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Ao ofertar uma alimentação de transição ao lactente é importante que a dieta forneça nutrientes suficientes para que a criança possa expressar todo o seu potencial de crescimento e desenvolvimento (Brown, 1991).

Inquérito alimentar é um instrumento que tem a finalidade de avaliar o consumo de alimentos do ser humano, qualitativa ou quantitativamente, para o estabelecimento de padrões alimentares, a possibilidade de relacionar dietas com algumas doenças e a orientação de indivíduos ou grupos em relação à alimentação saudável (Cintra et al., 1997; Fisberg et al., 2005).

Estudos dietéticos, utilizando várias metodologias de inquéritos, mostram diferenças na obtenção do padrão de consumo, tanto individual quanto populacional (Ribeiro et al., 2003).

Vários métodos de inquérito podem ser utilizados, entretanto, qualquer que seja o método dietético escolhido, torna-se necessário converter os dados de ingestão dos alimentos em ingestão de nutrientes, por meio do uso de tabelas de composição de alimentos, as quais podem ser validadas por análises químicas (Cintra et al., 1997; Fisberg et al., 2005). No entanto, as informações sobre os nutrientes obtidas por inquéritos alimentares apresentam dois problemas básicos. A precisão na coleta dos dados sobre a ingestão de alimentos e a conversão dessa informação à quantidade de nutrientes e energia, por meio de “softwares” de composição de alimentos.

O método de inquérito das refeições escolhido, neste estudo, foi o recordatório de 24 horas, por apresentar uma série de vantagens, tendo sido utilizado em vários estudos nacionais e indicado pela OMS para levantamento

sobre a alimentação de crianças em países em desenvolvimento (Aguirre et al. 2002; Spinelli et al., 2003; Castro et al., 2005; Falcão-Gomes et al., 2006; Fidelis, Osório, 2007).

A composição de nutrientes das refeições nos dois estratos socioeconômicos foi verificada por estimativa de ingestão alimentar diária (inquérito alimentar) e os resultados comparados com os valores propostos pelas DRIs (IOM, 2001/2005).

Observou-se que nos dois estratos socioeconômicos, a estimativa de ingestão diária de energia, macronutrientes, fibra alimentar e ferro foi semelhante.

Em relação à ingestão diária de sódio, o estrato socioeconômico baixo apresentou, em média, maior consumo de sódio (mediana 1556 mg/24h) em relação ao estrato socioeconômico alto (mediana 1250 mg/24h).

Quando a ingestão deste nutriente foi comparada às DRIs, os lactentes dos dois estratos apresentaram consumo acima das recomendações sendo que 51,4% e 31,7% das classes baixa e alta, respectivamente, consumiam quantidades de sódio acima do valor máximo considerado seguro.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) preconizou para crianças na faixa etária entre um a três anos de idade que o consumo de sódio seja inferior 1500 mg/dia. Neste estudo, a média estimada de ingestão de sódio do ESEB foi superior a 1500 mg/dia (AAP, 1974).

Heino et al. (2000), em Turku na Finlândia, estudaram 200 crianças saudáveis na faixa etária de um a cinco anos em um estudo prospectivo e randomizado (Special Turku Coronary Risk Factor Intervention Project for Children [STRIP]), utilizando inquérito recordatório. Encontraram consumo de sal acima do recomendado para os lactentes aos 13 meses (média 1600 mg/dia), resultado semelhante ao obtido no presente estudo.

Quanto ao consumo de ferro, a metade das crianças dos estratos socioeconômicos estudados apresentou adequação na estimativa de consumo de ferro pelo inquérito alimentar, quando relacionadas às recomendações das DRIs, embora diversos estudos venham mostrando relação entre o consumo deficiente de ferro e a anemia em lactentes. Modesto et al.,

(2007) encontraram inadequação do consumo de ferro por inquérito alimentar em crianças no segundo semestre de vida, uma vez que a ingestão mediana revelou- se inferior ao valor de EAR. Neves et al. (2005) encontraram 70% de lactentes com deficiência de ferro através da dosagem da ferritina sérica, onde 55% já apresentavam anemia e 15,3% depleção nas reservas de ferro, em uma Unidade de Saúde do Município de Belém, confirmando que a ocorrência de deficiência ferro é muito elevada em lactentes brasileiros com idade entre seis e 24 meses.

Estudo realizado em amostras da população infantil na Cidade de São Paulo, Brasil, mostra que a prevalência de anemia vem aumentando a partir da década de 1970 (Monteiro, 2000b). Outros estudos realizados em unidades básicas de saúde também mostraram que a anemia ocorre com elevada prevalência em todas as regiões do Brasil onde foi investigada (Romani et al., 1990; Neuman et al., 2000; Silva et al., 2001; Neves

et al., 2005).

Os estudos de Fisher (2008) mostraram a superestimação de ingestão de nutrientes que pode acontecer nos inquéritos alimentares por parte dos pais ou responsáveis pelo lactente. Neste estudo, há uma contradição entre o consumo de ferro adequado em metade dos inquéritos alimentares e a prevalência elevada de anemia relatada em várias pesquisas e principalmente em pesquisa anterior realizada na mesma unidade de saúde do presente estudo. Além disto, a ingestão de ferro não significa absorção do mesmo no intestino, portanto é importante verificar a biodisponibilidade de ferro dos nutrientes consumidos e interação negativa de absorção de outros nutrientes.

A maioria dos lactentes em ambos os estratos socioeconômicos, apresentou consumo de calorias acima dos limites das recomendações para faixa etária e todos apresentaram consumo de proteínas acima dos limites destas recomendações, quando os resultados foram comparados com as recomendações da Dietary Recommended Intakes (IOM, 2005). Tais achados podem ser explicados pelo consumo praticamente universal de leite artificial. Apenas duas crianças do ESEB não consumiam leite artificial.

Resultados semelhantes utilizando inquérito recordatório de 24 horas foram encontrados nas pesquisas de Fidelis e Osório (2007) ao estudar crianças pernambucanas com idades entre sete e 11 meses. Encontraram

adequação de energia e proteínas. Spinelli et al. (2003) também encontraram excesso de proteínas nas refeições dos lactentes em creches do município de São Paulo, contudo, a oferta de energia na refeição destes lactentes foi insuficiente. Fisher et al. (2008), utilizando o método recordatório de 24 horas, encontraram valores adequados no consumo de energia e valores elevados proveniente de proteínas de lactentes americanos com idades entre sete e 24 meses.

Em relação aos carboidratos, apesar de não haver diferença entre os estratos socioeconômicos, a maioria dos lactentes apresentou estimativa de ingestão acima de 120% dos valores recomendados para idade, quando comparados com as DRIs. Resultados similares foram encontrados por Fidelis e Osório (2007), em Pernambuco, onde o consumo de carboidrato manteve-se acima da ingestão adequada.

Fox et al. (2004) avaliando o consumo de carboidratos e a idade de introdução dos mesmos na alimentação de lactentes americanos, observaram que 40% de lactentes entre sete a oito meses consomem sobremesas e doces. O elevado consumo destes carboidratos associou-se ao consumo elevado de energia e diminuição do consumo de frutas.

Quanto ao consumo de fibra alimentar pelos lactentes, as informações são escassas, não há valores determinados pelas DRIs para lactentes e a única recomendação encontrada na literatura foi proposta por Agostoni et al (1995), sugerindo consumo diário de pelo menos 5 g de fibra alimentar por dia.

Neste estudo, as duas classes socioeconômicas apresentaram a média de consumo de fibra maior do que a recomendação mínima de ingestão de fibra alimentar nas 24 horas e não houve diferença entre as classes socioeconômicas estudadas.

Aguirre et al. (2002) estudando a relação entre consumo de fibra alimentar e constipação intestinal em lactentes, também encontraram consumo mediano de fibra maior do que a recomendação mínima (5 g/dia).