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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. O MUNICÍPIO DE CUBATÃO

5.1.1. Características Gerais

Cubatão, que por muito tempo se constituiu em distrito do município de Santos, foi elevado à categoria de município pela Lei Estadual nº 233, de 24 de dezembro de 1948, verificando-se sua instalação em 09 de abril de 1949. O município de Cubatão, com área de 142 km2, está inserido na região metropolitana da Baixada Santista, contando com uma população de 108.309 habitantes (IBGE, 2000). A Baixada Santista, geomorfologicamente, é constituída de compartimentos bem individualizados, mas de evolução interdependente: a Serra do Mar, as planícies de piemonte (formadas pelos sedimentos resultantes das elevações que as circundam), os manguezais, as planícies de páleo-restingas e as praias costeiras. Do total do território do município de Cubatão, cerca de 58% são constituídos de serras e morros, 24% de manguezais e 18% de planícies aluviais de piemonte e mangues aterrados. A planície constitui somente uma faixa de 11km de comprimento e largura variável entre 02 e 04 km, confinada entre a serra e os manguezais, característica que contribuiu para os problemas gerados pelo crescimento urbano e industrial do município (CETESB, 1985a).

O clima de Cubatão situa-se no limite entre tropical e subtropical, sendo caracterizado por altas temperaturas, com temperaturas médias no período de verão superiores a 25° C, chegando as máximas a mais de 38,5° C. Esse fato pode ser explicado pela topografia do município, que fica quase que totalmente encerrado em uma caixa, cujas paredes são formadas, ao Norte, a Oeste e a Leste, pela Serra do

Mar e, mesmo ao Sul, parcialmente, pela Serra do Morrão, Serra do Quilombo e pequenos montes situados na ilha de Santos e São Vicente.

Os ventos predominantes são os de sul e os de leste, embora na maior parte do tempo (mais de 30%, chegando a 45%) predominem as calmarias e, conseqüentemente, a falta de renovação da atmosfera local. O regime de chuvas é bastante intenso, sendo as precipitações médias anuais da ordem de 2.700 milímetros (BRANCO, 1984). A média anual da umidade relativa do ar nessa região, segundo GUTBERLET (1996), fica entre 70 e 90%.

As condições climáticas de Cubatão, ou seja, alta temperatura e alta média da umidade relativa do ar, associadas ao regime dos ventos, somadas, ainda, à topografia local, são altamente desfavoráveis à dispersão atmosférica de poluentes, especialmente nos meses de inverno, nos quais a quantidade de precipitações pluviométricas, que favoreceriam a redução da poluição, diminuem consideravelmente, ocorrendo o fenômeno que se denomina de inversão térmica.

O fenômeno da inversão térmica é descrito de forma simplificada por BRANCO (1984):

Ao entardecer, principalmente nas épocas mais frias do ano, o solo sofre um resfriamento muito rápido, fazendo com que as camadas de ar inferiores fiquem mais frias que as camadas superiores. Como o ar frio que está embaixo não sobe, assim como o ar quente de cima não baixa, origina-se uma situação de completa estagnação, em que toda fumaça, ao invés de subir e se dissipar tende a permanecer junto ao solo, envolvendo as casas, as pessoas e vegetação (p. 27).

A vegetação da região é caracterizada pela presença de Floresta Atlântica nas escarpas da serra e morros, que atua como agente estabilizador do solo. A área da base das encostas das serras e morros até o limite dos manguezais é ocupada por vegetação de restinga ou floresta tropical de planície litorânea, vegetação essa que sofreu fortes impactos da ocupação antrópica, assim como os manguezais, que funcionam como fixadores de sedimentos, além de possuírem a função de filtro biológico e berçário de diversas espécies da fauna.

A região da Baixada Santista, especialmente em razão da exigüidade de áreas favoráveis à agricultura, nunca se caracterizou como área agrícola, sendo a

bananicultura a principal atividade agrícola até a primeira metade do século XX. Em Cubatão, a partir de 1960, com o intenso processo de ocupação urbano-industrial do município, subsistiram apenas pequenas áreas, que acabaram por desaparecer. Atualmente, inclusive, a lei que dispõe sobre o uso e ocupação do solo do município divide o território deste, para fins fiscais, urbanísticos e de planejamento, somente em área urbana de preservação e área urbana (art. 3º, da Lei Complementar municipal nº 2.513, de 10 de setembro de 1998).

A estreita faixa de terras enxutas e planas no município, conforme acima mencionado, somada à concorrência com a expansão do uso industrial do solo, acabou gerando um forte processo de especulação imobiliária e, consequentemente, pressões para a ocupação dos mangues, com a realização de aterros, bem como das frágeis encostas serranas e morros, áreas nas quais é comum o fenômeno da proliferação de favelas (CETESB, 1985a).

A evolução demográfica de Cubatão foi bastante acelerada a partir de 1950, após a emancipação do município e a construção da refinaria de petróleo da Petrobrás, quando teve início a primeira fase de industrialização, contribuindo enormemente para a ocupação de áreas ecologicamente frágeis. GUTBERLET (1996) afirma que entre 1950 e 1980 ocorreram movimentos migratórios de forma explosiva em Cubatão, em especial de trabalhadores oriundos do Nordeste, face à grande procura de mão de obra necessária para a construção e expansão das fábricas. Contudo, após o término das obras, o número de empregados mantidos fixos era bastante reduzido, levando esses trabalhadores desempregados à ocupação ilegal de terrenos pouco valorizados ou públicos, como margens de rodovias e ferrovias, e áreas de proteção ambiental, como escarpas e manguezais.

O município, que em 1950 contava com uma população de 11.803 habitantes, mais que dobrou dez anos depois, passando para 25.166 em 1960. Em 1970, verifica- se que a população havia novamente duplicado, passando para 51.009 habitantes. De 1970 a 1980, embora o aumento da população tenha sido considerável (79.844 habitantes em 1980), começou a diminuir, estabilizando-se a partir da década de 90, alcançando o número de 91.049 em 1991 e 108.309 habitantes em 2000 (IBGE, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000). Segundo dados da Fundação SEADE, era de

117.289 o total da população residente no ano de 2005 (FUNDAÇÃO SEADE, 2007c).

Essas características, que configuram uma situação de alta vulnerabilidade ecológica e baixa adequabilidade a determinados usos, entretanto, não impediram um intenso crescimento urbano e industrial do município de Cubatão, cujo histórico é apresentado no item seguinte.