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Características, Técnicas e Metodologias de EAD

Quadro nº 2: Comparação Quanto aos Tipos de Mídias Utilizadas na EAD

4.4 Características, Técnicas e Metodologias de EAD

Quando se analisa o ensino a distância e as perspectivas que decorrem da sua implementação alguns conceitos necessitam ser revistos. Segundo Moran (2000 a), a Educação Continuada é o processo de formação constante, de aprender sempre,

de aprender em serviço, juntando teoria e prática, refletindo sobre a própria experiência e ampliando-a com novas informações e relações.

O fenômeno educacional estaria diferenciado em três perspectivas: a presencial; a semipresencial e a distância. Como educação presencial se considera a educação ministrada nos cursos regulares, em qualquer nível, onde professores e alunos se encontram sempre no mesmo local físico denominado sala de aula. A educação semipresencial acontece uma parte na sala de aula e outra parte a distância, através do uso das tecnologias.

A educação a distância, segundo Cruz (2002), caracteriza-se pela: separação entre professor e aluno durante o processo educacional; vivência do processo educacional de maneira não-grupal por parte do aprendiz; existência de uma forma burocratizada de oferta educacional; utilização de meios de comunicação, mecânicos ou eletrônicos, para a distribuição do conteúdo do curso; utilização dos meios de comunicação em via dupla a fim de que o aluno possa ter ou iniciar um diálogo.

Nesta tentativa de entender adequadamente o que é educação a distância, pode- se, de acordo com Decreto n° 2.494 de 10 de fevereiro de 1998, Artigo 1° dizer que “educação a distância é uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados por diversos meios de comunicação”.

Por isto, para Cruz (2002 p. 64), na EAD:

A comunicação interpessoal da educação convencional é substituída por algum modo de comunicação mediada pela tecnologia [...] Com a revolução eletrônica dos anos 80 e o desenvolvimento da internet, novas formas de fazer educação a distância começaram a aparecer. É o caso da educação on-line por conferência computadorizada (CMC) que vem sendo chamada por alguns pesquisadores de um novo domínio da interação educacional porque possibilita uma independência de tempo e lugar, mas permite a comunicação muitos-a-muitos.

Assim, Cruz (2002 p. 64), valendo-se dos ensinamentos de Keegan destaca que “ a possibilidade de ensinar, face a face a distância, passou a ser possível pela primeira vez na historia da EAD”.

Moran (2000a) afirma que, outro conceito que se modifica é o de aula. Atualmente, entende-se por aula um espaço e um tempo determinados. No entanto, com as inovações tecnológicas esse espaço e esse tempo deverão ser cada vez

mais flexíveis. A aula será entendida também como intercâmbio e pesquisa, através do uso das tecnologias interativas, o professor estará, de fato, dando aula ao receber e responder e-mails dos alunos; ao criar listas de discussão e alimentar continuamente os debates e pesquisas com textos e/ou páginas da Internet. Por isso, o papel do professor vem sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na busca do conhecimento. Nesta perspectiva, ter-se-á cada vez mais aulas a distância com possibilidade de interação on-line e aulas presenciais com interação a distância.

O redimensionamento do papel do professor [...] está relacionado à transformação do próprio professor, que deixará de ser o fornecedor do conhecimento para se tornar um provocador do aprender e pensar, um formador. [...] O professor começa a trabalhar “dentro” e “na mídia”. E é através dela que se processa a interação com os alunos e com os equipamentos no ambiente tecnológico num processo educativo sem precedentes em sua experiência anterior. (CRUZ, 2002, p. 42-46).

Para se pensar a EAD, é importante descrever o papel da clientela que busca no ensino a distância o caminho para seu aprimoramento pessoal e/ou profissional. Para Peters (2001), a clientela da educação a distância é especial porque, na sua maioria, situa-se entre 20 e 30 anos, sendo que, para cima, normalmente não há um limite de idade. Daí que as características mais marcantes dos estudantes de EAD são: dispõem de uma experiência de vida maior; trazem uma considerável experiência profissional; provêm de ambientes sociais que não lhes possibilitaram o estudo na faixa etária desejável; buscam um processo de ascensão social; apresentam maior qualificação do que os estudantes de sala de aula; o estudo tem, para eles, em decorrência de sua faixa etária, outra função.

As características listadas suscitam um problema didático: deve-se oferecer a esses estudantes o mesmo ensino que é oferecido no ensino presencial?

A questão da metodologia do ensino a distância é fundamentalmente pensada em termos de andragogia. No entanto, como a EAD ainda não consolidou uma metodologia para o seu trabalho, os teóricos da educação acabam por buscar no ensino presencial ( fundamental, médio e superior) as referências metodológicas a serem utilizadas na sua prática de ensino a distância.

Assim, os conceitos como contextualização, diálogo, ensino individualizado, colhidos no ensino presencial, vão sendo incorporados na prática de EAD. Contudo, é importante registrar que, no ensino fundamental e médio, a educação a distância é utilizada como uma complementação do ensino presencial e não com o propósito de

substituí-lo. A própria legislação educacional brasileira não viabiliza essa possibilidade do ponto de vista legal.

De acordo com Peters (2001), a didática do ensino a distância pode fazer o telestudo tornar-se adequado ao adulto quando coloca os participantes (estudantes) em primeiro lugar, levando em consideração as condições específicas do contexto social dos estudantes, suas atividades profissionais e as condições prévias inerentes ao telensino. Os alunos devem ser motivados, orientados, no estudo autoplanejado e organizado e estimulados para a comunicação formal e informal, bem como para a cooperação com os colegas e, com a ajuda de um sistema de assistência que trabalha diferenciadamente, eles devem ser percebidos e orientados individualmente e, ainda, levados a sério. “As condições sociográficas específicas prévias dos estudantes são uma condição importante do ensino acadêmico, que não se deve negligenciar nem ignorar no planejamento, no desenvolvimento e na avaliação” (PETERS, 2001, p. 42).

Considerando as peculiaridades da educação a distância, três conceitos são fundamentais para o seu entendimento: diálogo, estrutura e autonomia.

-Diálogo: para Moore (1993, p.24), distingue-se de outras interações no ensino e

no estudo.

Um diálogo é direcionado, construtivo e é apreciado pelos participantes. Cada uma das partes presta respeitosa e interessada atenção ao que o outro tem a dizer. Cada uma das partes contribui com algo para seu desenvolvimento e se refere às contribuições do outro partido. Podem ocorrer interações negativas e neutras. O termo diálogo, no entanto, sempre se reporta a interações positivas. Dá-se importância a uma solução conjunta do problema discutido, desejando chegar a uma compreensão mais profunda dos estudantes.

Esta concepção estaria vinculada à pedagogia humanista, para a qual o diálogo de pessoa para pessoa teria importância central, desde que transcorra sem estruturas e sem fim predeterminado, conforme a proposta pedagógica de Paulo Freire discutida no item 2.5.3, p. 48-56 dessa dissertação.

- Estrutura: de acordo com Moore (1993, p.26), é uma concepção de ensinar e

aprender que é diferente da concepção da aprendizagem dialógica, em princípio e em traços importantes e, que em parte, lhe é antagônica. Ela não está aberta a intervenções espontâneas e desdobramentos imprevistos, mas é fechada, por estar voltada de modo conseqüente para a consecução de um objetivo, planejado passo a passo, regulamentada quanto ao tempo, bem como controlada e avaliada uniformemente. O instrumento principal deste ensinar e aprender são cursos

impressos ou pacotes multimídias, que contêm um ensino cuidadosamente desenvolvido e otimizado e que dão andamento ao estudo e o direcionam, em substituição aos docentes. A principal característica desta concepção é a estruturação do processo ensino-aprendizagem até em seus detalhes. Esta concepção vincula-se à didática das etapas formais propostas por Herbart que é analisado no item 2.5.1, p.32-38 do presente trabalho, e tem sido o caminho fundamental da didática nos últimos dois séculos e, inclusive, viabilizando o ensino em massa.

- Autonomia: para Peters (2001, p.95) acontece

[...] quando os próprios estudantes reconhecem suas necessidades de estudos, formulam objetivos para o estudo, selecionam conteúdos, projetam estratégias de estudo, arranjam materiais e meios didáticos, identificam pontos humanos e materiais adicionais e fazem uso delas, bem como quando eles próprios organizam, dirigem, controlam e avaliam o processo de aprendizagem.

Numa perspectiva pedagógica, a autonomia expressa uma situação na qual os seres humanos não são mais objetos, mas sujeitos de sua própria educação. Essa compreensão não é nova e já foi proposta por Pestalozzi conforme o item 2.5.1, p.32-38 dessa dissertação, ao destacar que o ser humano é a obra dele mesmo. Contudo, é importante consignar que a autonomia do estudante passa pela sua heteronomia. Por isto, o estudo autônomo em sua forma pura é totalmente impossível. O processo pedagógico é dialético, pode levar a diferentes graus e conformações do estudo autônomo. Exemplificam esse fato as propostas pedagógicas de Montessori explicitado no item 2.5.2, p.41.

Um dado interessante para refletir é o colocado por Peters (2001, p.103) ao afirmar:

Se a didática do ensino a distância quer acompanhar, pelo menos razoavelmente, o desenvolvimento teórico, deve, necessariamente, perguntar porque a didática do estudo autônomo no ensino regular e a distancia é tão pouco praticada, embora o estudo autônomo corresponda como nenhum outro aos objetivos educacionais da pedagogia.

Segundo o autor, constata-se que a psicologia humanista conquistou grande influência nos anos 70 e sob sua égide a prioridade não era mais dos docentes, mas sim, dos discentes. As relações autoritárias tornaram-se parcerias. A partir daí, passaram a ser considerados como formas adequadas de ensino e aprendizagem o

diálogo autônomo em grupo, o trabalho em projetos e a aprendizagem por pesquisa, conforme enfatizam Piaget, Vigotsky, Paulo Freire e Freinet.

Os conceitos básicos, discutidos anteriormente, viabilizam-se operacionalmente nas práticas de EAD e as atividades docentes e discentes dos três conceitos trabalhados se concretizam na prática pedagógica da educação a distância.

Com a instalação das universidades a distância, originou-se um estudo de características peculiares que o diferencia do ensino a distância primitivo. Peters (2001) registra que essa mudança estrutural resultava da combinação da tradição do ensino a distância e a tecnologia do ensino. Origina-se aí o Tele-ensino, que, posteriormente, foi denominado de ensino a distância de primeira geração. Esses cursos de ensino a distância segundo Peters (2001, p.129-130):

Tornaram-se francamente os pontos de cristalização de várias inovações simultaneamente – do uso confiante – otimista de meios técnicos, do consciente emprego de resultados da pesquisa de aprendizagem, do uso rotineiro de procedimentos empíricos do desenvolvimento e controle, bem como da combinação do saber e do conhecimento de vários peritos especializados. Com isso, o ensino acadêmico foi profundamente tecnificado, cientificizado em suas formas de comunicação, tornou-se um produto de trabalho cooperativo compartilhado.

[...] Essa mudança quase revolucionária do ensino será colocada aqui no centro das atenções porque os cursos de ensino a distância pré-fabricados e fechados em si constituem a forma extrema do ensino e da aprendizagem estruturados que se pode encontrar na prática do ensino a distância.

A partir deste parâmetro foram desenvolvidos modelos diferenciados como o da Open University inglesa; o da Universidad Nacional Abierta da Venezuela; o da Fernuniversitat da Alemanha.

Não obstante, a estrutura do ensino a distância se modificará rapidamente à medida que os novos meios de informação e comunicação digitais não acrescentam simplesmente algo ao tradicional ensino acadêmico, mas, efetivamente, modificam sua estrutura e sua essência. A tipologia proposta por Paulsen (1995, p.121) apud Peters (2002, p.154) identifica no ambiente de estudo digital quatro situações de estudo distintas como demonstra o quadro nº 3 transcrito a seguir.

Quadro nº 3: Tipologia do Ensino Digital