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5. DISCUSSÃO DOS DADOS ANALISADOS

5.2 Implicações da análise das composições sintagmáticas para o ensino

5.2.5 Características e mudanças das composições sintagmáticas em contexto

Em nossa análise foi verificado se algumas composições sintagmáticas sofreram, de alguma forma, mudanças no discurso publicitário, mesmo levando em consideração que a fixidez e a estabilidade formal são características marcantes dessas unidades lexicais. Como estamos falando de unidades lexicais que já passaram pelo processo de lexicalização, a estabilidade formal deveria prevalecer.

No entanto, constatamos que as composições sintagmáticas sofreram vários tipos de mudanças quando utilizadas no contexto publicitário. Todavia, essas mudanças não

descaracterizam as composições sintagmáticas como unidades lexicalizadas, mas revelam o caráter dinâmico da língua e sua capacidade de adaptação em contextos. E essas adaptações assumidas pelas composições sintagmáticas em nossa análise podem ser aproveitadas no ensino de língua portuguesa a favor do desenvolvimento da competência lexical.

Sobre as atividades de exploração de significados das palavras, Antunes (2012) chama atenção para o fato de que apenas os sinônimos e antônimos são explorados, enquanto outras relações semânticas são esquecidas. Todavia, o grande problema não está no fato de a escola privilegiar os sinônimos e os antônimos como atividades de exploração do significado, mas está na forma como esse tipo de atividade é explorada, sempre pela operação de substituição de uma palavra pela outra em uma frase. Sobre esse assunto, concordamos com Antunes (2012, p. 24) quando ela diz que esse tipo de exercício

esconde o que acontece em nossa experiência verbal, onde, funcionalmente, as substituições de uma palavra por seu sinônimo ou a ocorrência de seu antônimo acontecem não pelo corte da primeira e o uso na segunda, mas pela presença simultânea das duas na superfície do texto (ANTUNES, 2012, p.24)

Desta forma, entendemos que explorar o significados das palavras a partir dos sinônimos pode se tornar uma atividade poderosa em sala de aula, pois, além de ampliar a visão do aluno sobre os significados das palavras, o aluno também pode utilizar esse conhecimento consolidado sobre os sinônimos como mecanismos de coerência e coesão em um texto, por exemplo.

Nesse sentido concordamos com Antunes (2012, p. 35) quanto ela diz que “a ocorrência de palavras sinônimas é textualmente significativa; sobretudo pela continuidade semântica que promove no curso do texto (…).” Sobre o desenvolvimento da competência lexical, Richard (1976) sublinha que conhecer o valor semântico das palavras favorece a ampliação lexical de um falante/aluno.

Em nosso corpus, encontramos diversas composições sinônimas, porém daremos ênfase as composições sinônimas que foram criadas a partir de vocábulos de valores semânticos opostos, por considerarmos esse fato um recurso interessante a ser explorado no ensino. As composições “sensor de proximidade” com “sensor de distância” e “entrada HDMI” com

“saída HDMI” são exemplos de sinônimos, mas que foram compostas pelos vocábulos com significados opostos, ‘distância’, proximidade’ e ’saída’,’entrada’. Logo, esses exemplos podem ser explorados para mostrar ao aluno que, na relação de significados das palavras, nem sempre as palavras que possuem valores semânticos opostos são antônimas, ou as palavras que possuem valores semânticos similares são sinônimas.

Sobre esse assunto, Antunes (2012) argumenta que, sobre a sinonímia, é interessante observar a instabilidade do léxico, que faz com que os sentidos das palavras sofram ‘deslizes’ e vão ‘escorregando’ para ganhar novas significações. Para a pesquisadora, os antônimos também sofrem dessa instabilidade lexical e, nessa perspectiva, seus valores semânticos podem ser alterados, assim como evidenciado pelos exemplos apresentados anteriormente.

Além das composições sintagmáticas sinônimas, outro ponto a ser explorado em sala de aula, pela riqueza de informação, recai sobre o processo de redução das composições sintagmáticas, que consiste em um fenômeno de perda de um vocábulo. Encontramos em nosso corpus diversos exemplos em que a composição sintagmática sofre a perda de um vocábulo, passando assim, por um processo de redução. Por exemplo, as composições “sensor automático de chuvas” e “sensor de auxílio para estacionamento” sofrem uma redução e passam a assumir as formas “sensor de chuva” e “sensor de estacionamento”. Nos exemplos citados, não há alteração no significado das composições após a perda de elementos, porém encontramos exemplos em que o processo de redução também causa alteração no significado. A composição “ar condicionado automático digital”, ao sofrer um processo de redução e assumir a forma “ar condicionado digital”, tem também seu significado alterado.

Sobre o processo de redução das composições, Ferraz (2010)afirma que a modificação na sequência linear dessas estruturas merece a devida atenção, pois reflete a manifestação de dois fatores que se confrontam, o caráter analítico das composições e as exigências de economia verbal. Ferraz (2010, p. 46) ainda acrescenta que

o estudo do caráter polilexical dos sintagmas em vias de lexicalização permite observar aspectos relevantes no que concerne a redutibilidade formal desse tipo de unidades lexicais. É que o fenômeno de redução, em que muitas vezes a forma modificada co-ocorre com a base matricial, nos induz a refletir a necessidade de reconsideração de sintagma terminológico.

O referido pesquisador acrescenta ainda que o fenômeno da redução traz à tona a necessidade de revisão de aspectos característicos considerados como padrão para reconhecer as composições sintagmáticas, como a fixidez e a relação íntima entre a designação conceptual e a totalidade formal dos sintagmas. Logo, explorar o processo de redução das composições em sala de aula é também uma forma de conscientizar e estimular o aluno a fazer uma reavaliação de características e da capacidade de mudanças e adaptações das unidades lexicais quando em contextos, para que, assim, o aspecto dinâmico da língua seja revelado para o aluno.

Outro ponto que pode ser explorado no ensino de língua portuguesa é a neologia lexical por empréstimos. Trata-se de um mecanismo comum da maioria das línguas vivas, pois quando um sistema linguístico não dispõe de uma determinada unidade lexical para nomear, por exemplo, uma nova tecnologia, ele a importa de outros sistemas linguísticos. Muitas vezes, a palavra importada aparece com a mesma forma do sistema de origem, mas também pode acontecer o decalque, ou seja, a tradução direta.

Em nosso corpus há várias composições sintagmáticas que se configuram como decalque, mostrando que esse tipo de empréstimo linguístico é bem comum. Contudo, uma ocorrência de decalque encontrado em nossa análise mostra que pode existir uma instabilidade lexical quanto à forma da tradução direta, uma vez que há uma inversão na sequência linear da composição. Verificamos que coexistem no corpus da publicidade, especificamente na área de especialidade da automobilística, as composições “controle eletrônico de estabilidade” e “controle de estabilidade eletrônico” como decalque da composição, oriunda do inglês, “Electronic stability control”.

Como a neologia por empréstimos faz parte da história da formação da língua portuguesa, entendemos a importância de se explorar o produto desse mecanismo, mas também acreditamos que, ao aprofundar na investigação de como se dá a neologia por empréstimo em sala de aula, exemplificando, por exemplo, a possibilidade de inversão linear da composição, o aluno poderá ter a dimensão real sobre o constante processo de renovação da língua.

5.3 A estrutura lexical das composições sintagmáticas da publicidade

A análise quantitativa da estrutura lexical das composições dentro do contexto publicitário revelou informações importantes sobre o priming lexical que podem ser exploradas no ensino de português a favor não apenas da ampliação lexical qualitativa dos alunos, mas também do conhecimento mais aprofundado da língua através do estudo explícito das unidades lexicais em contexto.

Após a análise dos dados, verificamos que dentre as composições sintagmáticas denominadas padrão, que possuem até três elementos, a estrutura “nome + adjetivo” foi a mais produtiva. Já as composições longas, que possuem mais de três componentes, a produtividade quanto à estrutura lexical girou em torno da estrutura “nome + preposição + nome + adjetivo”. Dentre as composições formadas por siglas, vernáculas ou estrangeiras, encontramos um número maior com a estrutura lexical “nome + sigla”. Por fim, as composições com a presença de um elemento estrangeiro a estrutura “nome + NOME”, sendo que a classe gramatical em caixa alta representa o elemento estrangeiro, foi a mais produtiva.

Essas informações, além de enriquecer os estudos teóricos e práticos sobre as composições sintagmáticas, levando em consideração a estrutura lexical, que visam o o conhecimento desse tipo de unidade lexical, podem ser exploradas em sala de aula para proporcionar aos alunos um diagnóstico real do tipo de estrutura lexical que está sendo produtiva na língua.

A análise quantitativa das composições sintagmáticas, no que concerne sua estrutura lexical, também evidenciou dados sobre o priming coligacional de algumas estruturas que podem ser aproveitadas no ensino de Português.

Ficou evidente, por exemplo, que nas composições compostas por preposição, a preposição “de” foi a mais utilizada e as composições sintagmáticas em que a sigla era um dos componentes, esta tinha uma preferência por ocorrer como último elemento da composição. Ainda sobre o priming coligacional, verificamos que nas composições compostas pelo adjetivo como elemento estrangeiro, este ocorre sempre em posição final, o que demonstra uma facilidade em se adaptar as regras do português, já que em inglês o adjetivo, na maioria das vezes, ocorre em posição inicial de uma composição. Logo, essas informações

podem contribuir para os estudos de léxico em sala de aula, pois concordamos com Bezerra (1998), quando ele afirma que um dos requisitos para o desenvolvimento da competência lexical é o reconhecimento da estrutura dos itens lexicais, bem como suas relações morfossintáticas.