• Nenhum resultado encontrado

6.2 INTELIGÊNCIA MINISTERIAL

6.2.1 Justificativa para aplicação da inteligência no âmbito ministerial

Uma vez que se pode adequar os conceitos de inteligência clássica ou de Estado para o ramo empresarial, podemos também adaptar estes mesmos conceitos a seara da inteligência institucional. Como explica Pacheco (2013, p. 269) ―[...]

aplicarmos a inteligência no âmbito de outras instituições ou órgãos públicos, abrangendo-se, desse modo, órgãos públicos em geral, inclusive os Ministérios Públicos, não somente quanto a sua área criminal, mas também quanto a todas as suas áreas‖. O autor ainda afirma que a denominação Inteligência Ministerial refere-se à atividade de inteligência institucional vinculada ao Ministério Público.

Devido ao princípio da separação dos poderes, previsto no artigo 2º da Constituição de 1988, podemos afirmar que o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), vinculado diretamente ao Poder Executivo Federal, não pode se subordinar aos Poderes Legislativo ou Judiciário, muito menos ao Ministério Público. Da mesma forma que este último, em razão da independência funcional de seus membros e da autonomia administrativa e funcional deferida ao órgão ministerial, não pode constar no rol das instituições subordinadas ao SISBIN. Entretanto essa impossibilidade de subordinação mútua, não impede de o Ministério Público possuir sistema de inteligência próprio, conforme relata Neto (2009, p. 123).

Os autores já referenciados, que tratam sobre o assunto em tela, buscam inicialmente justificativa para aplicação da inteligência no âmbito ministerial por meio do princípio constitucional da eficiência (art. 37, caput, da CF/88).

Por abordar de uma forma mais objetiva, veremos este ensinamento sob a visão de Pacheco (2013, p. 270). Sob uma perspectiva gerencial, a atividade de inteligência pode ser resumida como um sistema de gestão de informações ou gestão de conhecimentos. É verdade que, diariamente, os membros em suas respectivas promotorias, procuradorias e outros órgãos que compõem o Ministério Público, recebem uma grande quantidade de informações, através de outros órgãos institucionais, por meio da sociedade civil, imprensa, denúncias por parte da população etc. Essa grande ―massa de informações‖ relacionada à atividade fim ou à atividade administrativa necessita ser eficientemente tratada para evitar desperdício de recursos humanos, materiais ou financeiros. Pacheco adiciona a este ensinamento o seguinte texto:

[...] O Ministério Público, portanto, deve utilizar-se de métodos, técnicas e ferramentas adequadas para lidar com as informações necessárias ao desempenho de suas finalidades constitucionais, sejam aqueles convencionalmente denominados ―atividade de inteligência‖, sejam, numa visão mais ―gerencial‖, seus equivalentes dos sistemas de gestão da informação e da inteligência competitiva. Diante da crescente complexidade dos fatos com os quais lida o Ministério Público e a necessidade de sua atuação sistêmica, seja na área cível (por exemplo, ações civis para defesa

de interesses difusos e coletivos), seja penal (por exemplo, programas de prevenção e repressão à criminalidade), o certo é que o Ministério Público deve utilizar algum sistema de gestão da informação, superando a fase individualista e amadorística de muitos de seus membros, e alcançando a racionalidade gerencial exigida pelo princípio constitucional da eficiência. (PACHECO, 2013, p. 270).

Já vimos nesta obra que a atividade de inteligência pode sim ser adequada e utilizada na seara da investigação criminal, objetivando a produção probatória, como, por exemplo, é utilizado na Polícia Federal. Isto gera maior eficiência na execução das atividades exercidas pelo membro do MP nas investigações cíveis e criminais mais complexas.

Entretanto vale ressaltar o papel estratégico que a sistematização das informações produzidas em um órgão de inteligência pode proporcionar; gerando conhecimento para a tomada de decisão por parte do gestor da instituição. Pacheco cita o exemplo que ―[...] estimativas do desenrolar de situações sociais podem facilitar o estabelecimento da política institucional e a elaboração do Plano Geral de Atuação (plano estratégico do Ministério Público)‖.

Neto (2009, p. 126) apresenta uma proposta em sua obra para um sistema de inteligência a ser implantado no âmbito ministerial:

É de se cogitar, inclusive, da construção de um sistema de inteligência ministerial maior, integrado não apenas pelos membros de um determinando ramo do Ministério Público, mas por todos os ramos do Ministério Público brasileiro, com um fluxo constante e controlado de informações e com a realização de atividades de cooperação mútua em escala nacional (e, reflexamente, internacional), dando ao princípio da unidade funcional de seus ramos um efeito menos retórico e mais prático.

Filho (2013, p. 107) também disponibiliza sua sugestão para o sistema de inteligência ministerial, conforme o texto abaixo:

O MP deve possuir um Sistema de Inteligência a nível nacional, orientando as atividades de seus sistemas.

Este Sistema deve ser organizado e voltado para o ambiente interno da instituição e para o ambiente externo. Além de monitorar os pontos fortes e os pontos fracos das organizações, as ameaças e oportunidades exteriores, o Sistema deve coletar dados, informações e conhecimentos necessários à otimização do desempenho e da segurança do MP, no âmbito pessoal, material e documental.

Este mesmo autor acrescenta uma lista de contribuições que a atividade de inteligência pode disponibilizar para as instituições públicas ou privadas:

Vários agentes do Estado e do mundo empresarial, em razão de seu despreparo profissional para o cumprimento de missões sigilosas, ainda não percebem o alcance das práticas de Inteligência que muito podem contribuir com a investigação e outras atividades como:

- cooperar no Planejamento Estratégico Institucional; - coletar, processar e difundir dados e informações; - organizar e difundir estatísticas;

- salvaguardar a Instituição, por meio da segurança institucional; - alimentar e realimentar processos de decisão;

- assessorar grupos especiais de combate à macro-criminalidade; - estabelecer princípio de confiança com outros órgãos de Inteligência; - manter regras de sigilo dos documentos e conhecimentos de Inteligência, evitando utilizá-los como provas em procedimentos investigatórios ou processos;

- trocar informações diretamente com outros órgãos de Inteligência; - prospectar cenários;

- produzir análises estratégicas; - acompanhar gestões de riscos; e

- gerenciar conhecimento institucional. (FILHO, 2013, p. 109).

Pacheco coaduna com as vantagens expostas por Filho, provenientes da atividade de inteligência no âmbito do Ministério Público, detalhando a necessidade de se estabelecer um vínculo de confiança com outros órgãos de inteligência, intercambiando dados e informações, incluindo o parquet em diversas redes de inteligência e, consequentemente, maximizando o potencial dos conhecimentos adquiridos. Com esta ampliação dos conhecimentos disponibilizados, o órgão terá maior subsídio para a tomada de decisões estratégicas, bem como para orientações táticas e operacionais, visando a implementação de planos e programas direcionados a áreas específicas ou por meio de suporte as diversas investigações mais complexas.

Outro ponto, citado por Filho e Pacheco, entretanto evidenciado mais profundamente por Neto (2009, p. 128-138), refere-se à utilização da contrainteligência no âmbito institucional, especialmente na seara da segurança institucional. Este último autor adentra ao assunto comentando:

É fato que, à medida que o Ministério Público avança no cumprimento de suas funções em direção as classes mais abastadas da sociedade e aos funcionários públicos e políticos mais poderosos, as ameaças sobre a instituição aumentam e os seus membros se veem, cada dia mais, vulneráveis, dependentes de cursos isolados de segurança, de profissionais terceirizados, de órgãos policiais locais (muitas vezes afetados por investigações do próprio membro do Parquet). A própria instituição em si, não raro, torna-se vitima dessas ações, seja por intermédio de desinformações maliciosamente articuladas, seja por sabotagens, cooptações, infiltração de criminosos em seu seio (inclusive por intermédio de contratações de serviços terceirizados sem o devido acompanhamento), entre outras, que, não raro, poderiam ser devidamente evitadas (ou cujos prejuízos poderiam ser minimizados) com a realização de uma atividade

responsável de contrainteligência por um pessoal orgânico devidamente treinado.

Com a estruturação de uma unidade de contrainteligência, o Ministério Público passará a depender cada vez menos de fatores externos para preservar a sua segurança, fazendo com que o membro, os servidores, as áreas, os materiais e as informações sensíveis que detém, não sejam presas fáceis de ações adversas de toda ordem. (NETO, 2009, p. 130).