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Quer I quer II têm que cumulativamente cumprir os seguintes critérios:

4. Perspectivas sobre o desenvolvimento do psicoterapeuta

4.1. Abordagem quantitativa: rede de investigação colaborativa

4.1.1. Características comuns da prática psicoterapêutica

De forma a facilitar a leitura dos resultados não comparativos, os autores desenharam no capítulo 4 uma síntese das características mais evidenciadas pelos psicoterapeutas aquando da experienciação da prática psicoterapêutica (Orlinsky & Rønnestad, 2005). Os autores

13 Adicionalmente, a abordagem fenomenológica pode acarretar uma outra limitação que se prende com

a desejabilidade social. No entanto, esta limitação é mais passível de ocorrer em estudos que não impliquem o anonimato entre investigador e participante, como é o caso de investigações qualitativas, que

agruparam estas mesmas características em 2 domínios centrais: (i) aspectos instrumentais da experiência de trabalho; (ii) aspectos pessoais da experiência de trabalho.

No que diz respeito ao primeiro domínio, os autores analisaram 4 facetas que se focalizam no papel do psicoterapeuta enquanto especialista na implementação de condições para promover a mudança psicoterapêutica, a saber: (i) objectivos; (ii) competências; (iii) dificuldades; (iv) estratégias de coping.

O objectivo mais enunciado pelos psicoterapeutas é promover junto do cliente um forte sentido de valor pessoal e de identidade, promover a qualidade das relações e ajudar os clientes a compreender as suas emoções, atitudes e comportamentos. No que diz respeito às competências mais relevadas pelos psicoterapeutas na sua prática, denota-se uma maior identificação com características de carácter relacional (conceptualizadas de competências relacionais básicas e de competências relacionais avançadas) do que de carácter técnico (expertise técnico), nomeadamente naturalidade e genuinidade no contacto com o cliente, capacidade para envolver o cliente numa aliança terapêutica, transmissão de compreensão e de preocupação aos clientes, eficácia na captação da essência dos problemas dos clientes, capacidade para detectar e lidar com questões transferenciais e capacidade para usar construtivamente reacções pessoais com o cliente. As dificuldades mais enunciadas pelos psicoterapeutas prendem-se com a dificuldade em lidar com a incerteza de como ajudar mais eficazmente um cliente, sentido de impotência perante acontecimentos trágicos na vida do cliente e falta de confiança no facto de estar a exercer um efeito benéfico na vida do cliente. No que diz respeito às estratégias de coping mais utilizadas no sentido de lidar com as dificuldades, os psicoterapeutas referem por grau de importância: (i) reflexão pessoal da emergência das dificuldades; (ii) discussão com um colega; (iii) consulta de um psicoterapeuta mais experiente; (iv) aceitação da experienciação de dificuldade e de emoções perturbadoras no processo psicoterapêutico; e (v) avaliação, conjuntamente com o cliente, se as dificuldades serão passíveis de serem resolvidas.

No que diz respeito ao segundo domínio, aspectos pessoais da experiência de trabalho, os autores sublinham 3 facetas: (i) características relacionais globais percebidas enquanto catalisadores da mudança psicoterapêutica; (ii) características relacionais percebidas enquanto contributos para a relação psicoterapêutica; (iii) experiências emocionais/afectivas percebidas

na interacção com os clientes. Enquanto agentes catalisadores da mudança psicoterapêutica, os participantes identificaram-se na sua generalidade como estando altamente comprometidos e envolvidos na prática psicoterapêutica e como sendo intuitivos e eficazes. Nas características enunciadas enquanto contributos para a relação psicoterapêutica, destacam o facto de se considerarem aceitantes, tolerantes, acolhedores, amistosos, receptivos, cuidadores e permissivos. As emoções mais experienciadas pelos psicoterapeutas prendem-se com o facto de se sentirem absorvidos, inspirados, estimulados e desafiados na prática psicoterapêutica. No entanto, é relevante também enunciar que ocasionalmente os psicoterapeutas tendem a experienciar ansiedade (veiculada por adjectivos como pressionado, assoberbado, ansioso e preso) e aborrecimento (identificado por adjectivos como desatento, ausente, sonolento e aborrecido) na prática psicoterapêutica.

No sentido de permitir uma abordagem integrativa das diferentes facetas supracitadas, os autores procederam à computação de uma análise factorial de 2ª ordem e identificaram 3 configurações das características inerentes ao trabalho psicoterapêutico, que conceptualizam de envolvimento no trabalho (work involvement), a saber: (i) envolvimento curativo (healing involvement); (ii) envolvimento desgastante (stressful involvement); (iii) envolvimento controlador (controlling involvement). O envolvimento curativo inclui o sentido de investimento do psicoterapeuta no seu trabalho, o sentido de eficácia e de competência, e formas construtivas de lidar com as dificuldades quando elas emergem na psicoterapia. O envolvimento desgastante, por outro lado, centra-se na emergência de dificuldades frequentes na prática, na experienciação de ansiedade e de aborrecimento na interacção com os clientes e em estratégias de coping que implicam o evitamento da abordagem das dificuldades. O envolvimento controlador prende-se predominantemente com representações do psicoterapeuta como sendo directivo, exigente, autoritário, desafiante e crítico.

Estas dimensões, por sua vez, foram sujeitas a procedimentos de análise de regressão múltipla, de forma a identificar quais as características pessoais e profissionais dos psicoterapeutas que se consubstanciam como melhores preditores. Os resultados sublinham, mais uma vez, a natureza interpessoal do trabalho psicoterapêutico. No que respeita ao envolvimento curativo, esta dimensão é melhor explicada por qualidades intrínsecas às

diferentes abordagens teóricas) e a experiência em diferentes modalidades psicoterapêuticas (e.g., individual, conjugal e familiar), do que características extrínsecas como a profissão, experiência e a orientação teórica14. Relativamente ao envolvimento desgastante, os autores

verificam que as condições situacionais, tais como percepções reduzidas de suporte e de satisfação com o setting, pouca autonomia profissional e ausência de uma prática independente, constituem-se enquanto melhores preditores do que características extrínsecas. Por último, a dimensão envolvimento controlador encontra-se primeiramente associada à tendência do psicoterapeuta para ser dominante nas relações interpessoais e de seguida a uma elevada identificação com a orientação comportamental. Os autores concluem que a experienciação do trabalho psicoterapêutico parece emergir da complexa relação entre as qualidades intrínsecas do psicoterapeuta e variáveis contextuais da prática psicoterapêutica (Orlinsky & Rønnestad, 2005).

4.1.2. Abordagem fenomenológica: representações de desenvolvimento actual e