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O Brasil é um país com características epidemiológicas bastante heterogêneas, no qual coexistem problemas típicos de sociedades subdesenvolvidas e de países desenvolvidos. Nos últimos 30 anos, vem passando por um período de profundas transformações no perfil epidemiológico alimentar representado pela passagem do pólo desnutrição/infecção para o pólo obesidade/doenças crônico-degenerativas.

Há uma variedade de estudos que indicam o estado socioeconômico como um fator influenciador à prevalência de vários problemas relacionados à saúde, incluindo a má nutrição crônica, obesidade, o sedentarismo, as doenças cardiovasculares e outros (Monteiro et al., 1986; Szarfarc et al., 1988; Morais, 1999). O estado socioeconômico poderia ainda dificultar o acesso aos serviços de saúde e similares, à informação ou aos exames necessários, os quais poderiam ajudar no combate destes problemas (Palma, 2003).

A condição social exerce influência marcante sobre os hábitos alimentares da família, determinando a quantidade e a qualidade da alimentação que a criança recebe. A situação socioeconômica da família exerce papel predominante na condição de saúde da criança. A renda familiar determina a possibilidade de aquisição de bens e serviços essenciais à manutenção adequada da família, já a escolaridade não se relaciona apenas com a aquisição de bens, mas com a capacidade do indivíduo de compreender e interagir eficientemente com o ambiente (Victora, 1988).

No presente estudo, partindo-se da hipótese de que existem similaridades e diferenças na alimentação de acordo com a condição social e econômica de uma população, as crianças foram classificadas em estratos socioeconômicos alto e baixo. Pela dificuldade na obtenção de dados confiáveis sobre renda familiar, utilizou-se do critério de Classificação Econômica Brasil que determina a classe socioeconômica a que o indivíduo pertence com base na renda familiar estimada a partir de outras informações.

Os resultados sobre a escolaridade materna nos dois estratos socioeconômicos mostraram que todas as mães possuíam mais de quatro séries

cursadas. A porcentagem de mães com oito séries cursadas ou mais foi de 81% no ESEB e 100% no ESEA. Os resultados encontrados na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde - PNDS 2006/2007 mostraram que independentemente da condição socioeconômica, 79,1% das mães possuíam cinco anos ou mais de estudos e apenas 20,9% das mulheres cursaram menos de quatro séries (Brasil, 2008). Este perfil aponta para mães com melhor discernimento e possivelmente acesso e compreensão das informações sobre o manejo e cuidado do lactente.

Os resultados encontrados nesta pesquisa são diferentes dos resultados encontrados em 1993, por Morais, onde 91% das mães atendidas no Ambulatório de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo não haviam completado o primeiro grau (menos de oito séries completas). Em 1999, outro estudo da mesma autora selecionou em São Paulo, crianças em dois níveis socioeconômicos, mostrando que no nível socioeconômico baixo, 93% das mães cursaram menos de oito séries (Morais, 1993 e 1999).

Estes resultados divergentes podem ser explicados porque os estudos de Morais foram realizados há aproximadamente 10 anos da presente pesquisa e neste período houve grande melhoria da escolaridade das mulheres e das famílias brasileiras. Esta afirmação é confirmada pelo estudo do IBGE em 2007 sobre a Síntese dos Indicadores Sociais. O estudo mostra que no Brasil, em 1991, as mulheres com oito anos ou mais de estudo correspondiam a 35,1% do total de mulheres na faixa etária entre 15 e 49 anos (idade reprodutiva). Em 2007, esse percentual alcançou 58,5% (IBGE, 2008).

Monteiro et al. (2009) comparando dois inquéritos probabilísticos de abrangência nacional realizados em um intervalo de cerca de 11 anos descreveram a evolução da distribuição da população infantil segundo determinantes do estado nutricional. A proporção de filhos de mães com pelo menos oito anos de escolaridade praticamente dobrou no período, de 37,4% para 61,2%, respectivamente.

A maioria das mães dos dois estratos socioeconômicos possuía idade igual ou superior a 20 anos. No entanto, 14% das mães do ESEB possuíam idade inferior a 20 anos. A pesquisa do IBGE em 2007 mostrou que entre as adolescentes com idades entre 15 e 17 anos, 6,8% possuíam pelo menos um filho.Apesar de não ter havido diferença significante entre os estratos socioeconômicos, o resultado da pesquisa mostrou que no ESEB, há o dobro de

mães adolescentes, apontando assim a provável influência do estrato socioeconômico sobre a condição de vida de um indivíduo (IBGE, 2008).

A maioria das crianças dos dois estratos socioeconômicos apresentou estado nutricional adequado, utilizando-se os índices antropométricos P/E, P/I, E/I. Entretanto, quando comparadas as médias/medianas dos valores resultantes do Z escore, entre os grupos, houve diferença estatisticamente significante em relação aos índices peso-idade e estatura-idade. A média do escore Z de peso-idade foi maior no ESEA (+ 0,99) do que no ESEB (+ 0,39). A mediana do escore Z de estatura-idade foi maior no ESEA (+ 0,94) do que a mediana do ESEB (+ 0,03).

Ao analisar, isoladamente, os índices antropométricos foi encontrada a maioria de crianças com estado nutricional adequado. Entretanto, o índice peso/estatura revelou que 17% de lactentes do ESEA e 11% de lactentes do ESEB apresentavam excesso de peso para idade. Estes percentuais foram mais altos dos que os resultados encontrados em 2006, na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde que revelou a existência pelo mesmo índice de excesso de peso em 6,6% de crianças com idade de até cinco anos.

A Chamada Nutricional da Região Norte, realizada em 2007, mostrou que no Pará, o excesso de peso para idade pelo índice P/E, chega a 12,3%, entre menores de cinco anos de idade sendo 20,8% entre os lactentes menores de um ano e 15,7%% entre os lactentes com idades entre 12 e 23 meses (Brasil, 2009a).

Constatou-se ainda déficit de estatura-idade em 10,8% (4/37) nas crianças do estrato socioeconômico baixo e 2,4% (1/41) nas crianças do estrato socioeconômico alto.

Resultados semelhantes foram encontrados no Sul do país por Vitolo et al. (2008), estudando a associação da condição socioeconômica com excesso e déficit de peso e baixa estatura em crianças menores de cinco anos de idade, observaram baixa estatura em crianças com condição socioeconômica baixa e excesso de peso em crianças com boas condições socioeconômicas.

Taddei et al. (2002) comparando os inquéritos antropométricos brasileiros de 1989 e 1996, observaram que crianças menores de dois anos da região Norte já apresentavam estágio inicial da transição nutricional revelando aumento de sobrepeso e obesidade.

A ausência de déficit antropométrico observada nas crianças dos dois estratos socioeconômicos reflete a adequação energética e protéica observada nas dietas destas crianças, contudo a melhora da qualidade de vida, gerando facilidades e confortos da vida urbana incluindo o sedentarismo, levaria a condições apropriadas para o crescimento e aparecimento de sobrepeso e obesidade.

5.3 Composição Nutricional das Refeições por Inquérito Alimentar de 24