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Características dos Cuidadores

5. CUIDADORES INFORMAIS

5.1. Características dos Cuidadores

Vários estudos se têm debruçado sobre a caracterização dos cuidadores (Grunfeld, Glossop, McDowell, & Danbrook, 1997; Krasch, 2003; Schulz R. , et al., 2002; Sequeira C. , 2007; Sörensen, Pinquart, & Duberstein, 2002), e sobre as consequências do cuidar. Cuidadores são essencialmente familiares, há um claro predomínio do género feminino, sendo também as mulheres quem apresenta maior sobrecarga (Pinquart & Sörensen, 2006).

Duma maneira geral, exercer o papel de cuidador diminui a disponibilidade social e o bem –estar (Wade, Parker, & Langton-Hewer, 1986), e a tendência é para a escassa utilização das ajudas e recursos comunitários, apesar disso atrasar a colocação em lar (Robinson, et al., 2005). Num estudo em Portugal foi observado que as

motivações para se tornar cuidador eram a dependência financeira, a tradição familiar, o evitar a institucionalização, ou a indisponibilidade de outras pessoas, e que os

sentimentos dos cuidadores eram de dever, caridade, ou gratidão (Cruz, Loureiro, Silva, & Fernandes, 2010).

Entre os cuidadores de doentes com demência encontra-se maior utilização de psicofármacos (Schulz R. , O'Brien, Bookwala, & Fleissner, 1995) mas também de outros medicamentos (Vitaliano, et al., 2003), mais ansiedade e, sobretudo, depressão, o mais documentado factor de agravamento da saúde dos cuidadores (Brodaty & Green, 2002; Cooper, Balamurali, & Livingston, 2007; Cooper, Katona, Orrel, & Livingston, 2008; Crespo, López, & Zarit, 2005; Dang, Badiye, & Kelkar,

2008; Dura, Stukenberg, & Kiecolt-Glaser, 1991; García-Alberca, et al., 2012; García- Alberca, Lara, & Berthier, 2011; Mahoney, Regan, Katona, & Livingston, 2005; Papastavrou, Kalokerinou, & Papacostas, 2007; Pinquart & Sorensen, 2003; Schulz, Boerner, Shear, Zhang, & Gitlin, 2006) com uma prevalência entre 30% e 80%, quando na população geral com mais de 55 anos a prevalência é de 6% a 9 % (Schoenmakers, Buntinx, & Delepeleire, 2010).

Uma recenta revisão da literatura (Fonareva & Oken, 2014), vem actualizar a ideia que se vem formando de longa data da existência de alterações biológicas nos cuidadores de demência, como alterações imunitárias (Kiecolt-Glaser, Dura, Speicher, Trask, & Glaser, 1991), da tensão arterial, de parâmetros metabólicos, ou agravamento de doença cárdio vascular. Os cuidadores têm mais hospitalizações e maior mortalidade (Vitaliano, et al., 2003).

Admite-se que estas alterações não resultam de nenhuma causa directa do cuidar da demência, mas sim dos efeitos de cansaço, falta de sono, ou negligência com os cuidados próprios, em indivíduos predispostos, sendo mediados pelos mecanismos de stresse.

Cuidadores usam mais antihipertensores, e apesar disso têm tensões arteriais sistólicas e diastólicas mais elevadas. A tensão arterial modera a alteração na filtração glomerular que ocorre em situação de activação simpática associada a transições, tais como a colocação do doente em lar (von Känel R. , et al., 2012). A densidade e

sensibilidade dos receptores beta-2 adrenérgicos encontra-se diminuída, testemunhando o stresse crónico. Os receptores beta-2 adrenérgicos dos linfócitos encontram-se

diminuídos nos cuidadores que ocupam mais de 12 horas por dia nos cuidados durante mais de seis meses, mas não nos que fazem pausas nos cuidados pelo menos uma vez por mês (Mills, et al., 2004).

Os cuidadores têm um risco mais elevado de placas de aterosclerose nas carótidas e de doença coronária. Cuidadores que vivem em bairros que consideram inseguros, têm alterações no metabolismo da glucose que não se encontram nos não cuidadores que vivem nos mesmos bairros. No entanto os cuidadores que vivem em zonas que consideram seguras, têm metabolismo da glucose semelhante aos não cuidadores (Brummett, et al., 2005). A função endotelial encontra-se alterada nos cônjuges cuidadores de demências moderadas ou severas, mas não nos cuidadores de demências ligeiras (Mausbach, et al., 2010).

A carga alostática, representando o peso acumulado dos stressores ligados com risco cárdio-vascular, é mais elevada nos cuidadores (Roepke, et al., 2011).

Os ciclos circadianos do cortisol encontram-se alterados nos cuidadores, nomeadamente fazendo um pico cerca das 22h, e estas alterações relacionam-se com défices de memória (Palma, et al., 2011).

Alguns estudos, mas não todos, revelam níveis aumentados de interleuquina-6 nos cuidadores, o que se relaciona com maior risco de doença cárdio-vascular, diabetes, cancro, e com maior declínio funcional na Doença de Alzheimer (Gouin, Glaser,

Malarkey, Beversdorf, & Kiecolt-Glaser, 2012). Mais bem documentado está o aumento da Proteína-C-Reactiva (Gouin, et al.). Também aumentado se encontra o Factor de Necrose Tumoral alfa, que se associa a má qualidade do sono. Este factor tende a normalizar no cuidador após a morte do cuidado (von Känel R. , et al., 2012).

O stresse crónico tem também sido associado ao envelhecimento celular, e este encontra-se exacerbado nos cuidadores. Estes efeitos no envelhecimento celular são ainda potenciados se na infância houve exposição a adversidades ou abuso (Kiecolt- Glaser, et al., 2011).

Perturbação do sono é uma queixa frequente dos cuidadores, embora haja estudos referindo sobrevalorização dessas queixas (von Känel R. , et al., 2012). Há no entanto dados de medições objectivas do sono que confirmam as alterações do sono em cuidadores (Fonareva, Amen, Zajdel, Ellingson, & Oken, 2011). As alterações do sono do cuidado são por vezes a causa principal para a sua colocação em lar, sendo que, isso nem sempre leva a uma melhoria do sono do cuidador, além de que, após a morte do cuidado, a perturbação de sono do cuidador pode agravar, mostrando que as alterações do sono no cuidador são um problema com múltiplos determinantes (von Känel R. , et al., 2012).

Aspectos cognitivos, como atenção, concentração, e velocidade de

processamento, encontram-se alterados (Oken, Fonareva, & Wahbeh, 2011). Há mesmo um estudo que refere maior risco de demência entre os cuidadores, que não é explicado apenas pelos factores ambientais, como o nível sócio-económico, escolaridade, dieta ou nível de actividade. Os maridos cuidadores têm um risco doze vezes superior de

demência, sendo esse risco de quatro vezes para as mulheres cuidadoras (Norton, et al., 2010). O défice nas funções cognitivas do cuidador, nomeadamente na memória verbal, foi relacionado com maiores problemas de comportamento no cuidado (de Vugt, et al., 2006).

Estudos mais antigos de cuidadores familiares fixavam-se essencialmente nos cônjuges cuidadores (Hooker, Frazier, & Monahan, 1994) (Russo, Vitaliano, Brewer, Katon, & Becker, 1995) (Vitaliano, Russo, & Young, 1991), no entanto, com o envelhecimento da população, é expectável que os filhos adultos sejam cada vez mais um recurso imprescindível dos pais idosos com algum nível de incapacidade. Isso mesmo se verifica numa amostra recolhida no Brasil, na região de S. Paulo (Garrido & Menezes, 2004), no ambulatório de um serviço de psicogeriatria, em que, em 49

cuidadores, a maioria são mulheres, sendo maior o número de filhos do que de cônjuges.

Os cuidadores filhos, provavelmente por se encontrarem numa fase mais activa da sua vida, têm mais conflitos entre o cuidar e a sua vida profissional do que os cuidadores cônjuges (Pinquart & Sörensen, 2006).