• Nenhum resultado encontrado

Um documento produzido pelo INCRA (2005) afirma que o modo de organização social das famílias fez com que o processo de ocupação da área e da construção de sua infra-estrutura se realizasse de maneira bastante diversificada. O assentamento localiza-se a 2 km da sede do município e tem o Rio Doce como um dos seus limites. Compreende uma área de cerca de 2500 ha. Dessa, uma área de cerca de 1000 ha foi destinada ao grupo coletivo das 39 famílias representadas pela cooperativa e o restante da área foi parcelada e distribuída entre as famílias que exploram os lotes individualmente. Os lotes têm tamanhos médios aproximadamente de 22 ha. Uma terceira área (em torno de 135 ha) situada em terras mais baixas próximas ao rio Doce é explorada coletivamente tanto por trabalhadores do grupo individual quanto do grupo coletivo33. Nessa área cada trabalhador individual pode explorar em média 1,8 ha e o restante é explorado pelo grupo coletivo.

Parte da área utilizada pelo grupo coletivo foi dividida novamente para os 14 desistentes e atualmente, com o fim da cooperativa, os assentados aguardam o parcelamento do restante da área entre os que permaneceram associados.

Próxima à entrada principal do assentamento, em torno da antiga sede da fazenda, localiza-se a agrovila onde reside cerca de sessenta famílias, a maior parte delas pertencentes ao grupo coletivo, e onde estão as instalações produtivas e os equipamentos urbanos. Esta área da agrovila é uma área comunitária e nela residem também algumas famílias que exploram os lotes individualmente. As casas construídas são de alvenaria, possuem rede elétrica e água encanada fornecida pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA. A agrovila conta com iluminação pública e telefone público. Não possui saneamento básico nem coleta de

33 Esta denominação “grupo individual” e “grupo coletivo” é a empregada pela comunidade para

designar o grupo de famílias que optaram pelo uso individual/familiar da terra ou o uso coletivo, respectivamente. Escolhemos manter esta designação neste texto. Assim quando nos referimos ao grupo individual ou dos individuais estamos falando das famílias que escolheram a divisão dos lotes e o trabalho familiar. Grupo coletivo, aos que escolheram não dividir a terra e trabalhar nela coletivamente, por meio da cooperativa. Do mesmo modo, grupo dos desistentes refere-se às quatorze famílias que desistiram do trabalho na cooperativa e solicitaram a divisão dos lotes. Isso não significa que o grupo individual ou o grupo dos desistentes só explorem a terra individualmente. Ao contrário, participam de mutirões, fazem trocas, ajudam nos momentos de plantio e colheita nas terras dos vizinhos, bem como são auxiliados, etc.

lixo. Cada beneficiado recebeu um lote de 0,5 ha onde construíram sua moradia e onde cultivam produtos para o consumo próprio e criam animais de pequeno porte. Na agrovila estão também o posto de saúde, escritórios e a escola. As estradas internas têm bom acesso até a agrovila, mas para alguns lotes individuais o acesso é difícil.

As vias de acesso a cidade e ao assentamento são difíceis. Pode-se chegar por duas rodovias, uma sem pavimentação e mal conservada, às margens da ferrovia, e outra com parte pavimentada e parte sem pavimentação, sendo que nesta última é preciso utilizar uma balsa para atravessar o rio Doce (que só é possível quando o rio está cheio), tornando o acesso limitado. Uma das rodovias está em processo de pavimentação o que tem gerado grande expectativa aos assentados, pois aumentam as possibilidades de escoamento da produção a novos mercados. Outra possibilidade de acesso é a ferrovia Vitória/Minas que corta o assentamento.

FIGURA 2. Vista parcial da agrovila do assentamento em maio de 2003 (observar a cobertura vegetal em estado de recomposição).

Na área onde foi montado o primeiro acampamento existe ainda um núcleo com oito casas onde residem trabalhadores que optaram pelos lotes individuais. Alguns entrevistados por nossa pesquisa afirmam que eles não quiseram morar na agrovila a despeito dos graves problemas com a água de má qualidade que abastece o local. O restante das famílias individuais mora nos próprios lotes. As casas também são de alvenaria, são beneficiadas pela rede elétrica, porém não são abastecidas pela COPASA, a água é insuficiente e de péssima qualidade. Uma pequena nascente abastece o núcleo com as oito moradias.

Ainda quando eram acampados foram formadas as primeiras turmas de Educação de Jovens e Adultos e as turmas de primeira a quarta série do ensino fundamental para as crianças com professores voluntários. Em 1995, após muitas reivindicações junto à prefeitura e delegacia de ensino, a escola estadual do assentamento foi criada. Começou a funcionar em um galpão improvisado que caiu após fortes chuvas, foram estudar na antiga sede da fazenda provisoriamente, depois construíram um cômodo e, finalmente, em 2003 a escola foi construída com verba do governo estadual e inaugurada em 2004. Atualmente oferece ensino fundamental até a oitava série tanto para crianças quanto para jovens e adultos. Alguns professores são do próprio assentamento, formados pelos cursos de licenciatura financiados pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). O ensino médio é feito na escola do município e o transporte oferecido pela prefeitura.

O assentamento possui duas associações, uma representando os interesses das famílias que exploram lotes individuais e outra das famílias organizadas coletivamente, além da cooperativa propriamente dita. Desde 2006, o MST vem rearticulando seu trabalho nos assentamentos e junto com outros três assentamentos da região compõe uma Brigada. Atualmente sete núcleos de famílias formam a base organizativa do movimento no assentamento.

A produção de ambos os grupos tem por objetivo a subsistência e geração de renda. As atividades produtivas dos individuais giram em torno da pecuária leiteira e de

corte, plantio de milho, feijão, arroz, abóbora, mandioca, cana-de-açúcar, frutas, hortaliças, criação de pequenos animais. A inserção dos produtos no mercado local é baixa, algumas famílias têm vendido hortaliças para merenda escolar da cidade34

, representando importante fonte de renda para elas. O grupo da cooperativa, além do plantio de milho, cana-de-açúcar, feijão, mandioca, arroz, da pecuária leiteira e de corte, investiu na fabricação de cachaça, apicultura, frango e farinha de mandioca.

As linhas de produção da cooperativa foram subdivididas da seguinte maneira:

Avicultura com a produção de frangos para corte e de galinhas poedeiras: este foi um dos principais projetos de produção da cooperativa. Em 2003 ele estava operando com o abate de cerca de 200 frangos por dia e a produção de cerca de 220 ovos por dia. Atualmente, esta linha de produção encontra-se desativada; Criação de gado leiteiro e de corte cujo rebanho já teve mais de quinhentas

cabeças e onde se produzia mais de 200 litros de leite por dia que eram entregues in natura a uma cooperativa de leite da região. No momento da pesquisa a produção do leite estava sendo usada somente para a produção de queijo para consumo próprio ou venda no comércio local em função da lei que obriga os produtores a armazenarem o leite em tanques de resfriamento que o assentamento não possui;

Culturas permanentes, frutas, mandioca e cana de açúcar (usada na alimentação do gado e fabricação de aguardente); no auge da cooperativa, chegaram a produzir quarenta mil litros de cachaça com uma safra de cana. A comercialização é feita na região. Não conseguiram desenvolver embalagem e uma marca embora fosse um projeto dos assentados. A produção de cachaça continua mesmo com o fim da cooperativa;

Horta: produção de diversas hortaliças e legumes para consumo próprio e comercialização. O grande comprador hoje é a prefeitura através do programa de merenda escolar;

Culturas temporárias de arroz, milho e feijão;

34

A lei 11947/2009 determina a utilização de, no mínimo, 30% dos recursos repassados pelo FNDE para alimentação escolar, na compra de produtos da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas. (disponível em <http://www.mda.gov.br.>. acesso em 10 de julho de 2010).

Suinocultura: em 2003 contava com oito matrizes e um marrão, já tendo distribuído quarenta leitões entre os associados que os utilizaram para consumo próprio ou venda; linha de produção desativada;

Psicultura: linha de produção desativada; Apiário

Com o desmantelamento da cooperativa, os assentados estão em processo de reorganização das atividades produtivas. Têm uma boa inserção no mercado da região, a venda de produtos para a merenda escolar também representa importante fonte de renda para alguns ex-cooperados. O assentamento conta ainda com um grupo de mulheres que desde 2004 vem se reunindo para aprender e fazer artesanato, biscoitos e doces. Têm uma máquina de costura e uma sala onde tentam criar novas fontes de renda.

Na figura a seguir, pode-se observar a configuração espacial do assentamento, com a divisão da área entre os dois grandes grupos, “individuais” e “coletivo”.

FIGURA 3 Configuração espacial do assentamento 1º de Junho FONTE: INCRA-MG