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Em relação ao ESPAÇO FÍSICO, três ONGs possuem sede pró-pria e as outras duas ocupam espaços cedidos por instituições públicas ou privadas, que as acolhem. Entre as organizações go-vernamentais, apenas uma tem de pagar aluguel do espaço físico. As demais ocupam espaços dentro de órgãos governamentais. Nas visitas ao campo, a equipe do CLAVES constatou a precarie-dade do espaço físico de várias instituições. As situações vão desde aquelas que possuem uma estrutura física adequada, pas-sando pelas que dividem espaço com outro tipo de atividade ou que têm o local físico sem as devidas condições de atendimento, até as que não têm espaço para o serviço, trabalhando em local emprestado ou alugado.

As instalações físicas das OGs são restritas, disputando es-paço com a instituição que as acolhe. A OG 3 não possuía sequer uma sala específica para o Programa, conseguindo-a apenas por ocasião da visita da equipe de pesquisa. Atendia em conjunto com o ambulatório do hospital. A OG 4 possui uma sala própria, utilizando-se do resto da infra-estrutura hospitalar. A OG 5 conta apenas com a estrutura do hospital. Dois outros serviços (OG 1 e OG 2) funcionam como ambulatório, possuindo infra-estrutura apropriada, com recepção, salas para atendimento especializado, banheiros, área de descanso/recreação, brinquedos para aborda-gem terapêutica e viatura.

A fala de um profissional ilustra os problemas enfrentados em seu serviço:

A gente não tem um lugar para atender. Onde seja só nosso (...) tem a questão da privacidade (...) o colega ali do lado, às vezes, fica muito horro-rizado com o que ouviu (...) seria legal estrutura externa de referências pra psicologia individual, pra psiquiatria, pra atendimento social (tec/OG 4).

As instalações físicas das ONGs são muito melhores, com exceção da ONG 5, que ocupa um salão anexo a uma capela no período matinal por não ter espaço disponível para atendimento. As demais possuem muitas salas para atendimento e infra-estru-tura adequada. A ONG 4 se destaca por ocupar as instalações de uma instituição acadêmica, que lhe disponibiliza 40 salas para atendimento psicossocial à família, ao autor de agressão, à crian-ça e ao adolescente, das quais oito salas são para atendimento exclusivo de crianças (salas de ludoterapia). Além disso, conta com salas para reunião de equipe, oficinas, brinquedoteca, sala de espera para pacientes, secretaria e arquivo.

As ONGs 1 e 2 possuem boa estrutura física, sendo casas amplas com área de lazer e muitas salas (mais de dez em cada serviço), utilizadas para atendimento, recepção, auditório, cama-rim, sala de dança, telecentro, biblioteca. Contudo, as instalações da ONG 2 não se encontravam em bom estado de conservação e ventilação. Possuem transporte para atendimentos externos, arti-culações e encaminhamentos.

A ONG 3 se caracteriza de forma distinta. Possui ampla área externa e pouca área construída, embora tenha 3 salas administra-tivas, 2 para atendimento, 1 biblioteca e 1 galpão para oficinas de encadernação, papel e arte. Há queixas de inadequação do espa-ço. Também possui um carro para facilitar o trabalho.

O depoimento de algumas equipes entrevistadas sobre a es-trutura física de algumas instituições mostra haver inadequação para oferecer o atendimento proposto.

É uma estrutura que não é muito adequada para o atendimento com os meninos (...) os espaços não são muito atrativos (...) os espaços são quen-tes (tec/ONG 2)

Nós precisamos realmente é de mais privacidade. Ter uma sala com mais privacidade para podermos fazer os atendimentos (...) Eu tenho que conse-guir um espaço físico para a instituição (tec/ONG/S).

Em geral, as ONGs possuem mais equipamentos que as OGs. Há relatos de computadores e impressoras (duas unidades com mais de 10 máquinas), televisões, retroprojetores, videocassetes, projetor de slides, máquina de xerox, ar condicionado e telefones. Em uma delas há equipamentos para serigrafia e costura industrial. Ao contrário, as OGs possuem poucos equipamentos dispo-níveis, sejam eles audiovisuais, computadores ou brinquedos para atendimento terapêutico. Apenas a OG 1, recentemente inaugura-da, possui televisão, vídeo, som e retroprojetor, porém ainda aguar-da a chegaaguar-da de um computador.

Os HORÁRIOS DE FUNCIONAMENTO das instituições não-governamentais são mais amplos e flexíveis que os apontados pelas unidades governamentais. Além do atendimento em horário comercial durante a semana, uma ONG funciona nas manhãs de sábado e outra presta serviços até as 21 horas diariamente e nos sábados pela manhã.

Apenas a OG 1 possui um plantão para acolher crianças e adolescentes que sofrem violência no período noturno ou nos

finais de semana, disponibilizando o espaço físico (um quarto) e um educador para permanecer ao lado da vítima até que a equipe do serviço seja acionada, em geral no dia seguinte.

Todas as instituições estudadas referem ter como CLIENTELA os familiares das crianças e/ou adolescentes atendidos no serviço. Apenas a ONG 3 também refere atender profissionais da área soci-al e jurídica e pessoas da comunidade em gersoci-al.

O atendimento ao familiar autor de agressões não é efetuado por três instituições (OG 1; OG 2; ONG 3). Contudo, o que se perce-beu no decorrer de conversas realizadas na visita às instituições, é que qualquer forma de contato com algum familiar, por mais ocasio-nal que seja, era vista como uma forma de atendimento institucioocasio-nal, indicando uma resposta muito mais no nível da idealização do que no real. A ONG 4 se destaca por possuir atendimento mais estruturado para agressores, aceitando tanto aqueles pertencentes às famílias que estão no serviço, quanto outros provenientes de encaminha-mento judicial. Todavia, mesmo para tal serviço, a atenção para agressores ainda se encontra em processo de construção.

A capacidade de atendimento a crianças/adolescentes e famíli-as (agressores ou não) vítimfamíli-as de violência nfamíli-as instituições é bfamíli-as- bas-tante diferenciada, oscilando entre médias de 15 a 146 atendimen-tos anuais, nos anos de 2000 e 2001. As ONGs (exceto a ONG 2) e as OGs 2 e 5 mostraram um aumento no atendimento no primeiro semestre de 2002, apontando para a crescente demanda absorvida pelos serviços. A OG 4 sinaliza uma redução do atendimento em 2002, possivelmente vivenciando dificuldades circunstanciais.

A faixa etária das crianças e adolescentes atendidas nos ser-viços é muito variável. Entre as organizações não-governamen-tais, de uma forma geral, o atendimento prioriza crianças mais velhas e adolescentes. Três referem não atender crianças peque-nas (até 5 ou 7 anos de idade), enquanto duas unidades (ONGs 3 e 4) atendem desde bebês até 18 anos incompletos.

Entre as instituições governamentais, dois hospitais carac-terizam-se como serviços de pediatria, não realizando

atendi-mento para crianças acima dos 12 anos de idade (OGs 3 e 5), embora suas estatísticas comprovem casos esporádicos de ado-lescentes mais velhos. As OGs 1 e 4 atendem de recém-nascido até adolescentes de 18 anos e a OG 2, na faixa dos 5 aos 17 anos de idade.

Em relação ao sexo das crianças e adolescentes atendidos, tem-se que todos os serviços prestam atenção a crianças e ado-lescentes de ambos os sexos, com uma exceção (ONG 1), especí-fica para meninas. Contudo, há uma certa predominância de meni-nas em quase todas as OGs, lembrando que esses serviços têm caráter ambulatorial ou hospitalar, e atendem muitos casos de abuso sexual.

Há dificuldade em se estabelecer quais os tipos de violência familiar mais freqüentemente atendidos pelas instituições. O re-gistro existente difere muito entre as unidades, não havendo in-formação fidedigna para aferir quando o caso envolve mais de um tipo de abuso e quais os critérios para priorizar um só tipo, opção tomada por vários serviços. Em geral, as unidades têm como pri-mazia o atendimento a situações de crianças e adolescentes víti-mas de abuso sexual e negligência. O abuso físico costuma apare-cer como o segundo tipo mais freqüente. Os abusos psicológicos são também identificados pelas unidades, porém com intensidade bem mais reduzida do que os tipos anteriores. Poucos casos de abandono foram assinalados, especialmente pelas ONGs. A Síndrome de Münchausen por Procuração não foi registrada nas estatísticas de nenhum dos serviços estudados.