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QUANTIDADES PERCENTUAIS (2) PERCENTUAIS (3)

5.1.3. Gênero-base e gênero extraído

O gênero textual ‘frase’, geralmente, é originado de outro gênero textual. As exceções ocorrem nas “retrospectivas” ou em outros casos, quando as ‘frases’ são retiradas já prontas de outros suportes (os “empréstimos”), estando elas, portanto, já retextualizadas e (re)contextualizadas. Em tais circunstâncias, concluímos, trata-se de um gênero extraído. Abaixo, exemplificamos um caso de retrospectiva. Observamos que, mesmo o editor trabalhando com o gênero já pronto, faz um “enxugamento” informativo na (re)contextualização.

[63] “Ele é bonito e tem cara de gente da minha família!”

Caetano Veloso, cantor, sobre o terrorista Osama bin Laden (T – 21/12/01, retrospectiva).

[38] “Ele é bonito e tem cara de gente da minha família!”

Caetano Veloso, cantor, sobre o terrorista Osama bin Laden. A semelhança entre os dois foi alvo de uma brincadeira fotográfica que circula pela internet (T – 23/11/01).

Na (re)contextualização estão os principais indícios da origem do gênero ‘frase’. No exemplo abaixo, identifica-se um evento comunicativo amplo como gênero-base da ‘frase’:

[64] “O dinheiro do governo não é clara de ovo nem maria-mole, que a gente bate e cresce”.

José Serra, ministro da Saúde, falando sobre a escassez de recursos públicos, em palestra na Federação das Indústrias do Rio, ouvida pela coluna da jornalista Lu Lacerda, do jornal carioca O Dia (V – 15/08/01, destaque nosso).

No exemplo [64], observamos que o editor produziu o gênero ‘frase’ a partir do gênero textual ‘palestra’. As opções de criação do gênero ‘frase’, poderíamos dizer, seriam quase ilimitadas, pois, a partir de uma palestra, o editor poderia criar vários exemplares. Contudo, não é qualquer tipo de ‘frase’ ou qualquer recorte que iria gerar o gênero. Nota-se certa saliência nessas falas selecionadas, elas não são gratuitas. As restrições estariam por conta do propósito sócio-comunicativo ou da intencionalidade do editor.

O “evento comunicativo restrito” passa a ser o próprio gênero ‘frase’. Como já afirmado anteriormente, ele é constituído de duas partes: a fala do locutor e o (re)contexto do editor. A fala do locutor é retextualizada a partir do evento comunicativo amplo. Os editores

podem apresentar recortes diferentes para a mesma fala ou podem retextualizar falas de distintos locutores envolvidos em um mesmo evento comunicativo.

a. Recortes diferentes:

[65] “Sucesso é como fazer sexo bem-feito”. José Mayer, ator (I – 14/02/01).

[66] “Sucesso é como fazer sexo bem-feito, algo que rejuvenesce e revitaliza”. José Mayer, ator global (V – 14/02/01).

b. Locutores diferentes:

[67] “Sei que vão dizer que o Gerald está me usando para fazer sucesso e eu o estou usando para ganhar um certo respeito no teatro. Tudo é mentira e Tudo é verdade”.

Reynaldo Gianecchini, ator e modelo, mostrando-se profundo no ensaio da peça O Príncipe de Copacabana, dirigida por Gerald Thomas (V – 11/04/01). [68] “Preciso de um ator despreparado para viver um príncipe despreparado”. Gerald Thomas, diretor teatral, justificando a montagem de O Príncipe de Copacabana, peça baseada em Hamlet, com o galã Reynaldo Gianecchini (V – 31/01/01).

Os destinatários da fala sempre estão inseridos no contexto do evento comunicativo amplo, são alocutários de outro tipo de gênero. Os leitores, por seu lado, é que são os destinatários do gênero ‘frase’. A fala do locutor não lhes é dirigida, eles são apenas destinatários de uma elaboração discursiva complexa, o gênero ‘frase‘, que tem o editor como produtor e a instituição em que esse editor opera como divulgadora. Devido a esse percurso de produção, distribuição e consumo dos textos, o leitor vê-se à mercê das informações interpretadas pelo editor.

Um problema que se afigura é referente à questão da “atribuição da autoria”. Para Bronckart (1999, p. 320, destaques do autor), “o autor, como agente da ação da linguagem que se concretiza num texto empírico, é, aparentemente, responsável pela totalidade das operações que darão a esse texto seu aspecto definitivo”. O locutor do evento comunicativo amplo permanece como tal no gênero ‘frase’, mas já não pode ser o responsável por sua produção. Estamos preferindo utilizar o termo ‘produtor’ para o editor e não entrar no mérito da questão sobre a atribuição de autoria desses textos.

Os textos produzidos, distribuídos e consumidos, apesar de originados de gêneros textuais diferentes, como já destacamos, bem como, na maioria dos casos, de domínios discursivos distintos, passam a pertencer ao gênero ‘frase’ e ao domínio discursivo jornalístico.

5.1.3.1 Tipos textuais

Determinados o gênero e o domínio, um outro tópico pode ser abordado, o relacionado aos tipos textuais. Segundo Bronckart (1999, p. 250, destaques do autor), “os tipos de discurso são formas de organização lingüística, em número limitado, com os quais são compostos, em diferentes modalidades, todos os gêneros textuais”. Embora não seja pretensão de análise uma resposta em termos de números, cabe ressaltar que há indicação do uso de vários tipos textuais nesse gênero. Essa heterogeneidade tipológica é uma propriedade de todos os gêneros (MARCUSCHI, 2000, 2002c), sendo esse mais um aspecto em que se pode confirmar que ‘frase’ é um gênero textual.

Cada texto é, em princípio, com raras exceções, composto de segmentos diferentes, qualquer que seja seu gênero. Nesses segmentos, intuitivamente isoláveis segundo suas funções semântico-pragmáticas, podem ser identificadas configurações de unidades lingüísticas (conjunto de tempos verbais, de pronomes, de organizadores, de advérbios de modalização etc.) e modos de organização sintática relativamente estáveis. São esses segmentos que nós qualificamos como tipos de discursos (BRONCKART, 2002).

O tipo pode ser identificado pela perspectiva em que o enunciador (locutor) se posiciona (TRAVAGLIA, 1991, p. 49):

a. na descrição, enunciador na perspectiva do espaço em seu conhecer; b. na narração, enunciador na perspectiva do tempo;

c. na dissertação, enunciador na perspectiva do conhecer, abstraindo-se do tempo e do espaço;

d. na injunção, enunciador na perspectiva do fazer posterior ao tempo da enunciação.

Marcuschi (2002c, p. 27) afirma que “entre as características básicas dos tipos textuais está o fato de eles serem definidos por seus traços lingüísticos predominantes. Por isso, um tipo textual é dado por um conjunto de traços que formam uma seqüência e não um texto”. Assim, o autor apresenta, para os tipos textuais, as seguintes indicações, que exporemos resumidamente:

a. narrativos – seqüência temporal; b. descritivos - seqüências de localização;

c. expositivos – seqüências analíticas ou explicativas; d. argumentativos – seqüências contrastivas explícitas; e. injuntivos – seqüências imperativas.

Exemplificaremos alguns dos tipos textuais identificados na amostra do gênero ‘frase’:

a. Descrição:

b. Narração (destaque nosso):

[69] “Isso aqui é uma grande rodoviária, um muro de lamentações. Por aqui passa todo mundo. “Deputado com problemas, eleitores de todos os estados pedindo ajuda...”.

Heráclito Fortes (PFL-PI), ex-primeiro vice- presidente da Câmara, sobre o dia-a-dia de seu trabalho (V – 21/02/01).

DESCRIÇÃO

DODIA-A-DIA

[70] “A Vênus e seu robô se vêem sozinhos na Flo- resta Amazônica, após o holocausto.

DESCRIÇÃO

DODIA-A-DIA

“A mulher sobreviveu graças a uma fortaleza construída pelo marido, um xeque árabe, que usou um robô para erguer o bunker, e este, agora, demasiado humano, é convertido em servo, companheiro, amante”.

EPISÓDIO – SOLUÇÃO

DESFECHOFINAL

RETEXTUALIZAÇÃO

Jorge Mautner, compositor e tocador de rabeca, explicando o enredo de sua peça Vênus

Castigadora do Amazonas, que estreou na

semana passada em São Paulo (V – 27/06/ 01).

IDENTIFICAÇÃODO

TIPOTEXTUAL

c. Argumentação:

(1) Exemplificação utilizada como argumento para defender a tese.

d. Injuntivo (destaques nossos):

[71] “Os animais não podem ficar enjaulados em apartamentos.

TESEASERDEFENDI-

DA

“Tenho um irmão excepcional, que gritava muito

quando era pequeno e incomodava os vizinhos. EXEMPLIFICAÇÃO (1)

“Por isso não podíamos morar em apartamentos. CONCLUSÃODOEXEM- PLO

Assim também é com os animais”. CONCLUSÃODOTEX-

TO

Vera Loyola, socialite (I – 24/01/01). LOCUTOR, PAPELSOCI-

ALCOMQUEFALA.

“Mas, por favor, indiquem!”

Rodrigo Santoro, ator, protagonista do filme Bicho de 7 Cabeças (V – 27/06/01).

REFORÇODAINJUNÇÃO

APELOFINAL

“Se não gostarem, indiquem para os inimigos. SEGUNDOPONTODE INJUNÇÃO [72] Se vocês gostarem, indiquem para os seus

amigos

PRIMEIROPONTODE

e. Expositivo:

f. Opinativo (destaques nossos):

Interessante é o quadro estabelecido por Marcuschi sobre as diferenças básicas entre tipos textuais e gêneros textuais:

“Até porque não terá dificuldade em saber que é prefeita”.

Nicéa Pitta, ex-mulher do ex-prefeito Celso Pitta (V – 10/01/01).

TERCEIRAOPINIÃO

“Votei nela e acho que fará uma ótima adminis- tração.

SEGUNDAOPINIÃO

[74] “Adorei a vitória da Marta. PRIMEIRAOPINIÃO

[73] “Minha experiência na emissora não foi o que eu esperava.

“É chato ter de fazer força para trabalhar, e é isso o que acontece”.

Cazé Pessanha, apresentador, que não vai renovar seu contrato com a Rede Globo (I – 07/11/01).

SEQÜÊNCIAS

EXPLICATIVAS

Quadro 06 – Diferenças entre tipos e gêneros textuais