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Fundamentando-se nas definições conceituais anteriormente apresentadas, podemos afirmar que a investigação criminal corresponde a um procedimento administrativo objetivado a amealhar provas criminais, para comprovar materialidade e autoria do delito, buscando elucidar um fato criminoso. Podemos afirmar também que a investigação criminal é materializada por meio do Inquérito Policial. Conforme Opilhar (2006, p. 64), no Brasil, ―o inquérito policial é atribuição exclusiva das Polícias Federal e Civil‖. Para Tourinho Filho, inquérito policial: ―[...] é o conjunto de diligências realizadas pela Polícia visando a investigar o fato típico e a apurar a respectiva autoria‖ (2001, apud OPILHAR, 2006, p. 64). Esta autora ainda descreve a sequência para instauração de um inquérito policial, bem como cita exemplos dos fatos originários do inquérito:

Via de regra, a notícia de um crime chega ao conhecimento da autoridade policial através do boletim de ocorrência, mediante requisição ministerial ou judicial, ou ainda, mediante requerimento de qualquer pessoa.

A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de polícia determinar a instauração do inquérito policial, onde se diligenciará para buscar provas demonstrando materialidade e autoria do crime, o que é feito através da investigação.

As atividades são as mais diversas de acordo com o delito praticado, declarações de vítimas; depoimentos de testemunhas; interrogatório de suspeito e/ou indiciado; representações por mandados de busca e apreensão, prisões, quebra do sigilo telefônico, quebra do sigilo bancário, quebra de sigilo fiscal; requisição de todas as perícias necessárias; realização de acareações, avaliações reconhecimentos pessoais, fotográficos; e outros (OPILHAR, 2006, p. 64).

A sequência acima relatada vale para a formalização do inquérito policial, porém referindo-se à atividade investigativa, não existe um rito pré-estabelecido, ficando sua sequencia para ser determinada pela autoridade que estiver presidindo o inquérito, amparando-se nas peculiaridades de cada situação analisada.

Vale ainda ressaltar que a investigação criminal não é atividade exclusiva das Polícias Federal e Civil, uma vez que o Ministério Público, Congresso Nacional, Polícias Militares e outros órgãos podem exercer também tais atividades investigativas.

Retornando ao âmbito da investigação criminal, continuaremos a tratar de suas características. Destacamos que, por se tratar de um ato administrativo e não possuir valoração de juízo, a investigação criminal não se reveste das formalidades exigidas no processo judicial, mesmo existindo alguns requisitos a serem observados, diferenciando-se bastante do ato judicial.

Fernandes (2010, p. 32) relata a classificação das investigações criminais, dividindo-as em Estatais e Privadas. As primeiras se subdividem em policiais e extras policiais, conforme apresentamos a seguir:

As investigações estatais são realizadas por agentes públicos, podendo ser policiais ou extras policiais. Sendo policiais aquelas realizadas pela policia civil, militar e federal, materializada através do Inquérito Policial ou do Termo Circunstanciado, como nos traz o artigo 144 §1º I e §4º da Constituição Federal de 1988. E, sendo extras policiais as investigações criminais realizadas por agentes que são públicos, mas não são vinculados ao organismo policial, como as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI e as Investigações Administrativas.

As investigações criminais chamadas privadas são aquelas onde os trabalhos investigatórios são realizados por pessoas ou entes particulares, ou seja, são preparadas pela vítima, pelo indiciado, pela imprensa, ou por qualquer cidadão, amparados pelo artigo 144 caput da Constituição Federal de 1988.

A autora caracteriza ainda as investigações criminais em relação a sua obrigatoriedade e sua faculdade:

[...] temos que as investigações policiais, todas são obrigatórias, pois a autoridade policial, ao tomar conhecimento de um fato delituoso, deve agir de oficio, seguindo os princípios da legalidade e do exercício da ação penal pelo Estado, com exceção dos crimes de ação penal pública condicionada, onde a polícia depende da manifestação de vontade da vítima ou de qualquer interessado, e nos crimes de menor potencial ofensivo, onde a policia encaminha o Termo Circunstanciado a Juízo, já que a representação é feita na própria audiência preliminar, na esfera judicial. E, as investigações privadas, acima discorridas, são facultativas. (FERNANDES, 2010, p. 32).

Dentro das características da investigação criminal, iremos apresentar a visão de alguns autores no tocante aos novos desafios que este tipo de atividade enfrenta, particularmente em virtude da especialização, profissionalização e organização que vêm se intensificando no cenário criminal. Hoje o crime organizado já é uma realidade que afeta todo o país. Crimes bem elaborados e planejados, meliantes portando armamento pesado para execução de ilícitos em cidades antes consideras pacatas e transações financeiras de difícil rastreamento são algumas das realidades cotidianas da sociedade brasileira, independente da localização, tudo isso financiado pelo capital ilegal oriundo da venda de drogas e delitos transnacionais.

Gonçalves (2010a, p. 29) ratifica estas informações abordando em seu livro sobre o fortalecimento do crime organizado e apresentando vários ilícitos que surgiram em razão deste fortalecimento:

As atividades criminosas têm passado por uma série de mudanças, que culminam em ações cada vez mais organizadas por parte de delinquentes e organizações criminosas. A partir da segunda metade da década de 1970, com o fortalecimento do narcotráfico e o desenvolvimento de grandes mercados consumidores – em especial EUA e Europa Ocidental –, as organizações criminosas aperfeiçoaram seu modus operandi, atualmente com caráter muito mais complexo e transnacional.

Assim, os últimos 25 anos presenciaram o fortalecimento do crime organizado, com ramificações nos mais diversos tipos de atividades ilícitas, do narcotráfico à extorsão e corrupção, passando pela prostituição, tráfico de pessoas e órgãos, tráfico de armas e lavagem de dinheiro. Além do caráter empresarial, as organizações criminosas têm cooperado entre si e formado verdadeiros conglomerados transnacionais promotores de delitos (GONÇALVES, 2010a, p. 29).

Garcia (2013, p. 327) relata em um capítulo a parte da obra organizada por Priscila Brandão e Marco Cepik, sobre a necessidade de aprimoramento da metodologia de investigação criminal utilizada pela polícia judiciária. O autor

apresenta em sua obra uma visão cronológica resumida das metodologias utilizadas pelas autoridades para punição de um ato ilícito, adentrando no conceito, já abordado, de jus puniendi, chegando até o período da redemocratização política do país, no ano de 1988. A partir desta nova formulação política, com o foco na defesa dos direitos e garantias individuais, as polícias viram-se obrigadas a modificar a metodologia investigativa, conforme explica o autor:

[...] Processa-se uma grande inversão na atuação metodológica investigativa. Começaram-se então, nas atuações investigativas de um crime, a partir do evento a seu autor, ou seja, do ―crime para o criminoso‖, e não mais como anteriormente, do ―criminoso para o crime‖.

Este novo caminho metodológico, em muito modificou a atuação e visão policial, pois a polícia passou a necessitar de mais provas para que possa abordar e conduzir uma pessoa à delegacia de polícia, até mesmo se o policial souber que aquele cidadão é ―useiro e vezeiro‖ na prática de crimes (GARCIA, 2013, p. 320).

Em outra perspectiva, o mesmo autor apresenta mais desafios à investigação criminal, referindo-se ao aumento no número da criminalidade, aos efeitos da globalização e dos avanços tecnológicos e sobre o surgimento de organizações criminosas, abordando a quebra de fronteiras para ilícitos antes restritos a certos tipos de localidades e especificações, bem como da utilização dos avanços tecnológicos em crimes mais sofisticados e com menos riscos ao infrator, por falta de legislação correspondente.

Em razão destes novos desafios buscou-se implantar, e ainda continua sendo implementado, nos diversos órgãos que atuam na segurança pública do país, novas metodologias, procedimentos e tecnologias que visem atenuar a divergência e a discrepância existente entre a criminalidade e os poderes constituídos; particularmente nas polícias estaduais (judiciária e militar), uma vez que o crime organizado encontra-se extremamente estruturado e infiltrado na sociedade brasileira.

No cerne desta discussão, Júnior (2008) destaca o novo modelo aplicado à investigação criminal no âmbito da polícia civil do Distrito Federal, onde se buscou o investimento em recursos tecnológicos, mesclado com a inserção da atividade de inteligência:

No aspecto da investigação criminal, a organização pretende alcançar um novo modelo, saindo da investigação tradicional para a investigação com tecnologia, incorporando os instrumentos e ações especializadas de

Inteligência Policial, de forma a proporcionar uma atuação sistêmica em todas as áreas investigativas (JÚNIOR, 2008, p. 70).

Nas últimas décadas com a implementação da atividade de inteligência no cenário da Segurança Pública (diga-se de passagem, que vem sendo considerado um diferencial de qualidade na atuação da segurança), bem como devido ao sucesso desta parceria (inteligência e segurança pública), este novo formato foi praticamente implantado em todos os órgãos de segurança pública do país. Um exemplo disso foram as diversas operações deflagradas pela Polícia Federal e Polícia Civil em todo pais, utilizando-se das técnicas de inteligência.

Todavia, dentro deste novo panorama, surge a problemática de se delimitar a investigação criminal (ou policial) da inteligência policial. Essa distinção é abordada em boa parte da bibliografia que trata de inteligência de segurança pública. Vejamos a seguir a visão de alguns autores sobre esta divergência.