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2.3 Cooperativismo e organizações cooperativas

2.3.1 Características especiais das cooperativas

As características das cooperativas que as diferenciam de outras organizações são abordadas pelos principais autores que estudam a temática e sob diversos pontos de vista. A principal abordagem diz respeito ao duplo papel exercido pelas cooperativas, sendo um de caráter econômico e o outro de caráter social, como afirma Duarte et al. (2006, p. 15):

[...] de uma maneira geral, o cooperativismo apresenta-se com duas características básicas e, de certa maneira, contraditórias. A primeira engloba o desempenho econômico e relaciona-se aos aspectos organizacionais e empresariais das unidades cooperativas. A segunda diz respeito à função de legitimação e a formas específicas, por meio das quais busca salvaguardar uma unidade de interesses e representações de seus associados.

Neste sentido, Pivoto (2015, p. 42) sustenta que

[...] uma cooperativa tem, de um lado, o grupo cooperativo (a associação), e, de outro, a atividade cooperativa (a empresa), que objetiva servir às economias individuais associadas (cooperado). Essa natureza dúplice constitui uma das características essenciais desse tipo societário.

Outra característica relevante, apresentada por diversos autores, diz respeito ao papel desempenhado pelo cooperado, como expressa Usda (1993), que considera “[...] a questão central associada à diferença entre as cooperativas e outros tipos de organizações é que os proprietários das cooperativas são ao mesmo tempo usuários, fornecedores e clientes”. Lauermann (2016, p. 61) salienta que “... esta diferença influencia diretamente a cultura cooperativista “e, na visão de Ferreira (2002), esta diferença deve-se, entre outros fatores, à complexa relação existente entre o associado e a cooperativa.”

Uma terceira especificidade relaciona-se com o caráter jurídico da cooperativa, pois é uma sociedade de pessoas e segundo Fleury (1983, p. 21-22) possui as seguintes características:

[...] os usuários da cooperativa são os seus proprietários e são aqueles que detêm o capital; isto implica que a concentração do poder decisório está em mãos de associados, sendo que cada cooperado representa um voto, e, a distribuição do lucro da cooperativa (sobras líquidas) é feita proporcionalmente à participação dos cooperados nas operações desta.

Tendo em vista este critério de distribuição das sobras, na ótica de Maciel e Lopes (2012, p. 175)

[...] premia-se o trabalho, já que o fator preponderante é a produção coletiva. Este modelo de administração pode levar a uma abordagem de otimização do nível de participação, de comprometimento e de benefícios recebidos por parte dos associados.

O Código Civil Brasileiro, no capítulo VII, art. 1094, da Lei nº 10.406/2002, apresenta as seguintes características da sociedade cooperativa:

I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo;

III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;

IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança;

V - quórum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado;

VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação;

VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;

VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.

Tendo uma visão mais ampla da temática, Andrighi (2003, p. 4) observa que

[...] a sociedade cooperativa não constitui mera categoria econômica, voltada tão-somente à obtenção do lucro, mas, ao substituir a economia lucrativa pela economia de serviço e portanto de custos, ela se instrumentaliza na execução desse novo objetivo de conferir um sentido humano à economia.

De acordo com Araújo et al. (2007, p. 31),

[...] pelo fato das cooperativas estarem fundamentadas na solidariedade e na igualdade de oportunidades, a democracia deveria ser um dos maiores valores desse modelo organizacional, pois o foco está no homem e não no capital e o poder de decisão não está vinculado ao número de ações.

Com relação à propriedade, coletiva Siqueira e Bialoskorski (2014, p. 45) consideram que

[...] em contextos de propriedade coletiva existem diferentes interesses particulares, a tomada de decisão pode se tornar complexa e muitas vezes divergente da função objetivo da empresa. Assim, a propriedade dispersa implica a delegação do direito de controle e monitoramento dos diversos proprietários, o que influencia os padrões de propriedade e a maneira como tais firmas são organizadas internamente.

Adicionalmente, conforme destacado por Siqueira e Bialoskorski (2014, p. 46),

[...] a forma de controle da cooperativa também pode ser diferente, uma vez que esta é controlada por membros eleitos em assembleia geral (um homem, um voto), ou seja, alguns proprietários são designados pelos demais para compor o conselho de administração.

Especificamente para as cooperativas, a lei 5.764/71 (BRASIL, 1971) determina alguns padrões dos mecanismos de governança. A Assembleia Geral é definida legalmente como o mecanismo de governança que tem “[...] poderes para decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade [...]” (BRASIL, 1971 – Capítulo IX, Seção I, art. 38). A mesma lei, no artigo 47, prevê que faça parte da estrutura de governança das

cooperativas uma diretoria ou conselho de administração. Estes órgãos serão formados por associados, que serão responsáveis pela administração da organização, ou seja, serão responsáveis por tomar decisões em nome dos demais associados, além de decidir se delegam ou não parte do poder de decisão a gestores. No que se refere à fiscalização e monitoramento da cooperativa, o artigo 56 da referida lei observa que a organização será fiscalizada por um conselho fiscal, composto de seis associados, três dos quais conselheiros efetivos e três suplentes, eleitos em assembleia geral.

Conforme destacam Siqueira e Bialoskorski (2014, p. 50)

[...] nas organizações cooperativas cabe ao conselho de administração o direito de controle formal da decisão ou de delegar a gestão da decisão a executivos, pois são organizações de propriedade coletiva e que apresentam separação entre propriedade e gestão. Tais características influenciam o processo decisório e a relação entre os órgãos de governança.

A igualdade de direitos e deveres dos cooperados é outro aspecto que diferencia as cooperativas das outras organizações, como salienta a Lei 5.764/71 quando determina que “[...] cada associado deve ter igualdade de direitos e deveres, qualquer que seja o número de suas quotas-parte”.

Como consequência desse cenário, Quelhas (2013, p. 7) discorre sobre a relação agente-principal em uma empresa cooperativa, ressaltando que nas

[...] empresas de capital aberto o risco de uma aquisição ou mudança no corpo gerencial funciona como forte incentivo para o alinhamento das ações do gerente com os desejos do proprietário do capital. O autor destaca que, no caso das cooperativas, as mudanças de controle são incomuns. O monitoramento do agente pelo principal é muito tênue, devido aos direitos de propriedades sobre os resíduos tenderem a serem dispersos, pois todos os cooperados são sócios.

Com relação ao controle nas empresas privadas, Trindade et al. (2012, p. 04), ressaltam que

[...] é exercido pelo grupo detentor da maioria dos votos do conselho. O que não acontece nas cooperativas. Uma vez definido o grupo majoritário nas empresas, os custos de transação declinam rapidamente, uma vez que esse grupo terá o direito de escolher os agentes aos quais delegará o controle. Por outro lado, Trindade et al. (2012, p.97) sustenta que “[...] o processo gerencial das cooperativas tende a não separar a propriedade do controle, pois geralmente os dirigentes são associados de acordo com a legislação”.

Por outro lado, segundo Becht et al. (2005) torna-se inviável a tomada de decisões de maneira coletiva e parte do poder de decisão e controle sobre os ativos da organização

é delegado a gestores, dando origem a um contexto de separação de propriedade e controle.

Com relação à gestão das cooperativas Fridreich et al. (2015 p. 04) sustentam que

[...] a mesma possui algumas particularidades, uma vez que elas aglutinam recursos e os administram de forma a obter melhorias sociais e econômicas para os cooperados, ao mesmo tempo em que objetivam a competitividade.

Neste sentido, Oliveira (2006) afirma que “[...] administrar a cooperativa é algo mais delicado do que administrar empresas apenas mercantis, a fim de que sua identidade não se desfigure, como organização de pessoas que é”.

O fato das cooperativas lidarem com as várias dimensões gera complexidade na sua gestão, conforme afirma Lauermann et al. (2016, p. 61) afirmam que

[...] o fato da cooperativa apresentar duas dimensões combinadas entre as características associativista e empresarial gera um ambiente complexo para os administradores. Assim, o desafio é encontrar o equilíbrio entre as duas dimensões, pois a cooperativa, além de ser uma associação de pessoas, também é ao mesmo tempo uma organização econômica.

Antonialli (2000) salienta, igualmente, que

[...] um dos grandes desafios das cooperativas é conseguir equilibrar os interesses econômico, social e político dos seus membros. O interesse econômico está relacionado ao crescimento da cooperativa e dos empreendimentos dos cooperados. O interesse social se refere aos serviços, benefícios e desenvolvimento da comunidade afetada pelas operações da cooperativa. O interesse político normalmente leva a disputas internas pelo poder e pela representatividade da cooperativa perante a comunidade. A incapacidade da cooperativa em equilibrar esses interesses pode levar à falta de competitividade e a situações gerenciais complexas.

Moreira (2018) entende que o desafio dos gestores das cooperativas é aumentado em função das características econômicas e políticas inerentes às organizações de união de pessoas com interesses comuns e, muitas vezes, ao mesmo tempo conflitantes. Os desempenhos financeiro e social das cooperativas são objetivos importantes para a sustentabilidade dessas organizações e não podem ser abordados de forma exclusiva, distinta. Mas, embora a questão social exerça um papel importante na concepção da organização cooperativa, conforme pregam os princípios do cooperativismo, o desempenho nessa dimensão é viabilizado sobretudo pela eficiência e desempenho econômico-financeiro. Ou seja, o desempenho econômico-financeiro e de mercado são condições necessárias para o bom desempenho social das cooperativas.

O duplo papel exercido pelos membros da cooperativa, que são simultaneamente proprietários e principais usuários da mesma, a dispersão dos seus direitos de propriedade, favorecendo a heterogeneidade de interesses entre seus titulares, e a forma como estes direitos de propriedade estão alocados nestas organizações exigem dos gestores das empresas cooperativas habilidades específicas (FRIDREICH et al., 2015, p. 28), pois, [...] “cada cooperativa possui um determinado perfil de associados que geram interesses diferentes”.

Neste sentido Cançado et al. (2008, p. 01) entendem que

[...] a gestão de organizações cooperativas apresenta muitas diferenças em relação às demais sociedades mercantis, onde a tônica é o lucro. Mesmo com estas diferenças, alguns gestores ainda insistem em utilizar as ferramentas, conceitos e técnicas desenvolvidos para a gestão de empresas capitalistas na gestão de cooperativas, desconsiderando as diferenças entre estes dois tipos de organização. O mais recente exemplo desta “transposição” de práticas de gestão é a questão da Responsabilidade Social.

Os mesmos autores (2008, p. 14) prosseguem:

[...] há uma diferença fundamental entre o que se denomina Preocupação com a Comunidade, nas organizações cooperativas, e Responsabilidade Social nas empresas: o fato motivador da ação. De acordo com Ficher (2006) e Srour (2001), as empresas são motivadas fundamentalmente pela busca da maximização da riqueza que, no caso, envolve a criação, desenvolvimento e apoio de ações que beneficiam a sociedade de alguma forma. O intuito é aumentar o seu capital reputacional, ou valor de mercado, para se manterem aceitas (legítimas) para seus clientes. Isso porque a beneficência resulta numa imagem positiva, na fidelidade dos empregados e reforça os laços com clientes (FERRELL; FERRELL, 2001). Nas cooperativas, a Preocupação com a Comunidade, além de ser um princípio que fundamenta a existência dessas organizações, a “mola propulsora” das ações desenvolvidas na comunidade é atender a um dos objetivos da organização: a satisfação dos interesses e o bem- estar dos cooperados.

As ações de responsabilidade social das empresas podem acontecer em qualquer país, contudo, no caso do cooperativismo o público e o local das ações variam muito menos (ou não variam) e os resultados são sentidos de maneira mais direta pela cooperativa. No caso da aplicação do princípio, a cooperativa atua na sua área de admissão de cooperados (ou âmbito de atuação), que é o espaço geográfico ocupado pelos cooperados. A cooperativa tem uma territorialidade razoavelmente nítida e um contato maior com a comunidade, pois os cooperados fazem parte desta comunidade.

Neste sentido Ensselig et al. (2014, p. 597) salientam que “[...] as Cooperativas de Produção Agropecuária têm se consolidado no cenário econômico e social por sua característica específica de unir o desenvolvimento econômico ao bem-estar social do seu grupo de associados”.

A importância da fidelidade dos associados nas cooperativas, citada acima, é melhor explicitada por Ferreira (2016, p. 237-238) quando afirma que

[...] a fidelidade dos associados para com a cooperativa é entendida como sendo a principal característica da cooperação. Portanto, verifica-se que a fidelidade dos associados com a cooperativa torna-se relevante para que essas organizações possam se manter competitivas no mercado e seguir oferecendo benefícios ao seu quadro social. Assim, considera-se que a falta de fidelidade é um dos elementos centrais que alimentam um círculo vicioso que pode levar à extinção da organização cooperativa

Em se tratando especificamente de cooperativas de crédito o Banco Central do Brasil (2008, p.12) destaca que

[...] as cooperativas têm também questões específicas associadas com sua governança, que devem ser adequadamente tratadas. A definição de boas práticas de governança em cooperativas de crédito deve envolver mecanismos que venham a fortalecer suas estruturas e processos, de forma sistemicamente articulada, para ampliar as condições gerais de segurança, de eficiência e a redução dos riscos.

Ao ocorrer a delegação das decisões pelo conjunto dos cooperados a um grupo eleito de dirigentes, mantém-se, segundo natureza diversa, problemas clássicos de governança.

No cooperativismo, de acordo com Valadares (2001, p. 17), não existe clareza sobre a remuneração do capital social envolvido no investimento,

[...] pois as cooperativas apresentam uma estrutura determinada por suas origens doutrinárias, não sendo permitida a busca de capital de membros externos à organização. Com isso, sua capitalização depende das cotas-partes integralizadas pelos cooperados e dos fundos de reserva que obtêm dos negócios positivos ou de empréstimos em redes bancárias estatais ou privadas.

O negócio cooperativo conta com um conjunto de orientações que estabelecem a forma de relacionamento entre a cooperativa e os cooperados. Essas orientações são denominadas “Princípios Cooperativistas” que as tornam diferentes de outros empreendimentos econômicos. Tais diferenças são encontradas na finalidade da cooperativa, na forma de propriedade e de controle e na forma como são distribuídas as sobras operacionais geradas.

Na visão de Pivoto (2015, p. 43)

[...] um desses princípios, o controle democrático pelos cooperados, confere características específicas para as organizações cooperativas, pelo fato de os direitos de controle não serem proporcionais no capital integralizado na cooperativa. O direito de controle do cooperado não varia de acordo com a sua cota de capital; é, sim, correspondente a um voto por cooperado, independentemente do volume de capital que ele tem na organização.

A Lei 5.764, de 1971, que regulamenta o funcionamento do cooperativismo no Brasil, distingue as cooperativas das demais sociedades pelas seguintes características: adesão voluntária; variabilidade do capital social representado por cotas-partes; inacessibilidade de cotas-partes do capital a terceiros; singularidade de voto; quórum para

funcionamento e deliberação da assembleia geral baseado no número de associados, e não no capital; retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado; indivisibilidade dos fundos de reserva; assistência técnica, educacional e social; e neutralidade política (BRASIL 1971). Os sete princípios do cooperativismo fazem com que essas organizações tenham objetivos mais amplos do que a simples maximização do lucro.

De forma resumida, o quadro nº 1 apresenta a comparação de aspectos relevantes entre a sociedade cooperativa e a sociedade empresária definidos por Martins et al. (2014):

Quadro 1 – Aspectos da sociedade cooperativa e empresária

SOCIEDADE COOPERATIVA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

Os donos da cooperativa são os cooperados que residem e produzem na área da cooperativa, conforme estabelecido no Estatuto Social.

Os donos da sociedade são agentes de comércio, indústria ou serviços, podendo ser residentes locais, nacionais ou internacionais.

O princípio básico é a cooperação entre os cooperados.

O princípio básico é o comércio de bens de produção, insumos, compra e venda de produtos, industrialização, intermediação financeira ou prestação de serviços.

O objetivo principal é a prestação de serviços para o cooperado, visando ao seu desenvolvimento.

O objetivo principal é a geração de lucro para os sócios detentores do capital.

O controle é democrático: cada cooperado tem direito a apenas um voto.

O montante de capital investido pelo sócio determina o poder de mando na sociedade. Nas assembleias das cooperativas, o quórum é

baseado no número de cooperados.

As assembleias são formalidades, cujo quórum é baseado no capital votante.

Não é permitida a transferência das quotas-partes a terceiros, estranhos à sociedade.

Pode ser permitida a transferência de ações a terceiros.

O pagamento de juros é reduzido e fixado em estatuto, conforme legislação cooperativista.

O pagamento de juros e dividendos é proporcional ao montante de capital investido pelo sócio na empresa.

As sobras são distribuídas proporcionalmente às operações de cada cooperado.

O lucro é proporcional ao montante de capital investido pelo sócio na empresa.

O resultado permanece na comunidade onde foi gerado, visto os cooperados estarem numa área de ação limitada às condições de reunião, administração, controle, operações e prestação de serviços.

Não há limitação quanto à origem dos sócios, o capital investido pode inclusive ser externo, e os dividendos gerados pelo capital são aplicados pelos sócios onde lhes aprouver.

Fonte: Martins et al. (2014).

O quadro evidencia características diferenciadoras entre sociedades cooperativas e as sociedades empresárias.

As características peculiares das sociedades cooperativas refletem de forma intensa no processo de institucionalização das boas práticas de governança nas mesmas, como se pode verificar pelas considerações de vários especialistas elencadas a seguir.

Bialoskorski (2002) apresenta, no Ensaio Analítico estratégias e cooperativas agropecuárias, quatro características limitadoras das cooperativas brasileiras no contexto da governança. São elas:

- Inexiste a separação de propriedade e controle, o que pode levar a maiores dificuldades de gestão na medida em que aumenta a complexidade dos negócios;

- Dupla natureza do cooperado, ora como “proprietário” e ora como cliente da cooperativa, o que pode gerar conflitos internos;

- O associado não possui a percepção de remuneração do capital de suas cotas- partes, o que pode favorecer a maximização imediata de suas atividades, via incentivos de preços;

- A fidelização dos associados, que deve ser considerada como “contrato” de relações entre a cooperativa e associado, pois quanto maior a fidelização, maior será a eficiência econômica do empreendimento.

Fridreich et al. (2015 p. 31), visando melhor entendimento do direito de propriedade nas cooperativas, observam que

[...]este direito se concretiza no momento em que o novo associado estabelece contrato e adquire cotas de capital na sociedade, que lhe asseguram prerrogativas de proprietário e usuário. Dessa forma, os cooperados adquirem direitos difusos, uma vez que não existe uma clara separação dos mesmos no contrato.

Neste sentido, Pivoto (2015, p. 210-211) esclarece que

[...] como não existe a separação desses direitos de propriedade no contrato (tanto de controle como de resíduo), os cooperados adquirem direitos difusos. Somam-se a isso os fundos indivisíveis e o capital social não remunerado, de acordo com o mercado financeiro (ou com taxas de juro limitadas). Dessa forma, existe uma constante depreciação da parte privada do empreendimento e migração desta para a apreciação da parte coletiva e comum do capital. O mesmo autor (2015, p. 50) observa que isto acontece porque “[...] a organização cooperativa apresenta uma lógica de não definição dos direitos de propriedade individuais, gerando alguns problemas de governança”.

Fridreich et al. (2015 p. 28) sugerem que, “[...] alicerçadas em princípios, as cooperativas são criadas para servir os interesses dos membros, portanto, a responsabilidade é um meio e não um fim”.

[...]o instituto legal e doutrinário que rege as cooperativas agropecuárias brasileiras estabelece que o direito ao controle do proprietário é desvinculado das suas cotas de capital e do montante das transações econômicas que realiza com a organização. Essa particularidade da governança dessas organizações, aliada à propriedade difusa, presença de contratos incompletos e assimetria de informação, gera problemas de controle em cooperativas, tais como expropriação de grupos de sócios ou consumo de bens não pecuniários.

Já Fridreich et al. (2015 p. 30) entendem que

[...] a mensuração de governança em cooperativas surge em virtude das peculiaridades que essa forma jurídica possui, resultantes da necessidade de eficiência econômica e social, buscando a melhoria das relações entre a cooperativa e os associados.

As características das organizações cooperativas apresentadas refletem a necessidade de parâmetros específicos de governança corporativa para melhorar a eficiência econômica e para incentivar a profissionalização do órgão executivo de gestão, dentre outras, a fim de sobreviverem e crescerem no mercado. Além disso, a difusão das boas práticas de governança pode melhorar todo o ambiente de negócio, uma vez que