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leitura: a conclusão em [211], “(Em contrapartida) detesto parecer gostosa”, passa a ser uma assertiva em [212].

Em [214] verifica-se uma mudança de estratégia discursiva do editor: ele opta por transferir o tópico informativo do “espaço” do locutor para seu próprio espaço discursivo.

O (re)contexto de [215] apresenta uma relação com o conteúdo da fala retextualizada, mas, em [216], ocorreu uma atualização informativa, o comentário do editor em nada se refere à retextualização da fala, preferindo- se expor a “face” negativa do locutor.

Em [217], “negando que tenha dirigido palavrões ao colega” e, em [218], “referindo-se ao colega”.

Em [217], inferimos que o locutor foi acusado de ter dito palavrões, já em [218] tal acusação já não entra em questão.

O agente passivo, “governo”, que aparece no texto-base, não aparece na retrospectiva.

Por conseguinte, o governo deixa de ser o responsável pela crise energética, que passa a despontar como um problema de “ordem natural”, pela falta de um agente que possa responder socialmente por ela, já não é o “governo” que “conduz” a crise energética.

Nem todas as retrospectivas reunidas se relacionam ao mesmo suporte (Veja), veri- ficando-se, em vista disso, alguns casos que fugiram, totalmente, das estratégias discursivas relacionadas acima. O fato é que não há fronteiras entre os editores quanto à questão. Como afirma Mouillaud (2002, p. 138), “o jornal não está mais centrado sobre o dizer de origem, mas sobre sua interpretação”. A fala do locutor é interpretada por um editor e essa interpretação é reinterpretada por outro. A revista Veja apresentou retrospectivas envolvendo outras duas revistas da mesma editora.

[221] “O glúteo é muito importante para a formação do nosso caráter”. Cláudia Raia, atriz (V – 26/12/01, retrospectiva).

[222] “O glúteo é muito importante para a formação do nosso caráter”. Cláudia Raia, no Domingão do Faustão, dia 4 (C – 13/11/01).

[223] “Esse xampu tem Ph.D. balanceado”.

Luciana Gimenez, modelo e apresentadora de TV (V – 26/12/01, retrospectiva). [224] “Esse xampu tem um P.h. D. balanceado”.

Luciana Gimenez, no SuperPop, dia 8, confundindo Ph.D. com pH (C – 20/ 11/01).

[77] “Tem um pH D balanceado”.

Luciana Gimenez, apresentadora de TV, referindo-se ao pH (nível de acidez) do xampu que anuncia em seu programa, SuperPop (T – 16/11/01).

7.2.4. As marcas do editor na (re)contextualização

Finalmente, a última estratégia: “Os editores (re)contextualizam as falas retextualizadas a fim de situá-las nas subjetividades deles próprios ou, talvez melhor, em “seus” contextos”.

Há uma categoria importante sobre a qual necessitamos discorrer, pelo menos, resumidamente: o contexto.

Todas as teorias de gêneros textuais assumem que “texto e contexto são tão intimamente relacionados que um não pode ser concebido sem o outro” (HASAN, 1989, p. 52). E isso ocorre de tal forma que “todo texto parece levar consigo algumas influências do contexto no qual se produziu. Poderíamos dizer que o contexto se introduz no texto porque influi sobre as palavras e estruturas que seus autores utilizam” (EGGINS; MARTIN, 1997, p. 338, tradução nossa). Eggins e Martin ainda destacam que o texto é tanto uma efetivação dos tipos de contexto como uma realização do que é significativo para os membros culturais nas diferentes situações. Como texto e contexto estão diretamente inter-relacionados, então qualquer exame mais particularizado do processo textual está sujeito a uma visão mais exata do contexto social em que o texto veicula discursos (MOTTA-ROTH, 2000). É por isso que “os textos são sempre realizações situadas, contextualizadas e com propósitos bem definidos. Contém escolhas léxicas, sintáticas e realizações estilísticas, registros, etc. muito bem determinados” (MARCUSCHI, 2001a, p. 2).

A significação do discurso, segundo Sytia (1995, p. 22), “é dada pelas condições de produção, considerando a noção de contexto e de história. Num contexto mais imediato – ligado ao momento da interlocução – e num contexto mais abrangente relacionado com a ideologia”. A interlocução liga-se aos aspectos lingüísticos e a ideologia, ao processo discursivo.

Conforme o posicionamento de Martin (1996), a teoria do gênero foi desenvolvida como uma teoria do contexto social, ou seja, como uma teoria do processo social constituindo uma cultura do ponto de vista da linguagem. Como tal, o modelo aborda a relação entre linguagem

e contexto social em termos de “realização”, ou seja, a linguagem é entendida simbolicamente, tanto construindo o contexto social como sendo construída por ele e, também, reconstruindo-o, permanentemente.

A opção pelo termo (re)contextualização, e não contextualização ou, mesmo, recontextualização, como seria presumível, permite entender que o editor registra sua subjetividade através de escolhas lexicais e de estrutura, de supressões ou de alterações semânticas e outras tantas estratégias discursivas. Como são essas estratégias o fio condutor da (re)contextualização, elas tanto podem ser comuns entre os editores, como a estrutura-padrão do gênero ‘frase’, quanto pessoais, as que permitem opiniões dos editores e revelam os graus de sua presença ou preferências na (re)contextualização.

Talvez seja oportuno ressaltar que a contextualização permite entender a formação ou geração de um contexto. Por seu lado, a recontextualização sugeriria a reconstrução de um contexto, com base em seu conteúdo e forma. (Re)contextualização tem perspectiva bem mais ampla, pois se consideram não só os elementos já existentes, disponíveis objetivamente, mas também aqueles que, novos, se agregam.

As estratégias discursivas da (re)contextualização são bem similares às da retextualização, como veremos a seguir.

7.2.4.1. Colagem

Geralmente, a colagem na (re)contextualização resume-se aos casos em que os editores utilizam apenas a identificação dos locutores e um aposto.

[225] “Minha mãe me considera simpático. Os outros, não sei. Eu só tenho certeza a respeito da minha mãe”.

José Serra, Ministro da Saúde (I – 04/04/01).

[226] “Minha mãe me considera simpático. Os outros, eu não sei. Eu só tenho certeza a respeito de minha mãe”.

José Serra, Ministro da Saúde (E – 30/04/01).

7.2.4.2. Transposição oracional ou lexical

[227] “Não estudei teatro para tirar a roupa”.

Daniela Barros, que interpreta Dani Colt no programa da Rede Bandeirantes Super Positivo (I – 26/09/01).

[228] “Não estudei teatro para tirar a roupa”.

Daniela Barros, que interpreta Dani Colt no programa Super Positivo, da Band (T – 28/09/01).

7.2.4.3. Enxugamento informativo

Os espaços discursivos vazios vão aparecer, principalmente, na posição medial e final. Dificilmente aparecerá na posição inicial, pois é reservada para a identificação do locutor.

Quadro 13 – Enxugamento informativo na (re)contextualização