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CAPÍTULO 3 A BIODIVERSIDADE, O BIOMA MATA ATLÂNTICA E AS

3.2 Aspectos históricos e socioeconômicos da ocupação da região dos Campos de Cima da

3.2.3 Características socioeconômicas da região dos Campos de Cima da Serra na

Olhando-se a trajetória histórica dos Campos de Cima da Serra percebe-se a agropecuária como a principal atividade econômica no passado e que permanece até os dias atuais, sendo a pecuária de corte ainda presente no ideário cultural da população local. No entanto, a pecuária de corte foi perdendo espaço para a fruticultura e o cultivo de grãos.

Tomando-se como exemplo o município de Vacaria, que na década de 1990 possuía um rebanho que atingia 178,5 mil cabeças e no Censo de 2010 alcançou 56,2 mil cabeças, ou seja, em poucos anos houve uma redução significativa desta atividade produtiva e isso em grande medida se reflete também nos demais municípios desta região.

Segundo os dados do IBGE (2014), nos dez municípios que compõe a região dos Campos de Cima da Serra, a pecuária de corte tem perdido espaço especialmente para os cultivos de grãos, fruticultura e olericultura (exceção para os municípios de Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões e São José dos Ausentes, onde houve um pequeno aumento no rebanho).

Observando-se a cultura da soja, por exemplo, percebe-se que nos municípios onde a cultura aparece, ocorre um aumento significativo da área cultivada entre os anos de 1990 e 2012. O mesmo ocorre com a área cultivada de milho.

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O queijo produzido nesta região possui características que o diferenciam dos queijos produzidos em outras regiões do Estado, sendo denominado de “queijo serrano”, sendo que nos dias atuais ainda encontra-se produtores desse tipo de queijo (AMBROSINI et al. 2012, p. 183).

75 A fruticultura também tem se destacado, onde Vacaria é o maior produtor de maçãs do estado do Rio Grande do Sul e emprega uma parcela significativa da mão de obra local e regional no manejo e colheita desta fruta, caso do município de Muitos Capões, por exemplo. Este aspecto é importante de ser destacado, pois muitos dos agricultores extrativistas de pinhão de Muitos Capões empregam-se de maneira temporária na colheita da maçã.

Além dos já mencionados (grãos e frutas), nos últimos anos a exploração florestal com o cultivo de Pinus sp. vem ganhando uma maior expressão nesta região, sendo estimulada especialmente por empresas produtoras de celulose. Ressalta-se que, diante das condições ambientais dos Campos de Cima da Serra, esta atividade pode representar uma ameaça ao ecossistema natural, tendo em vista as extensas áreas de monocultivo desta cultura que acabam por ameaçar as espécies nativas do local, inclusive a regeneração natural da própria Araucária e do butieiro como destacam os informantes-chave pesquisados.

Mesmo diante da expressão econômica que representa para esta região o cultivo de grãos, a fruticultura, a pecuária de corte e o cultivo de pinus, convém destacar que existe uma diversidade ainda maior de outras iniciativas de geração de renda na agricultura. Neste rol incluem-se as iniciativas de produção de pequenas frutas, como amora-preta, framboesa, mirtilo, morango que vem se consolidando nas regiões onde predominam as pequenas propriedades rurais e a produção de queijos artesanais (queijo serrano) como mencionado anteriormente. As iniciativas de integração com agroindústrias, embora ainda tímidas já começam a surgir como alternativa para industrialização da produção dos agricultores familiares.

O pinhão destaca-se como uma alternativa de geração de renda para muitas famílias na região dos Campos de Cima da Serra, mesmo com poucos dados sobre o volume colhido e comercializado anualmente. A Figura 4 demonstra o volume de pinhão produzido nos municípios que compõe a região dos Campos de Cima da Serra com base em dados IBGE (2012) sobre a produção da extração vegetal e da silvicultura.

Com base na Figura 1 identifica-se que o volume total de pinhão produzido nestes municípios entre os anos de 1990 e 2012 registrou um aumento de mais de 30%, sendo que os municípios de André da Rocha, Muitos Capões e São José dos Ausentes foram os que registraram um aumento na produção, enquanto que nos demais municípios, como exceção de Pinhal da Serra que somente registrou a produção no ano de 2012, todos os demais registraram uma queda na produção.

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Município Produção (toneladas) por Ano

1990 2000 2012 André da Rocha – RS 2 2 9 Bom Jesus - RS 42 45 41 Campestre da Serra - RS - 2 1 Esmeralda - RS 6 8 3 Ipê – RS 6 5 3

Monte Alegre dos Campos – RS

- 1 3

Muitos Capões - RS - 8 13

Pinhal da Serra - RS - - 8 São José dos Ausentes - RS - 12 18

Vacaria - RS 15 3 5

Total produzido 71 86 104

Figura 4 − Quantidade de pinhão produzida (em toneladas) por município nos anos de 1990, 2000 e 2012

Fonte: IBGE (2012).

Entretanto, ressalta-se que o volume produzido e comercializado pode ser muito maior do que o volume expresso nos dados oficiais da pesquisa, tendo em vista que a maioria dos agricultores não registram o volume de pinhão comercializado, pois a maioria não emite nota fiscal de produtor rural.

Tendo em vista esta característica da informalidade que representa a comercialização do pinhão, dentre outros fatores, como o pouco conhecimento deste alimento e falta de hábito de consumo em outras regiões do país, retrata-se um sentimento de pouca valorização da espécie como um componente econômico dos sistemas de produção agrícolas.

Se por um lado o pinhão não possui muitos registros de comercialização e possui uma característica de informalidade, as frutas nativas presentes na Floresta de Araucária por sua vez nem constam nos dados do IBGE e muito menos nos dados econômicos dos municípios da região dos Campos de Cima da Serra. As frutas nativas tiveram uma importância grande na alimentação dos povos indígenas, posteriormente dos peões de fazenda e especialmente na alimentação de animais como os porcos, por exemplo.

Um fator que expressa a importância das frutas nativas na vida local é o fato de que nas propriedades agrícolas e mesmo nos espaços urbanos são encontrados inúmeros exemplares de espécies de frutíferas nativas. As mudas destas frutíferas tem origem das matas nativas ou são compradas em viveiros, o que, em grande medida, reflete que a população que vive nos Campos de Cima da Serra valoriza as frutíferas nativas, seja consumindo suas frutas

77 na forma in natura, industrializada, ou como plantas ornamentais. Neste aspecto, destaca-se o butiá como uma destas frutíferas nativas que aparece em inúmeros quintais domésticos.

CAPÍTULO 4 - APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS PELOS