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A atividade de inteligência no âmbito do ministério público. Um comparativo entre inteligência ministerial e investigação ministerial criminal

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA GEORGE KARLO DANTAS NOBRE

A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO UM COMPARATIVO ENTRE INTELIGÊNCIA MINISTERIAL E INVESTIGAÇÃO

MINISTERIAL CRIMINAL

Natal/RN 2014

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GEORGE KARLO DANTAS NOBRE

A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO UM COMPARATIVO ENTRE INTELIGÊNCIA MINISTERIAL E INVESTIGAÇÃO

MINISTERIAL CRIMINAL

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Inteligência de Segurança da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança.

Orientador: Prof. Rogério Santos da Costa, Dr.

Natal/RN 2014

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GEORGE KARLO DANTAS NOBRE

A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO UM COMPARATIVO ENTRE INTELIGÊNCIA MINISTERIAL E INVESTIGAÇÃO

MINISTERIAL CRIMINAL

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança e aprovada em sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Inteligência de Segurança da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Natal, 16 de maio de 2014.

_______________________________________ Prof. e Orientador Rogério Santos da Costa, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

___________________________________________ Prof. Marciel Evangelista Cataneo, Msc.

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Dedico esta obra inicialmente a Deus, que nos revigora na busca do saber, a minha família, particularmente a minha esposa Germana e meu filho Tiago, suportes incondicionais e incentivadores da minha caminhada e ao corpo docente da UNISUL, que nos ensinaram a gostar ainda mais dos conhecimentos vinculados à área da Inteligência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente aos meus familiares, parentes, educadores e companheiros de profissão que me ajudaram na agradável missão do aprender, construtores e incentivadores do meu desenvolvimento acadêmico e profissional.

Em especial, ao orientador desta obra, Professor Dr. Rogério Santos da Costa, que nos abrilhantou com seus conhecimentos, experiência e orientações, estimulando e incentivando em todos os momentos de dúvidas e dificuldades, bem como ao Professor Dr. Marciel Evangelista Cataneo, por aceitar fazer parte da Banca Avaliadora.

Registro ainda meus sinceros agradecimentos a Universidade do Sul de Santa Catarina que, por meio da Educação à Distância, disponibilizou, com excepcional qualidade, um curso de especialização, abordando uma atividade ainda pouco difundida e discutida no meio acadêmico, porém de extrema importância e com enorme potencial, tanto no âmbito público como no meio privado.

Meu muito obrigado a todos os professores do curso, porém de uma forma mais especial, aos professores vinculados diretamente aos conteúdos relacionados à Inteligência, pela paciência, disponibilidade, dedicação nos ensinamentos transmitidos, mas principalmente, pela iniciativa de disponibilizar, esclarecer e ajudar a desmistificar de forma brilhante a Atividade de Inteligência.

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo identificar se os órgãos ministeriais no desempenho de suas funções executam atividade de inteligência ou de investigação criminal. Para tanto, procurou-se, no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais, distinguir o exercício da atividade de inteligência frente à investigação criminal. Objetivando subsidiar a resolução desta problemática, é apresentada a fundamentação teórica das duas atividades supramencionadas. Na área da inteligência, foram apresentados aspectos históricos, normativos, princípios, fontes, ramos da atividade de inteligência, etapas do ciclo da produção do conhecimento, técnicas operacionais, tipos de operações, além de relacionar os documentos de inteligência e apresentar os conceitos de contrainteligência – atividade destinada à proteção dos conhecimentos produzidos, detalhando a segurança orgânica, segurança ativa e segurança de assuntos internos. Na área da investigação criminal, foram discutidos o conceito, os aspectos históricos, a natureza jurídica e suas características. Consubstanciado nestas duas fundamentações teóricas, buscou-se fazer um comparativo entre atividade de inteligência exercida dentro do âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais e a investigação criminal, apresentando o ponto de vista de especialistas e doutores que atuam tanto na área de inteligência como nos órgão ministeriais.

Palavras-chave: Atividade de Inteligência. Investigação Criminal. Inteligência e

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ABSTRACT

This study aims to identify whether the ministerial bodies in performing their functions perform intelligence activity or criminal investigation. To this end, an attempt was under the State Prosecutors, distinguish the exercise of intelligence activity against the criminal. Aim of assisting in the resolution of this problem, the theoretical basis of the two above activities is presented. In the area of intelligence, historical, regulatory aspects, principles, sources, branches of the intelligence activity, steps of the knowledge production cycle, operational techniques, types of operations were presented, as well as documents relating to intelligence and counterintelligence present concepts - activity designed to protect the knowledge produced, detailing the organic safety, active safety and security of home affairs. In the area of criminal investigation, were discussed the concept, the historical aspects, the legal nature and their characteristics. Embodied in these two theoretical predictions, we attempted to make a comparison between intelligence activity exercised within the scope of State Prosecutors and criminal investigation, presenting the point of view of specialists and doctors who work both in the area of intelligence as the ministerial organ.

Keywords: Intelligence Activity. Criminal Investigation. Intelligence and Research

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fluxograma 01 A relação entre formação da imagem e os estados da mente... Fluxograma 02 Ciclo clássico da produção do conhecimento... Fluxograma 03 Ciclo clássico da produção do conhecimento em conjunto com o ciclo da produção do conhecimento de inteligência...

50 52

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 As Lógicas Formal e Material e os Conhecimentos de Inteligência... Quadro 02 Ciclo da produção do conhecimento segundo as DNI e a DNISP... Quadro 03 Julgamento da fonte e do conteúdo... Quadro 04 Julgamento da fonte e do conteúdo detalhado... Quadro 05 Distinções entre a atividade de inteligência e investigação...

52 58 60 60 115

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 14

2.1 HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 14

2.2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL ... 18

2.3 CONCEITUAÇÃO ... 23

2.4 RAMOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 27

2.5 PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 28

2.6 ASPECTOS NORMATIVOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA ... 32

2.7 FONTES DE INTELIGÊNCIA ... 41

2.8 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA ... 47

2.8.1 Conhecimento de Inteligência ... 47

2.8.1.1 Estados da mente do analista ... 49

2.8.1.2 Tipos de conhecimento de inteligência ... 50

2.8.2 Ciclo da Produção do Conhecimento ... 52

2.8.2.1 Planejamento ... 55 2.8.2.2 Reunião de dados ... 56 2.8.2.3 Processamento ... 57 2.8.2.3.1 Avaliação... 58 2.8.2.3.2 Análise ... 61 2.8.2.3.3 Integração ... 61 2.8.2.3.4 Interpretação ... 62 2.8.2.4 Difusão ... 63 2.9 DOCUMENTOS DE INTELIGÊNCIA ... 64 2.10 OPERAÇÕES DE INTELIGÊNCIA ... 67

2.10.1 Tipos de operações de inteligência ... 68

2.10.2 Técnicas operacionais de inteligência ... 69

2.11 CONTRAINTELIGÊNCIA ... 71

2.11.1 Segurança Orgânica ... 72

2.11.2 Segurança Ativa ... 72

2.11.3 Segurança de Assuntos Internos ... 74

3 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ... 75

3.1 CONCEITO ... 75

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3.3 CARACTERÍSTICAS DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ... 77

3.4 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL X INTELIGÊNCIA POLICIAL (OU CRIMINAL) ... 81

4 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O MINISTÉRIO PÚBLICO ... 85

4.1 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS ... 86

4.2 FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ... 88

4.3 ESTRUTURA DOS MINISTÉRIOS PÚBLICOS ... 90

4.4 GARANTIAS E VEDAÇÕES ... 90

5 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ... 92

5.1 FUNDAMENTAÇÃO ... 92

5.2 ESTRUTURA DOS MP ESTADUAIS E ATUAÇÃO NA ÁREA CRIMINAL ... 95

6 INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ... 100

6.1 HISTÓRICO E NECESSIDADE DA INTELIGÊNCIA NO ÂMBITO DO MP ... 100

6.2 INTELIGÊNCIA MINISTERIAL ... 104

6.2.1 Justificativa para aplicação da inteligência no âmbito ministerial ... 104

6.2.2 Regulamentação da Inteligência Ministerial... 108

7 INVESTIGAÇÃO MINISTERIAL OU INTELIGÊNCIA MINISTERIAL... 110

8 CONCLUSÃO ... 116

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1 INTRODUÇÃO

A presente obra visa debater sobre a Atividade de Inteligência no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais, procurando solucionar a problemática da distinção essencial entre a atividade de inteligência ministerial e a atividade de investigação ministerial criminal.

Em razão da amplitude e das vantagens provenientes da área de inteligência, esta atividade vem sendo fortemente difundida e aplicada a novos setores. Dentre eles, podemos citar a inteligência direcionada ao ambiente coorporativo ou competitivo, inteligência relacionada à área fiscal, área financeira, estratégica, no âmbito da segurança pública e mais recentemente aplicada aos órgãos ministeriais, sendo denominada como Inteligência Ministerial.

No entanto, uma questão que vem confundindo muitos profissionais da área, refere-se à distinção ou ao relacionamento entre a atividade de inteligência desempenhada nos Ministérios Públicos e a investigação ministerial criminal. Esta última se utiliza das técnicas e procedimentos aplicados à área da inteligência ou são atividades distintas e isoladas?

Busca-se com essa abordagem a resposta para o problema de muitos profissionais, mesmo experientes, que atuam em matéria criminal nos Ministérios Públicos Estaduais sobre o tipo de atividade por eles desenvolvida, ou seja: o trabalho exercido por eles é classificado como atividade de inteligência ministerial ou seria investigação ministerial criminal? Por se tratar de atividades confluentes e correlatas ainda há certa falta de clareza na delimitação das respectivas atribuições.

A razão da escolha do tema está relacionada às experiências vividas cotidianamente no desenvolvimento de meu exercício profissional como servidor do Ministério Público do Rio Grande do Norte, atuando na área de investigação criminal.

No Ministério Público, a investigação pode ser trabalhada sob duas vertentes: quando se trata de um ilícito civil é desenvolvida através de inquérito civil público ou de procedimento preparatório, e, em se tratando de fato criminoso, por meio de inquérito policial (requisitado a autoridade policial) ou via procedimento investigatório criminal (investigação realizada diretamente pelo órgão ministerial).

É comum, profissionais que atuam em matéria criminal utilizarem-se de técnicas e processos advindos da área de inteligência. Muitas vezes, em

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investigações mais complexas, as ferramentas e metodologias aplicadas na área de inteligência são fortemente utilizadas por estes profissionais, resultando nesta ilusória convergência de atuações entre inteligência ministerial e investigação no Ministério Público. Vale ainda destacar que a inteligência ministerial, tem como objetivo precípuo subsidiar autoridades na tomada de decisão e a investigação criminal tem como finalidade apurar as infrações penais, visando à obtenção dos elementos probatórios.

Por estas razões, é necessário firmar a fundamentação teórica sobre as duas atividades objeto do estudo, buscando detalhar minuciosamente por meio de conceitos, princípios, doutrina, metodologia utilizada e especificações técnicas; objetivando classificar adequadamente cada trabalho realizado, distinguindo-se o profissional de inteligência do profissional de investigação.

No intuito de delimitar os assuntos a serem abordados no presente estudo, foi definido inicialmente o objetivo geral: identificar se os órgãos ministeriais no desempenho de suas funções executam atividade de inteligência ou de investigação criminal.

Visando subsidiar o objetivo geral supramencionado, bem como direcionar os estudos acerca da matéria em questão, foram demarcados os objetivos específicos, os quais oferecem embasamento preliminar acerca do tema, abordando, de forma específica a conceituação, aspectos históricos, doutrinários e normativos, características, classificações, metodologia, tipos de fontes e os princípios norteadores da atividade de inteligência; como também na seara da investigação criminal.

Ainda no amparo do objetivo geral, em um segundo momento, o trabalho aborda esses dois tipos de atividades no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais, especificando, mas particularmente, como a atividade de inteligência foi implementada nos órgãos ministeriais.

Como último objetivo específico, apresenta-se o comparativo entre inteligência ministerial e a investigação criminal dentro dos Ministérios Públicos Estaduais, visando identificar qual a finalidade e como tais atividades são desempenhadas dentro destes órgãos.

Cumprindo-se os objetivos supracitados, pretende-se esclarecer de forma nítida a problemática, objeto do estudo, distinguindo a atividade de inteligência ministerial e a atividade de investigação ministerial criminal.

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Trata-se fundamentalmente de uma pesquisa explicativa e qualitativa, devendo atingir a finalidade de conceituar as duas atividades em foco, a inteligência ministerial e a investigação ministerial criminal, para proceder à sua distinção e classificar o seu desempenho dentro do ambiente do Ministério Público.

A metodologia a ser adotada consistirá primordialmente na pesquisa bibliográfica, consultando as publicações selecionadas, tanto impressas como as disponibilizadas on-line, fazendo seus registros sistemáticos, apontamentos e comparações entre as visões dos diversos autores, pretendendo atender ao questionamento objeto do presente estudo.

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2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

Antes de iniciar os estudos sobre a conceituação de Inteligência, torna-se necessário analisar o desenvolvimento histórico desta atividade milenar, inclusive no Brasil. A análise dos registros históricos facilitará o entendimento sobre o tema objeto da pesquisa, já que o estudo do passado orienta e auxilia o entendimento presente.

2.1 HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

Segundo Filho (2013), a etimologia da palavra inteligência vem do latim, estando associada a entendimento e conhecimento. Este autor continua afirmando que a evolução histórica da atividade de inteligência confunde-se com a própria humanidade, uma vez que a busca pela segurança e sobrevivência é uma prioridade humana.

É quase que uma unanimidade bibliográfica iniciar os estudos sobre inteligência abordando os registros históricos citados nos primeiros livros bíblicos, apesar de alguns autores registrarem a possibilidade deste tipo de atividade ter sido realizada anteriormente, já que o anseio pelo conhecimento é natural do ser humano.

De acordo com Santos e Franco (2011, p.14), a busca pelo conhecimento já era uma atividade exercida pelos primeiros habitantes das cavernas, que, em pequenos grupos, ao sair à procura de alimentos e caça, tratavam de prover a segurança contra predadores, bem como de colher informações de novas áreas a serem exploradas com mais recursos e novos abrigos. Ainda segundo os autores supramencionados, para esta tarefa seriam escolhidos os guerreiros ―mais intelectualmente dotados, bons observadores e sagazes, além de serem ágeis e rápidos‖.

Na Bíblia, mais precisamente no quarto livro do antigo testamento, Números, são encontrados registros do emprego da atividade de inteligência, como podem ser confirmados por meio dos relatos de Santos e Franco (2011, p. 15-16, grifo do autor):

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Moisés, patriarca de Israel, antes de empreender a peregrinação de 40 anos pelo deserto de Neguev, com a finalidade de assentar suas 12 tribos em nova morada, na terra de Canaã, teria recebido a incumbência de Deus de obter conhecimento que lhe permitissem garantir a sobrevivência do povo de Israel, expulso do Egito. O Senhor assim teria se expressado para Moisés: ―Envia homens para explorar a terra de Cannaã, que hei de dar aos filhos de Israel. Enviarás um homem de cada tribo patriarcal, tomados todos entre os príncipes‖. Doze homens – um de cada uma das tribos de Israel – foram enviados para levantar dados (espiar) a terra de Canaã... (Números, 13, Velho Testamento). Em cumprimento a intenção do Senhor, Moisés, teria enviado 12 príncipes, um de cada tribo de Israel, denominados os ―Exploradores de Canaã‖, com a seguinte ordem de missão: (necessidade de informações e esforço de coleta)―Ide pelo deserto de Neguev e subi a montanha. Examinai que terra é essa e o povo que nela habita, se é forte ou fraco, pequeno ou numeroso. Vede como é a terra, onde habita, se é boa ou má, e como são as suas cidades, se muradas ou se sem muros; examinai igualmente se o terreno é fértil ou estéril, e se há árvores ou não. Coragem! E trazei-nos dos frutos da terra.‖(Números, 13, 17-20). Ao retornar, o que teria sido o primeiro grupo de operadores de Inteligência fez seu relatório, embora apenas Caleb e Josué tivessem apresentado dados com poder de convencimento (atualmente pode-se inferir como de credibilidade aceitável): (Primeiro Relatório de Inteligência) ―Fomos à terra aonde nos enviaste. É verdadeiramente um terra onde jorra leite e mel, como se pode ver desses frutos que trouxemos. Mas seus habitantes são robustos e suas cidades são grandes e bem muradas...‖ (Números 13,27-29).

Há aproximadamente 2.500 anos atrás, o General estrategista Sun Tzu, que teria vivido entre 544 e 496 a.C, traz em seu livro ―A Arte da Guerra‖ treze capítulos dos mais antigos fundamentos da estratégia militar e, por sua linguagem prática e direta, seus ensinamentos foram adotados pelas Forças Armadas de muitos países, bem como, mais ultimamente, adaptados ao meio empresarial, sendo empregado em estratégias comerciais.

Um trecho muito conhecido, ainda hoje bastante utilizado em estratégias militares e empresariais trata sobre a filosofia utilizada por este sábio estrategista chinês: ―derrotar o inimigo em cem batalhas não é a excelência suprema; a excelência suprema consiste em vencer o inimigo sem ser preciso lutar.‖ (SUN TZU, 2007, p. 35).

Outra célebre passagem, dos vários conhecimentos transmitidos por Sun Tzu, relata os cinco aspectos essenciais para se alcançar a vitória:

Assim sendo, é preciso saber que existem cinco aspectos essenciais para a vitória:

a) vencerá aquele que souber quando lutar e quando evitar a luta;

b) vencerá aquele que souber manejar tanto as forças superiores quanto as inferiores;

c) vencerá aquele cujo exército estiver imbuído do mesmo ânimo em todas as suas fileiras;

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d) vencerá aquele que, estando preparado, esperar para surpreender o inimigo quando este estiver despreparado;

e) vencerá aquele que tiver capacidade militar e que não sofrer interferência do soberano. Por esta razão é dito: Se você conhecer o inimigo e a si mesmo, não precisa temer o resultado de uma centena de batalhas. Se você conhecer a si mesmo, mas não o inimigo, para cada vitória você também sofrerá uma derrota. Se não conhecer nem o inimigo, nem a si mesmo, você sucumbirá em todas as batalhas. (SUN TZU, 2007, p. 39).

São várias as passagens desta obra, que podem ser empregadas em diversas especialidades, particularmente na área estratégica. Vinculado diretamente à atividade de inteligência, o livro ―A Arte da Guerra‖, em seu último capítulo, trata especificamente sobre o uso de agentes infiltrados, sendo uma das mais antigas referências bibliográficas sobre o tema, como pode ser verificado na citação abaixo:

Assim, o que habilita o soberano sábio e o bom general a atacar, conquistar e conseguir coisas que estão além do alcance dos homens comuns, é a previsão. Ora, essa previsão não pode ser inspirada pelos espíritos; não pode ser obtida por indução a partir da experiência, nem por qualquer cálculo dedutivo. O conhecimento das disposições do inimigo só pode ser obtido por outros homens. Por essa razão é preciso usar agentes infiltrados; são cinco as classes de espiões: a) espiões locais; b) espiões internos; c) agentes duplos; d) espiões condenados; e) espiões sobreviventes. Quando essas cinco classes de espiões estiverem em serviço, sem que ninguém saiba como trabalham, inclusive entre eles, isso é chamado de ―divina rede‖. É a faculdade mais precisa de um soberano. (SUN TZU, 2007, p. 157-158).

Prosseguindo na cronologia histórica da atividade de inteligência, Júlio César, na Roma antiga, conforme Santos e Franco (2011, p. 18), implantou um sistema de inteligência composto por quatro tipos de especialistas, que atuavam de acordo com o nível gerencial e de conhecimento. Os procursatores eram os responsáveis pela sobrevivência dos legionários, atividade mais relacionada com a inteligência operacional nos dias atuais. Os exploratores se encarregaram de prestar suporte à decisão dos comandantes na frente de batalha, atividade semelhante à inteligência tática. Na seara da inteligência estratégica, atuavam os speculatores, que exerciam a atividade de inteligência em terreno inimigo, treinados para operações clandestinas, prestavam apoio aos estrategistas romanos e planejadores de operações. Os índices eram fontes que não faziam parte das Legiões (fontes não orgânicas) e forneciam conhecimentos de acordo com suas possibilidades pessoais. Eles eram recrutados entre prisioneiros, desertores e civis.

Por volta do ano 334 a. C, Alexandre, o Grande, considerado por muitos o maior conquistador da antiguidade, uma vez que não conheceu a derrota em

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batalhas, conduzindo o exército macedônio, conquistou, em um pequeno espaço de tempo, uma grande extensão territorial que abrangia a região dos Balcãs até a Índia, incluindo o Egito e a Báctria (atual região onde se encontra o Afeganistão). Para tanto, Alexandre fazia uso dos conhecimentos obtidos por meio da inteligência, coletando informações dos viajantes que vinham de terras estrangeiras sobre terreno, economia, condições sociais, política, situação militar e de segurança das regiões a serem conquistadas, destinava ainda uma atenção especial ao vazamento de informações sensíveis no âmbito de seu exército, atividade hoje configurada como contrainteligência interna.

Segundo a Revista Brasileira de Inteligência (2005, p. 87), na Idade Média, compreendida entre os anos de 476 d.C. e 1453 d.C., o serviço de espionagem foi praticamente esquecido, em razão da influência da Igreja Católica, que o julgava pecado. Todavia vale os apontamentos de Filho (2013, p. 02), que ressalta, neste período histórico, os seguintes fatos que contaram com apoio dos serviços de inteligência:

O rei Carlos Magno (771-814) criou o corpo de agentes de Inteligência os missi dominici – para observar o seu domínio.

Gengis-Khan (1162-1227), conquistador eurasiano, já utilizava especialistas em Inteligência para obter informações sobre as regiões de operações. Os informes obtidos com mercadores e viajantes eram de suma importância para conhecer as vulnerabilidades da defesa de cada cidade objeto de seu ataque.

O viajante Marco Pólo (1254-1324) elaborou relatórios detalhados que se constituíram em preciosas informações para os governantes da época. Na república de Veneza, em 1436, o Arsenal da cidade – local onde as trocas e estocagens de materiais e produtos de grande parte do Mediterrâneo eram realizadas – foi estruturado, ficando famosos os relatórios enviados por diplomatas e tratamento dispensado pelos dirigentes como unidade estratégica de negócios. A aplicação prática do Arsenal deu origem à contabilidade tradicional com a utilização do sistema de débito e crédito.

Avançando um pouco mais no tempo, na Idade Moderna, uma nova sociedade aflorou, com interesses comerciais e burgueses, resultando em busca de novos mercados e terras, eclodindo a expansão marítima, o descobrimento das Américas e posteriormente da África e Ásia. Neste período a atividade de inteligência foi fundamental para subsidiar tais conquistas e a manutenção do sistema político das grandes potências da época, a monarquia.

Ainda segundo Filho (2013, p. 03), a organização da atividade de inteligência, após o século XIX, sofreu um aprimoramento, com a implantação de

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melhorias na estrutura, bem como na metodologia. Por ocasião da Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918), a Inglaterra era a única potência que possuía um serviço de inteligência estratégica, devidamente implantado e organizado, fornecendo inúmeras vantagens militares no combate.

Após a Primeira Guerra, os serviços de inteligência são aprimorados nos demais países, conforme destaque de Santos e Franco (2011, p. 22):

A URSS, a Alemanha e a Inglaterra, já possuíam serviços de ―Informações‖. A Alemanha criou o Abwehr (Inteligência militar) e SD (Inteligência do Partido Nazista); os japoneses criaram uma rede de espionagem nas Américas, a Kempei Tai (Polícia Militar Secreta), que foi responsável pelos levantamentos em Pearl Harbor, prévios ao ataque de 07 de dezembro de 1941. A URSS possuía a chamada ―Orquestra Vermelha‖.

Os Estados Unidos criaram o Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), no início do conflito. No fim da Segunda Grande Guerra, os Estados Unidos instituíram a CIA, e a Agência de Segurança Nacional (NSA), iniciando com isso, a Guerra Fria. E após as várias guerras, os serviços de Inteligência se diversificaram para as mais diversas áreas como, por exemplo, a espionagem industrial, crime organizado, terrorismo internacional e o crime comum.

Como podemos verificar nos relatos acima, a atividade de inteligência foi inicialmente utilizada como ―ferramenta‖ militar estratégica, direcionada ao assessoramento dos comandantes para galgar vitórias nas diversas batalhas citadas. Tal ferramenta foi sendo aprimorada no decorrer do tempo, para fins políticos, sociais e comerciais, porém sempre objetivando atender as necessidades do Estado. A seguir, será relatado como a atividade de inteligência nasceu, desenvolveu-se e foi institucionalizada no Brasil.

2.2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL

A grande maioria dos autores relata como marco inicial da atividade de inteligência no Brasil a criação do Conselho de Defesa Nacional (CDN), em 29 de novembro de 1927, no governo de Washington Luís. Este Conselho tinha como finalidade coordenar a reunião de informações relativas à defesa da Pátria, conforme relata Filho (2013, p. 03). Há registros de atividade de inteligência ainda nos primeiros combates militares armados, quando em 1868, na Guerra da Tríplice Aliança, o Duque de Caxias utilizou-se de técnicas de inteligência para obter dados e desinformar as forças de Solano Lopes, segundo Santos e Franco (2011, p. 23).

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Todavia vale aqui o registro realizado por Martchenko, no 3º Encontro de Estudos: Desafios para a Atividade de Inteligência no Século XXI (2004, p. 78):

Há controvérsias quanto à criação efetiva do primeiro estamento de Inteligência no Brasil. Alguns citam 1927, com o estabelecimento do Conse-lho de Defesa Nacional (CDN), no Governo Washington Luís. O órgão teria sido criado pelo receio do crescimento do Movimento Comunista Interna-cional, e após o Levante de 1922, do movimento em São Paulo, em 1924, e a Coluna Prestes em 1925/27. A crítica incide sobre o papel desempenhado pelo CDN, de pouca participação na deposição do Presidente Washington Luís, bem como no episódio Júlio Prestes e eleição de Getúlio Vargas. No entanto, a maioria dos analistas destaca o papel preponderante durante o Estado Novo, como sustentáculo da chamada ditadura de então, mas sem ainda uma caracterização real de assessoria de Inteligência.

A maioria dos experts, no entanto, estipulam 1946, com o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI) e a data de 06 de setembro, como marco inicial da Inteligência no País. É bom lembrar a situação de pós-guerra vivida pelo mundo na época, e o início da bipolaridade que caracterizou boa parte do século passado [...].

Em 1934, foram criadas as Seções de Defesa Nacional (SDN) nos Ministérios Civis. Órgão vinculado ao Conselho de Defesa Nacional (CDN), que segundo Filho (2013 p. 03) ―Foi, de certa forma, o mais antigo ancestral do atual Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN)‖.

Em 1941, o General Eurico Gaspar Dutra, Ministro da Guerra, em razão dos eventos da Segunda Guerra Mundial, viu a necessidade de criação de um Serviço de Informações, nomenclatura destinada à época no Brasil para Inteligência. Então foi criado o Departamento Federal de Segurança Pública, órgão responsável pela direção geral das polícias de todo país, pela produção de informações, bem como pelo serviço de contraespionagem interna e, havendo necessidade, atuando no âmbito internacional (SANTOS; FRANCO, 2011, p. 23).

Após o fim da Segunda Grande Guerra, já no contexto da Guerra Fria, foi promulgado, em 06 de setembro de 1946, o Decreto-Lei Reservado nº 9.775-A, criando o Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI), órgão pertencente ao Conselho de Segurança Nacional, que tinha competência para dirigir e coordenar as atividades de Inteligência de interesse para a Segurança Nacional. Para Gonçalves (2010b, p. 143) e Filho (2013, p. 4) o SFICI foi o primeiro órgão específico a ter a Inteligência como atividade fim, na época denominada como atividade de informações. Gonçalves ainda acrescenta detalhes sobre a criação do Serviço Nacional de Informações (SNI), que atuou entre os anos de 1964 a 1985,

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ainda hoje bastante comentado no âmbito nacional, particularmente na área da inteligência:

Com o regime militar, estabelecido a partir de 31 de março de 1964, o Presidente Humberto de Alencar Castello Branco apresentou ao Congresso Nacional, por sugestão do General Golbery do Couto e Silva, o projeto de criação do Serviço Nacional de Informações (SNI), o que ocorreu com a aprovação da Lei nº 4.341, de 13 de junho de 1964. De acordo com o art. 3º daquela Lei, o SNI tinha como principais funções:

a) assessorar o Presidente da República na orientação e coordenação das atividades de informações e contrainformação afeita aos Ministérios, serviços estatais, autônomos e entidades paraestatais;

b) estabelecer e assegurar, tendo em vista a complementação do sistema nacional de informação e contrainformação, os necessários entendimentos e ligações com os Governos de Estados, com entidades privadas e, quando for o caso, com as administrações municipais;

c) proceder, no mais alto nível, à coleta, avaliação e integração das informações, em proveito das decisões do Presidente da República e dos estudos e recomendações do Conselho de Segurança Nacional, assim como das atividades de planejamento a cargo da Secretaria-Geral desse Conselho;

d) promover, no âmbito governamental, a difusão adequada das informações e das estimativas decorrentes. (GONÇALVES, 2010b, p. 144).

Vale ainda acrescentar a observação do autor supramencionado sobre o General Golbery, considerado uma das mentes mais brilhantes da caserna no âmbito nacional, precursor do Planejamento Estratégico do Brasil e ícone da doutrina geopolítica brasileira. Ainda segundo Gonçalves (2010b, p. 144), ―Golbery defendia a criação de um órgão de inteligência que pudesse subsidiar o Presidente da República com informações estratégicas de mais alto nível. Tendo sido o primeiro chefe do SNI, o Gen. Golbery, viu sua ideia sendo desvirtuada com o recrudescimento do regime militar‖.

Em 1967, após o governo de Castello Branco, foi empossado o Marechal Artur da Costa e Silva, que apesar de ter reaquecido a economia do país, com a redução da inflação, impôs o endurecimento do regime militar. Como demonstra em suas palavras, Figueiredo:

Com o endurecimento do regime, a partir de 1967, o SNI ganhou tentáculos. Abriu escritórios nos ministérios civis – as chamadas Divisões de Segurança e Informações (DSI) – e nas autarquias e órgãos federais– as Assessorias de Segurança e Informações (ASI). Também ganhou parceiros nas Forças Armadas, com a criação ou reorganização dos serviços secretos militares – o Centro de Informações do Exército (CIE), o Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e o Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA). Era a chamada ―comunidade de informações‖, em que o SNI entrava com a vigilância e os serviços secretos militares com a repressão e as armas. (FIGUEIREDO, 2006 apud PAULA, 2011, p. 24).

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Em 30 de outubro de 1969, o General Emílio Garrastazu Médici assume a Presidência da República. Para muitos Médici foi ainda mais radical que Costa e Silva. Em seu governo foi implantado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suspendia várias garantias constitucionais, dando ao regime militar poderes absolutos.

O Sistema Nacional de Informações foi adquirindo mais força e poder, seu chefe tinha prerrogativas de Ministro de Estado, com vínculos em todo território nacional, uma vez que possuía agências e delegacias em todo Brasil, além de postos no exterior. O apogeu deste Sistema se deu no início dos anos 80 com a chegada de um dos chefes do SNI à Presidência da República, o General João Baptista Figueiredo.

Apesar do SNI ter evidenciado a inteligência no âmbito nacional, trazendo-a ao primeiro plano no processo decisório do país, acrescentando significativos avanços e contribuições para este tipo de atividade, como a institucionalização do Sistema Nacional de Informações em 1970 e a criação da Escola Nacional de Informações (EsNI) em 1971, este órgão foi se envolvendo cada vez mais com a repressão aos que se opunham ao regime militar. Na visão de Gonçalves (2010b, p. 145), a ―detenção dos oponentes do regime e a violência de alguns de seus métodos deixariam feridas na sociedade brasileira que levariam anos para cicatrizar, com algumas ainda abertas‖. O estigma que ainda hoje é imputado à atividade de inteligência é proveniente deste período. Tanto que por ocasião da criação do Sistema Brasileiro de Inteligência, quase quatro décadas após, a nomenclatura ―informações‖ foi abolida, visando amenizar tal estigma.

Com o processo de redemocratização em 1988, os governos de João Figueiredo e José Sarney, procuraram reduzir as prerrogativas da atividade de informações, ajustando-a a seu devido espaço. O Serviço Nacional de Informações (SNI) e o Sistema Nacional de Informações (SisNI) foram extintos em 15 de março de 1990, no governo de Fernando Collor de Melo, após uma série de reformas administrativas. O serviço de informações ficou a cargo da recém-criada Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), gerenciada por civis até o ano de 1992. Para executar as atividades ligadas à área de inteligência a SAE criou o Departamento de Inteligência, o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Recursos Humanos (CEFARH) e as Agências Regionais. No período do governo do Presidente Itamar Franco, foi implantada a Subsecretaria de Inteligência (SSI), no âmbito da SAE, que

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atuou até o ano de 1999, quando da criação do Sistema Brasileiro de Inteligência - SISBIN (LIMANA, 2011, p. 20 e 21).

Observa-se como pontos de evidência neste período a modificação da nomenclatura, ocorrida em 1992, quando o termo informações foi substituído por inteligência, na tentativa de retirar o estigma implantado no período do regime militar, luta exercida até os dias atuais; e a redução abrupta da atividade de inteligência exercida no país, quando a mesma permaneceu legada a segundo plano, quase inoperante.

Em 07 de dezembro de 1999, foi aprovada a Lei nº 9.883/99, que institui em seu primeiro artigo o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN):

Art. 1º - Fica instituído o Sistema Brasileiro de Inteligência, que integra as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência do País, com a finalidade de fornecer subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional (BRASIL, 1999).

No parágrafo primeiro deste mesmo artigo, o legislador atribuiu os fundamentos do Sistema Brasileiro de Inteligência:

§ 1o - O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana, devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária. (BRASIL, 1999).

O terceiro artigo dedica-se a criação e definição das atribuições da Agência Brasileira de Inteligência. Vale observar que o legislador preocupou-se inicialmente em implantar o sistema para somente depois criar a Agência, atribuindo-lhe status de órgão central do SISBIN:

Art. 3o - Fica criada a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN, órgão da Presidência da República, que, na posição de órgão central do Sistema Brasileiro de Inteligência, terá a seu cargo planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do País, obedecidas à política e às diretrizes superiormente traçadas nos termos desta Lei. (BRASIL, 1999).

No entendimento de Paula (2011, p. 30), sistema nada mais é que um: ―conjunto articulado de elementos e estruturas que estabelecem relações entre si ou

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com o ambiente externo, de forma estruturada e com certo nível de organização, visando uma ou mais finalidades‖. Ainda segundo o autor, na atividade de inteligência é fundamental, entre os diversos órgãos, a permuta de dados e informações, mesmo se tratando de troca de informações sigilosas. Para isso, existe uma doutrinação no trâmite destas informações, as quais são de conhecimento obrigatório dos membros participantes do sistema. Esta difusão de informações amplia os ―horizontes e a abrangência‖ de cada instituição componente do sistema.

2.3 CONCEITUAÇÃO

O conceito de inteligência é bastante divergente. Alguns autores enxergam a inteligência pela perspectiva do segredo, outros priorizam evidenciá-la quanto à sua natureza ou pela finalidade, outros pelo tipo de informação que busca. Enfim são muitos os estudos divergentes quanto à conceituação de inteligência. Para podermos melhor assimilar estes conceitos, iremos apresentar as principais abordagens publicadas por alguns autores, tentando abranger a grande maioria dos pensamentos.

Iniciaremos apresentando a conceituação de Priscila Carlos Brandão Antunes, onde a autora destaca três abordagens de autores anglo-saxões:

Sims (1995) afirma que seria toda informação coletada, organizada e analisada para atender aos tomadores de decisão em suas atividades. Shulsky (1991) restringe a área de atuação da inteligência e a vincula necessariamente a competitividade entre nações, ao segredo e ao formato das organizações. Em suas palavras a atividade é definida como ―coleção e analise de informações relevantes para formulação e implementação da política de segurança nacional‖. Já Herman (1991) define inteligência como tudo aquilo que os órgãos governamentais oficiais de inteligência produzem, restringindo-a a esfera estatal (ANTUNES, 2002, apud SILVESTRE, 2010, p. 19).

Em outra obra sob a coordenação de Priscila Brandão e Marco Cepik, Gislayne de Deus apresenta o entendimento de inteligência sob a perspectiva de Brandão, que fundamenta seu conceito nestes mesmos três pesquisadores anglo-saxões:

Nesse sentido, compartilhamos a perspectiva de Brandão (2010), que ―a atividade de inteligência refere-se a certos tipos de informações relacionadas à segurança do Estado, às atividades desempenhadas no sentido de obtê-las ou impedir que outros países as obtenham e às

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organizações responsáveis pela realização e coordenação da atividade na esfera estatal‖ (BRANDÃO, 2010 apud DE DEUS, 2013, p. 85).

De Deus apresenta ainda o conceito de inteligência de acordo com Marco Cepik:

Serviço de inteligência são agências governamentais responsáveis pela coleta, pela análise e pela disseminação de informações consideradas relevantes para o processo de tomada de decisões e de implementação de políticas públicas nas áreas de política externa, de defesa nacional e provimento da ordem pública (CEPIK, 2003 apud DE DEUS, 2013, p. 85).

Conforme Gonçalves (2010a), José Manuel Ugarte, um dos maiores especialistas latino-americanos em inteligência, buscou fundamentação teórica na clássica definição de inteligência de Sherman Kent, primeiro autor a sistematizar, sob a ótica acadêmica, o conhecimento de inteligência. Ugarte descreve inteligência sobre três facetas: conhecimento, organização e atividade, também conhecidos como produto, organização e processo.

Gonçalves explica ainda esta acepção trina de inteligência segundo Sherman Kent:

Inteligência como produto, conhecimento produzido: trata-se do resultado do processo de produção de conhecimento e que tem como cliente o tomador de decisão em diferentes níveis. Assim o relatório/ documento produzido com base em um processo que usa metodologia de inteligência também é chamado de inteligência. Inteligência é, portanto, conhecimento produzido.

Inteligência como organização: diz respeito às estruturas funcionais que têm como missão primordial a obtenção de informações e produção de conhecimento de inteligência. Em outras palavras, são as organizações que atuam na busca do dado negado, na produção de inteligência e na salvaguarda dessas informações, os serviços secretos.

Inteligência como atividade e processo: refere-se aos meios pelos quais certos tipos de informação são requeridos, reunidos (por meio de coleta ou busca), analisados e difundidos, e, ainda, os procedimentos para a obtenção de determinados dados, em especial aqueles protegidos, também chamados de ―dados negados‖. Esse processo segue metodologia própria, a metodologia de produção de conhecimento, ensinada nas escolas de inteligência por todo globo (GONÇALVES, 2010a, p. 07 e 08).

Observe que tanto na definição de Brandão como na de Cepik estas três acepções estão presentes, ratificando os conhecimentos apresentados por Ugarte.

Outro entendimento conceitual sobre inteligência está posto em nosso ordenamento jurídico, fundamentado na Lei nº 9.883/99, que instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência e criou a Agência Brasileira de Inteligência. A Lei 9.883/99

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foi regulamentada pelo Decreto nº 4.376/02 de 13 de setembro de 2002, o qual dispõe sobre a organização e o funcionamento do SISBIN.

Em ambos dispositivos legais, são apresentados os conceitos de inteligência e contrainteligência conforme veremos a seguir. O instrumento legal de 1999, apresenta a conceituação nos §2º e §3º de seu primeiro artigo, respectivamente:

§ 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

§ 3o Entende-se como contrainteligência a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa. (BRASIL, 1999).

A conceituação exposta pelo Decreto nº 4.376/02, apresenta uma pequena divergência no texto legal, porém sem modificações relevantes no tocante ao conceito de inteligência. Todavia a conceituação de contrainteligência é apresentada com mais elementos explicativos, detalhando ainda mais a atividade.

Art. 2º Para os efeitos deste Decreto, entende-se como inteligência a atividade de obtenção e análise de dados e informações e de produção e difusão de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, relativos a fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental, a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado.

Art. 3º Entende-se como contrainteligência a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações e conhecimentos de interesse da segurança da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem (BRASIL, 2002).

Direcionando estes conceitos e buscando adequação ao nosso objetivo - identificar se os órgãos ministeriais estaduais, no desempenho de suas funções executam atividade de inteligência ou de investigação criminal - buscamos a conceituação vinculada à área de segurança pública, da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP) sobre a Atividade de Inteligência de Segurança Pública (AISP), apresentada na obra de Castello Branco:

Como definição prevista na DNISP, temos que a AISP é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação,

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o acompanhamento e a avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública. Tais ações são basicamente orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar os governos federal e estaduais na tomada de decisões, para o planejamento e a execução de uma política de segurança pública e das ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza ou atentatórios à ordem pública. (CASTELLO BRANCO, 2013, p. 80, grifo nosso).

Castello Branco ainda evidencia os pontos principais desta conceituação, que, didaticamente, ajuda ao leitor a perceber e entender definitivamente o modelo clássico de inteligência. Este autor inicia sua explanação destacando o caráter permanente e sistemático da atividade de inteligência, alertando que este tipo de atividade não é direcionada para soluções de problemas específicos, ou para identificar uma situação que se apresenta em um determinado momento. Continua destacando a especialidade necessária aos profissionais que atuam nesta área, ou seja, profissionais treinados, especializados e conhecedores dos procedimentos, técnicas e doutrina de inteligência. Branco continua sua explanação, ressaltando a parte conceitual que determina a identificação, o acompanhamento e a avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera de segurança pública, referindo-se a ameaças presentes ou do passado (ameaças reais), bem como ameaças que possam vir a ocorrer e que põem em risco a segurança pública (potenciais). Quanto ao termo, produção e salvaguarda de conhecimentos, o autor esclarece que a preocupação da inteligência não é apenas com a produção do conhecimento, mas também com a proteção do conhecimento produzido (referindo-se ao ramo da contrainteligência). Destaca ainda o autor sobre o ponto do conhecimento necessário, tratando sobre o que o profissional de inteligência busca em sua análise e sobre quais as metodologias a serem utilizadas para se alcançar este conhecimento. Por fim, a conceituação supra-referenciada relata a finalidade de todo trabalho de inteligência, o qual se destina a subsidiar os governos para auxiliar no processo decisório de nível estratégico, objetivando o planejamento e execução da política de segurança pública.

Fundamentado na conceituação apresentada por vários autores, pela legislação e pela doutrina especifica da área de inteligência; pode-se verificar, apesar da diversificação, que os conceitos foram se rebuscado de maiores detalhes e especificidades, porém todos com os mesmos princípios norteadores da acepção inicial de Sherman Kent, relembrada por Ugarte, destacando a inteligência como

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conhecimento, organização e atividade, também conhecidos como produto, organização e processo.

2.4 RAMOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

Como pôde ser verificado no tópico referente à conceituação, é pacífico entre os autores o entendimento de que existem dois ramos na atividade de inteligência, um relacionado à produção do conhecimento e outro direcionado a proteção do conhecimento produzido. Utilizando o ensinamento de Santos e Franco (2011, p. 73) ―a Inteligência (lato sensu) comporta dois ramos – o da Inteligência (strictu sensu) e o da Contrainteligência‖. Este autor destaca ainda que a inteligência ―É o ramo ‗ofensivo‘ da atividade‖; e a contrainteligência ―o seguimento defensivo‖.

Alguns autores destacam que a inteligência é composta pela atividade de análise e operações, enquanto a contrainteligência é tradicionalmente dividida em segurança ativa e segurança passiva (ou orgânica). Todavia o entendimento mais aceito é de que as técnicas operacionais de inteligência são exercidas em ambos os ramos (inteligência e contrainteligência), apesar deste tipo de atividade ser, normalmente, lecionada separadamente em cursos e treinamentos, assim como, possuir estruturação seccionada na distribuição setorial dos órgãos de inteligência.

Apesar de já ter sido apresentada a definição de inteligência e contrainteligência na conceituação, mais precisamente sob a égide normativa da Lei 9.883/1999 e do Decreto nº 4.376/2002, não nos impede de reforçar estes ensinamentos por meio das palavras de Neto (2009, p. 49-50):

a) Inteligência em sentido estrito: a atividade permanente e especializada de coleta de dados, produção e difusão metódica de conhecimentos, a fim de assessorar o usuário na tomada de decisão relevante, com o resguardo do sigilo quando necessário para a preservação da própria utilidade da decisão, da incolumidade da instituição ou do grupo de pessoas a que serve; e b) contrainteligência: atividade de detecção, identificação, avaliação, prevenção, obstrução, exploração e neutralização das ameaças, internas e externas, às informações sensíveis que a organização detém ou às suas áreas, instalações, pessoas e interesses, inclusive provenientes de inteligência adversa.

Torna-se importante ainda ressaltar que os dois ramos da inteligência não possuem delimitação específica, havendo um inter-relacionamento e uma necessidade mútua entre a inteligência e a contrainteligência.

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É natural que os analistas que atuam na produção do conhecimento e na busca do dado negado tenham entendimento das atividades exercidas na contrainteligência, objetivando o melhor cumprimento das medidas de proteção ativa e passiva. Na proteção ativa, temos atividade de contrapropaganda, desinformação, contrassabotagem, contraespionagem e contraterrorismo. Na proteção passiva temos a proteção dos recursos humanos, das instalações, da documentação, dos meios tecnológicos e materiais. Da mesma forma, também se torna imperioso aos analistas da contrainteligência o conhecimento das atividades que são desenvolvidas pelo pessoal de inteligência e de operações, para que possam exercer melhor suas atividades (prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa).

2.5 PRINCÍPIOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

Como visto no referencial histórico, a atividade de inteligência, particularmente no Brasil, sofreu uma modificação em sua nomenclatura em razão do estigma imputado no período do governo militar. Após o processo de redemocratização, os novos governantes e legisladores procuraram implementar leis que garantissem a execução das atividades de inteligência nos ditames estabelecidos por um Estado Democrático de Direito, evidenciando o respeito aos direitos e garantias fundamentais da pessoa humana. Para isso, buscou-se desenvolver uma doutrina amparada em princípios e postulados éticos e legais, que atendessem a estas prerrogativas.

Percebe-se falta de consenso por parte dos autores e doutrinadores quando se trata de princípios orientadores da atividade de inteligência. Dentre os diversos estudiosos analisados, iremos apresentar o que julgamos mais abrangente, todavia ainda complementado pelos preceitos regidos na Doutrina Nacional de Segurança Pública (DNISP), bem como pelos ensinamentos de Washington Platt, citado por Neto (2009).

Todavia, vale as observações de Paula, que apresenta a visão de Schauffert e Botelho (2008, apud PAULA, 2011, p. 26), destacando como sendo oito os princípios básicos da inteligência: ―Os princípios básicos da atividade de inteligência [...] são: objetividade, segurança, oportunidade, controle, imparcialidade, simplicidade, amplitude e clareza‖. Gonçalves (2010a, p. 96) compartilha o mesmo

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pensamento, destacando estes mesmos oito princípios como sendo os mais importantes. Ressalta ainda, dentre estes oito, quatro como sendo fundamentais à atividade de inteligência – princípios da objetividade, oportunidade, segurança e imparcialidade.

Tentando alcançar uma maior abrangência dos princípios analisados, apresentaremos a seguir os princípios sob a visão de Filho (2013, p. 14-15), uma vez que o mesmo nos contempla com a explicação de doze dos principais princípios da atividade de inteligência.

a) Princípio da Segurança – O conhecimento deve ser protegido desde o início de sua produção e o seu acesso limitado às pessoas credenciadas. [...] Há uma corrente de especialistas que enfatiza o binômio segurança-sigilo, por considerar o sigilo de vital importância para a preservação da organização, de seus integrantes e das ações a serem realizadas.

b) Princípio da Clareza – O conhecimento produzido deve ser expresso de forma a receber imediata e completa compreensão por parte dos usuários. Dessa forma, a redação deve ser em linguagem correta e livre de palavras rebuscadas e supérfluas. A clareza está ligada à objetividade e à simplicidade.

c) Princípio da Amplitude – O conhecimento produzido deve ser o mais completo possível com informações amplas, exatas e não prolixas, tomando o cuidado para não registrar algo desnecessário. Nos dias atuais, a informação deve ser sucinta para que o decisor tenha tempo para lê-la, assimilá-la e decidir em tempo oportuno, face a gama de conhecimentos colocados à disposição.

d) Princípio da Oportunidade – O conhecimento deve ser produzido em prazo que assegure sua utilização em tempo oportuno, de forma completa e adequada. Este princípio está intimamente ligado à principal característica da atividade de Inteligência que é a pró-atividade. De nada adianta uma decisão perfeita, mas fora do prazo.

e) Princípio da Objetividade – O planejamento e a execução das ações da produção do conhecimento devem ser orientados para os objetivos definidos a alcançar, a fim de evitar custos e riscos desnecessários.

f) Princípio da Imparcialidade – A produção do conhecimento deve estar isenta de ideias preconcebidas, subjetivismo e outras formas de distorções. O decisor deve ficar atento a este princípio ao ler a apreciação do analista. g) Princípio da Integração – Todos os dados e conhecimentos obtidos devem ser processados a fim de que o produto resultante seja um conhecimento integrado.

h) Princípio da Cooperação – A atividade de Inteligência estabelece relacionamentos, ligações e intercâmbios que possibilitem maximizar esforços para a consecução dos objetivos estabelecidos.

i) Princípio do Controle – A produção do conhecimento deve obedecer a um planejamento que permita adequado controle de cada uma das fases. Dentre as etapas mais importantes de uma gestão (Planejar, Executar, Controlar, Avaliar, Realimentar) está o Controle, verdadeiro desafio na atividade de Inteligência nos regimes democráticos.

j) Princípio da Legalidade – Exercer a atividade de Inteligência em conformidade com os ditames da Lei.

k) Princípio da Atualidade – A atividade de Inteligência pressupõe a busca constante do aperfeiçoamento de conceitos, técnicas, métodos e processos para atender aos desafios impostos pelas transformações no mundo.

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l) Princípio da Ética – A atividade de Inteligência deve alicerçar-se na observação de preceitos éticos e valores morais, sociais e cívicos, compromissada com a verdade, a honra, a integridade de caráter, a família, a solidariedade, o respeito aos direitos humanos, o patriotismo, o respeito às leis, à autoridade constituída e à democracia. (FILHO, 2013, p. 14-15).

Apesar de compartilhar alguns dos princípios supramencionados, Neto apresenta em sua obra mais seis novos princípios citados por Washington Platt, que inicia seus ensinamentos explicando o princípio da Utilidade:

Em contraste com o documento erudito, a Informação tem uma só finalidade ser útil aos interesses nacionais, nas circunstâncias existentes [...] Muitos fatores atuam sobre a utilidade; a integridade e a precisão, naturalmente estão entre eles. Porém, muitas vezes, é preciso sacrificar um pouco do desejo de produzir um documento completo e exato, em favor da oportunidade. O ser feito ―a tempo‖ tem, geralmente, prioridade muito maior nas informações do que nos trabalhos de erudição. (1974, apud NETO, 2009, p. 68).

Platt (1974, apud NETO, 2009, p. 69) continua seu pensamento abordando a estreita relação entre o princípio da Objetividade com os princípios da Utilidade e da Finalidade. Para o autor, o princípio da Utilidade está vinculado aos prazos para a apresentação de um resultado. Enquanto ao princípio da Finalidade, está relacionado ao fim a que se propõe determinado documento.

O terceiro princípio apresentado por Neto, utilizando-se dos ensinamentos de Platt, refere-se à Simplicidade, que, segundo o autor, impõe a execução de tarefas na área de inteligência de modo a evitar riscos, gastos e esforços desnecessários. Perceba que o princípio da Simplicidade, a exemplo da Utilidade e Finalidade, também possui proximidade e relação com o princípio da Objetividade (1974, apud NETO, 2009, p. 69).

Vinculado ao princípio da Utilidade, Platt (1974, apud NETO, 2009, p. 70) aponta os princípios do Significado e das Definições. Por Significado, ele entende como sendo uma exigência ao profissional de inteligência para dar significância aos fatos e afirmações, por mais simples que sejam. Referente ao princípio das

Definições, Platt destaca: ―[...] a grande importância de o analista ‗tornar claro, pela

definição ou de outra forma, a exata significação de cada palavra ou ideia‘, pois ‗definições claras ajudam a pensar claramente‘[...]‖.

O sexto princípio ainda destacado por Platt refere-se ao Grau de certeza, que, segundo o autor, se relaciona com a ―idoneidade das afirmações sobre um fato,

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a precisão dos dados quantitativos e a probabilidade das estimativas e conclusões" (1974, apud NETO, 2009, p. 70).

No princípio da Responsabilidade é ressaltado o alto grau de responsabilização que, tanto a instituição, como o profissional de inteligência devem possuir pelo conteúdo das informações que produzem e pelo modo como os dados foram obtidos (NETO, 2009, p. 70).

Por fim, acreditando ter alcançado a totalidade dos princípios estudados na seara da inteligência, iremos abordar os ensinamentos da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública – DNISP, destacando mais cinco princípios, conforme citação abaixo:

Interação – [...] implica estabelecer ou adensar relações sistêmicas de cooperação, visando otimizar esforços para a consecução dos seus objetivos.

Permanência – [...] visa proporcionar um fluxo constante de dados e de conhecimentos.

Precisão – [...] objetiva orientar a produção do conhecimento verdadeiro – com a veracidade avaliada -, significativo, completo e útil.

Compartimentação – [...] objetiva, a fim de evitar riscos e comprometimentos, restringir o acesso ao conhecimento sigiloso somente para aqueles que tenham a real necessidade de conhecê-lo.

Sigilo – [...] visa preservar o órgão, seus integrantes e ações. (BRASIL, 2009, p. 16).

Observa-se que Filho define os princípios de forma mais objetiva, buscando a praticidade na sua aplicação, da mesma forma que a Doutrina Nacional de Inteligência Pública também o faz. Por outra perspectiva, Washington Platt, por meio de Neto, apresenta os princípios de uma maneira mais teórica e fundamentada.

De forma a maximizar os conhecimentos apresentados, pode-se perceber, analisando as definições dos diversos autores, que as definições dos princípios se relacionam de forma bastante estreita. E muitas vezes conceitos apresentados separadamente por alguns autores são contextualizados dentro dos princípios considerados fundamentais ou mais importantes de outros pensadores, como podemos verificar na explicação de Gonçalves (2010a, p. 96), sobre o princípio da objetividade:

Segundo o Princípio da Objetividade, a inteligência deve ter utilidade, finalidade ou objetivo específico, além de expressar os conhecimentos sobre atos ou fatos com a maior precisão possível, mediante o emprego de

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linguagem caracterizada pela clareza e simplicidade. Ademais, toda ação de inteligência deverá ser planejada e executada em estrita consonância com os objetivos a alcançar, não devendo fugir deles. Todo conhecimento produzido e toda operação desencadeada devem ter caráter objetivo.

Observe que nesta explicação o autor relaciona pelo menos cinco outros princípios norteadores da atividade de inteligência – utilidade, finalidade, precisão, clareza e simplicidade. Assim a falta de consenso mencionada no início deste tópico pode ser entendida sob este perspectiva.

2.6 ASPECTOS NORMATIVOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

A importância de se apresentar os atuais instrumentos legais que dão amparo à atividade de inteligência no Brasil é fundamentada inicialmente pelo fato de se tratar de uma profissão que se tangencia os limites dos direitos e garantias individuais, preconizados na Carta Magna de 1988, uma vez que a natureza da inteligência é lidar com informações sigilosas, sensíveis e muitas vezes secretas; além de possuir no país o estigma, já mencionado, de atividade vinculada ao governo totalitarista, gerando certa desconfiança por parte da sociedade.

Em razão disso, é valioso registrar as principais fundamentações legais que regem a atividade de inteligência, bem como a sistemática estrutural desta atividade no âmbito do Poder Executivo Federal, já que os demais serviços efetuados na área da inteligência se espelham nesta regulamentação jurídica, sejam na seara estatal ou privada.

Todavia vale o comentário de Vidigal (2004, p.42) destacando que: ―é imperioso reconhecer que nenhuma legislação é, por si só, suficiente, mormente nesta área delicada, para garantir a eficácia do Sistema de Inteligência‖. Tal afirmação obtém subsídio em razão da grande diversidade na interpretação da lei.

Destacados estes ensinamentos iniciais, iremos prosseguir relacionando a legislação brasileira de inteligência apontada por Gonçalves, em seu livro Atividade de Inteligência e Legislação Correlata, acrescentando a complementação normativa de publicação mais recente, particularmente as que regulamentam o acesso à informação, bem como o credenciamento e tratamento de informações classificadas como sigilosas.

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Gonçalves (2010a, p.106) inicia a abordagem sobre a legislação da área de inteligência pela Lei federal nº 9.883, de 07 de dezembro de 1999, norma principal que institui o Sistema Brasileiro de Inteligência - SISBIN e cria a Agência Brasileira de Inteligência - ABIN. Este instrumento legal conferiu ao SISBIN a responsabilidade de integrar as ações de planejamento e execução das atividades de inteligência e contrainteligência do País, visando subsidiar o Presidente da República nos assuntos de interesse nacional.

Ainda no seu artigo primeiro, a Lei nº 9.883/99 oficializa o nome da comunidade de inteligência do País, Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN, assim como existem a Agência Central de Inteligência – CIA, nos Estados Unidos, o Mossad em Israel e o Serviço Canadense de Inteligência de Segurança – CSIS. Gonçalves destaca ainda a perspectiva de integração entres os diversos órgãos civis e militares, que compõem o sistema.

No primeiro parágrafo do artigo 1º, a Lei nº 9.883/99 apresenta os fundamentos do Sistema, destacando-se a preocupação do legislador na manutenção dos direitos e garantias individuais:

§ 1º - O Sistema Brasileiro de Inteligência tem como fundamentos a preservação da soberania nacional, a defesa do Estado Democrático de Direito e a dignidade da pessoa humana; devendo ainda cumprir e preservar os direitos e garantias individuais e demais dispositivos da Constituição Federal, os tratados, convenções, acordos e ajustes internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte ou signatário, e a legislação ordinária. (BRASIL, 1999).

No artigo terceiro, a Lei nº 9.883/99 cria a Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, órgão central do sistema e apresenta a suas atribuições: ―[...] terá a seu cargo planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do País [...]‖ (BRASIL, 1999).

O parágrafo único do Art. 3º destaca como deverão ser desenvolvidas as atividades de inteligência, além de reforçar mais uma vez preocupação com a manutenção dos direitos e garantias individuais, conforme vemos a seguir:

Parágrafo único. As atividades de inteligência serão desenvolvidas, no que se refere aos limites de sua extensão e ao uso de técnicas e meios sigilosos, com irrestrita observância dos direitos e garantias individuais, fidelidade às instituições e aos princípios éticos que regem os interesses e a segurança do Estado. (BRASIL, 1999, grifo nosso).

Referências

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