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2.4. SITUAÇÕES SIMILARES EM OUTROS PAÍSES

2.4.2. O Controle da Poluição na Inglaterra

Na Inglaterra, foram verificados efeitos adversos da poluição do ar sobre a saúde da população desde os anos 1840, surgindo diversas iniciativas para introduzir no país leis que obrigassem as indústrias a reduzirem as emissões de poluentes, destacando-se nesse período a edição do Ato de Saúde Pública, em 1848, e do primeiro Alkali Act, em 1863. Nessa época, foram identificados diversos problemas nas regiões próximas às plantas industriais, decorrentes das emissões de poluentes do ar que, além de danos à saúde, causavam extensos danos à vegetação.

Em 1874 foi editada norma que exigia que as indústrias adotassem as melhores práticas disponíveis para a redução da poluição, a qual fundamentaria a política de poluição do ar na Inglaterra nos próximos 100(cem) anos. Houve grande resistência das indústrias em atender à legislação, sendo que até o início da década de 1970 poucos resultados efetivos haviam sido obtidos. Esse fato decorreu, principalmente, de uma interpretação muito liberal dada à norma, segundo a qual bastava que as indústrias demonstrassem ter utilizado a melhor opção de prática disponível para controlar as emissões ou a melhor opção que não implicasse em custos excessivos, para que punições não fossem aplicadas, mesmo que esse controle não fosse obtido (SAINT ANDREWS UNIVERSITY, acesso em 2007).

A par disso, embora houvesse evidências de que as emissões domésticas eram o principal problema de poluição do ar no país, os governantes se recusavam a abordar a questão, por falta de apoio popular. Somente em 1952, quando uma forte

nuvem de poluição, conhecida como Great London Smog, cobriu Londres por cinco dias, durante os quais o número de mortes por doenças respiratórias excedeu em 4.000 o número verificado em condições normais, com forte repercussão na mídia, a sociedade se posicionou a favor de um controle mais forte da poluição, surgindo, então, o apoio necessário à adoção de medidas efetivas de controle da poluição doméstica decorrente do uso de combustíveis fósseis, em especial madeira e carvão (GIUSSANI, 1994).

Segundo a autora, esse evento, somado a muitas campanhas de grupos organizados, fazendo aumentar a consciência pública sobre os efeitos maléficos da poluição do ar, originou um nível tal de pressão sobre os governantes que não era mais possível ignorar a questão. Como resultado dessa pressão, o governo criou um comitê para examinar o problema da poluição do ar, cujo trabalho resultou na introdução de uma norma fundamental para o controle da poluição na Inglaterra: o Clean Air Act [Lei do Ar Limpo], datado de 1956.

Essa legislação foi pioneira em tratar conjuntamente o problema da poluição doméstica e da poluição industrial no país. Suas principais disposições diziam respeito ao controle das emissões domésticas de fumaça preta. Quanto à poluição industrial, referiam-se basicamente à substituição de caldeiras, aumento da altura das chaminés das fábricas e instalação de equipamentos de controle da poluição. O ato também exigiu que as indústrias instalassem equipamentos para medir suas emissões de fumaça, cujos resultados deveriam ser disponibilizados às autoridades locais. O monitoramento sistemático da poluição do ar, aliás, somente começou a ocorrer no país a partir desse ato, sendo um dos principais passos na direção do controle da poluição.

Ainda segundo GIUSSANI (1994), uma das principais inovações da norma foi a concessão de poder discricionário às autoridades locais para estabelecerem “áreas de controle de fumaça” em seus distritos, nas quais somente poderiam ser utilizados combustíveis que não produzissem fumaça, seguindo um modelo já introduzido por autoridades progressistas de locais como Manchester e Coventry. As autoridades locais também poderiam estabelecer prescrições para o controle das fontes de poluição domésticas e industriais em algumas situações de risco, sendo

disponibilizados, ainda, recursos financeiros para auxiliar os habitantes dessas áreas a se adequarem à nova legislação.

A implementação da norma, entretanto, não ocorreu da mesma maneira em todas as regiões do país, sendo adotados programas progressivos por autoridades de locais mais ricos, como Londres e Yorkshire, enquanto outros locais responderam mais lentamente ao ato, havendo especial resistência das indústrias de mineração de carvão, que acreditavam que o estabelecimento de áreas de controle restringiria o uso do minério, causando danos à indústria. Por esse motivo, foi fundamental a criação pelo ato de um Conselho para acompanhar o progresso no controle da poluição do ar decorrente do cumprimento da norma. Esse conselho identificou a resistência de algumas autoridades locais para implantar áreas de controle, fato que determinou a edição de um novo Clean Air Act, em 1968, dando ao governo federal o poder de forçar as autoridades locais a tratarem do problema da poluição doméstica. Esse mesmo conselho recomendou que informações sobre a poluição do ar fossem disponibilizadas à população.

Conforme a autora, o ato foi bem sucedido na redução total das emissões domésticas de fumaça, com reflexos positivos na redução das emissões industriais, havendo uma relação estatística entre a redução das emissões domésticas e industriais e as áreas providas de disposições locais de controle, ou seja, quanto maior o número dessas normas, maior a redução das emissões. Houve diversos percalços no cumprimento da norma, como em 1970-1971, quando muitas áreas de controle foram suspensas devido à falta de combustíveis, contribuindo para a piora de episódios de poluição do ar em alguns locais. Apesar desses fatos, ocorreu uma grande mudança no tipo de combustíveis utilizados para fins domésticos, como para cozinhar e no aquecimento, sendo o carvão substituído por gás, eletricidade ou carvão processado, que não emitia fumaça, contribuindo para a redução da poluição urbana, diminuindo as emissões de material particulado e enxofre. Mudanças similares já tinham ocorrido dentro da indústria, sendo que muitas delas, ainda no século XIX, trocaram o uso do carvão como combustível para a energia elétrica. Contribuíram para essa mudança, além da legislação, as aspirações sociais da época e a disponibilidade de opções de aquecedores e fogões menos poluentes, assim como o

declínio da atividade industrial pesada no país, que era um dos setores econômicos mais poluidores, com o aumento das atividades do setor de serviços.

Desde a edição do Clean Air Act, em 1956, a qualidade do ar na Inglaterra melhorou significativamente, com a redução em 80%, em 20 anos, da concentração média anual de fumaça nas áreas urbanas, e redução de 70% da média do nível de concentração de dióxido de enxofre, reduzindo-se proporcionalmente a taxa de mortalidade por doenças respiratórias. As reduções das concentrações desses poluentes foram particularmente significantes nas cidades do norte do país, como Manchester, Barnsley, Glasgow e Stoke on Trent, em razão das normas editadas pelas autoridades locais por força do Clean Air Act, de 1956 (GIUSSANI, 1994).

Contudo, recentemente, os Conselhos de governo desses locais completaram uma revisão e avaliação detalhada da qualidade do ar nessas áreas, o qual revelou que, caso nenhuma ação fosse adotada, haveria aumento da média anual de dióxido de nitrogênio, excedendo em muito os objetivos estabelecidos para a cornubação “Grande Manchester”, assim como uma superação, em menor escala, dos objetivos fixados para o material particulado (MAPAC, 2005), revelando a necessidade de vigilância contínua da situação, para possibilitar a adoção das medidas necessárias para a manutenção da qualidade do ar em níveis adequados.