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2.3. PERSPECTIVAS TEÓRICAS: POSICIONAMENTOS ADOTADOS

2.3.2. Enfoque social da Análise Crítica do Discurso

Elegemos o enfoque social desenvolvido por Fairclough, porque julgamos sua aplicabilidade coerente com o gênero textual que estamos abordando. Nesse gênero, a manipulação da linguagem do locutor decorre da voz do editor que o transforma em uma forma peculiar de perdedor, que não mais se vê em condições de defender-se da construção textual oferecida aos leitores. Nesse gênero, como se verá mais adiante, essa construção está fundada, principalmente, na crítica, na ironia, no humor (sarcástico) e na estereotipagem de personalidades públicas. Cabe ressaltar, aproveitando-se as palavras de Meyer:

Seu enfoque (de Fairclough) da ACD oscila entre uma atenção preferente à estrutura e uma atenção preferente à ação. Ambas estratégias deveriam resolver o problema estabelecido: a ACD deveria procurar objetivos de emancipação por todos os meios, e deveria centrar-se em problemas que se enfrentam ao que vagamente se pode designar como a questão dos ‘perdedores’ existentes no seio das formas particulares de vida social (MEYER, 2003, p. 47, tradução nossa, destaque do autor).

Contudo, não é nossa pretensão analisar o gênero ‘frase’ segundo todos os itens apontados por Fairclough, mas, tão-somente, ter, em algumas de suas noções e categorias, um

ponto de apoio para nossas descrições e análises. Em várias oportunidades poderemos mencionar fenômenos, mas não, necessariamente, as terminologias a eles atribuídas pelo autor, pois estaremos desenvolvendo uma terminologia própria para nosso estudo.

Tanto os tópicos da análise textual, quanto os da discursiva e da social serão retomados como um todo que influencia a produção, distribuição e consumo do texto (‘frase’). Sem dúvida, a lexicalização, a escolha oracional, a coesão e a polidez, entre outros aspectos da análise textual, serão balizados a partir dos textos em estudo. Os estágios de produção do gênero ‘frase’, principalmente através das cadeias intertextuais, são estratégias discursivas que extraem um evento comunicativo restrito (gênero ‘frase’) de um evento comunicativo amplo (outros gêneros). O fenômeno da ironia, da crítica caracteriza um dos fortes objetivos do gênero, por isso, constantemente será evidenciado. O consumo do texto, grandemente influenciado pela visão de mundo do editor, principalmente na (re)contextualização, não passará despercebido neste trabalho. Finalmente, ainda da análise discursiva, as redes de distribuição, ligadas às práticas editoriais, também serão fortemente exploradas. Da análise social, destacar-se-ão o poder, a ideologia, as vozes sociais e a naturalização dos recortes estabelecidos pela mídia, sem, contudo, deixar de ressaltá-los, junto à produção, à distribuição e ao consumo do gênero em estudo, como um retrato das relações sociais assimétricas existentes em nossa sociedade.

Segundo estudiosos da área, ainda não se tem clareza de qual manifestação lingüística se pode chamar de “gênero textual” (ou gênero do discurso, ou gênero discursivo). Que características formais, lingüísticas e sócio-comunicativas um grupo de textos devem apresentar para que possam ser considerados como pertencentes a um gênero textual? Com base em suas características estáveis, que variações são possíveis a um gênero textual específico? (MARCUSCHI, 2001a).

Para os gêneros textuais, diferentemente do que acontece com os tipos textuais, não há uma listagem completa, à qual pudéssemos recorrer sempre que tivéssemos dúvidas sobre se um grupo de textos forma ou não um gênero textual, já que novos gêneros sempre estão surgindo para atender à demanda comunicativa de uma sociedade. Então, para nós, o impasse se instaura, pois o material que estamos analisando e que foi nomeado, a priori, um gênero, ainda não foi apresentado como objeto de pesquisa, pelo que averiguamos em nossa investigação. Assim, cremos que nos cabe tomar algumas decisões em relação a esse conjunto de textos amplamente veiculados e já tão aceitos em nossa cultura. Segundo Meurer (2000, p. 151), “a maioria dos gêneros não foram descritos e analisados” e, como já admitimos que o gênero ‘frase’ é um deles, propomo-nos a descrevê-lo e apontar alguns caminhos de análise. Ainda concordando com a opinião de Meurer, convém acrescentar:

Dentro do contexto de investigações recentes em lingüística aplicada, trabalhos de pesquisa sobre gêneros textuais vêm recebendo atenção como uma opção atraente de se produzir conhecimentos que respondam de maneira mais adequada a questões relativas aos diferentes usos da linguagem e sua interface com o exercício da cidadania, isto é, o exercício de compreender a realidade e agir sobre ela, participando de relações sociais e políticas cada vez mais amplas e diversificadas (MEURER, 2000, p. 152).

3.1. ‘FRASE’, UM GÊNERO TEXTUAL?

Mesmo havendo “[...] controvérsias, confusões e não muita clareza quanto ao que se pode e se deve considerar como gênero textual”, pois “faltam teorias e análises sobre a questão” (MARCUSCHI, 2001a, p.04), assumimos que ‘frase’ é um gênero textual. Para responder aos possíveis questionamentos decorrentes da idéia de ‘frase’ como gênero, respaldamo-nos na posição que adotamos quanto ao gênero textual (capítulo 2). Com base em lista já exposta (2.3.1.), trabalharemos os tópicos abaixo relacionados. Outros critérios serão abordados durante explicações e comentários distribuídos neste capítulo e em outros que comporão esta tese. Assim, sendo, ‘frases’ são um gênero textual porque os textos desse formato:

a. são definidos por seus propósitos em situações comunicativas concretas; b. refletem a repetição de certos traços formais;

c. operam em certos contextos sócio-históricos;

d. estabelecem relação de poder, refletindo estruturas de dominação; e. são de grande aceitação em nossa cultura.

Os critérios escolhidos serão desenvolvidos e exemplificados como condições necessárias para confirmar e justificar o motivo de chamarmos os exemplares textuais ‘frases’ de gênero. A rigor, essas ‘frases’ têm uma estabilidade composicional e funcional bastante evidente, a ponto de serem facilmente identificáveis. Mas um dos aspectos hoje bastante comuns, nesse caso, é o fato de o termo ‘frases’ já se ter de tal modo consagrado e firmado no mercado midiático que ele encabeça seções de maneira bastante regular. Portanto, ao que tudo indica, além de termos argumentos teóricos, temos, aqui, argumentos de ordem empírica.