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Quer I quer II têm que cumulativamente cumprir os seguintes critérios:

4. Perspectivas sobre o desenvolvimento do psicoterapeuta

4.1. Abordagem quantitativa: rede de investigação colaborativa

4.1.3. Comparação de grupos

No sentido de proceder a uma análise transversal dos psicoterapeutas, os autores procederam a um agrupamento dos participantes de acordo com o tempo de experiência, tendo identificado 6 grupos: novato (novice, 1 mês a 1.5 anos); aprendiz (apprendice, 1.5 a 3.5 anos); graduado (graduate, 3.5 a 7 anos); estabelecido (established, 7 a 15 anos); maduro (seasoned, 15 a 25); senior (senior, 25 a 55 anos).

Apesar de os anos de experiência não assumirem um papel central nas representações de desenvolvimento global do psicoterapeuta, verificaram-se diferenças significativas entre os grupos no que diz respeito às facetas desenvolvimentais anteriormente supracitadas. Verificou-se um padrão de progressivo incremento ao longo dos grupos no que respeita à percepção cumulativa de evolução na prática psicoterapêutica, um aumento de mestria psicoterapêutica e uma experienciação de maior eficácia na prática psicoterapêutica. Estes resultados são de alguma forma expectáveis quando a fonte de maior influência na maioria dos grupos é a experiência directa com os clientes. Contudo, os dados mais interessantes emergem precisamente de resultados que introduzem algumas descontinuidades entre os grupos. O primeiro prende-se precisamente com as diferenças atribuídas a fontes de influência positiva na actual representação desenvolvimental em termos comparativos. Os autores verificam que, por um lado, a primazia dada à experiência com os clientes enquanto dispositivo desenvolvimental surge em todos os grupos, à excepção do primeiro, os novatos, que destacam como fonte de influência primeira a supervisão formal. Tal resultado pode

dever-se ao facto de os psicoterapeutas do grupo novato sentirem uma maior necessidade de validação externa dada a confrontação com a prática psicoterapêutica.

Uma segunda descontinuidade surge com o último grupo, o senior, verificando-se que os participantes com níveis de experiência que ultrapassam os 25 anos, atribuem uma maior importância às experiências na vida pessoal enquanto fontes de influência primária no seu desenvolvimento, liderando o segundo lugar para os psicoterapeutas que não se encontram em terapia pessoal, cursos ou seminários e supervisão.

Uma terceira descontinuidade prende-se com a compreensão das competências de carácter relacional e técnico já anteriormente enunciadas. Se se verifica um incremento das representações de competência técnica ao longo dos grupos, no que se refere às competências relacionais básicas e avançadas constata-se um incremento mais notório a partir do 3º grupo referente ao estabelecido. Adicionalmente, as médias das competências de carácter relacional avançado são notoriamente menores do que as relativas às competências de carácter relacional básico. Tal resultado poderá indicar a representação da dificuldade dos psicoterapeutas, ao longo de todos os níveis de experiência, em utilizar competências que se prendem com a sensibilidade para detectar subtilezas na relação psicoterapêutica e que emergem de questões transferenciais e contratransferenciais. Um outro dado interessante prende-se, por um lado, com a relativa diminuição da ansiedade experienciada na interacção com os clientes ao longo dos grupos e, por outro, com o aumento de frequência nos grupos mais experientes da emergência na interacção com os clientes de sentimentos de aborrecimento. Por último, é interessante verificar que os psicoterapeutas de diferentes grupos demonstram valores muito similares no que se refere à experienciação actual de desenvolvimento, sendo este dado revelador da natureza dinâmica e consistentemente desenvolvimental do exercício da prática psicoterapêutica e de que a experiência não é de todo correlato de estagnação (Orlinsky & Rønnestad, 2005).

No final do livro, que elenca os principais resultados do estudo, os autores desenham importantes implicações a considerar aquando da formação dos psicoterapeutas e na futura investigação neste domínio. As principais implicações do estudo no que diz respeito à formação dos psicoterapeutas prendem-se com a necessidade de relevar as competências relacionais aquando da selecção dos candidatos, dado que estas parecem demonstrar-se

enquanto catalisadores da experienciação positiva do trabalho psicoterapêutico e enquanto dispositivo desenvolvimental de competência e de eficácia. Os autores revelam ainda a necessidade de valorizar características, como abertura à experiência, curiosidade e capacidade reflexiva enquanto características necessárias ao exercício subsequente da psicoterapia. Apesar dos autores denotarem que a pré-selecção de candidatos à formação em psicoterapia não se trata de uma questão actual, no domínio prático parece-nos ser difícil operacionalizar a avaliação de características de empatia, genuinidade e responsividade. Por outro lado, tal pré-selecção pressupõe o descrédito no desenvolvimento de competências relacionais, quando paradoxalmente os clientes parecem ser agentes de influência positiva optimal. Ao seleccionarmos psicoterapeutas com base nos pressupostos supracitados, podemos incorrer no risco de excluir precisamente os psicoterapeutas que mais necessitam de intervenção a nível das competências relacionais básicas. Uma outra sugestão dos autores prende-se com a necessidade de providenciar aos jovens psicoterapeutas uma orientação, teórica e técnica, flexível e pragmática, desprovida de dogmas e que possibilite uma futura abertura teórica a diferentes orientações. Os autores advogam que o contacto com mais do que uma orientação no início da formação dos psicoterapeutas poderá revelar-se confuso. No entanto, tal não pressupõe a ausência de estimulação por parte dos formadores a uma abertura genuína a diferentes modelos de orientação.

Whichever orientation is taught first, we urge that it be taught in a manner that does not foreclose the student’s later acquisition of theoretical breadth by critically disparaging alternative orientations - because theoretical breadth enhances the likelihood of experiencing therapeutic work as a Healing Involvement (Rønnestad & Orlinsky, 2005, p. 186).

Os autores aconselham também que a prática psicoterapêutica deve proceder de imediato a formação teórica e técnica de base e deve contemplar diferentes modalidades psicoterapêuticas. Rønnestad e Orlinsky (2005) advogam algum cuidado na selecção de casos no domínio da prática inicial, referindo, à semelhança da zona de desenvolvimento proximal de Lev Vygostsky (1896-1934), a necessidade dos casos constituírem-se enquanto reais

stress ou de assoberbamento que potenciem a percepção de declínio desenvolvimental. Por último, os autores alertam também para a necessidade de providenciar uma supervisão apoiante aos jovens psicoterapeutas e para a necessidade de todos os psicoterapeutas exercerem, de forma continuada, uma monitorização dos dispositivos desenvolvimentais, sublinhando a importância da reflexão e da auto-consciencialização enquanto estratégia desenvolvimental e enquanto pré-requisito para a conduta psicoterapêutica (Orlinsky & Rønnestad, 2005).

No domínio das implicações para futuras investigações, os autores sublinham a necessidade de incluir características pessoais dos psicoterapeutas, nomeadamente no que diz respeito às implicações das experiências relacionais familiares, qualidade de vida em etapas precoces, espiritualidade e religiosidade (Orlinsky & Rønnestad, 2005). As características relacionais dos psicoterapeutas parecem constituir-se enquanto variáveis promissoras na investigação das implicações da pessoa do psicoterapeuta na prática, quando verificamos que dispositivos relacionais extra e intra-terapêuticos são fontes de influência relevados em todos os grupos desenvolvimentais. Adicionalmente, a necessidade de se proceder a estudos que incluam características relacionais extra-psicoterapêuticas é ainda relevada num outro estudo, não publicado, dos mesmo autores (Orlinsky & Rønnestad, 2003, cit. in Rønnestad & Orlinsky, 2005), onde verificaram uma associação elevada (r = .57) no que se refere a emoções que indicam investimento emocional (aceitante, tolerante, acolhedor e amistoso) em dois domínios experienciais diferenciados da vida do psicoterapeuta: a relação psicoterapêutica e as relações íntimas.

Os autores reforçam ainda a necessidade de proceder ao recurso de perspectivas observacionais veiculadas por clientes, observadores externos e supervisores, no sentido de observar o impacto diferencial das características desenvolvimentais observadas nos resultados e processos psicoterapêuticos. No entanto, os autores, a título hipotético, sugerem que diferentes perspectivas serão provavelmente convergentes no que diz respeito às características que potenciam a eficácia psicoterapêutica.

4.2. Abordagem qualitativa: estudos de Skovholt, Rønnestad, Jennings,