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3.5 Coleta de Dados

3.5.1 Entrevista

As entrevistas foram realizadas pela autora na Unidade de Saúde ou nos consultórios, dependendo do estrato socioeconômico. No inicio da entrevista, foi entregue às mães e/ou responsáveis a carta de esclarecimento, informando os objetivos do estudo, e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Após terem lido o documento, esclarecidas suas dúvidas e aceitação formal para participar da pesquisa, responderam a um questionário (Anexo 4). Esclareceu-se ainda que a recusa ou desistência em participar do estudo não impediria o atendimento da criança na unidade ou no consultório.

O questionário possuía duas partes: a) informações referentes à criança, à mãe e à família, além de informações para caracterização social e econômica e b) inquérito alimentar recordatório de 24 horas.

Caracterização da classe social e econômica

Para a caracterização da condição social e econômica e em virtude das dificuldades de se obter informações precisas sobre a renda familiar, utilizou-se uma medida indireta baseada no Critério de Classificação Econômica Brasil, desenvolvido pela Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP) versão 2008 em parceria com a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) (ABEP, 2008). Trata-se de um critério renda-independente, que se baseia

em informações sobre as características socioeconômicas e culturais do núcleo familiar, os quais classificam a população em grandes classes econômicas estimando o poder de compra individual. Para a escolha dos tópicos a serem pontuados, a ABEP fez um levantamento socioeconômico em 30.000 domicílios após a implementação do Plano Real e definiu dez tópicos, cada um deles com uma pontuação, que somados constituem a classificação do indivíduo estudado. Fazem parte do critério de classificação, os seguintes tópicos: número de automóveis, número de aparelhos de televisão em cores, número de rádios, número de banheiros, número de empregadas domésticas, posse de máquina de lavar roupa, posse de geladeira e freezer, posse de vídeo cassete ou DVD, grau de instrução do chefe de família. Pela somatória dos pontos referentes a cada um dos tópicos, determina-se a classe socioeconômica a que o indivíduo pertence, pela renda familiar estimada, segundo o Quadro 1.

Quadro 1 - Classificação socioeconômica e renda familiar média, segundo pontuação atribuída pela ABEP - Critério Brasil 2008

Classe socioeconômica Pontos Renda familiar média (R$) Percentual da composição da população brasileira A1 42 a 46 9.733,47 0,9% A2 35 a 41 6.563,73 4,1% B1 29 a 34 3.479,36 8,9% B2 23 a 28 2.012,67 15,7% C1 18 a 22 1.194,53 20,7% C2 14 a 17 726,26 21,8% D 8 a 13 484,97 25,4% E 0 a 12 276,70 2,6%

Após a aplicação do Critério Brasil, as famílias foram classificadas em dois estratos: as classes A1, A2, B1 e B2 foram agrupadas e constituíram o estrato socioeconômico alto (ESEA). No estrato socioeconômico baixo (ESEB) foram agrupadas as classes C1, C2, D e E. Assim, a amostra final constituiu-se de 41 crianças de estrato socioeconômico alto e 37 crianças de estrato socioeconômico baixo (Quadro 2).

Quadro 2 - Distribuição socioeconômica das famílias incluídas no estudo de acordo com o critério ABEP - Critério Brasil 2008 em Belém, Pará

Estrato

Socioeconômico Classes ABEP %

ALTO A 15 37 B 26 63 TOTAL 41 100 BAIXO C 23 62 D 13 35 E 01 3 TOTAL 37 100 Inquérito alimentar

A estimativa da ingestão dos nutrientes foi determinada por meio do inquérito recordatório de 24 horas, obtido na entrevista com a mãe ou responsável, e que consiste no relato de todos os alimentos consumidos da primeira até a última refeição realizada no dia anterior à avaliação,com informações sobre o tipo, marca comercial e quantidade dos alimentos consumidos. Para garantir maior precisão, no registro de dados foram utilizados medidores graduados e colheres, copos, mamadeiras e xícaras padronizados. Também foram utilizadas figuras de livro para a identificação de utensílios e posterior conversão em gramas através de uma tabela de medidas caseiras. Com a finalidade de diminuir a variabilidade intrapessoal foram aplicados dois inquéritos alimentares com intervalo de aproximadamente 15 dias (Fisberg et al., 2005). O primeiro recordatório foi realizado no momento da entrevista e o segundo, na visita domiciliar. A aplicação do inquérito alimentar foi orientada e acompanhada por nutricionista da Unidade de Saúde. O coeficiente de variação das refeições destes dois inquéritos foi calculado de acordo com a seguinte fórmula:

O cálculo da composição nutricional da dieta foi feito individualmente para cada um dos dois inquéritos, por meio do programa de computador1. Os dados de composição química dos alimentos utilizados para

os cálculos de ingestão foram aqueles contidos nas seguintes tabelas de composição: Tabela Brasileira de Composição de Alimentos TACO versão 2 (NEPA-UNICAMP, 2006), Tabela de Composição Química de Alimentos (Philippi, 2002; USDA, 2001). A quantificação do consumo de leite materno pelo lactente em cada mamada foi calculada a partir da capacidade gástrica estimada em 30 mililitros por quilograma de peso da criança (Dewey, Brown, 2003). Os nutrientes calculados foram energia, proteína, lipídio, carboidrato, fibra alimentar, ferro e sódio, fazendo-se a média dos dois inquéritos para cada criança.

Os valores de ingestão foram comparados com as novas recomendações do “Institute of Medicine” denominada Recomendação Dietética Diária (Dietary Reference Intake - DRIs) que define os seguintes conceitos: Necessidade Estimada de Energia (Estimated Energy Requeriments - EER), Necessidade Média Estimada (Estimated Average Requeriment - EAR), Ingestão Dietética Recomendada (Recommended Dietary Allowances - RDA), Ingestão Adequada (Adequate Intake - AI) e Nível Superior Tolerável de Ingestão (Tolerable Upper Intake Level - UL) (IOM, 2001;IOM, 2005).

Necessidade Estimada de Energia (EER)

Esta recomendação de energia considera o gasto total de energia (“Total Energy Expenditure” [TEE]) que para crianças de 7 a 12 meses é calculada pela fórmula: EER = (89 x peso corporal kg - 100) + 22 e para crianças entre 13 a 35 meses: EER = (89 x peso corporal kg -100) + 20 (kcal de energia de depósito). EER é um valor de ingestão diária de energia de um nutriente que se estima que supra a necessidade de metade (50%) dos indivíduos saudáveis de um determinado grupo de mesmo gênero e estágio de vida.

1 Sistema de Apoio e Decisão em Nutrição (NUT), versão 1.5 para Microsoft Windows®

Necessidade Média Estimada (EAR)

Corresponde à mediana da distribuição de necessidades de um dado nutriente para um dado grupo de mesmo gênero e estágio de vida e coincide com a média quando a distribuição é simétrica.

Ingestão Dietética Recomendada (RDA)

A RDA corresponde a quotas dietéticas recomendadas e é estabelecida com base em valores que podem ser adequados para 97 a 98% de todos os indivíduos de um determinado grupo etário, considerando-se a definição de adequação é calculada pela fórmula: RDA = EAR + 2 DP EAR.

Ingestão Adequada (AI)

É o valor de consumo recomendável, baseado em levantamentos, determinações ou aproximações de dados experimentais, ou ainda de estimativas de ingestão de nutrientes para grupo(s) de pessoas sadias e que, a priori, se consideraria adequado. Nem sempre o conjunto de informações sobre o nutriente é suficientemente consistente para o estabelecimento de EAR. Nesses casos, deve-se empregar o valor de AI, projetado como possivelmente superior ao valor de RDA, mas sobre o qual ainda há considerável incerteza. O valor de AI é usado quando os valores de EAR ou de RDA não podem ser determinados.

Nível Superior Tolerável De Ingestão (UL)

É definido como o mais alto valor de ingestão diária prolongada de um nutriente que, aparentemente, não oferece risco de efeito adverso à saúde em quase todos os indivíduos de um estágio de vida ou sexo.

Os Quadros 3 e 4 mostram o resumo das recomendações dietéticas diárias de nutrientes nos diferentes estágios de vida.

Quadro 3 - Recomendações dietéticas diárias de proteína, carboidrato, lipídios, ferro, fibra e sódio, nos diferentes estágios de vida

Estágio da vida

7 a 12 meses 13 meses a 3 anos Proteína (g/kg/dia) EAR 1,0 0,87

Proteína (g/dia) RDA 11 13

CHO (g/dia)EAR ND 100

CHO (g/dia) AI 95 130

Lipídios (g/dia) AI 30 ND

Ferro (mg/dia) EAR 6,9 3,0

Ferro (mg/dia) RDA 11 7

Ferro (mg/dia) UL 40 40

Fibra (g/dia) AI ND 19

Sódio (mg/dia) AI 390 1000

Sódio (mg/dia) UL ND 1500

Fonte: IOM (2001/2005)

Quadro 4 - Recomendações dietéticas diárias de energia, nos diferentes estágios de vida

Estágio da vida Energia (Kcal/ dia) EER*

Energia (Kcal/ dia) RDA* 7 a 12 meses (89 x peso ideal [kg] - 100) +22 850 13 meses a 3 anos (89 x peso ideal [kg] - 100) +20 1300