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2.2. POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS E GESTÃO AMBIENTAL

2.2.5. Gestão Ambiental no Setor Industrial

A gestão ambiental no setor industrial é parte fundamental no processo de implementação das políticas públicas ambientais rumo ao almejado desenvolvimento sustentável. O gerenciamento ambiental empresarial, segundo SÁNCHEZ (1994), “é o conjunto de operações técnicas e atividades gerenciais que visa assegurar que um

empreendimento opere dentro dos padrões legais ambientais exigidos, minimize seus impactos ambientais e atenda a outros objetivos empresariais, como manter um bom relacionamento com a comunidade" (p. 67).

Não há qualquer dúvida que a indústria e seus produtos exercem forte impacto sobre os recursos naturais ao longo de todo o seu ciclo - exploração e extração de matérias-primas, sua transformação em produtos, consumo de energia, geração de resíduos - tanto na produção, quanto após o uso e eliminação dos produtos pelos consumidores. Esse impacto pode ser positivo, melhorando a qualidade de um recurso ou ampliando seus usos, ou negativo, pelo esgotamento ou deterioração dos recursos, bem como pela poluição causada pelo processo produtivo e pelo produto.

Contudo, foram os impactos negativos que ganharam maior relevância, especialmente a partir dos anos 60, em razão da grande expansão industrial que se seguiu à II Guerra Mundial e que não levou em conta o meio ambiente, aumentando a poluição em níveis alarmantes, simbolizada pelo aumento da incidência de graves acidentes provocados por produtos químicos tóxicos, como, por exemplo, o envenenamento químico por mercúrio de Minamata, o smog de Los Angeles ou a poluição progressiva de rios como o Mosa, o Elba e o Reno, que fizeram aumentar as preocupações do público, iniciando-se um amplo debate sobre a conservação do meio ambiente e o crescimento econômico.

A partir de então, diversas medidas vêm sendo adotadas pelos governos e pelas indústrias visando à proteção do meio ambiente e à conservação dos recursos naturais, que vão desde instrumentos legais a instrumentos econômicos, passando pelo desenvolvimento de novos processos, produtos e tecnologias mais limpos e mais eficientes, tornando-se o controle da poluição um próspero ramo da indústria em vários países industrializados (CMMAD, 1991).

Segundo HUNT e AUSTER (1990), as empresas necessitam de programas de gerenciamento ambiental para responder da melhor maneira possível às exigências legais das autoridades governamentais, nos níveis federal, estadual e local, assim como para responder aos anseios do público, uma vez que, atualmente, tanto a mídia quanto os consumidores em geral focam maior atenção aos problemas ambientais. Dessa forma, ignorar esses aspectos pode acarretar graves conseqüências ao

desempenho das empresas, gerando perdas econômicas e danos à imagem destas por anos. Os autores identificam cinco estágios em que podem se encontrar as empresas quanto aos seus programas de gerenciamento ambiental. No primeiro estágio, encontram-se as empresas para as quais o gerenciamento ambiental é considerado desnecessário. No segundo estágio, estão aquelas em que a preocupação com os problemas somente surge quando estes ocorrem, caracterizando-se por uma postura reativa. As empresas do terceiro estágio demonstram um comprometimento ao menos teórico com o gerenciamento ambiental que, porém, acaba resultando em poucas ações. Para as empresas do quarto estágio, a gestão ambiental é uma importante função dos negócios e buscam atuar para minimizar os impactos ambientais negativos. No quinto e último estágio encontram-se as empresas para as quais o gerenciamento ambiental é um item prioritário, havendo um envolvimento ativo e diário de todos os seus setores, caracterizando-se por uma postura pró-ativa no trato dos problemas ambientais.

A performance ambiental de uma organização é determinada pelo grau de maturidade de seu sistema de gestão ambiental e da conscientização ambiental que ela apresenta, tanto no nível organizacional, quanto individual. A conscientização ambiental existe quando a variável ambiental é percebida de forma integrada na organização, determinando uma resposta de alta sistematização da gestão ambiental, voltada para o modelo preventivo, com boa assimilação das mudanças na cultura da empresa (PETILLO, 1997). Possíveis indicadores de performance ambiental do setor industrial, conforme SÁNCHEZ (1998), incluem intensidade do consumo de energia e água por unidade de produção; intensidade de consumo de matéria-prima por unidade de produção; emissão de poluentes; geração de resíduos e reutilização; porcentagem de tempo que as plantas estão obedecendo aos padrões de emissão; e número de acidentes ambientais por ano.

O gerenciamento ambiental é, ainda, um dos programas que melhor pode criar vantagem competitiva às corporações. Para tanto, afirma WELFORD (1995), as empresas precisam abandonar ideologias baseadas apenas no desempenho financeiro e considerar um relacionamento honesto e confiável da corporação com a sociedade, criando uma boa reputação e imagem públicas de longo prazo. Para o autor, o gerenciamento ambiental dentro de uma estrutura ética de negócios não permite,

ainda, separar considerações ambientais de questões como o tratamento das mulheres e dos grupos minoritários, o tratamento dos animais e a proteção das populações indígenas.

No caminho rumo ao desenvolvimento sustentável, novos métodos de gestão ambiental empresarial também são fundamentais. O relatório “Nosso Futuro Comum” já alertava que a resposta da indústria à poluição e à deterioração dos recursos naturais não deveria se limitar ao atendimento das regulamentações, mas “comportar um amplo senso de responsabilidade social e garantir a conscientização das questões ambientais em todos os níveis” (CMMAD, 1991, p. 248).

A Agenda 21 global, que constitui um grande guia para se alcançar o desenvolvimento sustentável, documento aprovado na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, conforme já mencionado, dedicou um capítulo ao comércio e à indústria (Capítulo 30), no qual conclamou as empresas e suas entidades a reconhecerem como prioridade o manejo adequado do meio ambiente, fator determinante do desenvolvimento sustentável. Para tanto, a Agenda 21 estabeleceu duas áreas programas: a promoção de uma produção mais limpa e a promoção da responsabilidade empresarial (UNITED NATIONS, 1992).

A expressão “produção mais limpa” se refere a uma abordagem de proteção ambiental mais ampla, pois considera todas as fases do processo de fabricação e o ciclo de vida do produto, incluindo o seu uso nos domicílios e locais de trabalho, exigindo ações contínuas e integradas para conservar energia e matéria-prima, substituir recursos não renováveis por renováveis, eliminar substâncias tóxicas e reduzir os desperdícios e a poluição resultante dos produtos e dos processos produtivos. Define-se como uma estratégia tecnológica de caráter permanente que se contrapõe às soluções que objetivam controlar a poluição apenas atuando no final do processo produtivo. As tecnologias de produção mais limpa contemplam tanto mudanças nos produtos quanto nos seus processos de produção, ampliando a sustentabilidade dos sistemas naturais, pela redução da quantidade de insumos exigidos para um mesmo nível de produção, pela redução ou eliminação de todo tipo de rejeitos antes que eles sejam gerados, bem como redução da poluição resultante do processo de produção, distribuição e consumo, passando, ainda, pela reutilização

e reciclagem. De acordo com essa abordagem, os fabricantes são co-responsáveis por seus produtos mesmo após a venda e consumo juntamente com seus usuários ou consumidores (BARBIERI, 2006).

Segundo CORREIA (2005), as disposições do art. 3º, inciso IV, e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81 - que, respectivamente, conceitua poluidor como a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental, e estabelece a responsabilidade civil objetiva por danos ambientais, sob a modalidade do risco integral da atividade, este último recepcionado pela Constituição Federal de 1988 (art. 225, § 3º) - já seriam suficientes para afirmar o reconhecimento da co-responsabilidade dos fabricantes por seus produtos após a venda e consumo no direito brasileiro. Essa responsabilidade encontra fundamento nos princípios do poluidor-pagador, que determina a internalização dos custos de proteção do meio ambiente, e da prevenção que, conforme a autora, impõe aos fabricantes o dever de fornecer produtos que gerem o mínimo possível de resíduos após o consumo, bem como que aqueles inevitavelmente gerados possam ser aproveitados. A autora afirma, ainda, que o caráter poluente de resíduos gerados pós-consumo, desde que represente riscos ambientais não legitimamente esperados pela coletividade, poderia ser considerado um defeito do produto ou serviço, nos termos dos arts. 12 e 14, do Código de Defesa do Consumidor, assim como a falta de informações ou informações distorcidas sobre esse caráter poluente. Nesse caso, a coletividade estaria equiparada a consumidor, em razão da lesão ao meio ambiente decorrer de uma relação de consumo. A Lei federal nº 7.802/89, que trata dos agrotóxicos, com as modificações introduzidas pela Lei nº 9.974/00 (art. 6º, § 5º, e art. 14, alínea “e”), é um exemplo de legislação brasileira nesse sentido, assim como as Resoluções CONAMA nºs 257/99 e 258/99, que dispõem, respectivamente, sobre a destinação final de pilhas e baterias e destinação final dos pneumáticos inservíveis.

O programa de responsabilidade empresarial proposto pela Agenda 21, por sua vez, objetiva estimular o conceito de vigilância no manejo e utilização dos recursos naturais e aumentar o número de empresários cujas empresas apóiem e implementem políticas de desenvolvimento sustentável, recomendando, entre outras medidas, o aumento dos investimentos em P & D (Pesquisa e Desenvolvimento) de

tecnologias ambientalmente saudáveis e de sistemas de manejo ambiental, em conjunto com instituições de ensino e pesquisa, bem como o manejo responsável e ético de produtos e processos dos pontos de vista da saúde, da segurança e do meio ambiente (UNITED NATIONS, 1992).

BARBIERI (1997) afirma que as empresas não devem se preocupar com o meio ambiente apenas para atender os requisitos legais, “mas também para alcançar objetivos econômicos compatíveis com padrões sustentáveis de desenvolvimento” (p. 68), adiantando-se às exigências legais, estabelecendo uma relação de soma positiva entre suas atividades e o meio ambiente. Segundo o autor, da análise da trajetória das empresas que passaram a se preocupar com o meio ambiente, pode-se concluir que esse caminho é determinado, inicialmente, por exigências legais ou por pressões da comunidade, levando, quase sempre, à adoção de medidas corretivas. O passo seguinte direciona-se a uma produção mais eficiente, poupadora de materiais e energia e, consequentemente, geradora de menos poluentes, baseada no conceito de tecnologia ou produção mais limpa. Em uma terceira etapa, o meio ambiente passa a ser tratado dentro de uma perspectiva estratégica, sendo inserido entre as prioridades máximas da empresa e envolvendo todas as suas áreas funcionais, abrangendo a redução sistemática de custos, via produção mais limpa, e o aproveitamento das oportunidades proporcionadas pelo crescimento da consciência ambiental geral.

MOURA (1998) aponta diversas razões para que as empresas busquem a melhoria do desempenho ambiental de produtos e processos de produção: maior satisfação dos clientes, melhoria da imagem da empresa, conquista de novos mercados, redução de custos, melhoria do desempenho produtivo da empresa, redução dos riscos, melhoria da administração da empresa, maior permanência do produto no mercado, maior facilidade na obtenção de financiamentos, maior facilidade na obtenção de certificação e maior credibilidade pela transparência.

O crescimento da consciência ambiental fez surgir diversos sistemas de gestão ambiental que podem ser adotados pelas empresas, embora essas possam criar seus próprios sistemas. Alguns desses sistemas são mundialmente conhecidos e aplicados no setor empresarial, os quais serão brevemente comentados no item seguinte.