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sublinhado ocupou espaços discursivos distintos. No primeiro exemplo [71], o editor utiliza o DD, reproduzindo a fala da locutora, inclusive reforçado pelo uso das aspas. Em [137], o editor opta por colocá-lo em seu espaço discursivo.

O tópico “acelerar a economia”, no exemplo [138], está na retextualização e em [139] aparece na (re)contextualização, em forma parafrástica – “o crescimento da economia”, complementando o sentido da retextualização (acelerar o quê). Considerando-se o segundo exemplo isoladamente, não é possível identificar se a paráfrase resulta de voz do locutor ou é uma voz assumida pelo editor.

Os DDs “mas eu vi duendes”, em [140], e “mas eram duendes o que eu vi”, em [141], passam, no exemplo [142], para “sua crença em duendes”, na forma nominalizada na (re) contextualização.

Os exemplos confirmam que os editores podem trabalhar indistintamente com os tópicos, inserindo-os na retextualização ou na (re)contextualização. Desse modo, um contexto lingüístico poderá transformar-se em contexto situacional ou vice-versa, ocorrendo uma retextualização ou uma (re)contextualização. Mais do que uma opção lingüística de construções sintáticas e decisões de localização do tópico informativo, essa prática discursiva revela uma prática social: a do “quarto poder” que se apropria das falas ou vozes sociais, manipulando-as, pois, no dizer de Mouillaud (2002, p.119), “o jornal tem a tendência a tratar os enunciados dos quais não é o autor como se fossem seus”.

Os contextos lingüístico e situacional, nesse gênero, podem se intercambiar, como afirmamos acima. Contudo, uma outra estratégia pode ser utilizada pelo editor em relação aos contextos. Ele pode indicar o contexto situacional também na retextualização, através da parentetização, ocasionando um “deslocamento situacional” (MARCUSCHI, 2001b, p. 61). A parentetização servirá para referenciar elementos do evento comunicativo em que a fala selecionada estava inserida.

[143] “Nos intervalos (da gravação da novela Força de um Desejo) tinha guarda-sol e água-de-coco para mim, para a Malu Mader e para o Fábio Assunção, e nada para os atores negros”.

Paulo Betti, ator da Globo, em entrevista à revista Contigo (V – 17/01/01, destaque nosso).

7.2.2. As marcas do editor na retextualização

Neste item, abordamos a segunda estratégia discursiva, a de que “os editores retextualizam as falas dos locutores segundo critérios subjetivos. Por isso, mesmo estando entre aspas, as falas podem apresentar variações lexicais, sintáticas, semânticas e pragmáticas”.

A retextualização das falas segundo critérios subjetivos é estratégia de fácil comprovação, pois, mesmo sendo destacadas com aspas, delimitando-se as vozes dos locutores, as falas podem apresentar variações lexicais, sintáticas, semânticas e pragmáticas. Se bem que, em muitos casos, não seja possível analisar essas variações separadamente, pois é mais do que sabido que, na língua em uso, elas estão inter-relacionadas.

A explicação que Marcuschi (2001b) dá para a prática de retextualização é significativa para o material que estamos estudando. Para o autor, sempre que repetimos ou relatamos o que alguém disse, até mesmo quando pretendemos citá-los ipsis verbis, estamos transformando, reformulando, modificando e recriando uma fala em outra.

O processo de retextualização “envolve operações complexas que interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de aspectos nem sempre bem-compreendidos da relação oralidade-escrita” (MARCUSCHI, 2001b, p. 46). Segundo ele, é comum realizarmos ações lingüísticas bem complexas, quando repassamos para alguém algo que nos foi informado por outrem. Os casos de retextualização apresentam graus de interferência muito grandes, pois intervimos tanto na forma e substância da expressão, como na forma e substância do conteúdo, sendo que, nesse segundo conjunto, a questão se torna muito mais delicada e complexa.

Das possibilidades de retextualização apontadas por Marcuschi, duas são de uso freqüente no gênero textual ‘frase’: da “fala para a escrita” e da “escrita para a escrita”. O autor também reforça a idéia de que as operações utilizadas no processo de retextualização são atividades executadas de forma consciente. As operações vão desde as estratégias de regularização lingüística (norma lingüística padrão, correção intuitiva) até operações que chegam a afetar...

[...] as estruturas discursivas, o léxico, o estilo, a ordenação tópica, a argumentatividade e acham-se ligadas à reordenação cognitiva e à transformação propriamente dita que atinge a forma e a substância do conteúdo pela via da mudança na qualidade da expressão (MARCUSCHI, 2001b, p. 55, destaque do autor).

Dois pontos são destacados no processo de retextualização (editoração): a eficácia comunicativa e a gramaticalidade do texto. Assim, se o editor respeitar esses dois aspectos, pode-se considerar que o processo de retextualização é aceitável, já que não se trata de um

gênero que é “genuinamente primeira-geração de mensagem” (JONSON; LINELL apud MARCUSCHI, 2001b, p. 64).

Em relação a um exemplo de retextualização, Marcuschi comenta: “Não há propriamente um falseamento, mas algo muito próximo na medida em que a fantasia ficou solta com a aplicação exagerada do princípio de expansão sem motivação ou autorização textual” (MARCUSCHI, 2001b, p. 111, destaque do autor). Não podemos falar em autorização textual em relação à ‘frase’, mas podemos verificar a expansão, tomando por base os textos que podem ser comparados.

Marcuschi aponta algumas estratégias como pertinentes para o processo de retextualização: eliminação de pronomes, reordenação tópica, redução nas formas oracionais. Na retextualização, pode ocorrer, também, a perda ilocutória. “Pode-se dizer que, mais do que no plano semântico, é no aspecto pragmático que as retextualizações alteram sobremaneira o conteúdo do texto original” (MARCUSCHI, 2001b, p. 115, destaque do autor).

Na prática da retextualização, observamos, em nosso objeto de análise, desde a colagem, passando por acréscimos de termos e informações, mudanças na pontuação, até alterações semânticas pequenas ou, mesmo, expressivas.

7.2.2.1. Colagem

Verificamos que a colagem da ‘fala’ se dá entre revistas diferentes, da mesma editora e de editoras distintas. Talvez pudéssemos inferir que as revistas com as datas posteriores é que fizeram a colagem, contudo esse raciocínio não é seguro, pois é comum revistas com datas de meio de semana já começarem a circular no final da semana anterior.

No Quadro 09, apresentam-se alguns casos de colagem, envolvendo diferentes revistas. Na coluna central estão as retextualizações comuns às revistas indicadas nas colunas laterais, em que se identificam, inclusive, as editoras a que pertencem.

Nas retextualizações e (re)contextualizações há indícios ou pistas de que as falas foram retextualizadas de situações orais e, no entanto, todas são repetições literais, uma da outra, independentemente de seus tamanhos.

7.2.2.2. Transposição oracional

Transposição oracional é mais uma das práticas do editores em suas retextualizações:

Na reprodução de declaração textual, seja fiel ao que foi dito, mas, se não for de relevância jornalística, elimine repetições de palavras ou expressões da linguagem oral: hum, é, ah [...] Para facilitar a leitura, pode-se suprimir trecho ou alterar a ordem do que foi dito – desde que respeitado o conteúdo (MANUAL... 2001, p. 39, destaque nosso).

Exemplos (destaques nossos):

[151] “Sou safado. Se não existissem leis, namoraria a mulher do próximo”. Dorival Caymmi, músico (I – 19/09/01).

[152] “Se não existissem leis, namoraria a mulher do próximo. Sou safado”. Dorival Caymmi, músico (T – 14/09/01).

Para o Manual da Folha de São Paulo, não haveria relevância jornalística ou alteração de conteúdo se repetições fossem suprimidas ou expressões deslocadas. Contudo, não é assim que julgamos em ACD. Repetições podem revelar o destaque que se dar a uma idéia ou, mesmo, Quadro 09 – Colagens nas retextualizações

(RE)CONTEXTUALIZAÇÕES