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Discussão dos Resultados

10. AMOSTRA E RESULTADOS

10.3. Discussão dos Resultados

As nossas quatro hipóteses iniciais (H1, H2, H3, H4) referem-se a determinantes da carga do cuidador, reproduzindo hipóteses já testadas anteriormente abordadas na literatura, que são aqui repetidas para confirmação e avaliação das características da nossa amostra.

Nas hipóteses 5 a 9 (H5 a H9), são colocadas questões originais, que procuram explorar a relação entre variáveis do cuidador e do cuidado e o tipo de necessidades percebidas e de ajuda pretendida pelo cuidador.

Na hipótese H1 admitimos haver uma correlação entre o estádio da demência e a sobrecarga do cuidador, tendo o estádio da demência sido avaliado com o Mini Mental State Examination (MMS-E) e com o Global Deterioration Scale (GDS).

Na nossa amostra confirmamos a existência de correlação negativa forte entre o MMS-E e o GDS (r = -0.73, p <0.001). Na relação com a sobrecarga, o MMS-E não apresenta relação, mas o GDS apresenta uma relação positiva fraca (r = 0.38, p < 0.01), o que está de acordo com a hipótese H1, de uma relação fraca do estádio da demência com a sobrecarga do cuidador.

Na hipótese 2 testamos a relação das alterações psicológicas e comportamentais com a sobrecarga. Encontramos com efeito uma correlação positiva, embora moderada (r= 0.40, p = 0.001), o que está de acordo com a hipótese H2. Não podemos desta análise concluir que as alterações psicológicas e comportamentais têm maior peso na sobrecarga do que o estádio da demência. A análise por regressão mostra-nos que são a

apatia-indiferença, e o comportamento motor aberrante, os sintomas com mais peso na sobrecarga. Vemos nestes resultados um duplo padrão. Por um lado surge-nos a apatia, o alheamento, o retirar-se da habitual participação nas tarefas da vida diária. Por outro lado o comportamento motor aberrante, que nos remete para a questão da dependência e da necessidade de supervisão, de causar sobressalto no cuidador, e de captar a sua atenção e disponibilidade, o que nos leva à disponibilidade e cansaço do cuidador.

Na hipótese H3, em que propomos que a autonomia não tem efeito na carga do cuidador, encontramos uma correlação negativa, apenas entre as actividades

instrumentais e a carga do cuidador, contrariando parcialmente a nossa hipótese. Notamos contudo que a perda de autonomia nas actividades instrumentais ocorre logo nas fases iniciais da demência, num período em que ainda se mantêm preservadas as actividades básicas de vida diária, e que, de acordo com a nossa amostra, são estas que contribuem de forma significativa para a sobrecarga do cuidador. A posterior perda de autonomia nas actividades básicas de vida diária, criando uma situação de dependência mais acentuada, não traz um acréscimo de sobrecarga para o cuidador.

Na hipótese H4, em que se compara o efeito das alterações psicológicas e comportamentais e da autonomia na carga do cuidador, encontra-se, na análise por regressão, maior efeito da autonomia, especificamente das acitividades instrumentais, do que das alterações psicológicas e comportamentais na carga do cuidador,

contrariando a nossa hipótese. A regressão mostra-nos também que quando colocadas em conjunto, apatia e actividades instrumentais, estas perdem o seu valor preditivo da carga do cuidador. O que significa que o impacto da apatia na sobrecarga é mediado pelas actividades instrumentais, isto é, o efeito da apatia nas actividades instrumentais é que determina a sobrecarga.

Na hipótese H5, onde começamos a explorar a relação das variáveis do cuidador, do cuidado e da doença, com a percepção de necessidades, e como se poderá isso traduzir em ajudas concretas disponibilizadas pelos serviços, a nossa hipótese de

maiores necessidades em função de maior carga do cuidador, é contrariada em cada uma das cinco categorias de necessidades que consideramos, com excepção de apoio

psicológico. Entre os cuidadores sem sobrecarga, e os que têm sobrecarga, observamos que estes referem maior necessidade de apoio psicológico.

A hipótese H6, testa a existência de uma relação entre o estádio da demência e maior necessidade material e de recursos humanos. Entre o MMS-E e as necessidades indicadas encontra-se apenas relação com a necessidade de maior apoio domiciliário geral, contrariando a nossa hipótese em todas as outras necessidades. Já anteriormente tínhamos notado ser o MMS-E uma medida indirecta do estádio da demência, e sem relação com a sobrecarga do cuidador. O GDS por seu lado apresenta relação com maiores necessidades materiais e, no que se refere aos recursos humanos, apenas com maior necessidade de apoio domiciliário geral, contrariando a nossa hipótese no que se refere às outras necessidades de recursos humanos, nomeadamente de enfermagem no domicílio, e de acessibilidade a consultas médicas. Já anteriormente tínhamos notado que os cuidadores da nossa amostra consideram no geral satisfeitas as suas necessidades de acessibilidade a consultas médicas e de cuidados de enfermagem no domicílio, pelo que esta ausência de relação, poderá também significar que, mesmo em situação de maior necessidade se mantém a sua satisfação.

A hipótese H7 refere-se à relação entre o estádio da demência e a maior

necessidade específica de informação sobre a demência e de saber fazer nos problemas resultantes da demência. Os dados da nossa amostra contrariam esta hipótese.

A hipótese H8 questiona a relação entre autonomia e as necessidades específicas de recursos materiais, humanos, e saber fazer na demência. Todas as medidas de

autonomia que utilizámos apresentam relações semelhantes face às variáveis envolvidas nesta hipótese. Encontra-se uma relação com as necessidades materiais, quer

financeiras, quer de adequação da residência. Ao nível de recursos humanos funcionais apenas se encontra relação com a necessidade de apoio domiciliário, e com as

necessidades de saber fazer não se encontra relação.

A hipótese H9 considera as relações entre as alterações psicológicas e

comportamentais e as necessidades específicas de saber fazer na demência e de apoio psicológico. A única relação que se encontra é entre a apatia-indiferença e a necessidade de experiência a lidar com alterações de comportamento.