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31.12. N Último dia do

2.1.6. Características da Informação Financeira

“As características qualitativas balizam a discricionariedade do preparador da informação financeira contribuindo para que a mesma aumente a sua utilidade.” (Cravo et al., 2009:60)

Para dar resposta aos novos desafios da informação contabilística no que diz respeito aos já referidos processos de globalização económicos e harmonização contabilísticos, o SNC implementou novas características qualitativas da informação financeira para eliminar as lacunas que as qualidades “clássicas” do POC apresentavam. Portanto, anota-se hoje em dia a deslocação dos interesses para uma informação com maior grau de relevância em detrimento

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Relatório de Estágio na Visabeira – PRO-Gestão de Serviços Partilhados, SA de critérios de mensuração que deixam de assentar no custo histórico e passam a basear-se em critérios de justo valor (Cravo et al., 2009:18).

De facto, o conceito de “não manipulação da informação” e da “imagem verdadeira e apropriada” esclarece a razão de existência das diversas características qualitativas e, como é referenciado no parágrafo 46 da EC: “As demonstrações financeiras são frequentemente descritas como mostrando uma imagem verdadeira e apropriada de, ou como apresentando apropriadamente, a posição financeira, o desempenho e as alterações na posição financeira de uma entidade.”

Para que essa imagem verdadeira e apropriada se reflita nas demonstrações financeiras, a informação deve ser tratada com a ponderação das características qualitativas da informação apresentadas de seguida.

Por outro lado e consoante o estipulado no parágrafo 24 da EC: “As caraterísticas qualitativas são os atributos que tornam a informação proporcionada nas demonstrações financeiras útil aos utentes. As quatro características qualitativas são a compreensibilidade, a relevância, a fiabilidade e a comparabilidade.”

Todas as novas características qualitativas das demonstrações financeiras implementadas pelo SNC estão contempladas nos parágrafos 25 a 42 da EC. O quadro seguinte apresenta um resumo das várias características da informação integrantes nas demonstrações financeiras.

Quadro nº 3:Características qualitativas

Compreensibilidade

Deve ser rapidamente compreensível pelos utentes assumindo que os próprios tenham um razoável conhecimento das atividades económico-empresariais e da contabilidade. Contudo, a informação de carácter complexo deverá na mesma ser fornecida, mesmo que não possa ser compreensível por todos os utentes, desde que a mesma for relevante para a tomada de decisão dos utentes.

Relevância

Deve incluir toda a informação que seja útil e influenciadora para a tomada de decisões dos utentes (função preditiva e confirmatória).

Materialidade

A informação é material se a sua omissão ou inexatidão influenciarem as decisões económicas dos utentes tomadas com base nas demonstrações financeiras.

Oportunidade

Se está disponível antes dos seus utilizadores perderem a faculdade de a utilizarem nas suas decisões. Ou seja, a informação é relevante, se for oportuna

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Fiabilidade

Deve ser digna de confiança e estar isenta de erros materiais e de preconceitos.

Representação fidedigna

Deve representar fidedignamente as transações e outros acontecimentos.

Substância sob a forma

As operações e outros acontecimentos devem ser apresentados de acordo com a sua substância e realidade económica e não meramente com a sua forma legal.

Neutralidade A informação deve estar livre de preconceitos.

Prudência

Deve incluir um grau de precaução no exercício de juízos necessários ao fazer as estimativas necessárias em condições de incerteza.

Plenitude Deve ser completa dentro dos limites da materialidade e do

custo.

Comparabilidade

Deve poder comparar as demonstrações financeiras de uma empresa através do tempo, com vista a poder identificar tendências na posição financeira e no desempenho.

E deve, igualmente, poder comparar as demonstrações financeiras de diferentes empresas, com vista a poder avaliar, de forma relativa, a sua posição financeira, o seu desempenho e as alterações na posição financeira.

Fonte: Elaboração própria

Contudo com base no parágrafo 14 da EC, Araújo et al. (2011:63), asseveram que a informação que consta das demonstrações financeiras deve também possibilitar a avaliação do grau de eficiência e eficácia do órgão de gestão, não só pelos resultados obtidos, mas também pela forma como foram utilizados os recursos económicos disponíveis.

No preparo da informação, podem subsistir três tipos de constrangimentos à informação relevante e fiável. Esses constrangimentos são: a tempestividade (§ 43 da EC), o balanceamento entre benefício e custo (§ 44 da EC) e o balanceamento entre as características qualitativas (§ 45 da EC). A tempestividade significa que se houver uma longa demora no relato da informação, esta pode perder sua relevância, assim, reconhece-se a necessidade de ponderação entre a relevância e a fiabilidade da informação como forma de responder mais adequadamente às necessidades dos diversos utentes para a tomada de decisão. Isto é, a informação prestada em tempo útil prevalece sobre a procura de perfeição absoluta (Soares, 2010:31). Por sua vez, a relação custo-benefício representa um constrangimento influente mas tem que ser tido em conta para que os benefícios fornecidos pela informação produzida excedam o custo de a proporcionar. Por último, torna-se necessário conseguir um balanceamento entre todas as diferentes características qualitativas através de um juízo de valor profissional.

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Relatório de Estágio na Visabeira – PRO-Gestão de Serviços Partilhados, SA Independentemente da sua complexidade e amplitude, a informação deve ser divulgada para que os utentes possam suportar as suas decisões (Lopes, 2013:45). O mesmo autor refere ainda que a informação e a sua relevância incutem a capacidade de influenciar as decisões de gestão, tanto na perspetiva histórica como prospetiva (Lopes, 2013:45).

Em suma, podemos comentar que a qualidade da informação financeira é logicamente fundamental no mundo económico e global em que vivemos presentemente, e como tal referenciamos as seguintes frases: “Sendo certo que a informação financeira constitui um elemento determinante do processo de tomada de decisão, não é menos certo que ela constitui um fator essencial para o eficaz funcionamento dos mercados. A velocidade com que hoje em dia se processam as transações gera uma grande volatilidade da informação, pelo que a utilidade desta está necessariamente relacionada com a rapidez com que pode ser difundida. A ser assim, um novo e importante desafio se coloca à Contabilidade enquanto sistema de informação e que tem a ver com as formas emergentes de difusão da informação financeira. (…) Pode pois dizer-se hoje em dia que a busca vai no sentido da obtenção da informação financeira relevante e fiável, sendo que tal esforço apenas é razoável esperar a maximização do binómio, mas não a maximização simultânea de cada uma das características.” (Cravo et al., 2009:17)

A título de conclusão deste subcapítulo de “Prestação de Contas em Portugal”, podemos afirmar que para além da habitual prestação de contas, existe uma crescente importância dada à informação não financeira. Isto é, apresentam-se lacunas no sentido que as informações meramente financeiras de acontecimentos passados revelam a saúde económica da empresa mas não divulgam informação dita não financeira que abordam os temas do governo das sociedades, do relato ambiental e do relato social.

Como forma de colmatar essas lacunas, apresentamos de seguida o subcapítulo “Relato Integrado” e uma frase introdutória acerca dessa temática: “Independentemente da evolução contabilística nacional e internacional, parece-nos indiscutível a crescente necessidade de uma cada vez melhor informação para os stakeholders em geral. Nesta perspetiva de melhoria quantitativa e qualitativa da informação disponibilizada, a elaboração de um relato financeiro integrado assume cada vez mais importância.” (Lopes, 2013:392)

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2.2. Relato Integrado

“Integrated Reporting is about better communication between companies and the capital markets.” (KPMG, 2012a)23

Como forma de iniciar este tema relativamente recente, importa demonstrar, através do quadro seguinte, quais são as principais tendências atuais e futuras na normalização contabilística retirada do sítio de internet da Comissão de Normalização Contabilística (CNC).

Quadro nº 4:Tendências de Normalização Contabilística

Fonte: Newsletter nº3 da CNC (2012)

De facto, as mudanças de paradigma na normalização mundial vieram ditar um maior impulso de informação a todos os níveis (informação financeira e não financeira). Nomeadamente, a manifestação de novos modelos de relato financeiro vieram determinar maior ênfase nos múltiplos stakeholders e a suas necessidades de informação, maior divulgação de informação prospetiva, bem como, das estratégias seguidas e fatores críticos de sucesso geradores de valor no longo prazo (Azevedo et al., 2013:37). Preocupações com a criação de uma sociedade sustentável capaz de não comprometer as gerações futuras, com o excesso de consumo de recursos naturais, com a injustiça social e condições de trabalho e com a governação das empresas, entre outras, têm surgido à ribalta nos últimos anos.

Na verdade, o mundo mudou devido à interdependência resultantes das economias mundiais e das cadeias de abastecimento, aos avanços tecnológicos, ao crescimento acelerado

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Relatório de Estágio na Visabeira – PRO-Gestão de Serviços Partilhados, SA um impacto significativo sobre a qualidade, disponibilidade e preços dos recursos naturais, bem como, colocaram a pressão crescente sobre os ecossistemas que são essenciais para a economia e a sociedade (IIRC, 2011:4). Por causa dessas alterações, as empresas estão forçadas a reagir de forma célere, a fim de continuarem a ser bem-sucedidas, através do desenvolvimento de novos modelos de negócios que reconhecem a necessidade de inovar e de produzir mais, com recursos cada vez mais escassos (IIRC, 2011:4).

Por outro lado, o aparecimento de novas necessidades de informação, a vulgarização da utilização de poderosos meios informáticos e a globalização das economias determinaram o alargamento do âmbito e importância do subsistema contabilístico bem como a necessidade de um tratamento integrado da informação (Borges, et al., 2002:20).

Apesar de continuar a desempenhar um papel importante, o modelo tradicional de relatórios foi desenvolvido para um mundo industrial e concentra-se estreitamente sobre o desempenho financeiro e sobre o histórico do processo de criação de valor (IIRC, 2011:4). Com o aparecimento de negócios cada vez mais complexos, houve a necessidade de colmatar as lacunas dos relatórios tradicionais por meio da adição de novos requisitos de comunicação através de leis, regulamentos, normas e códigos (IIRC, 2011:4). Logo existiu um incremento de informação fornecida pela sofisticação dos relatórios financeiros e comentários de gestão, pelo alargamento da necessidade de informação sobre o governo das sociedades e respetivas remunerações e pela implementação dos relatórios de sustentabilidade autónomos (IIRC, 2011:4).

A adoção de um modelo de relato integrado irá privilegiar a transformação significativa na distribuição de informação ao exterior. Isto é, para além da comunicação dos tradicionais indicadores financeiros, serão apresentados sinais de desempenho não financeiros que permitirão uma melhor compreensão a longo prazo dos acontecimentos que irão afetar o valor futuro da empresa, bem como, proporcionar uma maior transparência da informação como um todo. A palavra de ordem está no fornecimento de informação orientado para o futuro (future-oriented information).

Por outro lado, como não existe ainda literatura sobre este tema, a pesquisa baseou-se essencialmente em artigos internacionais das maiores empresas de consultoria mundiais (KPMG, Deloitte, PWC), mas também no sítio de internet da entidade IIRC (International

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Relatório de Estágio na Visabeira – PRO-Gestão de Serviços Partilhados, SA evidente que existe uma lacuna de informação em Português, que iremos tentar colmatar com este estudo.

Este subcapítulo irá abordar inúmeros temas relacionados com o IIRC e o relato integrado, nomeadamente, qual a sua importância, de que forma pode ser construído e quais os benefícios e desafios que podem ser tomados em conta.

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