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2.2 ASPECTOS DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

2.2.2 Características gerais da indústria e das empresas de software

De acordo com Melo e Branco (1997), as principais características dessa indústria seriam: a alta velocidade na introdução de inovações técnicas e no desenvolvimento de novos produtos ou no aperfeiçoamento dos existentes; a competição acirrada; o baixo investimento em capital fixo; e a capacidade criativa e intelectual da mão de obra, que é o seu grande ativo. Pode-se ainda observar que, ao mesmo tempo em que se apresenta como uma indústria tipicamente "jovem", o setor produtor de software não deixa de mostrar alguns sinais de amadurecimento, na medida em que sólidas posições competitivas vão sendo construídas por algumas empresas líderes, cuja atuação em nível internacional limita a expansão da maior parte dos concorrentes (apesar de não impedir a entrada) e fixa padrões estáveis de competição, como levantado por Pondé (1993).

A organização da indústria se caracteriza, então, pela presença de grandes corporações que dominam os principais segmentos de mercado, ao mesmo tempo em que se multiplicam espaços para a sobrevivência de um grande número de empresas marginais. Em suma, as

barreiras à entrada são baixas, permitindo a proliferação de pequenas e médias empresas, existindo, porém, significativas barreiras ao crescimento, de modo que as grandes empresas dominam os principais mercados (PONDÉ, 1993). Esse fato explica o grande número de pequenas empresas atuantes na indústria nacional de software.

Pode-se dizer ainda que a indústria de software é complexa, pois abrange tanto serviços, como produtos, exigindo maior complexidade na compreensão da dinâmica do setor. Por possuírem características distintas, os serviços demandam estratégias organizacionais diferentes das adotadas por empresas de produtos. É premissa dessa pesquisa que a diferença existente na gestão de produtos e serviços influencia na definição do modelo de negócio adotado pelas empresas. Sobre isso, são fornecidos esclarecimentos mais adiante nesse trabalho.

Na indústria de software, mesmo as empresas que trabalham os softwares na perspectiva de produtos devem considerá-los como produtos atípicos, pois têm caráter intangível, semelhante ao dos serviços. Gutierrez e Alexandre (2004) apresentam várias formas de classificar as empresas desenvolvedoras de software.

Uma delas é baseada na classificação da empresa em função do modelo de negócios empregado e da forma como o software é considerado, o que resulta em três categorias: produtos, serviços e embarcado. Os produtos de software, por sua vez, são divididos em três subcategorias:

• Infra-estrutura (ex.: sistemas operacionais, programas servidores, middleware, gerenciador de redes, gerenciador de armazenagem, gerenciador de sistemas, segurança);

• Ferramentas (ex.: linguagens de programação, de gerenciamento de desenvolvimento, de modelagem de dados, de business intelligence, de data

warehouse, ferramentas de internet); e

• Aplicativos (ex.: Enterprise Resource Planning (ERP), Customer Relationship

Management (CRM), recursos humanos, Supply Chain Management (SCM).

Já nas empresas baseadas em serviços de software, as atividades tradicionais demandam conhecimento especificamente relacionado a essa tecnologia, compreendendo consultoria, desenvolvimento de aplicativos (software sob encomenda), integração, treinamento, suporte técnico e manutenção, entre outros (GUTIERREZ; ALEXANDRE, 2004)

Segundo os autores, os serviços de software podem ser classificados em função do método de compra em serviço terceirizado ou serviço discreto. Terceirização é definido como

a contratação de serviços por meio da transferência de uma parte significativa da responsabilidade pelo gerenciamento para o provedor de serviços, e se diferencia de serviços discretos, aqueles realizados em um período de tempo curto e predeterminado. O terceirização envolve relações contratuais de longo prazo, e, muitas vezes, apresenta metas de desempenho, além de requerer uma razoável troca de informações, coordenação e confiança entre as partes. Já os serviços de software discretos são aqueles realizados em um período de tempo curto e predeterminado. Os contratos de tais serviços são relativamente simples, ficando a responsabilidade do projeto com o cliente. Incluem-se nesse grupo os serviços profissionais tradicionais. Tais serviços são buscados quando o cliente não é capaz de realizá-los internamente de forma eficiente, seja por falta de conhecimento ou de recursos humanos disponíveis, procurando uma segunda parte mais bem capacitada.

Por fim, o software embarcado que é aquele que não é percebido nem tratado separadamente do produto ao qual está integrado, seja esse produto uma máquina, um equipamento ou um bem de consumo. Ele está presente em centrais telefônicas, terminais, celulares, aparelhos de DVD, PDA, autopeças, comandos numéricos computadorizados para máquinas-ferramenta etc. Assim, pode-se dizer que todo e qualquer bem de base eletrônica, ou que incorpore módulos eletrônicos de controle, carrega em si o software embarcado.

A crescente difusão da eletrônica por outras cadeias produtivas se faz pela incorporação aos bens dessas cadeias de módulos eletrônicos constituídos, simultânea e indivisivelmente, por hardware e software. Este último vem aumentando sua presença pela transferência para o software da realização de algumas tarefas de comando e controle anteriormente realizadas por circuitos, bem como pela agregação de novas funções aos bens finais. É a disseminação da eletrônica uma das grandes responsáveis pela diferenciação desses bens, sendo incontestável a participação do software na determinação da sua competitividade. As especificações de um software embarcado geralmente são muito rigorosas. É necessário que ele possua alta estabilidade e opere em tempo real.

Ainda, é possível perceber algumas outras tipologias utilizadas para classificar os software modelos de negócios empregados em empresas desenvolvedoras de software. Existe, por exemplo, a subclassificação do modelo de negócio em função do mercado a que o software desenvolvido se destina, a saber: horizontal, quando se aplica a qualquer tipo de usuário; ou vertical, ligado a algum usuário ou atividade específica. Hoch et al (2000) classificam ainda os modelos de negócio de acordo com o seu foco de mercado em: de massa ou corporativos. Uma terceira maneira de classificar os modelos de negócios é em função da

forma de comercialização: pacote, customizado, sob encomenda e software as a service

(SaaS).

Independente da classificação do software, a sua indústria deve considerar suas características especiais para estruturação apropriada dos modelos de negócios. Uma das diferenças do software em relação ao outros bens tangíveis é que os defeitos tendem a ser uma função descontínua de suas entradas. Sérias falhas mecânicas em veículos, por exemplo, tendem a ser anunciadas por ruídos e outros sinais. Já o software pode funcionar bem em um momento e falhar no próximo, sem qualquer aviso prévio. Falhas dessa natureza em veículos normalmente estão associadas aos seus componentes eletrônicos, que apresentam software embarcado (KUBOTA, 2006).

O software não se desgasta. Por um lado, se um programa executa um cálculo corretamente na primeira vez, provavelmente o fará também na milésima ou na milionésima. Por outro lado, o software tende a tornar-se obsoleto com rapidez cada vez maior. A produção de software tem custo marginal próximo de zero, e a qualidade de suas cópias tende à perfeição. Em contraste, simples bolas produzidas em série apresentarão pequenas variações de diâmetro. O controle estatístico do processo de reprodução de software não é muito relevante. Shapiro e Varian (1999) afirmam que o custo da produção da informação é elevado, enquanto que o de reprodução é baixo, ou seja, tem altos custos fixos e baixos custos marginais.

O funcionamento de um software está associado a uma série de produtos complementares, como, por exemplo, o processador e as impressoras. Shapiro e Varian (1999) afirmam que software e hardware estão inexoravelmente ligados, os quais são ótimos exemplos de complementos. Schmalansee (2000) denomina de system effects aqueles em que o valor de um componente de um sistema depende de componentes complementares. O complementador soma-se aos fornecedores, concorrentes e clientes da companhia. Essa característica torna a relação, aparentemente dicotômica, de cooperação e competição, uma constante dentro da indústria.

Por todos esses motivos, Caulkins (2003) afirma que a analogia com produtos e serviços comuns não é a mais adequada para o software. Empresas de softwares adotam modelos de negócios diferentes em função das especificidades da indústria de software e do tipo de software comercializados. Além das características estratégicas e estruturais demandadas, inexoravelmente, pelas características inerentes aos softwares, existem outras que podem variar em função das pressões isomórficas exercidas pelas diversas entidades institucionais presentes no ambiente que as empresas estão imersas.

De forma geral e com o intuito de operacionalizar a pesquisa, as empresas de software têm seus modelos de negócios caracterizados em função das características estruturais e das estratégias empregadas. Como base nesses elementos, dois modelos básicos de negócios adotados pelas empresas de software podem ser citados, quais sejam: fábrica de software ou empresa de software de base tecnológica.

Nessa pesquisa, esses modelos configuram um continuum cujas extremidades apresentam, de um lado, a fábrica de software e, do outro, as empresas de base tecnológica. Associados à definição de cada um dos dois modelos de negócios supracitados, a pesquisa também caracterizará as empresas em função do objetivo do sistema organizacional através da propensão à inovação e à eficiência. Para isso, identifica e descreve as opções estratégicas e características estruturais que permitam inferências acerca dos objetivos das empresas investigadas.