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Histórico da Implantação do Pólo Industrial de Cubatão

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. O MUNICÍPIO DE CUBATÃO

5.1.2. Histórico da Implantação do Pólo Industrial de Cubatão

Longe da pretensão de esgotar todos os elementos da implantação do parque industrial de Cubatão, cabem aqui algumas considerações sobre sua evolução histórica e os principais motivos que determinaram sua característica de pólo industrial sídero-petroquímico.

Cubatão, durante séculos, caracterizou-se como porto de pé de serra, onde se realizava o transbordo de pessoas e mercadorias entre o porto de Santos e o Planalto, função portuária que foi decaindo com a construção do “Aterrado” ou “Entulhado” sobre o manguezal, fazendo-se a ligação por terra entre Cubatão e Santos. E foi a posição estratégica de Cubatão ao pé da Serra do Mar, ponto de convergência e passagem obrigatória de diversos sistemas de circulação (ferrovias e rodovias), e próxima ao Porto de Santos, que determinou a instalação de seu complexo industrial.

Os engenhos de cana-de-açúcar e as olarias foram as primeiras atividades do tipo industrial praticadas no município de Cubatão, seguidas dos curtumes, instalados devido à abundância do tanino extraído das folhas dos mangues. Entretanto, essas atividades, que utilizavam matéria-prima local e empregavam mão de obra também local, não conseguiram sobreviver ao rápido processo de industrialização do município (PERALTA, 1979).

A primeira indústria a se instalar em Cubatão foi a Cia. Curtidora Max, no ano de 1912, tendo como dirigentes um grupo de industriais alemães. Como reflexo da 1ª Guerra Mundial, a indústria acabou paralisando suas atividades, sendo suas instalações ocupadas, em 1918, pela Costa Moniz Indústria e Comércio S/A, que manteve a atividade de curtume, passando em 1929 a dedicar-se à fiação e tecelagem de correias de lona e borracharia, à medida que os manguezais foram sendo suprimidos. A partir de 1942, a produção de mangueiras de combate ao fogo passou a ser sua principal atividade (CUBATÃO (Prefeitura Municipal), 1976).

GOLDENSTEIN (1965), entretanto, afirma que a primeira indústria a se instalar em Cubatão foi a Costa Moniz Ind. e Com., porém, no ano de 1895.

À empresa Costa Moniz se seguiu a instalação da Cia. J.B. Duarte, em 1914, que iniciou suas atividades produzindo adubo e tanino. Com o passar dos anos, a empresa foi diversificando as atividades, contando, já em 1928, com a produção de anilinas, ácido carbônico, carbonatos, fosfatos, silicatos e bicarbonato de amônia. A partir de 1937, a empresa passou a se denominar Companhia de Anilinas e Produtos Químicos do Brasil, acabando por falir na década de 1960.

Em 1918, iniciou-se a implantação da Companhia Fabril de Cubatão, que começou a produzir em 1922, paralisando suas atividades em 1929. A arrematação da massa falida da empresa foi feita, então, pela empresa Companhia Santista de Papel, no ano de 1932, que retomou as atividades de produção de papel. Essas duas indústrias “marcaram o início das transformações econômicas e sociais do distrito de Cubatão, contribuindo para a formação do espírito de autonomia que eclode em 1949”, muito antes do surgimento do período de industrialização do município (PERALTA, 1979, p. 97)

A instalação da primeira usina hidrelétrica pela empresa Light-Serviços de Eletricidade S/A, em 1926, representou uma fase de efervescência para o município, mas foi a partir da construção da Usina Subterrânea de Cubatão, nos anos de 1952 a 1955, que se iniciou a transformação do município em grande pólo industrial, diante da farta disponibilidade de energia elétrica (GOLDENSTEIN, 1965). A esse fato deve ser somada a construção da Rodovia Anchieta, entre São Paulo e Santos, finalizada em 1947, que garantiu o fluxo de transporte entre o local de produção e a metrópole (São Paulo) (GUTBERLET, 1996).

A inauguração da Refinaria “Presidente Artur Bernardes” pela Petrobrás, em 1955, viria determinar a formação do atual complexo industrial petroquímico, uma vez que a ela se seguiram a instalação de outras indústrias, especialmente indústrias voltadas para o aproveitamento dos derivados de petróleo (CUBATÃO (Prefeitura Municipal), 1976).

Segundo FERREIRA (1993), duas ordens de fatores contribuíram para a implantação da refinaria da Petrobrás em Cubatão e, em consequência, da indústria petroquímica, apesar das condições locais desfavoráveis. A primeira delas diz

respeito exclusivamente à decisão política, respondendo diretrizes traçadas no nível federal. Nesse período vivia-se no país a ‘Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento’, cujo principal objetivo, tendo em vista a promoção do ‘milagre econômico brasileiro’, era reforçar o potencial produtivo nacional, para aumentar o poder de barganha na arena geopolítica global, legitimando um crescimento econômico acelerado e predatório, sem qualquer preocupação com a melhoria da qualidade de vida da população como um todo. “A única perspectiva levada em conta na avaliação de projetos era econômico-financeira”, uma vez que inexistiam pressões políticas sobre restrições ambientais ou restrições internacionais a financiamentos (p. 41).

O salto industrializante proposto, justificado por via da presença do Estado, como de ‘interesse nacional’, e legitimado no nível da opinião pública como ‘o interesse geral’, fez com que fosse descartada qualquer discussão setorizada sobre os problemas de ordem social ou ambiental, havendo como que “um acordo pela construção da identidade nacional calcada no desenvolvimentismo” (p. 43), contexto no qual as questões de infra-estrutura de transportes e energia, o equacionamento dos problemas das indústrias siderúrgica e petrolífera e a instalação de novos setores industriais adquiriram foros de problemas nacionais, prioritários e intangíveis, tanto que o complexo industrial de Cubatão contou sempre com a capa protetora dos Órgãos de Segurança Nacional.

A segunda ordem de fatores, ainda conforme Ferreira, responde à lógica econômico-financeira e se refere à proximidade do maior mercado consumidor (o parque industrial de São Paulo), disponibilidade de energia, facilidade de comunicações, pré-existência de canais de circulação de matérias-primas e produtos (porto, oleoduto, rodovia e ferrovia) e abundância de água.

Assim, foram instaladas, na seqüência, as indústrias Alba S/A-Indústrias Químicas (1956), Companhia Brasileira de Estireno (1957), Companhia Petroquímica Brasileira-COPEBRÁS (1958), Fibrastec-Comércio, Indústria e Importação Ltda (1958), Petrobrás Química S/A-Fábrica de Fertilizantes (1958) e Union Carbide do Brasil S/A Indústria e Comércio (1958), caracterizando-se como indústrias de base, dedicadas à produção de matérias-primas.

Em 1963, a instalação da Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA) veio incrementar a base industrial em formação, completando a característica do pólo industrial de Cubatão como pólo sídero-petroquímico. A ela se seguiram a instalação da Carbocloro S/A-Indústrias Químicas (1966), Clorogil S/A-Indústrias Químicas (1966), Fábrica de Cimento Santa Rita S/A (1968), Liquid Carbonic Indústrias S/A (1970), Ultrafértil S/A-Indústria e Comércio de Fertilizantes (1970), Engeclor Indústria Química S/A (1971), Fertilizantes União S/A (1972), Engebasa-Mecânica e Engenharia da Baixada Santista Ltda (1973), Petrocoque S/A-Indústria e Comércio (1975) e IAP S/A-Indústrias Agro-Pecuárias (1975) (CUBATÃO (Prefeitura Municipal), 1976).

A mão-de-obra utilizada na construção das fábricas era desqualificada e formada especialmente por trabalhadores oriundos da região Nordeste, parte dos quais acabaram por se fixar no município. Entretanto, altamente mecanizadas e automatizadas, as fábricas, desde o início, empregavam na sua operação um número de operários relativamente baixo quando comparado ao valor da produção, a maioria deles operários qualificados (GOLDENSTEIN, 1965). Assim, conforme afirma BRANCO (1984), concluídas as obras, restava sempre um enorme saldo de desempregados, de problemas habitacionais, alimentares e ambientais para a cidade.

Outra característica, segundo GOLDENSTEIN (1965), foi a total ausência de planejamento da instalação das indústrias, que foi “espontânea” e “desordenada”, em função das necessidades próprias daquelas, localizando-se perto ou longe do núcleo urbano, ignorando-se a direção dominante dos ventos, fato que, aliado à ausência de planejamento da expansão do próprio núcleo urbano já existente, acarretou diversos problemas à população e ao meio ambiente, face ao alto potencial poluidor dessas indústrias.

Aspecto relevante destacado pela autora é que a formação do processo de industrialização do município não foi determinada pelo núcleo urbano preexistente, mas veio totalmente de fora, sendo realizada por grandes empreendimentos externos, que estabeleceram relações sociais com todos os municípios da Baixada Santista, fato que dificultou a integração com o núcleo urbano já existente, sendo um dos fatores responsáveis pelo aglomerado urbano não ter acompanhado o desenvolvimento industrial. PERALTA (1979) afirma que o desenvolvimento

industrial de Cubatão “manteve-se paralelo à cidade e não em simbiose com ela” (p. 135).

Conforme facilmente se observa, a implantação do pólo industrial de Cubatão se deu em ritmo bastante acentuado, estando, desde o início dos anos 80, praticamente esgotada a disponibilidade de áreas, bem como a capacidade de assimilação do meio ambiente (CETESB, 1985a).

Atualmente, o pólo industrial de Cubatão abriga 21 (vinte e uma) indústrias de grande porte, sendo dez indústrias químicas/petroquímicas, sete indústrias de fertilizantes, uma siderúrgica, uma fábrica de papel, uma de cimento e uma de gesso, além de outras de pequeno e médio porte (CETESB, 2005).

5.1.3. O Contexto de Degradação Ambiental do Município no Início da