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A maioria dos serviços parece conhecer o sistema de garantia e a rede de apoio social existentes em suas cidades. Este é um ponto crucial para a qualidade do serviço pela possibilidade de encaminhamentos que facilitem e apóiem o atendimento ofereci-do à família pelos serviços estudaofereci-dos. A existência e o acesso facilitado a essa rede de apoio social interagem com o atendimen-to oferecido pelo serviço no momenatendimen-to do recebimenatendimen-to dos casos, durante o desenvolvimento da atenção e na sua conclusão.

Os serviços afirmam envolver no andamento da atenção as seguintes instituições: posto de saúde, hospital, escolas, Conse-lho Tutelar, Vara da Infância e Juventude, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Delegacia da Mulher, Vara da Família, Programas de Assistência Social, Ministério Público, entidades da Rede de Atenção a Mulheres Crianças e Adolescentes em Situa-ção de Violência, Centros de Defesa de Direitos, grupos de apoio, universidades e organizações governamentais ou não- governa-mentais que atendem vítimas de violência.

A maioria dos serviços não consegue uma boa articulação com todas as instituições relacionadas ao tipo de atendimento que prestam. Uns, por exemplo, conseguem uma boa relação com os Conselhos Tutelares e não conseguem se articular bem com os Juizados da Infância e da Adolescência. Em outros, a situação é inversa. A ONG 3 foi a que mais se referiu a um trabalho em rede. Apresentou uma preocupação bastante acirrada com o entorno da criança incluindo os mecanismos comunitários na intervenção. Menciona visitas à escola e à comunidade e utiliza como critério para o desligamento o momento em que a família e a criança estejam inseridas em programas comunitários. A equipe desse

serviço, assim como também a da ONG 4, dá destaque ao traba-lho comunitário.

Em termos de problemas de articulação com os Conselhos Tutelares, as explicações para existência de dificuldades são vári-as. Há profissionais que dizem ser difícil estabelecer parceria com essa instituição porque há conselheiros que não possuem um pre-paro adequado para lidar com o tipo de atendimento que prestam. Outros se ressentem de ter que lidar, simultaneamente, com mais de um Conselho, acarretando uma falta de padrão nos procedimen-tos e relações com esses órgãos. Outros, ainda, queixam-se da falta de retorno dos encaminhamentos dirigidos aos Conselhos.

Apesar desses problemas de articulação com os Conselhos Tute-lares, em geral os serviços conseguem adotar uma certa parceria com esses órgãos no que se refere a notificar os casos atendidos. No campo das notificações, a OG 5 envia sistematicamente cópias das notificações aos Conselhos e para a Promotoria Pública, sob a alega-ção de que tal medida consegue agilizar a resolualega-ção dos processos que são instaurados. Esse procedimento, de um lado, pode ser visto como útil; de outro, pode ser negativo porque, de uma certa forma, compromete a ação dos Conselhos, a quem compete a avaliação quanto ao encaminhamento de caso para a instauração de processo judicial.

Os movimentos para a promoção de parcerias são diferencia-dos. A partir das falas de profissionais de algumas OGs, por exem-plo, percebeu-se que as equipes costumam convidar outras insti-tuições para os seus espaços a fim de criar maior articulação em torno do atendimento. Contudo, há pouco deslocamento de suas sedes para os espaços das instituições que desejam fazer parce-ria. Já na fala de entrevistados de algumas ONGs, observou-se um movimento contrário. As equipes costumam se deslocar para ou-tras instituições no sentido de construir uma parceria.

Os depoimentos que seguem ilustram bem esses movimen-tos inversos:

A gente faz uma reunião de rede. Aí vem a Vara da Infância, a Promotora da Infância, a DPCA, a Saúde, a Educação e quem mais interessar (...) É

uma rede ainda cheia de furos (...) A gente faz reuniões desde 1999. Nos primeiros meses, o auditório enchia. Depois foi esvaziando. Na maioria das vezes, as próprias pessoas das instituições sentiam que elas não tinham o poder de mudança (tec/OG 3).

(...) A gente procura porque eles [operadores de direito] têm que dar res-postas (...). Com relação aos sistemas de segurança (...) somos bem rela-cionados. Nós temos uma relação muito boa com o Ministério Público, com o Juizado. Nós temos uma relação muito boa com os Conselhos (...) com a história de serviços de saúde esse contato também (...) a gente está construindo contatos também com (...) postos de saúde da comuni-dade (tec/ONG 1).

Em meio às dificuldades das instituições se articularem para conseguir um atendimento bem-sucedido, destacamos um depoi-mento que revela um movidepoi-mento em direção à constituição de uma rede:

A nossa rede é grande (...) A gente tem (...) relações que vão desde a participação (...) em debate, por exemplo, de cunho mais político ou de articulação interinstitucional, até parcerias diretas [em torno] de um de-terminado caso (...) A gente tem um espaço bimensal que a gente criou que é um fórum de debates e que a gente convida todos os parceiros para esse fórum (...) Essa instância funciona bem (...) A gente já trabalhou em relação muito estreita com Varas, com Conselhos (...) junto à prevenção com SOS. Bombeiros (...) Se não consegue a gente vai atrás [se não con-segue ser atendida por um setor, vai para outros até ser atendida (...) Acho que é uma rede, caminhando para a integração (tec/ONG 4).

Por último, a consciência implícita nas falas dos técnicos é digna de destaque, pela importância de se caminhar na direção de constituir uma rede integrada em torno do atendimento prestado. Os entrevistados revelam que, sem apoio da retaguarda de uma rede, pouco ou nada podem fazer frente à complexidade do pro-blema que vivenciam no cotidiano do atendimento. Essa precária articulação da rede social e rede de suporte no atendimento pres-tado à família foi considerada pelos profissionais como um sério fator que reduz a qualidade da atenção. Diferentes situações ocor-rem: os serviços que se encontram ancorados em instituições

hos-pitalares, por exemplo, têm mais facilidade de atuar com referên-cia e contra-referênreferên-cia em termos de atendimento médico conven-cional. Mas, em contrapartida, alguns têm dificuldades em certos tipos de atenção especializada, principalmente no que se refere às áreas da saúde mental e da assistência social. Por outro lado, há serviços que, minimamente, têm um atendimento psicológico es-pecializado, bem como suporte na área da assistência social, e não têm bom retorno no encaminhamento para atendimento médi-co em geral. Há outros que se sentem ilhados sem médi-conseguir referenciar para outros serviços.

Especificamente no âmbito das ONGs, observamos a pouca estabilidade que atravessa o cotidiano de alguns serviços, o que constitui uma grande dificuldade para prestar um bom atendimen-to. Praticamente suas ações são apoiadas por projetos financia-dos. Em função disso, além de viverem na “corrida” para firmar convênios com órgãos financiadores, experimentam constante apreensão porque sabem que, com o término de um projeto, o atendimento pode cessar.