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Em relação à análise química das refeições preparadas para o almoço de lactentes, os resultados revelaram que as amostras alimentares do estrato socioeconômico baixo apresentaram maiores teores de sódio do que as amostras do estrato socioeconômico alto.

As amostras alimentares foram comparadas com as recomendações da Comunidade Européia. O ESEB apresentou 82% mais de sódio em suas amostras em relação às recomendações a Comunidade Européia. Houve maior adequação de sódio, nas amostras alimentares do ESEA, porém cerca de 35% destas amostras apresentaram teores excessivos de sódio. (European Communities, 2006).

O excesso de sódio encontrado nas amostras do almoço de lactentes deste estudo corrobora com resultado de pesquisas realizadas em outras regiões do mundo. Vale ressaltar que este é o segundo estudo no Brasil que avalia a composição por análise química de alimentos preparados para o período de transição alimentar e o primeiro estudo que analisa estes alimentos consumidos pelos lactentes em estratos socioeconômicos diferentes.

Em 1978, Kerr et al., em Pittsburgh, EUA, encontraram concentrações de sódio 64% mais elevadas do que as recomendações, em 70 amostras alimentares de refeições preparadas por mães de lactentes com idades entre três e 14 meses. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Stordy et al. (1995), na Inglaterra, que detectaram inadequação em 31% de amostras analisadas e por van den Boom et al. (1997), na Espanha, onde 24% das amostras apresentavam teores acima do proposto.

No Brasil, Ribeiro (2006), estudando lactentes de unidade básica de saúde na cidade de São Paulo, encontrou excesso de sódio em todas as análises laboratoriais das amostras de refeições caseiras, sendo que as refeições adaptadas com alimentos da família (51/60) possuíam maiores teores de sódio do que as preparadas especialmente para os lactentes (9/60). Em nosso estudo, foram analisadas apenas amostras de refeições preparadas especialmente para os lactentes e nas duas classes socioeconômicas constatou- se excesso de sódio.

A quantidade inadequada de sódio encontrada nas refeições do almoço de lactentes deste estudo pode ser um reflexo da quantidade excessiva do sódio de adição, ou seja, o hábito dos responsáveis pelo preparo, adicionarem elevadas quantidades de sódio aos alimentos sem antes experimentá-los.

Hábitos e preferências alimentares são formados precocemente. Acredita-se que hábitos e preferências por alimentos salgados não sejam inatas, são provavelmente adquiridas como os demais hábitos alimentares. Se alimentos salgados forem oferecidos à criança regularmente, estes hábitos permanecerão durante a idade adulta. Portanto, a intervenção no início da vida é importante para que maus hábitos não sejam adquiridos (Beauchamp et al., 1986).

Schaefer, Kumanyika (1985) ao analisarem o comportamento materno e as práticas alimentares infantis com relação à ingestão de sódio, detectaram que 40% das mães, pelo menos alguma vez, salgaram seus alimentos sem antes experimentá-los e que 19% das mães faziam isso sempre.

A quantidade excessiva de sódio é reflexo do hábito da população adulta brasileira de preferir alimentos salgados. Estudos realizados na população brasileira detectaram consumo de sal elevado, superior a 12 g/dia (Molina et al., 2003; Sarno et al., 2009).

Segundo Molina et al. (2003) e Sarno et al. (2009), a ingestäo de sal é fortemente influenciada pelo nível socioeconômico e pode, parcialmente, explicar a alta prevalência de hipertensäo arterial nas classes socioeconômicas mais baixas.

O excesso de sódio na alimentação do lactente e sua relação com hipertensão arterial é apontado em alguns estudos. Hofman et al. (1983), em estudo duplo cego e randomizado, encontraram maior pressão arterial, aos seis meses, em 245 crianças que receberam desde o nascimento uma alimentação com quantidades normais de sódio, do que nas 231 que receberam dieta com baixo teor de sódio. Por sua vez, Geleijnse et al. (1997) mostraram associação entre a ingestão de sódio na infância e o desenvolvimento de hipertensão arterial na adolescência. Singhal et al. (2001) avaliaram a influência da dieta no período neonatal, na pressão arterial de adolescentes que nasceram prematuros.

Os autores encontraram pressão arterial menor nos que receberam leite materno do que naqueles que receberam fórmula, não havendo

diferença se esta era específica para prematuros ou não, sugerindo, então, que a dieta com fórmula também pode ser um fator que contribui para o nível mais elevado da pressão arterial nesta população.

Assim, com base em todas as informações da literatura, as evidências indicam que consumo de sódio em excesso desde o primeiro ano de vida pode contribuir para um nível de pressão arterial mais elevado.

Em relação ao conteúdo de ferro resultante da análise química, o presente estudo mostrou que todas as amostras apresentavam menos de 6 mg/100 g de ferro, valor mínimo recomendado pela Comunidade Européia para a faixa etária estudada, isto é, estavam com o conteúdo de ferro inadequado (em média 1,5 mg/100 g) nos dois estratos socioeconômicos.

Os resultados de Ribeiro (2006) mostraram que, tanto as refeições preparadas exclusivamente para as crianças quanto às adaptadas com os alimentos da família, apresentaram valores baixos de ferro (0,2 mg/100 g), sendo a média do presente estudo semelhante.

Os baixos valores de ferro encontrados nas refeições são preocupantes, visto que, os lactentes têm uma necessidade de ferro relativamente alta, imposta pela intensa velocidade de crescimento, podendo levar ao esgotamento das reservas de ferro e a alimentação passa a desempenhar papel predominante no atendimento das necessidades deste nutriente (DeMaeyer, Adiels-Tegman, 1985).

O leite materno supre as necessidades de ferro do lactente até por volta dos quatro a seis meses. No entanto, após seis meses, o ferro presente no leite materno não consegue atender tais necessidades. Neste período, a alimentação do lactente precisa ser complementada com outros alimentos que possuam ferro com alta biodisponibilidade. A introdução de qualquer alimento de transição antes de quatro a seis meses irá interferir na biodisponibilidade do ferro presente no leite materno, diminuindo-a em até 80% sua absorção (Dallman, 1990).

O IOM (2001) preconiza que a ingestão de ferro, para crianças de sete a 12 meses deve ser de 11,0 mg/dia e para crianças de um a três anos, a ingestão deve ser de 7,0 mg/dia. Levando-se em consideração o aumento das necessidades orgânicas do ferro e a reduzida capacidade gástrica do lactente é muito difícil atingir a recomendação diária de ferro, nesta faixa etária. Além disso,

destaca-se a importância de nutrientes que facilitam ou dificultam a absorção de ferro no organismo.

Em relação à densidade energética resultante da análise química das amostras alimentares, não se observou diferença entre os estratos socioeconômicos. Entretanto, 30% das amostras da classe socioeconômica baixa e 40% das amostras alimentares da classe socioeconômica alta apresentaram baixa densidade energética, ou seja, os valores encontrados estavam abaixo dos valores mínimos recomendados pelo Ministério da Saúde (70 Kcal/ 100 g).

A inadequação de energia também foi encontrada nas amostras das refeições caseiras dos lactentes na pesquisa de Ribeiro, (2006), 66,7% das amostras apresentavam densidade energética menor do que o valor recomendado (70 Kcal/100 g). No entanto, a inadequação da densidade energética das amostras alimentares da pesquisa de Ribeiro foram maiores do que deste estudo.

Stordy et al. (1995), na Inglaterra detectaram 52% de amostras inadequadas e van den Boom et al. (1997), na Espanha relataram 94% de amostras com densidade energética abaixo do valor de referência. Ambos com valores de inadequação maiores do que os encontrados neste estudo.

Não existe um limite máximo estabelecido para ingestão de proteínas em lactentes. No entanto, estudos têm demonstrado as conseqüências negativas do consumo excessivo de proteínas na infância para saúde do adulto (Akre, 1989, Günther et al., 2007).

Neste estudo, amostras alimentares apresentaram adequação de proteínas quando comparadas aos valores de referência da Comunidade Européia (valor mínimo de 3 g/100 Kcal), nos dois extratos socioeconômicos. O ESEA e o ESEB apresentaram 146% e 110%, respectivamente, acima das recomendações. Estes resultados concordam com os estudos de Ribeiro, onde a maioria das amostras alimentares dos lactentes estudados, apresentou valores de proteína dentro da recomendação da Comunidade Européia (European Communities, 2006; Ribeiro, 2006).

van den Boom et al. (1997), também não encontraram inadequação de proteínas das amostras das refeições estudadas.

Em estudo realizado por Morais, Sigulem (2002), ao avaliarem a composição química de mamadeiras preparadas em casa, constataram que as mamadeiras de leite supriam 160% das necessidades de proteína.