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2.4 Governança

2.4.3 Governança Territorial

Não existem uma justificativa e um conceito comum entre os autores sobre o uso e a definição de governança territorial, pois conforme afirma Dallabrida (2016, p. 35) “... a maior parte da bibliografia sobre o tema fez referência à governança no seu sentido geral”.

Tendo em vista as diferentes abordagens que tratam da governança, Dallabrida (2016, p. 37), entende que, de forma resumida,

[...] a governança territorial corresponde a um processo de planejamento e gestão de dinâmicas territoriais que dá prioridades a uma ótica inovadora, partilhada e colaborativa, por meio de relações horizontais. No entanto, esse processo inclui lutas de poder, discussões, negociações e, por fim, deliberações, entre agentes estatais, representantes dos setores sociais e empresariais, de centros universitários ou de investigação. Processos desta natureza fundamentam-se num papel insubstituível do Estado, numa noção qualificada de democracia, e no protagonismo da sociedade civil, objetivando harmonizar uma visão sobre o futuro e um determinado padrão de desenvolvimento territorial.

Outro enfoque proposto pelo mesmo autor (2011, p. 6) considera que governança territorial poderia ser entendida

[...] como o exercício do poder e autoridade para gerenciar um país, território ou região, compreendendo os mecanismos, processos e instituições através das quais os cidadãos e grupos articulam seus interesses, incluindo como atores as representações dos agentes estatais.

Em função de que a governança territorial aborda uma categoria conceitual relativamente recente, ainda persistem diferentes questões de tensionamento sobre governança. São destacadas três questões na visão de Dallabrida (2016, p. 38): “[...] sobre os aspectos positivos e negativos da governança; diferenciais e intersecções entre governo e governança; sobre as possibilidades de avaliação de práticas de governança”.

Com relação à aplicação da governança territorial, segundo Dallabrida (2015, p. 308), a bibliografia destaca os seguintes desafios: “adequado equilíbrio entre esfera pública, mercado e sociedade civil” (ROMERO; FARINÓS, 2011), empoderar a sociedade e reinterpretar a sua função (ROMERO; FARINÓS, 2011), e assumir o desafio de integrar políticas de ordenamento do território e modos de governança (FERRÃO, 2010, 2013). Por outro lado, existe também o desafio de superar, ao nível conceptual, “o atual caráter de imprecisão, polissemia e ambiguidade da noção de governança territorial” (ROMERO; FARINÓS, 2011).

Na Figura 5, Dallabrida (2015, p. 308) apresenta, de forma esquemática, distintas situações-tipo a partir de três instâncias:

estatal, público-privado e empresarial. A cada uma destas instâncias estão associadas modalidades específicas de governança. A governança territorial relaciona-se com contextos institucionais e organizacionais caracterizados pelo envolvimento de entidades públicas e privadas, quer das ações de governo (instância estatal), quer da governança empresarial (instância empresarial). Por outro lado, os processos de governança territorial situam-se territorialmente,

mesmo que os seus atores estabeleçam conexões com outras escalas espaciais (DALLABRIDA, 2015, p. 308).

Figura 5 – Contextualização das práticas de governança territorial

Fonte: Dallabrida (2015, p. 309).

Finalmente, Dallabrida (2015, 309) destaca que

ações e relações de poder que ocorrem num determinado território provêm e incidem de/em instâncias de três tipos: estatal, público-privada e empresarial. É possível considerar que a instância estatal, por meio das ações de governo, concretiza o processo de governação, interferindo nas demais instâncias através de regulamentações ou políticas verticalizadas. Da instância empresarial, por meio de formas diversas de cooperação, provêm as estratégias empresariais, que visam fins predominantemente econômico-financeiros.

Cargnin (2014) entende que a discussão sobre o conceito de espaço e território não é nova entre os teóricos da geografia e, em grande medida, é fruto de diferentes visões sobre a precedência entre essas categorias. Entretanto, foi com a globalização e a valorização da escala local que o conceito de território passou a ser utilizado em sentido mais amplo do que a definição tradicional associada à área ocupada por um país.

Outro conceito sobre território é apresentado por Santos e Silveira (2003, p. 19- 20), quando consideram que

[...] por território entende-se geralmente a extensão apropriada e usada. Mas o sentido da palavra territorialidade como sinônimo de pertencer a aquilo que nos pertence [...] esse sentimento de exclusividade e limite ultrapassa a raça humana e prescinde a existência do Estado. Assim, essa idéia de territorialidade se estende aos próprios animais, como sinônimo de vivência e reprodução. Mas a territorialidade humana pressupõe também a preocupação com o destino, a construção do futuro, o que, entre os seres vivos é privilégio do homem. [...] O que interessa é então o território usado, sinônimo de espaço geográfico.

Castro (2005, p. 52-53) considera que

[...] a centralidade do território como arena política define dois níveis de questões: aquelas produzidas pelas tensões oriundas de conflitos de interesses

que se materializam na “inércia dinâmica” dos espaços territorializados pelas ações e usos da sociedade e aquelas oriundas das ações de diferentes atores institucionais em escalas diferenciadas que afetam o território.

É possível estabelecer relação entre governança territorial e governança cooperativa, pois conforme destaca Dallabrida (2016, p. 43):

[...] os processo de associativismo territorial que possam ser classificados como práticas de governança territorial ocorrem, com já referidos, em instâncias interpenetradas por interesses e visões de mundo diversas, do que decorrem os desafios. Para Brugué et al. (2001), a governança não é apenas um desafio para o Estado, senão que também para todos os atores públicos e privados, que participam no marco das redes, nos processos de governança.

Segundo Bialoskorski Neto (2001) enquanto as empresas mercantis buscam maximizar seu resultado econômico-financeiro, as cooperativas se voltam principalmente para a satisfação das necessidades (financeiras ou não) de seus cooperados e, como consequência, contribuir para dinamizar a economia e o desenvolvimento das suas comunidades.

Desta forma, Dallabrida (2011, p. 20) entende que existe uma estreita relação entre governança territorial e desenvolvimento e, por outro lado, a bibliografia sobre cooperativismo também apresenta a governança cooperativa com amarrada relação com o desenvolvimento regional, particularmente quando aborda a dimensão social das sociedades cooperativas.