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Caracterização do grupo de crianças

No documento Relatório AnaMachado SÃO FINAL (páginas 74-77)

Capítulo II – Metodologia do Estudo Empírico: Construindo o Projeto de

3.2.2. Caracterização do grupo de crianças

Relativamente ao grupo de crianças da sala onde realizei o estágio – a Sala Amarela –, era constituído por dez crianças, mais especificamente, cinco do sexo feminino e cinco do sexo masculino com idades compreendidas, no início do estágio, entre os 16 e os 21 meses, todas de nacionalidade portuguesa, não estando nenhuma referenciada com Necessidades Educativas Especiais (NEE). O número máximo de crianças que podia existir na sala era onze. Oito das dez crianças transitaram do 1.º berçário da mesma Instituição e duas, que não a frequentaram no ano anterior, necessitaram de uma maior atenção no período de adaptação.

Quando questionei a Educadora acerca da abordagem pedagógica/curricular pela qual regia a sua prática, respondeu-me que não se baseava em nenhuma em concreto, inspirando-se, no entanto, na Abordagem de High-Scope para Creche, uma vez que o dia-a-dia na sala se baseava na ação central da criança e das suas experiências como ponto de partida para a aprendizagem ativa.

Após consultar o Projeto Pedagógico, pude retirar algumas anotações relacionadas com as crianças da sala, que foram complementadas pelas minhas observações. Assim, de acordo com este documento, todas as crianças tiveram uma boa adaptação, contudo, este foi um período em que necessitaram de uma atenção particular, tendo em consideração que se tratava de um novo espaço, de uma nova rotina e, para as crianças que entraram naquele ano, de uma nova realidade. Segundo o mesmo documento, as crianças da sala tinham personalidades muito distintas, porém, todas necessitavam de atenção e carinho por parte dos adultos.

Observei que as crianças exploravam com acentuado interesse os materiais existentes na sala e demonstravam um visível entusiasmo nos momentos do tapete, em que se contavam histórias ou cantavam canções. As crianças revelavam conhecer as canções que se cantavam mais frequentemente, reproduzindo alguns sons e fazendo alguns gestos.

Relativamente à linguagem, as crianças possuíam competências de compreensão oral e algumas de produção oral, verbalizando palavras relacionadas com o seu contexto

quotidiano, como “aba” (água), “bó” (bola), “bebé” (boneco) e “popó” (carro), “mamã” (mãe), “papá” (pai), entre outras. Porém, a maioria ainda recorria aos gestos para se expressar, sendo que, de acordo com o Projeto (2014:4), possuíam uma “[…] melhor linguagem recetiva do que expressiva, cabendo ao adulto o papel de incentivar as crianças a verbalizarem,”.

Neste sentido, torna-se relevante abordar de forma breve as características linguísticas das crianças desta faixa etária. Nesta fase do desenvolvimento, as crianças desenvolvem as brincadeiras vocais e os balbucios replicados referidos por Rigolet (2006) e que são definidos como lalação por Sim-Sim (1998), tendo como principal característica a reduplicação silábica da estrutura consoante/vogal (por exemplo, «papapa»). Posteriormente, estes balbucios reduplicados transformam-se em produções sem reduplicação como «pa», dando-se uma aproximação gradual com palavras, existindo casos em que surgem proto palavras que são aquelas que a criança utiliza de forma consistente para denominar determinada situação ou objeto, não existindo “[…] correspondência com o léxico adulto”(Sim-Sim, 1998:93).

No primeiro ano de vida, inicia-se a fase verbal, na qual surgem as primeiras palavras reais, que “[…] dizem respeito a pessoas, objectos ou acontecimentos do mundo da criança e são monossílabos” (Sim-Sim, 1998:93). Nesta fase surgem, ainda, situações que consistem na repetição de produções (ou de parte delas) ouvidas pelas crianças e que se denomina ecolalia.

No que se refere à faixa etária entre os 12 e os 24 meses, divide-se em duas fases de desenvolvimento linguístico. Deste modo, dos 12 aos 18 meses, sensivelmente, surge a holófrase, ou seja, uma única palavra que adquire diversos significados consoante o contexto em que é pronunciada. Estas holófrases são constituídas por duas sílabas, como “mamã”, “papá” e “mémé”.

Posteriormente, dos 18 aos 24 meses, a criança começa a ser capaz de pronunciar pequenos enunciados. É comum que no início desta fase a criança fale pouco, dado que está a “[…] captar novos vocábulos (Rigolet, 2006:75). Depois, dá-se uma “explosão” de vocabulário, após a qual a criança começa a produzir muitas palavras novas “[…] associadas a pessoas, objectos, brincadeiras […] pessoas ligadas à sua educação […] os

seus animais predilectos […]” (Rigolet, 2006:74-75), tornando-se até aos 24 meses capaz de produzir um enunciado com duas ou três palavras.

No que respeita às refeições, todas as crianças necessitavam da ajuda do adulto para comer, demonstrando, porém, vontade de comer sozinhas. Relativamente à sesta, encontrava-se referido que todas as crianças careciam do apoio do adulto para adormecer. Todas as crianças possuíam marcha adquirida e todas usavam fraldas, não tendo ainda adquirido o controlo dos esfíncteres. Demonstravam preferência pelos brinquedos de encaixe, carros, bonecos e brinquedos de empurrar, sendo que a maior parte das crianças já realizava brincadeiras simbólicas. Eram crianças dinâmicas, curiosas e demonstravam um entusiasmo visível aquando da existência de novos materiais na sala.

Através das minhas observações, pude compreender que as crianças mantinham uma relação socio afetiva empática e saudável com os adultos da sala. As necessidades das crianças eram respeitadas e existia uma constante preocupação com o seu bem-estar físico e emocional, de modo a que sentissem confiança nos adultos, o que era notório no modo como as crianças procuravam frequentemente estes adultos de referência, por exemplo, quando sentiam necessidade de carinho, atenção, afeto e de resolver os seus conflitos. Observei, assim, a existência de um clima relacional positivo, afetuoso e emocionalmente seguro entre as crianças e a Educadora, bem como entre as crianças e as Auxiliares, sendo que, ao longo do estágio, também eu fui conseguindo, progressivamente, estabelecer este tipo de relação socio afetiva com as crianças, tendo, no entanto, consciência de que era uma pessoa estranha na sala, numa fase inicial. No que se refere às interações entre pares, tornaram-se evidentes, para mim, as evoluções realizadas pelas crianças durante o período de estágio. Pude observar interações em que era notória a cumplicidade, o afeto, a cooperação, a entreajuda e a partilha. A título de exemplo, faziam construções juntas, dançavam, reuniam-se em redor da mesa da sala, desenvolvendo brincadeiras de faz-de-conta, faziam brincadeiras de “cu-cu”, em que se escondiam e aguardavam que as outras crianças as encontrassem, trocavam carícias e ajudavam-se mutuamente no momento da refeição. Por vezes, demonstravam dificuldade em partilhar os brinquedos e em gerir conflitos, defendendo- se através do choro, de bater e, inclusive, de morder, pelo que necessitavam da ajuda do adulto na resolução destas situações.

No documento Relatório AnaMachado SÃO FINAL (páginas 74-77)