los confusos. As escolhas cromáticas na arquitectura devem ser encaradas artística e cientificamente, sendo evidente que uma escolha de cores educada e mais informada pode atenuar alguns problemas de planeamento e inclusive contribuir para a melhoria do ambiente de uma cidade e sua interacção com os habitantes. Para que as cores possam ser escolhidas de forma mais segura e menos ocasional, existem diversos métodos de aproximação de soluções.

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43 Independentemente dos métodos, os resultados podem e devem ser utilizados na definição de combinações cromáticas para edifícios existentes ou novos, tendo em conta que os esquemas cromáticos devem ser sempre ensaiados.

Os ensaios de cor podem ser feitos manualmente (através de desenhos coloridos feitos à mão), digitalmente (através da manipulação de imagens em programas informáticos), tridimensionalmente (recorrendo a maquetes) ou in situ (através de testes de cor feitos em obra). No caso dos modelos tridimensionais é possível simular a cor ao nível da matiz, luminosidade, saturação e ponto de vista; orientando a maquete segundo a posição real do edifício, a incidência da luz corresponderá de forma muito aproximada à situação real da percepção cromática. Os ensaios cromáticos realizados em obra são os mais utilizados, nestes casos pinta-se uma das superfícies arquitectónicas com várias amostras de diferentes cores; devido à dimensão das áreas coloridas e à luz existente, a percepção da variação de intensidade cromática entre as diferentes amostras é rigorosamente avaliada. Nenhum dos outros métodos substitui os testes cromáticos feitos em obra.