• Nenhum resultado encontrado

2.3. PERSPECTIVAS TEÓRICAS: POSICIONAMENTOS ADOTADOS

3.1.2. Característica formal

Esses textos refletem a repetição de certos traços formais. Os gêneros textuais são determinados mais pelos objetivos dos falantes e a natureza do tópico tratado do que, propriamente, pela forma. No entanto, essa afirmação não nos impede de traçar um perfil do aspecto formal do gênero que estamos estudando, pois, como afirma Bakhtin (2000, p. 301, destaque do autor), “todos os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo”.

Os suportes com que trabalhamos apresentam uma forma padrão para o processo de retextualização (registro das falas dos locutores) e (re)contextualização (registro do novo recontexto pelo editor). O (re)contexto vem sempre depois da fala selecionada e apresenta, geralmente, o seguinte esquema: identificação do locutor; um aposto que faz referência a sua profissão ou cargo que ocupa; um aposto adicional (facultativo), quando o locutor não é bem conhecido ou é oportuna uma informação complementar; uma explicação sobre o assunto ou tópico da fala, podendo o tópico ser informativo, opinativo ou, mesmo, interpretativo (inferencial). Essas partes, às vezes, não aparecem integralmente.

a. Exemplo de estrutura completa:

[06] 1 “Estou feliz com os meus peitinhos pequenos, mas sinceros”.

Nívea Stelmann, atriz, afirmando que não pensa em colocar silicone nos seios (I – 23/05/01).

Esquema do exemplo:

! Fala do locutor: “Estou feliz com os meus peitinhos pequenos, mas sinceros”. ! Locutora: Nívea Stelmann.

! Aposto: atriz.

! Tópico tratado: afirmando que não pensa em colocar silicone nos seios (nesse

caso foi um tópico interpretativo, inferencial).

b. Exemplo de estrutura incompleta:

[17] “Você é de Santa Catarina? Oba, mais um gaúcho em meu programa!” Carla Perez, dançarina (E – 16/07/01).

Esquema do exemplo:

! Fala do locutor: “Você é de Santa Catarina? Oba, mais um gaúcho em meu programa!”

! Locutora: Carla Perez. ! Aposto: dançarina.

Em resumo, afirmamos que só poderemos nos referir ao exemplar textual ‘frase’ considerando-o em seu conjunto constitutivo: fala do locutor (retextualização) + (re)contexto do editor.

3.1.3. Contexto

Esses textos operam em certos contextos sócio-históricos. Ao mesmo tempo em que a (re)contextualização é uma parte constitutiva dos textos de ‘frase’ (contexto lingüístico), também nos remete ao contexto sócio-histórico em que tal evento comunicativo ocorreu (contexto situacional).

Quanto ao contexto lingüístico, as ‘frases’ podem ser classificadas em situadas ou eternas. O primeiro tipo tem a ver com as falas dos locutores que estão relacionadas a situações comunicativas atuais (fatos políticos, questões sociais, escândalos etc) e sua compreensão depende de explicitação no (re)contexto, pelos editores, da situação em questão, são “situações datadas”. As não-situadas ou eternas dizem respeito às ‘frases’ atemporais, as que têm o mesmo efeito, independente da época em que são veiculadas, geralmente são falas de cientistas, escritores famosos, não sendo, necessariamente, atuais. Este segundo tipo não será objeto de nossa pesquisa. Em regra, os suportes que trabalham particularmente com esse tipo de ‘frase’ o denominam citação ou máximas. Das revistas com que trabalhamos, a Época é que, às vezes, apresenta um ou dois exemplares textuais com essas características.

a. Exemplo de ‘frase’ situada:

[18] “O Maluf que conheci, para mim, era um cara legal. E o Maluf que vendi, foi o Maluf que comprei”.

Duda Mendonça, marqueteiro responsável pela campanha de Lula para presidente (T – 14/12/01).

b. Exemplo de ‘frase’ eterna:

[19] “A política é quase tão excitante quanto à guerra é tão perigosa quanto ela. A diferença é que, na guerra, só se morre uma vez”.

Winston Churchill, primeiro-ministro britânico (1874-1965) (E – 01/10/01).

Observando-se os exemplos [18] e [19], tornam-se óbvias as diferenças entre as ‘frases’ situadas e as eternas. As situadas necessitam, para sua compreensão, que o leitor esteja acompanhando os acontecimentos, que esteja na “ordem do dia”. O exemplo [18] pode ser entendido a partir do papel do marqueteiro em campanhas políticas e dos escândalos que envolveram o nome de Maluf. As ‘frases’ eternas têm mais o objetivo de transmitir opiniões, filosofia de vida e não há necessidade de acompanharem os acontecimentos dos dias, na verdade, seus valores estão na atemporalidade.

Considerando-se o contexto como situacional, essa mesma classificação, em “eterna” e “situada”, pode nos remeter a uma mudança em relação ao propósito comunicativo no uso social e cultural de ‘frase’. A maioria das revistas utilizava ‘frases’ para transmitir valores tidos como universais. No entanto, esse uso foi sendo substituído pelas “‘frases’ situadas”, que, mesmo servindo, também, para divulgar idéias, crenças, valores, ocorrem de maneira pontual, ligada a

uma ideologia mais local. Anteriormente, havia um afastamento do editor e uma valorização do locutor; hoje, os textos apresentam mais pistas da presença do editor e, na maioria dos casos, estereotipagem do locutor. Em nossa comunicação2 com a revista Galileu, evidencia-se alguns

dados interessantes em relação ao uso de ‘frases’ e mudança de função ou propósito comunicativo.

a. Primeira pergunta:

Desde que número ou ano a revista começou a apresentar essa seção ou gênero textual? Houve alguma motivação específica para introduzir o referido gênero?

Começamos a dar Frases desde outubro do ano 2000. A introdução de Frases na seção Em Dia fez parte de uma mudança estrutural que aos poucos vai se implantando na revista para que ela fique mais atraente. Foi meio intuitiva. Eu gosto muito de frases e senti que os leitores poderiam gostar também (GALLILEU, 2002).

b. Sexta pergunta:

Se houver mais alguma informação que possam acrescentar: quando as revistas, de um modo geral, começaram a utilizar esse gênero? Há dados de onde (país, revista, jornal etc) primeiro se começou a utilizar esse gênero?

Não sei. Mas eu trabalhei na revista Superinteressante desde o número um e ela adotou as frases copiando do modelo da revista Muy Interessante. As frases, naquele caso, eram de cientistas, escritores famosos, não necessariamente atuais. Era muito lida. A Superinteressante de alguns meses para cá aboliu essa seção sem mais nem menos e eu sei que os leitores protestaram (GALILEU, 2002).

Por fim, concluindo este tópico, acrescentamos o que Bronckart fala sobre “adoção- adaptação” como um processo gerador de novos exemplares de gêneros.

Esse processo de adoção-adaptação gera novos exemplares de gêneros, mais ou menos diferentes dos exemplares pré-existentes, e que, conseqüentemente, é pelo acúmulo desses processos individuais que os gêneros se modificam permanentemente e tomam um estatuto fundamentalmente dinâmico ou histórico. (BRONCKART, 1999, p. 103, destaque do autor).