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Caracterização da organização espacial da Sala dos Diamantes

No documento Relatório AnaMachado SÃO FINAL (páginas 84-89)

Capítulo II – Metodologia do Estudo Empírico: Construindo o Projeto de

3.3. O Contexto de Jardim de Infância

3.3.3. Caracterização da organização espacial da Sala dos Diamantes

À semelhança da planta da sala de Creche, também a planta da sala de Jardim de Infância se encontra disponível no Anexo 2.

A Sala dos Diamantes era ampla, espaçosa, possuía boa iluminação natural e tinha vista direta para o exterior através de duas janelas de dimensão considerável. O espaço era organizado nas cinco áreas de interesse referidas anteriormente, uma vez que “[…] nas salas de educação de infância que seguem uma orientação construtivista existem normalmente áreas diferenciadas de atividade para permitir diferentes aprendizagens curriculares” (Oliveira-Formosinho, 2013:83).

Aquando do início do ano letivo, a sala já se encontrava organizada por áreas. Posteriormente, quando o grupo chegou à sala pela primeira vez, a organização foi negociada entre todos, tendo sido alterada de acordo com os seus interesses.Não existia um número limitado de crianças por área, dado que, conforme explicitado pela Educadora, a equipa se regia por uma filosofia educativa baseada na valorização das potencialidades e competências das crianças como capazes de tomar decisões.

Relativamente à arrumação dos objetos, já se encontravam arrumados em locais previamente definidos no início do ano letivo. Todavia, iam surgindo novos materiais, sendo que a decisão acerca da sua arrumação era da responsabilidade das crianças e, consoante os seus interesses, era definido um critério de grupo. Por fim, devo realçar que todos os materiais se encontravam permanentemente acessíveis às crianças, permitindo, assim, que se concentrassem “[…] no processo e nas interacções relativas à experiência que escolheram” (PCE, 2013:4). Posto isto, e através das minhas observações, sou levada a crer que a organização dos espaços e materiais na sala fazia sentido para as crianças.

Ao nível dos critérios de escolha dos materiais, a Educadora referiu que tinham de ser tão adequados quanto possível à faixa etária das crianças e aos diferentes níveis de desenvolvimento presentes no grupo. Deviam, também, ser seguros e, tanto quanto possível, existirem na sua representação real.

Eram sugeridas e permitidas as mais diversas formas de exploração, desde que não representassem perigo. Assim, tive oportunidade de observar as mais diversas explorações alternativas, muitas delas ligadas ao faz-de-conta, por exemplo, quando as crianças recortavam pedaços de cartolina para dentro de uma panela e os “cozinhavam”, quando utilizavam alimentos da área da casinha como se fossem aviões ou carros, entre outras.

Para uma melhor compreensão da organização do espaço, irei descrever o modo como as áreas se encontravam organizadas, os materiais existentes e farei, ainda, algumas referências ao modo como as crianças se apropriavam das estruturas materiais e dos objetos.

a) Área das Construções

A área das construções era constituída por um móvel que comportava caixas de arrumação que continham, essencialmente, blocos de esponja, uma casa, blocos/brinquedos de madeira, blocos de encaixe, ferramentas, Barbies e respetivos acessórios, animais, carros e bonecos de vários tipos. Observei a construção de “naves”, “estradas”, “prédios” e “quintas” com blocos de encaixe e de madeira. Oliveira- Formosinho (2013:84) entende que, na área das construções, a criança “[…] está imersa na realidade através de outros papéis: o de pedreiro, o de carpinteiro, o de construtor civil. Está imersa no mundo das profissões e […], portanto, em papéis sociais e relações interpessoais específicas […]”.

b) Área da Casinha

A área da casinha era também uma área ampla. De modo a tornar esta descrição mais simples, quando me referir a materiais que se encontram presentes na sua representação real, indicá-lo-ei. Deste modo, deve ser considerado que os restantes materiais se encontram na sua representação comercial, ou seja, “de brincar”.

Relativamente aos materiais relacionados com a “cozinha”, existia uma mesa redonda em torno da qual se encontravam cinco cadeiras, sendo que tanto as mesas como as cadeiras se encontravam adaptadas ao tamanho das crianças. Existia também um frigorífico, uma arca congeladora, um fogão, conjuntos de copos e pratos, panelas, caçarolas e caixas com talheres na sua representação real e diversos tipos de comida. Era possível, também, encontrar um roupeiro com vestidos e fatos de super-heróis, bem como chapéus e coroas.

Existia uma cómoda com um telefone (ambos na sua representação real), um espelho, um “beliche” com bonecos, um carrinho de bebé, uma tábua de passar a ferro, o respetivo ferro e uma caixa registadora, um aspirador, um kit de médico, bem como uma caixa com diversos lençóis e toalhas. Fazia também parte dos materiais um equipamento

de cabeleireiro, uma mala com produtos de cabeleireiro, uma caixa com malas e calçado.

Nesta área, observei uma forte componente de faz-de-conta nas brincadeiras auto iniciadas, ligadas à fantasia, à imaginação, à interpretação de papéis por parte das crianças. As situações que observei com maior frequência envolviam crianças a brincar com os alimentos, confecionando sopas, sumos e pratos.

As crianças colocavam uma mochila às costas, dizendo que iam para a escola; outras colocavam um boneco no carrinho e diziam que iam passear o seu bebé; algumas representavam o papel de doentes, permitindo que outras crianças representassem o papel de médico e cuidassem delas. Neste sentido, e citando Hohmann, Banet e Weikart (1979:56), “[…] uma área da casa transforma-se, inevitavelmente, num centro de «simulação» e desempenho de papéis”. Para além destes exemplos, algumas crianças demonstravam interesse em realizar brincadeiras de faz-de-conta de vendas e compras com a caixa registadora que referi anteriormente, fazendo trocas de “moedas” por “produtos”.

As brincadeiras na área da casinha, apesar de também poderem ser de caráter mais individualizado, caracterizavam-se por uma forte vertente social, na medida em que as crianças se encontravam em permanente interação, representação de papéis, cooperação e comunicação. Citando Oliveira-Formosinho e Andrade (2011:48),

[…] a área do faz de conta [aqui designada como “área da casinha”] precisa de assumir a urgência do brincar e permitir às crianças que os objetos e as situações sejam ocasiões de elas criarem realidades porque a realidade não é só uma.

Em suma, considero que esta era uma área de importância fulcral na Sala dos Diamantes no que se refere à promoção do brincar social espontâneo, tendo em conta o desejo que as crianças manifestavam de brincar ao faz-de-conta, de representar papéis, de interagir com objetos, espaços e pessoas e de adentrar por outros mundos onde o sonho, a fantasia e a imaginação ocupavam um lugar de destaque.

c) Área da Arte

A área da arte possuía uma zona central que era constituída por mesas, cadeiras e um móvel de arrumação. Relativamente aos materiais, existiam diversos tipos de papéis e tecidos, tintas, pincéis, aventais impermeáveis, materiais de modelagem de plasticina,

plasticinas de várias cores e um estendal desmontável. No que se refere ao modo como as crianças utilizavam a área da arte, observei com frequência a elaboração de desenhos, a modelagem de plasticina e o recorte e colagem de folhetos e revistas. Observei, também, uma comunicabilidade entre a área da arte e a área da casinha, no sentido em que algumas crianças faziam “bolos” ou “pizzas”, o que também se encontra

intimamente relacionado com a brincadeira simbólica. d) Área dos Jogos

A área dos jogos era constituída por um móvel de arrumação com divisórias onde se arrumavam os materiais que eram, essencialmente, guitarras, um ábaco, dominós, jogos de formas e sons, jogos de encaixe, jogos de tabuleiro, cubos de encaixe, puzzles e fantoches de dedo. As situações que observei com mais frequência nesta área eram a construção de torres com peças ou cubos de encaixe, experiências de continente e de contido com estes cubos e, ainda, construção de filas de cubos por ordem decrescente. Algumas crianças também demonstravam preferência em utilizar fantoches de dedo, promovendo experiências de expressão dramática e de faz-de-conta.

e) Área da Biblioteca

Por fim, a área da biblioteca situava-se imediatamente a seguir à área dos jogos. Possuía um móvel de arrumação onde existiam dezasseis livros diferentes. De um modo geral, os livros eram de histórias com ilustrações, existindo outros como os de imagens sobre a Natureza, as estações do ano, as formas geométricas e os tamanhos (noções matemáticas), bem como livros-puzzle. Esta área era muito pouco frequentada pelas crianças, representando, no entanto, um papel fundamental no seu desenvolvimento, dado que “[…] é nos diversos contactos com a leitura e a escrita, mediados directa ou indirectamente por outros significativos, que a criança se vai apropriando deste objeto cultural e dos seus fins e usos sociais” (Mata, 2010:31), através das experiências em torno da leitura e da escrita.

Em suma, creio que as áreas existentes na Sala dos Diamantes eram promotoras do desenvolvimento global e harmonioso das crianças, na medida em que promoviam o desenvolvimento de competências nos vários domínios das áreas de conteúdo, como é o caso das expressões motora, dramática, plástica e musical, da linguagem oral e abordagem à escrita, da matemática e do conhecimento do mundo e promoviam, ainda,

desenvolvimento de competências relacionava-se com a harmonia existente entre a iniciativa da criança e as propostas da Educadora/equipa, na criação de um ambiente em que a linguagem era perspetivada forma primordial, através de espaços, atividades e materiais que incitavam à comunicação e que tinham como base o respeito pela criança.

No documento Relatório AnaMachado SÃO FINAL (páginas 84-89)